Dezenove

2119 Words
Sarah — Titia! Tia! — O que foi, minha filha? Por que essa gritaria toda? — Titia, a senhora não vai acreditar! — O que, minha flor? — O Rafa disse que quando a gente se casar, eu posso escolher o lugar aonde a gente vai viver. Não é fantástico? Dou a notícia assim que chego em casa. Minha noite de amor com o Rafa foi a coisa mais linda que já vi, ele é realmente um sonho e eu estou apaixonada. Que Sebastian, o que? Eu quero mesmo é poder assar o resto da minha vida ao lado do Rafaele. — E você já decidiu onde vai querer morar, minha menina? — minha tia pergunta. — E para quando vocês marcaram a data, hein? — Bom, ainda não marcamos a data, mas... se a senhora está cogitando que eu me separar de senhora, titia, está muito enganada, pois eu jamais a deixarei! — Então por que você veio com essa conversa de que: Rafaele disse que eu posso escolher onde vamos morar! Nossa, a minha tia é mesmo uma figura, nem bem terminei de falar e ela já me vem com esse ciúme. — Tia, eu já decidi que vou continuar morando aqui, para poder cuidar da senhora. Eu sei que o papai e a mamãe vão entender e eles também sempre se disseram preocupados em deixa-la aqui sozinha. — Ah tá. Aqueles dois pensam que em enganam. Nunca nem vieram me visitar, depois que se mudaram para Paris. Agora vêm com essa de que se preocupam comigo? Eu não acredito! — Ah, titia, não faz assim, pois todos nós a amamos e muito, viu? Dei muitos beijinhos nela, mesmo com uma cara amarrada, ela ficou feliz e acabou se entregando aos meus carinhos. Sempre tive a tia Cornelia como uma segunda mãe, como sendo a irmã mais velha do meu pai, ela como se fosse uma espécie de matriarca da família. Minha tia ficou viúva muito cedo e também não pôde ter filhos, ela sempre disse que eu sou sua sobrinha favorita, o que provoca certo ciúme por parte dos meus outros primos, só que nenhum deles quiseram ficar com ela depois que se mudaram e como eu sempre gostei muito dela e, vendo que estava bem perto, mesmo antes de ser demitida eu já fazia planos de ficar com ela. — Tudo bem, desde que você não se separe de mim, podem morar até aqui em casa, se quiserem. — Muito obrigada, tia Cornélia, mas onde a senhora acha que eu pretendia morar? Ela me olhou e fez aquela cara linda de: menina boba! Para mim só existe uma coisa boa nesse mundo que é estar perto de quem você ama. Eu sei que os meus pais moram em outro país, mas também sei que eles sempre estão comigo em espírito, pois chego a senti-los bem perto. Quanto ao Rafaele, esse eu nem me preocupo, ele chegou a dizer que iria adorar entrar para a minha família e a adotaria para ele. Eu logo respondi que ele sim é que seria adotado pela minha, a começar ela tia Cornélia! — Bom, titia, eu vou ao mercado e dar uma passada pela praia para visitar uma velha amiga, depois eu volto a tempo de te ajudar a fazer o almoço, tá? — dou um beijo em seu rosto e recebo uma recomendação. — Muito cuidado, minha filha. Você sabe que as coisas lá pelo lado da praia andam muito tensas. — Sim, eu sei tia. Uma pena todas aquelas pessoas terem sido mortas de maneira tão c***l — digo, da boate que foi atacada. O pior é que o Sebastian Baroni possui alguns estabelecimentos naquele local. Droga! Mas por que eu estou me lembrado daquele traste? — Me empresta o carro, tia? — Sim, minha querida e me traga um curry do mercado não esqueça. — Ok, não vou esquecer! Pego o carro e vou direto para o mercado. Tia Cornélia é mesmo uma pessoa e tanto, mesmo eu tento estourado com um de seus carros naquele acidente, ainda assim ela me emprestou o outro. O que eu me acidentei ainda está na companhia de seguros, já que é um volvo e essa foi a minha sorte por ser um carro bastante seguro. Fui ao mercado e comprei tudo o que precisava, mas tive medo de demorar na casa da minha amiga e as verduras murcharem. — Senhor Alonso, o senhor pode guardar essas verduras pra mim? Vou visitar uma amiga e tenho medo das verduras murcharem. Eu não vou demorar. — Claro, minha filha. Eu fico aqui até as seis da tarde, se você passar por aqui antes disso... — Nossa, bem antes. E muito obrigada, senhor Alonso. Conheço o senhor Alonso desde criança. Ele sempre teve essa banca de verduras aqui no mercado, lembro-me como se fosse hoje, da minha mãe me trazendo aqui para comprar na mão dele. Deixo as verduras para que ele guarde e vou para a praia, para a casa da minha antiga amiga, pois há tempos que ela me liga para eu fazer uma visita, só que a maluca nem ao menos foi me ver na UTI, vou lá mesmo só para a jogar isso na cara dela. Estaciono o meu carro no endereço fornecido e quando chego lá, me deparo com algo realmente espantoso. — Katia! Então é aqui que você mora? — esse é o nome dela. É uma mansão aonde parecem residir mais outras tantas garotas. Entretanto o lugar parecia estar com clima de velório, minha amiga veio em atender e eu fui logo dando-lhe um abraço. — Estou aqui a quase dois meses e você sequer foi me visitar no hospital! — digo, em tom de cobrança. — Nossa, amiga, eu só soube que você tinha voltado há poucos dias, quando encontrei a tia Cornélia na rua por acaso. — Todos que conhecem a dona Cornélia, a chamam de tia. — Fiquei super m*l quando soube do seu acidente e quando eu já ia te visitar, aconteceu uma coisa bem chata aqui no meu trabalho. Pasmem, Katia trabalha de noite exatamente na boate que sofreu o ataque. Só me falta ela trabalhar para o Sebastian Baroni, aí é muito azar da minha parte, viu. Mas o que me deixou chocada mesmo foi saber que por pouco a Katia também não morreu naquele ataque. Ela contou que atendia um cliente em um dos quartos, quando ouviu os disparos. Desesperada ela conseguiu arranjar um lugar onde pudesse se esconder com seu cliente e assim so dois escaparam. — Mas me diga uma coisa, Ka. Então você... — Sim, amiga. Mas não se preocupe, viu. Para todos os efeitos esse lugar é uma escola para mulheres. Nosso patrão é sempre muito discreto. — Ela sorri. — Para os moradores, essa casa não tem nada a ver com as atividades das boates. — Boates? Então tem mais além da que você trabalha? — E se tem. O patrão é dono de quase toda a rede que cobre Catânia! Não acredito. Cada vez que descubro mais eu tenho certeza de que o Sebastian é o dono de tudo isso. Ela seguiu contando que seu patrão parece ter conseguido se vingar do pessoal que cometeu o m******e na boate. — Amiga, não me conte essas coisas, pode ser perigoso para você! — Eu sei, mas confio que você seja a única pessoa capaz de guardar segredos por aqui. — O quer dizer? — Que eu não escolhi essa vida, amiga, foi porque eu não tive mesmo opção. A dor de Katia certamente também era a dor de muitas outras mulheres que foram vítimas das injustiças da vida, mas também vi sonhos em seus olhos, o sonho de mudar e se feliz, talvez com alguém, talvez sozinha. E ela também me contou um segredo que na verdade, eu até desconfiava quando ainda vivia aqui. Katia não é muito chegada em homens e por isso é bem aproveitada na boate, ela tem uma referência diferente, pois gosta mesmo é de outras mulheres. — Eu espero que você também não me discrimine, como a minha família fez! — Jamais, Ka. — eu respondo e seguro em sua mão. — Você não é a primeira pessoa que eu conheço que passa por isso. Mas pode contar comigo, pois aqui tens uma amiga. — Obrigada, amiga. Você sempre foi e sempre será para mim, como a uma irmã! Katia também me apresentou a garota por quem estava apaixonada, era uma garota que também trabalhava ali, só que a outra atendia como Barman e disse que um dia tiraria Katia daquela vida. Dei os parabéns compartilhei a minha felicidade, minha amiga adorou e disse que queria conhecer o meu noivo para lhe dar algumas instruções. Eu disse que na folga dela, a gente poderia marcar um jantar só nós quatro, Katia aprovou e a namorada também. — Pode deixar que nós vamos! Me despedi e saí indo na direção do carro. Só que é como diz aquele velho ditado. Quando o d***o não vem, ele manda o secretário. E não é que o secretário está aqui? Olho sem acreditar na figura de Sebastian Baroni bem na mina frente. Que desgraçado! Ele também me encara, parecendo ter visto um fantasma. — Olá, senhorita Milani. — ele diz, com aquela cara de cínico. — Não sabia que visitava minhas propriedades! — Fala da casa, ou das moças que trabalham aí? De fato, o que eu temia se confirmou, ele é o dono de todas aquelas boates da praia e sabe-se lá do que mais. — Uau! — ele olha para os lados. — Saiba que nenhuma delas é obrigada a estar aí. Estão porque querem. Mas afinal de contas. O que veio fazer aqui? — É proibido? — Não. De modo algum! — Ah, sim. Tenho uma amiga que trabalha para o senhor! — Verdade? E quem é ela? — Isso irá prejudica-la? — De modo algum. Não proíbo minhas meninas de terem amizades, só estranhei alguém como você ter amigas como... elas. — ele diz, apontando para a mansão, com a cabeça. Desgraçado. Como pode alguém ser tão lindo? E olha que o Rafa é bonito, mas não igual esse sujeito repulsivo! — Eu a conheço desde criança. Passamos boa parte da nossa infância, juntas. — Ainda não me disse o nome... — Vai fazer o que, se eu não disser? Não pode me demitir, senhor Baroni! — Você sabe muito bem que eu fiz aquilo para o próprio bem, Sarah. Não dava para ser um pouco mais grata? Faço silêncio, ele está certo, mas o que eu quero mesmo e manter esse cara longe de mim. — Me desculpe, é que eu não quero confusão pro meu lado! — Confusão nenhuma. Eu gosto de você farei tudo para que fique bem. — Olha aqui, senhor, eu agradeço, mas não precisa não, tá! — não entendo o que ele quer comigo? Ao mesmo tempo que penso que suas intenções sejam apenas e usar e depois jogar fora, eu vejo um brilho diferente em seu olhar. Será que até nisso o desgraçado sabe fingir? — Não mudo o que penso. E pode vir aqui para visitar a sua amiga, quantas vezes você quiser, serás sempre bem-vinda. Só isso? Ele fala e depois passa por mim como se nem me conhecesse. Depois de um papão desses, ele simplesmente me ignora e nada mais. Vestido naquele terno elegante, com aquela pompa toda como se fosse o dono do mundo. Ah, minha nossa senhora, esse homem quer me deixar louca! Dou uma sacudida na cabeça e volto para o meu carro, olho-me no espelho e me pergunto: — Por que ele me trata assim? Não sou nada do que homens do tipo dele, exigem de uma mulher, mas ainda assim ele me trata tão bem. Ah! Só me resta gritar, droga! Volto para o meu carro e dirijo até o mercado e lá eu pego todas as encomendas que minha tia me pediu, depois vou direto para casa. Os meus pais costumas dizer uma coisa a meu respeito. Que eu sou óbvia demais e sabem por que? Justamente pelo que acontece logo que chego em casa. — O que foi, minha filha? Você parece triste! — Nossa. Não estou não! — discordo, tentando disfarçar. — Você é óbvia demais, Sarah. É difícil uma pessoa como você, disfarçar seus sentimentos! Não disse! De longe todo mundo já sabe o que eu estou sentindo. Certamente um telepata não ganharia nada perto de mim, pois não precisa ser um para saber até os meus pensamentos. — Tive um encontro desagradável hoje! — Ah, foi? Com quem?
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