Capitulo I- Traumas
Em algum lugar na Bahia…
Quarta feira, 19 de agosto de 2000
- Me solta sai daqui, socorro pai, eu não aguento mais, sai Lucas, gente me aju ... aí .. ai… - Gritou Ana Cláudia pedindo socorro aos vizinhos e familiares sendo interrompida por um puxão forte de cabelo que seu marido lhe dera em seguida.
- Você vai voltar para casa agora, eu sou seu marido e quem entrar aqui vai apanhar também - gritou Lucas descontrolado, mais uma vez bêbado enquanto agredia mais uma vez sua esposa.
Juliana aos oito anos de idade presenciava a toda violência, juntamente com os vizinhos, primos e irmãos, a sua meia- irmã Ana Cláudia apanhava mais uma vez naquela mesma semana do seu parceiro Lucas, com a gritaria e os pedidos de socorro a garota coloca as mãos no ouvido para abafar a confusão, que ouvia da sua irmã e do cunhado.
Sabendo que não podia fazer nada naquele momento que a sua meia-irmã suplicava por socorro, tinha certeza que amanhã ou até mesmo mais tarde daquele mesmo dia Ana Cláudia estaria novamente aos beijos com o seu marido após esta briga. Aceitando mais uma reconciliação com o Lucas e ninguém poderia falar nada a respeito do ocorrido, já havia virado costume.
Era assim toda semana ou pior quase todos os dias. Fora assim com uma Sarah sua outra meia irmã mais velha, também com a Tatiane sua prima da zona rural, até que o marido a matou a pauladas e disse para todos que a sua esposa tinha sofrido um acidente, e até hoje as pessoas não sabiam o que havia acontecido, mas falavam. Não que Juliana achasse que essas mulheres são inocentes demais, ou boazinhas demais, mas achava errado elas apanharem e morrerem como acontecia com os animais.
- Juliana passe para dentro, não tem o que fazer menina? Deixe a vida da sua irmã, eles são marido e mulher se entendem - gritou sua mãe Nancy, a escorraçando para dentro da casa.
- Mas Mãe… - Tentou explicar Juliana enquanto entrava para dentro da casa, sendo interrompida pela mãe.
- Não tem mais, nem meio mais. Vá lavar aquela pia de pratos.- Nancy estava irredutível.
Juliana entrou para a casa correndo, na sua idade já sabia que funções de uma doméstica, cuidava da casa, ainda não sabia fazer café ou cozinhar, mas lavava os pratos, o banheiro, varria e passava pano na casa, essas já eram atividades comuns às tardes, logo que estudava durante as manhãs.
Naquele mesmo dia, durante à noite Ana Cláudia foi a casa do seu pai Celso, com uma xícara na mão. Com um dos olhos arroxeado, além de vários hematomas pelo corpo, um visível ao lado da boca, outros espalhados pelo pescoço, no braço, além da blusa branca rasgada, enquanto entrava na casa cantarolando um refrão de uma música de amor. Vendo Nancy parou de cantar para pedir.
- Nancy me dê um pouco de açúcar, o de lá de casa acabou.- Pediu Ana Cláudia sorrindo adentrando a casa. Encostando-se no braço do sofá que a madrasta estava deitada assistindo a novela, Ana Cláudia pediu. Nancy não a olhou, apenas continuou assistindo a novela e lhe disse.
- Você só vem pedir, tem uma boca de pedir que só Deus. Vá lá peça a Juliana. A mulher continuou sorridente passou pelos cômodos indo ate à cozinha, o importante para ela era conseguir o açúcar, sua madrasta reclamava, porém não negava.
- Juliana, Ju onde que você está?- Chamou Ana Claudia, procurando sua irmã de criação.
-Oi, tô aqui no quintal.- Falou a menina enquanto pendurava as roupas no varal, olhando para trás com curiosidade imaginando como sua irmã estaria após a briga, enquanto tentava equilibrar-se num banquinho.
- Nancy falou pra você me dar açúcar.- A mulher falou mostrando-lhe uma xicara branca com o fundo amarelo, olhando na direção da xicara, Juliana sabia que o amarelo no fundo da caneca, seria devido ao consumo de café que sairia facilmente com água sanitária.
- Açúcar ? Pega aí na prateleira - falou a garota, pulando de um banco de madeira, que havia subido para alcançar o varal para estender a roupa. Apesar de saber que sua meia-irmã estava suja, marcada e até mesmo algumas partes com sangue, não seria bom, perguntar se ela estava bem. Chegando a cozinha, Juliana olhou para Ana Cláudia que apesar de ser bonita, estava totalmente destroçada, mas parecia feliz cantando uma música, pegando o açúcar no pote branco de plástico, havendo pouco mais que duas xícaras no pote.
Ana Cláudia, uma mulher branca pele clara, alta medindo 1,70 de altura, cabelos longos cacheados pretos, lábios carnudos, pernas grossas, quadril largo, olhos negros, os s***s grandes, a cintura fina, de certo modo era uma bela mulher, mas a cada surra e/ou espancamento estava cada vez mais marcada e maltratada, sua pele limpa que era luminosa, agora também possuía varias cicatrizes.
"Ele veio sorrindo de onde eu não sei. Mexendo com minha cabeça e o meu coração, tenho feito um sonho azul, tão sombrio de emoção, desfazendo o meu céu, invadindo a minha solidão " Diana, sonho azul.
Juliana a observou, ouvindo aquele canto seguido de assobios, imaginou que com certeza já haviam feito as pazes. Mas a aparência da sua meia-irmã estava terrivelmente acabada. A garota se perguntou como poderia a sua irmã está cantando após toda aquela terrível surra, ainda mais assistida por todos na rua, como poderia sair pela porta sorrindo e cantando como se nada tivesse acontecido mais cedo. Ana Cláudia a olhou na porta da cozinha, sem dar um tchau ou obrigado foi embora.
Sexta-feira 21 de agosto de 2000
Enquanto Juliana chegava em casa, ouviu gritos novamente de Ana Cláudia. Colocando a cabeça através da janela, olhou para a casa em frente, avistou sua meia-irmã correndo, o Lucas desta vez tinha um pedaço de mangueira verde na mão. Todos os vizinhos já estavam do lado de fora de suas casas, para assistir a mais uma briga de casal, era muito comum aquele tipo de espetáculo, naquele bairro.
- Socorro gente, ele quer me bater…- Gritou Ana Cláudia num tom de súplicas para o pessoal assistia a confusão.
- Cala boca sua vagabunda, você achou que eu não ia saber?- Lucas a interrompeu atirando a mangueira em suas costas e pernas.
- Não, Lucas eu não o fiz, eu juro. Eu nunca iria te trair.- Ana Cláudia explicou com medo. - Ela virou-se de frente para ele erguendo as mãos para se explicar, mas sem sucesso.
- Então me diz porque um homem estava saindo de casa tão cedo, Claudia?- questionou Lucas enciumado com uma das mão na cintura.
- Era o homem da prestação, Lucas pode perguntar para a Dona Conceição.- implorou Ana Cláudia chorando.
- Minha mãe me falou tudo sua p*****a, vou jogar sua roupa toda na rua, mas primeiro você nunca mais vai ser mulher.- Gritou o homem com os olhos vermelhos descontrolado.
Saindo porta a fora, Nancy olhou o alvoroço na rua, com muitos observadores do espetáculo, ela não sabia exatamente o que estava acontecendo.
- O que está acontecendo ali Juliana?- Perguntou a mulher curiosa sem tirar os olhos da confusão.
- O Lucas, ele está batendo de novo na Cláudia, mãe, devo chamar o Pai?- Falou Juliana olhando para a mãe tremendo.
- Seu pai está trabalhando, não lhe incomode por besteiras daqui a pouco eles se acertam, e a Cláudia vai ficar zangada comigo se alguém entrar na briga.
Juliana até entendia a sua mãe, toda vez que os dois brigavam que Celso se envolvia, Ana Claudia ficava dias sem falar com eles, mas desta vez Juliana achava que era mais sério, Lucas estava sem beber, com uma mangueira na mão descontrolado. Mas quem se importaria com a opinião de uma criança ? Principalmente sendo tão sensível e traumatizada como Juliana.
- Mãe eu não sei, mas dessa vez é sério ele nem tá bebendo. Ele tá com uma mangueira na mão, a Cláudia está toda ensanguentada. Olha lá, daqui dá pra ver melhor.- Retrucou a menina assustada.
- Você sempre fala que é sério, mas toda vez dá na mesma, um dia você vai casar e vai saber como é.- Enquanto Nancy falou despreocupada, Juliana arregalou ainda mais os olhos. Essa frase " um dia você vai casar e vai saber como é " ficou gravada na memória da garotinha, girando pior que uma roda gigante, não apenas pelo giro, mas também pelo peso das palavras. Nisto ela pensou " Nunca vou me casar, namorar".
Continuando a olhar pela janela da casa, as duas assistiram Ana Claudia sendo espancada mais uma vez. Juliana de olhos arregalados sentia seu peito pular a cada mangueirada que sua meia-irmã recebera.
Ouvindo a discussão percebeu que tudo aquilo, foi causado por um fuxico que a mãe do Lucas havia feito, com o rapaz da prestação que procurava a vizinha Lúcia mais cedo. Após essa briga passaram-se duas semanas, por fim Lucas e Ana Cláudia tinham dado um descanso para todos na rua.
Até que um dia … enquanto Juliana voltava da escola, ouviu um burburinho na rua novamente. Sem ainda entrar em casa avistou Ana Claudia saindo da casa ensanguentada, havia levado três facadas do seu querido esposo.
Com as mãos na cabeça as lágrimas escorrendo pelas bochechas negras escuras Juliana gritou quando avistou seu meio- cunhado Lucas com uma faca ensanguentada saindo em seguida atrás da sua irmã.
- Corre, Claudia, ele está atrás de você. - Gritou Juliana num impulso tentando socorrê-la.
- Abre a porta eu vou….- Ana Claudia tentou correr ao ouvir-lhe, mas fora esfaqueada mais um vez.
A mulher de 22 anos foi apunhalada mais uma vez, dessa ao invés de ser no braço, nas costas, ou na barriga, fora acertada a face, na têmpora esquerda, a faca não entrou totalmente mas com certeza o estrago seria profundo.
Naquele mesmo dia, Lucas colocou as roupas de Ana Cláudia para fora da casa, queimando até mesmo os documentos da mulher, enquanto a mesma estava no hospital. Da janela, da sala e por fim do quintal Juliana assistiu a tudo, e mesmo que tentasse não ver, a fumaça das roupas e dos documentos queimando a seguia pela casa ficando o cheiro em seu nariz e a lembrança nítida da sua meia-irmã, sendo esfaqueada em sua mente.
Sem roupa e sem documento além de ferida, Ana Claudia, a meia-irmã de Juliana foi morar na roça com a sua tia Nita, irmã da sua mãe Sônia, ex mulher do seu pai Celso. O motivo da tragédia, sugiram diversos boatos, nunca soubera-se de fato o que houve, a própria Ana Cláudia não soube de certo o que tinha acontecido. Quando perguntavam-lhe sobre o assunto, Ana Cláudia apenas ficava pensativa tentando encontrar um motivo para o fato.
Em menos de um mês na casa em que o Lucas morava havia outra mulher, assumindo o lugar da Ana Cláudia, depois de dois meses entre beijos e amores, as brigas e a violência doméstica voltou a ser espetáculo dos vizinhos novamente, desta vez a personagem era outra, Shirley.
Shirley era uma mulher mediana em torno de 1,62 de altura, branca, cabelo n***o na altura da cintura, lisos, sua boca era rosa, lábios finos, um pouco gordinha, sobrancelhas grossas, não muito diferente da Ana Cláudia, muitos até a consideraram melhor que a sua substituta.
Nos primeiros dias no relacionamento tudo era flores, um verdadeiro conto de fadas. Lucas acordava cedo para ir ao trabalho, fazendo calçamento de rua era um trabalho difícil, tinha que ficar o dia inteiro de cócoras, enquanto a Shirley, ficava em casa fazendo as atividades diárias, para muitos era uma atividade fácil, mas Juliana sabendo de perto, uma vida de dona de casa não era nada fácil.
Entre preparar a comida, lavar pratos, roupas, banheiros, limpar, lavar, passar, costurar e etc., são muitos afazeres que podem levar um vida inteira sem dar conta de tudo, e no fim das contas as pessoas lhe questionar o que fizera.
Todos os dias Lucas levava pão, nos fins de semana saia para beber com os amigos, algumas vezes carregava sua esposa e com esta não foi diferente de Ana Claudia, ambas bonitas alguns dos amigos do Lucas a assediava, porém muito diferente de Ana Cláudia, Shirley não rejeitou algumas aproximações, enquanto Lucas já estava bêbado, começou um envolvimento amoroso com um dos amigos do Lucas, o traiu com o Luís aproveitando que seu esposo estava bêbado caído no chão do bar, na segunda- feira todos no trabalho sabiam que Lucas havia sido corno, a resenha não ficara por menos. A manhã inteira vendo os homens olhando para ele cochichando um para o outro, ou até mesmo contava-lhe piadas sobre cornos.
Chegaram até a perguntar descaradamente ao Luís se a mulher era boa, e o homem não poupou detalhes da traição, narrou cinicamente tudo que havia acontecido, além de haver ajudado a levar Lucas para casa, supostamente tendo relações com sua esposa na cama dele. O dia foi muito estressante para Lucas.
Enquanto isso Shirley estava em casa, regando as plantas conversando com elas, era uma prática habitual matinal, todos os dias molhar as plantas, Juliana já havia se tornado amiga da Shirley, apesar da sua família torcer o nariz para a mesma passou pela mulher mais uma manhã, a cumprimentou com um bom dia e um sorriso, que lhe respondeu sorridente, lhe desejou uma boa aula.
Juliana foi para a escola naquele segunda, era mais uma que tinha aula de português, a professora Elvira era muito boazinha para a menina que apesar de sofrer perseguições e bullyngs, pela sua cor n***a, magreza, pela pobreza e até mesmo por causa do seu cabelo cacheado preto, para muitos não era comum.
Ser uma menina n***a, cabelo crespo para alguns era símbolo de rebeldia, portanto era ridicularizada, alguns colegas a xingavam, empurravam-lhe, puxava-lhe o cabelo, rasgava suas atividades, a professora às vezes não via, e quando assistia algumas perseguições, reclamava com os colegas, que paravam por um tempo continuando depois no intervalo, até mesmo no corredor, no banheiro, ou indo para casa.
Apesar das coisas na escola não funcionarem de um jeito agradável, Juliana ignorava os desafetos, gostava de estudar, já havia notado que o estudos poderia fazer diferença em sua vida. A professora Joseane da 4ª série também era n***a como ela, acreditava que se a professora conseguiu algo na vida, Juliana acreditava que também conseguiria estudando. Mas achava que ser professora era muito difícil, tinha que lidar com crianças e ás vezes estes não lhe obedeciam, ser professora certamente não seria sua área, quem saber outra coisa.
Seu sonho era ser médica mas nunca conhecerá uma médica ou medico negros na sua vida toda vez que foi ao posto de saúde ou hospital, havia apenas médicos, homens e brancos, uma vez ou outra algumas mulheres brancas, com aparência bem rica, bem que dinheiro não seria uma má alternativa para a garota que utilizava roupas e sapatos doados, mas o que lhe agradava na profissão não era a remuneração, pois ela nem mesmo sabia o quanto ganharia um médico, mas o cuidar das pessoas, o salvar vidas este era o diferencial.
Após mais uma manhã de aula, Juliana retornou para casa, sua mãe estava sentada no sofá, lhe mandou esquentar a comida que estava na geladeira, depois do almoço, a garota lavou os pratos, varreu a casa, lavou o banheiro, e quando estava limpando o quintal ouviu burburinhos na rua, mas ignorou, continuado seus afazeres, ainda tinha trabalho de história para fazer.
Continuando a fazer suas atividades sua mãe lhe gritou da porta da cozinha.
- Juliana, vem ver o Lucas esta batendo na Shirley, vem ver.- Chamou Nancy da porta da cozinha com um sorriso cínico na boca, ela não escondia que não gostava da Shirley.
- Batendo na Shirley de novo?- Juliana parou o trabalho deixando a vassoura de lado, olhou para a mãe. As duas foram correndo, enquanto Nancy pulava comemorando.
- Maior quebra p*u na rua.- Falou Nancy rindo. Correndo para a janela, para assistir mais uma confusão comum, desta presenciaram um assassinato, Shirley até que tentou ir embora, mas o Lucas a apunhalou várias vezes a matou a facadas, o corpo ficou estendido na rua por uma noite e uma manhã, Lucas fugiu imediatamente, ninguém tentou segura-lo para não fugir.
A polícia chegou ao local analisando a cena do crime, ninguém disse o que tinha acontecido afirmando que não sabiam, enfim a Shirley morreu e por fim sobrou apenas traumas. Aquelas cenas de espancamentos, agressões, e até mesmo os olhos da Shirley arregalados enquanto estava morta assombraram as noites de Juliana até a garota completar seus doze anos. Cresceu passando olhando para as plantinhas que a Shirley plantou, a dona que alugou a casa depois do assassinato cuidava delas.
Após alguns meses Juliana ainda refletia sobre o caso, achando injusto os homens ter liberdade de trair as mulheres, enquanto quando elas traiam seus parceiros, era agredidas e até mesmo mortas, qual o preço da vida de uma mulher?
Depois daquele dia fatídico nada mudou, as atividades em casa a medida que Juliana crescia e adquiria corpo as tarefas aumentaram, agora a garota aprenderá a cozinhar, as vezes ajudava a sua mãe a fazer a faxina em casa de família de classe média.
Apesar dos anos passarem, os traumas se estabeleceram e Juliana acreditava que o amor era algo doentio, que ao mesmo tempo que beija e acaricia também mata. Sempre foi assim, com sua meia-irmã Sarah, sua prima Tatiane, com sua meia-irmã Ana Cláudia, com a sua vizinha Shirley, todos os dias em algum lugar, o amor, esse amor que faz as mãos suarem, as pernas tremerem, e até mesmo deixar sem fôlego, como muitas diziam, também matava e se tinha uma coisa que Juliana não queria para sua vida era ser mais uma vítima de amor.
Apesar de seus pais serem diferentes, sua mãe e seu pai nunca brigavam para agredir um ao outro, mas de longe notava-se que não havia amor, Celso era um homem que atendia as necessidades de sua mãe Nancy, nunca teve flores, chocolates, tampouco música preferida, ou nem mesmo cor. Sua mãe era uma mulher fria, muitas vezes estava de m*l humor, não era bom respondê-la muito menos cantar ou assobiar depois de uma reclamação.
Enquanto seu pai Celso era um homem distante, algumas vezes não sabia se ao menos que ele estava em casa, Juliana nunca ouvira contar uma história, uma musica, sempre sério com seus pensamentos, a garota desconfiava que algumas vezes estar em casa era uma obrigação para ele.
Trabalhava no hospital municipal, na limpeza durante o dia, as vezes a noite estando em casa poucas vezes no mês, nunca participara de uma reunião de pais, além daquele ser terceiro casamento. Sempre estava pensativo, distante, Juliana questionava-se algumas vezes, quem realmente era seu pai.
Quando ele ordenava ou castigava, não tinha como barganhar, era sério impetuoso, nunca desmontará carinho ou afeto por nenhum de seus filhos ou irmãs. Nunca se opôs as exigências de sua mãe, Juliana acreditava que talvez fosse o modo como ele demonstrava amor, cumprir as exigências de sua mãe, mas sempre que olhava para aquele homem frio e distante, nada nele lhe parecia comum, ela achava pecado, mais não sentia carinho da parte dele.
Celso era um homem branco caucasiano, altura em torno 1,70, cabelos castanhos claro liso, nariz longo, lábios pequenos, olhos esverdeados. Enquanto Juliana, era n***a bastante escura, cabelos pretos cacheados longos, aos 10 anos de idade tinha 1,30 de altura, quadris largos, talvez ela fosse como sua mãe, que também era n***a, mas não era tão escura.
Olhando para todos da sua família era um pouco difícil ser parecido com alguém, até mesmo suas atitudes eram diferentes, talvez parecesse uma tia distante ou falecida quem sabe. Acreditar ou fingir não era difícil, pois se pergunta-se seria difícil ter uma resposta. E assim ela cresceu, as vezes tinha vontade de perguntar a mãe por que era mais escura e o cabelo cacheado era de quem? Mas conhecendo o gênio difícil dela, era melhor não questionar, esperava quando ela estava bem humorada para ouvir suas histórias, assim soube que nasceu no litoral e viveu um tempo por lá.