Cap8

2118 Words
Já era claro quando eu acordei, estava com uma dor de cabeça horrível, a floresta ao meu redor estava laranja e dourada, os primeiros raios de sol, devia ser por volta das 4 da manhã eu tinha pouco tempo antes de voltar para o castelo, seria devasto se meus pais soubessem que eu havia saído, eu me encostei em uma árvore para tentar levantar mas fui impedida por uma dor estrondosa que percorreu meu corpo, eu estava coberta de sangue seco devido a batalha que enfrentei horas antes, mas minha perna estava com um corte profundo e considerei que eu fiquei horas perdendo sangue pois não estava consciente para estancar, a faixa que eu tinha posto havia se afrouxado, eu apertei e gemi de dor com aquilo. Por um momento eu olhei para o céu, eu passei anos querendo ver o amanhecer em Cecília e hoje eu estava presenciando, era um mar de folhas laranja caindo, era tão bonito, meu coração parou por alguns minutos, eu havia caído, mas não fazia ideia de onde, como eu ia voltar a tempo para o palácio? Eu nem conseguia ficar em pé, se eu gritasse, cecilianos buscando vingança me encontrariam, eu não tinha escolha, era como se fosse meio obvio que eu morreria ali, minha perna não parava de jorrar sangue, era um corte profundo demais. Eu não conseguia pensar em nenhuma possibilidade boa. De repente meu escudo começou a apitar, a presença de alguém, tinha alguém se aproximando, eu apenas tinha uma lamina pequena e a certeza que não morreria sozinha, eu fechei os olhos e respirei fundo, me encolhi o máximo que podia, meu coração poderia ser ouvido a qualquer lugar daquele lugar. Quando enfim uma silhueta alta de capuz ousou se aproximar eu logo atirei minha lamina mas ele desviou rapidamente. Burra- pensei -Ora Ora, o que temos aqui.- ele se aproximou ainda coberto por um capuz - Uma soldada celestiana...- ele se abaixou - e bem machucada- ele riu e eu fiquei em silêncio respirando fundo, estava entrando em choque por causa do ferimento ...- Quanto ódio em seu olhar- ele sem permissão pega na minha perna e eu solto um gemido de dor- Pela profundidade do corte e pelo estilo, certamente foi um de nós que fez isso...- ele riu - Se acha r**m como estou devia ter visto como deixei o infeliz...- Eu realmente debochei de um deles, podendo ser morta imediatamente? Burra é o termo. - Pelo menos a língua está intacta, não é?- ele riu - Posso ajuda-la? - eu olhei incrédula -Não vai me matar? - ele ficou em silêncio e abaixou o capuz revelando seus cabelos loiros longos até a altura dos ombros, e os olhos verdes esmeralda, ele não expressava ódio, nem raiva, na verdade ele era neutro, não conseguia lê-lo. -Não menina - ele pega algo em seu sinto, um pequeno vidro - Não somos assim. E quem tentou me matar primeiro aqui foi você- ele ri e se estica um pouco para pegar minha pequena lamina que estava adiante, ele colocou diante de meus olhos e a quebrou como se não fosse nada além de um graveto- precisa melhorar a pontaria, deixe me ver isso...- ele apega minha perna -Não foi o que aparentou ontem...- eu murmurei e ele riu -Primeiro a batalha terminou, segundo temos uma política severa de deixar na batalha a guerra, fora dela ....as coisas são diferentes, você está ferida e não posso deixa-la aqui para morrer. -Mas devia, eu matei muita gente ontem....- eu não consegui evitar de deixar meus olhos marejarem e ele percebeu -Primeira batalha?- eu o olhei -Está tão obvio assim?- ele sorriu -É normal, ao longo dos anos nos acostumamos com a morte e o sangue entre nossos dedos...- ele abaixou o olhar e afrouxou o pano que estava na minha perna e colocou um liquido me fazendo gemer- Olha mas pela primeira batalha você se saiu bem, podia ter ficado pior. Nós nascemos tendo que matar, e perder não é uma opção, então em sua primeira batalha você conseguir matar cecilianos treinados durante a vida toda e sair apenas com um corte, é surpreendente. -Não era pra mim esse corte...- ele me olhou por alguns segundos- Seu soldado ia matar meu amigo e sem pensar eu corri e cortei suas pernas...- ele me olhou sem expressar nada - só que quando ele caia ele me apunhalou... -Foi um belo ato, corajosa, isso diz muito sobre quem é você...- ele se voltou para minha ferida -Curioso, nem eu mesma sei quem eu sou e um ato pode responder por mim?.- rio com sarcasmo -Eu te entendo. - Ele ficou em silêncio -Passo por esses pensamentos todos os dias, ter que segurar as pontas sendo que não era isso que eu queria, ter que fazer muita coisa por mero protocolo.... -Malditas leis não é?- eu ri e ele me olhou - Eu não devia estar aqui...- soltei um pequeno grito quando ele enfiou o dedo dentro da minha ferida -Perdão...mas acho que tem alguma coisa aqui dentro, por isso está saindo tanto sangue.- eu percebi que aquela conversa era para me distrair da dor enquanto ele tratava da ferida -Como assim não devia estar aqui?- ele ainda estava mexendo na minha perna -Meu pai, me proibiu de continuar o treinamento, no jantar de ontem...Ele falou que a partir de amanhã eu estava proibida de lutar, só que eu vim, estava torcendo chegar antes deles perceberem que eu saí.- ele me olhou com um olhar severo- Em minha defesa, ele disse a partir de amanhã, não ...- eu ri e ele também -Você é engraçada, mas não acho que fez o certo vindo. -Eu precisava, não teria outra oportunidade- respirei fundo - Meu mundo dentro de celeste é tão escasso de alegria- Tinha que tomar cuidado com o que eu diria a ele, ele jamais poderia saber quem eu era- Minha irmã é a perfeita, coisa que eu nunca serei, e as vezes acho que meus pais se arrependem de terem me tido, eu comecei a lutar depois do terremoto que teve á alguns meses, sabe?- ele se contraiu levemente e concordou - E desde então eu fui feliz, me encontrei, fiz amigos...- meus punhos se fecharam e eu bati na terra- Mas....- respirei fundo -Mas? -O noivo da minha irmã foi contar para os meus pais que eu estava sendo exposta, que eu estava me colocando em risco, então...- eu ri- me tiraram isso e me mandaram fazer hipismo.- eu ri -Hipismo? Coisa da realeza..- ele riu -Minha família trabalha no palácio, então temos algumas regalias....Mas acredite nada é como aparenta. -Eu imagino, entendo o que sente.- ele respirou fundo- Vai arder um pouco...- ele colocou uma pasta em cima da ferida e eu me controlei para não gritar - Me diga como o noivo da sua irmã reagiu quando disse que estava apaixonada por ele?- Eu ia responder mas o olhei em choque e ele riu -Como você.... -Eu leio as pessoas, vi o jeito que ficou quando o citou. E pelo visto acertei não é? -Eu não sei se sou mais, gostava dele desde criança, e achava que era correspondida, tivemos um caso durante anos, e no dia que eu me declarei ele falou que ia se casar com a minha irmã, um casamento vantajoso admito, e obvio que ele escolheria ela, ela é perfeita, não tem ninguém que seja mais gentil e bondosa que ela. -E isso te irrita. - ele assoprou a ferida e me arrepiei -Me irrito ser sempre comparada a ela, ao que eu nunca vou poder ser, entende? Mas é mais complicado do que aparenta.- relaxei um pouco encostada na árvore -E você tem alguém?- observei seu olhar se retrair. -Tinha...quer dizer tenho...- ele respirou fundo- eu vou me casar em alguns meses...- eu vi tristeza e pesar em seus olhos -Se não a ama porque vai, então?- ele me olhou e sorriu -O que foi? Eu também leio as pessoas- ele me olhou -Digamos que são os malditos protocolos- ri - Eu estava apaixonado por uma mulher faz uns anos, mas ela morreu em uma batalha. -Vocês não tem muita sorte no amor não é? -Como assim?- ele me olhou sério -Vocês de Cecília. Meu treinador era daqui, ele falou que tinha um soldado que era o melhor de todos, tanto em luta quando em bondade, ele era bom, e isso o fazia ser quem ele era. Ele era apaixonado por uma mulher e ela acabou morrendo e ele virou um assassino cruel.- ele respirou fundo -é ...considero que não tenhamos tanta sorte no amor mesmo...- ele riu de lado -Mas ele falou que mesmo sendo um assassino, ele ainda tinha dentro de si um bom menino, que acredita...- eu parei de falar quando ele me olhou - As circunstâncias nos fazem ser coisas que não queremos...Você acredita em que? -Acredito que todos nós estejamos destinados a um amor, um dia, acredito em um mundo sem guerras em que pudéssemos ser quem quiséssemos, sem guerra, sem sangue. Um Kiar reerguido. - ele ficou estático e riu olhando para minha perna -Curioso, achei que só eu ainda acreditasse num dia em que Kiar voltasse a ser um reino unificado de novo....- ele dobrou minha perna- Ainda tá com dor?- neguei -é nesse momento que vai me matar?- ele riu -Primeiro se eu quisesse ter te matado era só ter seguido meu caminho e ignorado o cheiro de sangue que vinha de você, segundo mesmo que você seja "mortal"- ele fez aspas cos os dedos e me fez rir- ainda é uma mulher, e mulheres sentem mais que os homens -então está me dizendo que se eu fosse um homem não tinha me ajudado? - ele se levantou e esticou a mão para me ajudar a me levantar -Exato- ele riu- na verdade teria pegado você e jogado no seu lado do reino, então...se sinta privilegiada por ser mulher, conseguiu minha afeição, é raro ver mulheres soldadas em Celeste - aquilo podia ser um teste então nem respondi, peguei em sua mão mas minha perna ainda estava dormente então me desequilibrei e cai em seu peito, um cheiro maravilhoso de madeira invadiu meu nariz e eu o encarei reparando enfim em como era bonito, acho que nunca tinha visto tal beleza antes. -Perdão...-disse me afastando -Tudo bem sua perna ainda está dormente, vou ate ajudar a chegar até Celeste mas não posso ir muito além...- ele me pegou em seus braços como se eu não pesasse nada -Obrigada....você mudou um pouco a minha ideia dos cecilianos sanguinários - ele se manteve sério enquanto andava - Não mude, eu sou diferente, se fosse qualquer um deles certamente teria te matado ou te deixado ali para ser comida por lobos- estremeci - não confie em cecilianos, eu mesmo só confio em 3 pessoas no máximo. Mas você também me fez mudar de percepção dos humanos celestinos egoístas e voláteis, você se dispôs a morrer por seu amigo, isso a faz uma boa amiga, e amigos honestos e fieis eu admiro. -Eu continuo sendo egoísta e volátil- ele riu- só sou um pouco legal -de fato. - depois de alguns minutos caminhando ele parou e eu pude ver um caminho familiar para o castelo- Aqui está não posso ir além, foi um prazer te conhecer...hm..- ele arqueou uma das sobrancelhas e sorriu - Qual seu nome?- ele me botou no chão e eu fiquei em pé com dificuldade -Eu sou grata a você soldado ceciliano misericordioso, mas conheço técnicas de infiltração e pode até ter minha confiança mas existem limites, e se eu me virar e você ir contar ao seu líder o meu nome e nome da minha família? -Sensata- ele riu -Do mesmo jeito que acredito que você não diria o seu nome...- ele riu -Você é muito inteligente, conseguiu minha admiração menina -Te devo uma, se precisar de mim, só toque na terra de celeste e me chame, e eu vou retribuir o favor...- com dificuldade eu me curvo -e uma dica, treine melhor sua pontaria com laminas- eu ri enquanto me afastava com dificuldade -Ah sua noiva- ele manteve os olhos em mim- é uma mulher de sorte, talvez você não seja- ri - é triste perder quem se ama, disso eu entendo, mas ela tem sorte, nem todas tem o mesmo privilégio- ele sorriu de lado -Até um dia soldado...- o olhei pela última vez e acenei- obrigada. -Se se apressar talvez consiga se livrar do esporro- ele se curvou e sumiu na floresta, eu sorri, alguma coisa dentro de mim tinha a certeza que eu o veria novamente, algum dia talvez.
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