AURORA JOHNSON
Olhei para Del Frari surpresa por suas palavras.
“Porque preciso de ajuda também.”
Como alguém como ele precisaria da minha ajuda? De que forma eu ajudaria? Ah! Tenho a sensação de que coisa boa não vai ser, e, para falar a verdade, qualquer coisa que venha dele não deve ser boa.
— Da… Da minha ajuda? Como eu poderia ajudar? — Ele ficou bem na minha frente e, em seguida, se curvou, colocando suas mãos em cada braço da poltrona, chegando seu rosto bem perto do meu.
Oh, por que ele faz essas coisas?
— Daqui a duas semanas, contando a partir de amanhã, vamos para o interior do Texas. Lá você terá de fingir ser minha namorada. — Arregalei os meus olhos.
— O quê?! — Ele sorriu com todos os seus dentes brancos e perfeitos e logo se afastou.
— Minha tia acha que tenho uma namorada — disse sentando-se em uma poltrona um pouco maior que a que eu estava sentada.
— E por que ela acha isso? — Me atrevi a perguntar.
— Ela cuidou de mim quando… — Ele pareceu pensar antes de voltar a falar. — Tenho um carinho muito grande por ela e, bem, ela sempre quis me ver sossegado e acha que uma namorada mudaria isso. Para ela me deixar em paz, eu disse que tinha.
— E por que exatamente deve ir ao interior e me levar junto?
— O aniversário da minha tia é no dia dezesseis; como ela acha que estou namorando, seria burrice minha aparecer lá sem a minha namorada.
— Por que não diz que terminou?
— Seria uma maneira de sair dessa, mas ela acharia estranho eu terminar com minha namorada exatamente às vésperas do seu aniversário. — Bom, até que ele estava certo.
— O senhor tem razão.
— Não será difícil, você só deve fingir ser minha namorada na frente dela e dos funcionários da casa… — Acabei não prestando muita atenção em suas palavras ao vê-lo levantar e retirar seu paletó preto, ficando somente com a camisa branca. Ele arregaçou as mangas na altura dos cotovelos, revelando diversas tatuagens nos seus antebraços e, pelo que percebi, não acabavam ali. Fiquei as observando por um tempo.
Uau! Nunca tinha visto tantas tatuagens juntas, ainda mais em uma pessoa como ele.
— Aurora, se tem uma coisa que mais odeio nas pessoas é a falta de atenção; se quiser visto o meu paletó novamente para não te desconcentrar. — Seu tom era de deboche nas últimas palavras e na mesma hora senti um rubor nas minhas bochechas.
— Desculpe é que… Eu… Nunca vi tantas tatuagens assim, ainda mais em alguém como o senhor. — Ele me olhou com uma sobrancelha erguida.
— Alguém como eu?
— Bom, eu quero dizer, homens importantes que usam terno e gravata normalmente não curtem essas coisas. — Del Frari levou uma de suas mãos até sua boca e pareceu reprimir um sorriso.
Esse gesto o fez ficar tão bonito! — Opa! De onde veio isso?!
— Há tantas coisas sobre mim que, se você soubesse, sairia correndo. — Automaticamente lembrei-me do meu irmão falando sobre ele ter matado alguém.
Será que ele se referia a isso?
— Eu não tive a opção de correr. — Desta vez ele não reprimiu um meio sorriso.
— É, não teve. — Por alguns instantes, ficamos calados, olhando um para o outro. Coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Por que morde tanto seu lábio? — O olhei surpresa.
— Ah, é um gesto espontâneo, faço sem nem perceber; se o senhor não tivesse falado eu não teria me dado conta — expliquei.
— Senhor Del Frari, desculpe interromper, é que o senhor Adam Lavisck chegou e está com a sua esposa. O senhor Alex Cooper ligou e disse que irá se atrasar um pouco, também está trazendo sua esposa. — Lídia nos interrompeu.
— Angel atrasando meu amigo, como sempre. — Ele pareceu murmurar para si mesmo. — Diga para eles virem à minha sala. — Ela acenou e logo se retirou.
— Bem, eu vou embora e em casa leio melhor este contrato — disse ao me levantar.
Não sei para que ler se eu já aceitei e assinei essa merda!
— Esqueci de mencionar que no meio dos papéis que assinou tem um que você declara jamais revelar para ninguém sobre o que vamos ter durante esses trinta dias, mas creio que, no seu caso, não iria querer contar algo assim para alguém, não é mesmo? Seria constrangedor as pessoas saberem que se vendeu. — Abaixei o meu olhar constatando que ele tinha razão.
— É — murmurei envergonhada.
Por que ele gosta de me humilhar?
Ao me virar para sair da sala, dei de cara com um casal, ambos elegantes, que pareciam ser bem importantes. A mulher, alta e loira, usava um vestido branco que moldava bem suas curvas perfeitas, já o homem vestia um terno e gravata escuros, seu cabelo era preto e com alguns fios brancos, e parecia ter a mesma altura de Del Frari.
— Desculpe, não sabíamos que estava ocupado — disse o homem.
— Ela já estava de saída. — Del Frari respondeu e eu me apressei em sair, porém fui barrada pela mulher. Olhei para seu rosto, ela parecia me avaliar com seus olhos bem claros e expressivos.
— Essa marca no seu rosto... Alguém fez isso com você? — Sua pergunta me pegou de surpresa, virei o meu rosto e joguei ainda mais meu cabelo para esconder.
— Não… Eu… Eu… Caí. — Ela me olhou como se não tivesse acreditado no que eu disse.
— Mas isso parece... Matteo, o que é isso no rosto da menina? — Ela pergunta com indignação.
— Por que está me perguntando isso? Acha que eu...
— Não, claro que não, mas por que...
— Foi um ex-namorado meu, que não vai mais me incomodar — murmuro sem conseguir olhar para ela.
— Se precisar de...
— Isabel, amor, deixe a menina. Me desculpe, minha mulher tem esse instinto de proteção e se preocupa com todos, até com desconhecidos — disse o homem e eu esbocei um sorriso fraco.
— Ah, tá — murmurei e andei o mais rápido possível para sair daquela sala e daquela empresa.
Coloquei a pasta com os papéis assinados dentro da minha gaveta do criado-mudo, joguei minha bolsa em cima da cama e me dirigi ao banheiro para tomar um banho longo e demorado.
Despi-me e entrei no box. Ao abrir o chuveiro, senti toda a água quente se chocar contra a minha pele; sentir a quentura era como fosse abraçada, algo que ultimamente eu tenho precisado muito.
— Minha vida está uma droga — resmunguei para mim mesma enquanto chorava.
À noite, todos estavam reunidos à mesa, quietos e saboreando o jantar. Aproveitei o silêncio para me pronunciar.
— Tenho algo para contar. — Minha família parou de comer para me olhar. — Consegui outro emprego. — Todos arregalaram os olhos, menos o meu irmão.
— Que ótimo, meu amor. Sabia que conseguiria coisa melhor do que aquela lanchonete que só te explora — disse minha mãe, feliz.
— E onde é? — perguntou meu pai. Respirei fundo antes de falar.
— Na empresa Del Frari. — Todos se calaram e ficaram me olhando como se eu fosse um ET.
— O quê? Como conseguiu esse emprego? — Seu Álvaro perguntou.
— Fui à empresa hoje mais cedo, conversei diretamente com o Del Frari. — Assustei-me quando o meu pai levantou rápido da cadeira.
— Diretamente com ele?! Como conseguiu isso, Aurora?
— Ah... bom, eu disse que era a sua filha e que precisava muito falar com ele. Pai, antes disso eu ouvi sua conversa com a mamãe sobre as nossas dívidas e resolvi tomar a frente e falar primeiro com Del Frari, que aceitou nos ajudar. — Os olhos castanhos do meu pai pareceram escurecer.
— Aurora! Você não podia fazer isso!
— Eu sei, mas...
— O que vai fazer na empresa?
— Vou… Ser… Ser… Assistente pessoal — proferi a primeira coisa que me veio à cabeça.
— Você não entende nada desse meio, não vou permitir que trabalhe na empresa daquele homem! — Olhei surpresa para ele.
— Mas pai, ele prometeu nos ajudar e em troca eu vou trabalhar para ele. — Ele riu.
— Esse homem não presta! Trabalho lá desde que aquela empresa foi fundada. Conheço aquele sujeito como a palma da minha mão para saber que ele não vale o prato que come.
— Então por que trabalha para ele? — questionei.
— Por necessidade. E está decidido, você não vai trabalhar para ele. — Levantei da cadeira.
— O senhor não pode me impedir — falei em tom desafiador.
— Eu sou seu pai e é uma ordem, você não vai e ponto.
— Eu vou! Pois não estou fazendo isso por mim e sim por minha família.
— Aurora Smith Johnson, você não vai! — Sua voz saiu alta.
— Chega! Vocês estão assustando a Ana — expressou minha mãe, se colocando entre nós. Olhei para Ana, que nos encarava assustada.
— Ninguém vai me impedir de fazer o que for para ajudar a minha família, nem mesmo o senhor, pai. — Saí da mesa sem me importar se estavam me chamando ou não. Subi as escadas e fui direto para o meu quarto.
Joguei-me na cama, segurando uma vontade muito grande de chorar.
— Me ajuda, meu Deus — sussurrei.
Assustei-me com o meu celular tocando, olhei o número e não reconheci.
— Alô?
— Esteja amanhã às nove horas da manhã na minha sala. — O quê? Como ele...
— Como conseguiu meu número?
— Aprenda uma coisa, senhorita Johnson. Tudo que eu quero eu consigo, não importa o que seja. — Engoli em seco.
— Senhor Del Frari, eu… — Fui interrompida com o barulho do celular sendo desligado na minha cara.
Cretino i****a!