POR ACASO?

890 Words
O dia não podia ser mais tranquilo? Adam e eu pegamos um trabalho pro dia seguinte. Teríamos que fazer uma sessão de fotos sobre coisas desastrosas. Parecia até ironia do destino, o que não faltava na minha vida eram desastres, e eu era plena conhecedora desse assunto. Saímos para o refeitório, eu estava cheia de idéias, mas tudo o que eu pensava já haviam outras pessoas colocando em prática e eu não gostava nem um pouco disso, era como não houvesse nada de interessante naquela cidade, o que era um fato. Todos éramos fotógrafos excelentes, talvez essa fosse a grande barreira. Claramente todos correram atrás de pesquisar histórias sobre nossa cidade, o que eu com total certeza, não faria nem a p*u. Caminhei um pouco tentando encontrar algo para nosso trabalho, acabei encontrando um cadáver de um esquilo perto de uma árvore, repleto de formigas, não sabia se valia a pena, mas fotografei assim mesmo só para o caso de Adam não ter uma ideia genial, o que me dava uma vantagem em andar com ele. Meu celular vibrou e assim que o olhei, havia uma mensagem de um número desconhecido com o nome de uma avenida próxima dalí, a Avenida Coutinho, com um horário marcado para alguns minutos à frente. Eu não me importei, parecia ser um encontro, mas como não citou nome optei por imaginar ter sido um engano, eu nunca fui uma pessoa com tantos amigos, e nem passava meu número para desconhecidos, não fazia sentido que aquela mensagem tivesse algo a ver comigo. Peguei minha mochila e minha câmera, assim que me virei dei de cara com Julia, que já estava me esperando para irmos para casa. Não podíamos nos atrasar, havia uma série que assistíamos juntas, e depois trabalhávamos em meio período na loja de conveniência do pai dela, inconveniente. Assim que chegamos ao estacionamento notei que o tanque da minha moto estava quase sem gasolina e eu teria que fazer um desvio pela avenida Coutinho de qualquer maneira. Eu sempre fui muito exigente quanto à gasolina que iria naquele tanque, o posto mais bem visto da cidade ficava lá, não havia outra opção. Em nossa trajetória, assim que nos aproximamos, me assustei com um barulho infernal de freada e aços se chocando que me fizeram frear bruscamente. A moto foi caindo lentamente de lado, ralando toda a lateral esquerda. Dois carros se chocaram fortemente e mesmo que um tentasse parar parecia que o outro estava sem freio. Depois disso, tudo indicava que os envolvidos estavam mortos. Assim que as ambulâncias chegaram ao local, nos deram um atendimento rápido, não sofremos nada mais que alguns arranhões nas pernas e braços. Julia ainda estava em choque, vimos o corpo de uma jovem ser arremessado a uma altura de quase três metros. O comentário de um dos enfermeiros me fez ficar toda arrepiada. ⇁ Morte às 14:32hrs, por hemorragia cerebral na Avenida Coutinho. ⇁ Exatamente o mesmo horário e a mesma avenida que a mensagem do meu celular indicavam. Com grande imprudência, me aproximei dos corpos sem ser vista pelos policiais ou enfermeiros e fotografei-os. Na hora não pensei direito. Fiquei assustada, trêmula e agora mais que nunca me sentindo culpada, mas a mensagem não me saía da cabeça. Foi de propósito? (...) Chegamos em casa eu estava exausta, acabamos nos atrasando pro trabalho. Julia ligou para seu pai e lhe contou o grande acidente em que nos envolvemos superficialmente, e ele achou melhor que ficássemos em casa por um tempo. Tomei um banho longo, lavei as feridas como os paramédicos indicaram, mas felizmente não achava que precisavam de tantos cuidados. Após sair do banho, Julia adentrou o ambiente e optei por me sentar e rever as fotos que havia tirado. Assim que toquei na câmera, senti um arrepio subindo na espinha e de alguma forma eu me sentia devastada. Abri as imagens e m*l pude olhar por muito tempo, eram muito explícitas. Pedaços de corpos espalhados junto ao vidro e uma pobre garota que me parecia familiar, estilhaçada no chão com tanto sangue que quase lavava seu corpo. Aquilo era mórbido e me causava dores fortes no estômago. Guardei a câmera com rapidez, ao ouvir o barulho da porta da cozinha. Provavelmente era minha mãe, os passos desesperados na escada em direção ao meu quarto só me fizeram ter certeza de que era ela, assustada como aparentava. ⇁Filha você está em casa ? ⇁Falou ela abrindo a porta e tirando suas próprias conclusões. ⇁Viu o jornal local? ⇁Falei entre risos. ⇁Sim eu vi, não sorria você quase me matou do coração! ⇁Falou me apertando contra o peito num abraço. ⇁Desculpa mãe, mas não se preocupe eu e Julia estamos bem! ⇁Afirmei antes que ela tivesse um colapso. Minha mãe era o tipo de mãe coruja mais assustador de todos, era como se ela sentisse quando eu estava em perigo ou angustiada. Após avaliar o meu corpo e o corpo de Julia, ela resolveu nos preparar um jantar reforçado e nos mandou esperarmos na cama, disse que podíamos ter tido algum tipo de lesão interna ou algo assim. Ela só não nos forçou a ir num hospital porque assim que os paramédicos chegaram, eles nos acolheram no fundo de uma ambulância e nos liberaram com a consciência totalmente relaxada. Minha preocupação era expor essas fotos, mas eu acreditava que precisava de pontos extras e aquele acidente me traria isso, me beneficiaria alguma forma, era tentador e anti-ético, mas eu também estava cogitando errar como ser humano.
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