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1784 Words
Nikolai A reunião do conselho era comum, Vladimir costumava chegar raivoso em casa depois delas, e como sempre, descontava em mim e em minha mãe. A questão, era que eu estava participando dessa vez, junto com Dimitry. Engoli o seco e encarei os demais, esperando que seu discurso fosse iniciado. - Bom, vamos começar. - Ivan Nikolaev, o consigliere se pronunciou. - Sejam bem vindos a mais uma reunião do conselho, hoje, viemos decidir o futuro da máfia. - Serguei se levantou e abotoou seu blazer. - Como sabemos, o herdeiro, Nikolai Pavlov, têm o direito de receber o império do pai assim que ele morrer, sejam quais forem as circunstâncias. - Ele explicou. - E assim, sucessivamente, se Nikolai morrer, um dos filhos vai herdar, e é por isso, Nikolai, que você precisa se casar.. - Eu preciso me casar? - Levantei minha sobrancelha. - Exatamente. - Anton Morozov, capi disse. - E o mais indicado é que se case com uma das filhas dos homens da máfia. - Está foi a vez de Maksim Gorky. - E, me corrijam se eu estiver errado, querem que eu escolha as filhas de algum de vocês. - Sorri torto e encarei Dimitry. Ele sufocou um sorriso. Eu já havia dormido com boa parte dessas mulheres, apenas Petra Nikolaev havia se livrado. - É o aconselhável. - Vladimir se pronunciou, pela primeira vez. - Uma mulher criada na máfia conhece as limitações, sabe que somos os últimos a impor a palavra dentro de nossas casas, são acostumadas com os nossos sumiços e acredite, nunca vão cobrar nada de você, afinal, ela não te ama. - O que te faz pensar que eu quero um casamento vazio e por conveniência? - Cruzei meus braços e o encarei. - Não é o que você quer, Nikolai, é o que você precisa fazer. - Alexei argumentou. - Vou pensar com carinho, eu prometo. - Debochei. - Só não mandem suas filhas aparecerem na minha casa, eu vou ficar muito puto. Me levantei e abotoei meu blazer, passei a mão nos meus cabelos e finalmente, encarei Vladimir: - Sem mais adendos, peço licença. - Me virei e sai da sala. Andei pelo largo corredor escuro, até finalmente conseguir ouvir a música alta do lugar. O pequeno inferno, um prostibulo - cabaré, ou que outros nomes as pessoas preferem chamar - da máfia. Milhares de mulheres eram arrastadas toda semana para cá, algumas morriam por doenças que acabavam contraindo de algum dos milhares de homens que apareciam aqui todas as noites, outras morriam na mão de Capis, Soldados, pelas esposas dos Capis ao descobrirem que elas se tornaram amantes de seus maridos. O que me deixava extremamente raivoso, era o fato de a grande parte não querer estar ali. Eu já havia tentado reclamar algumas vezes, mas alguém sempre se machucava, então preferi não dizer mais nada. Não queria que uma delas fosse torturada na minha frente, mais uma vez, para que eu pudesse entender que elas não eram nada - na visão da máfia e do meu pai -, eu não queria mais sangue derramado por minha culpa. Meu celular apitou no meu bolso e eu parei no bar, tirando-o do bolso. "Me espere na entrada, Vladimir quer conversar." - Dmitry. Ignorei a mensagem e pedi um Martini ao barman. Apreciei a bebida enquanto corria os olhos pelo lugar. Eu costumava visita-las com bastante frequência. - Niko. - Lindsay parou ao meu lado. Ela era loira, tinha um corpo bonito e era extremamente atraente. Tinha vindo dos Estados Unidos e era filha de um magnata - hoje morto - que devia uma grande quantia de dinheiro aos Pavlov. Ela era uma das mulheres mais simpáticas que eu já havia conhecido, compreensiva e extremamente confiável. - Oi, Lindy. - Sorri e ela se sentou ao meu lado. - Dia difícil? - Ela perguntou. - Não, nenhum pouco. - Eu ri. - E o seu? - Péssimo, Nikolai, péssimo. - ela revirou os olhos. - Uma água, por favor. O barman correu para buscar a garrafa da loira, enquanto continuamos conversando. - Chegaram mais algumas hoje. - Lindsay disse. - Estão assustadas, exceto uma, creio que irá morrer primeiro. - Porquê acha isso, Lindy? - Me virei para ela e levantei a sobrancelha. - Sabe que o nosso trabalho é cuidar delas, na maior parte do dia. - Ela explicou. - A questão é que ela não come nada, e sempre que os soldados tentam obrigá-la a comer, ela surta e manda todos para o inferno. Ela cuspiu no rosto do Iuri. Eu ri. Iuri era um soldado com sonhos altos, ele era exatamente como o meu pai queria que eu fosse. Um ser humano impiedoso e que em sua grande maioria, agredia mulheres. Ele odiava ser contrariado. - Não ri, Nikolai. - Ela respirou fundo. - Ela está na defensiva, acredite. Ontem ele ameaçou acabar com ela, traumatiza-la para sempre, é questão de honra para ele... - ela fez uma pausa e, finalmente, engoliu sua água. - Ele só quer chamar a sua atenção. - Está fazendo de um jeito negativo, então. - Eu sorri de lado. - Ela é bonita? - Muito. - Ela sorriu. - está interessado, Pavlov? - Talvez. - Sorri de lado. - Eu preciso me casar, rápido. - Uh, que horrível. Logo você.. - Ela debochou. - Logo eu, Lindy? - Levantei uma das sobrancelhas. - É, você não ama ninguém e está sempre na defensiva. - Ela me encarou. - Espero que encontre alguém. - Se eu levar uma moça de fora da máfia para casa, eu prometo tirar você daqui, Lindy. - Coloquei um fio do seu cabelo atrás da sua orelha. - Eu só preciso de uma desculpa. - Case comigo. - Ela pediu. - Não posso, Lindy. - Eu suspirei. - Eu queria, você seria uma esposa perfeita, mas me casar com você.. seria... - desonroso, eu sei. - Ela suspirou triste. - Eu ouvi o seu pai falar. - Me desculpa. - Pedi. Eu amava Lindy, ela era como uma irmã para mim. - Eu queria poder. - Só que.. - Ela encarou o chão, antes de me encarar. - Se for se casar com alguma mulher sem amar, se case com Ava.. - ela pediu. - Eu não quero que Iuri a machuque, ela é difícil de lidar, mas só está com medo de ser machucada.. eu sei o que é isso. - Eu vou pensar, tudo bem? - Sorri fraco e beijei sua testa. - Sai daqui. - Vladimir disse grosso, assim que parou ao nosso lado. Lindsay estremeceu e saiu rapidamente, sem nem se despedir. Vladimir me encarou de cima a baixo e negou com a cabeça, fazendo uma expressão de desgosto. - Hoje você vai conhecer o carregamento novo. - Ele disse, após alguns segundos. - Quem sabe você não encontre uma presa para se aliviar e deixar de ser esse insuportável que você é. Dei uma última golada no meu martini e me levantei, encarei os olhos de Vladimir e Suspirei: - Quero levar Lindsay para a minha casa. - Avisei. - E nada, absolutamente nada, vai me fazer mudar de ideia. Ele deu os ombros e saiu na minha frente. Atravessamos o grande amontoado de pessoas, até chegarmos a um corredor do lado oposto. Diversos quartos eram espalhados por ali, gemidos eram ouvidos de dentro, enquanto andávamos a passos apressados. Um porta estava trancada no fim do corredor. Vladimir puxou um molho de chaves e a abriu. Uma construção antiga e apagada, provavelmente, a casa onde as moças ficavam antes do trabalho. Não era tão decadente quanto o esperado, era organizado e com móveis decentes. Entramos em um quarto pequeno, e Vladmir puxou uma pequena portinha do chão, me dando espaço para que eu pudesse descer. As cenas a seguir, se passaram como um filme agoniante. Inúmeros quartos estavam espalhados pelo lugar. O cheiro de mofo estava espalhado por todo o lugar, enquanto uma tosse insistente era ouvido ao longe. - É aqui que elas ficam até que eu venha. - Ele sorriu perverso. - Isso é desumano. - Argumentei. - Grande parte dessas mulheres foram dadas por suas famílias. - Ele revirou os olhos. - Se estiver tão incomodado, reclama com os pais delas. Pisquei algumas vezes e engoli o seco. Eu não conseguia imaginar em que planeta isso era normalizado. Eram garotas jovens, com vidas inteiras pela frente. Limpei a garganta, e segui Vladimir até onde Iuri estava. EE sorriu para nós, antes de começar a falar animadamente: - Essa leva está ótima, senhor. - Ele disse animado. - Não sabia que viria junto, senhor nikolai. - Foi de última hora, não se preocupe. - Disse calmo. - Soube que temos uma garota problema. - Sim, mas eu tratarei de doma-la, não se preocupe, ela não trará problemas. - Ele disse animado. - Me mostre a garota. - pedi. Ele assentiu e caminhou a passos apressados até a última cela do corredor. Estava silenciosa. A porta rangeu quando foi aberta, a única lâmpada foi acesa e eu tive o vislumbre de um pequeno corpo encolhido no canto do chão. Seus braços abraçavam suas pernas e enquanto ela escondia o rosto entre os joelhos. Seus cabelos longos e negros, caiam pela suas costas, criando uma capa sobre o seu corpo branco e frágil. - Ava! - Iuri chamou. Ela levantou o rosto e se encolheu mais um pouco. Olha-la de cima me lembrava a minha mãe, encolhida em um canto, implorando para que meu pai parasse de agredi-la. - É essa a garota chefe. - Iuri explicou. Seu rosto fino, as bochechas levemente rosadas e o olhos grandes e brilhantes lhe entregavam um ar angelical. Quase uma santa. Meus pensamentos voltaram para Lindsay e a angústia tomou conta de mim. Eu não podia deixar que Iuri a machucasse, não mais. - Eu quero ela! - Eu disse, por fim. - Mas, senhor.. - Iuri disse assustado. - Deixe ele, Iuri, uma hora ele vai cansar do brinquedo e ela será toda sua. - Ele bateu no ombro de Iuri e riu debochado. - Entregue a chave e vamos conhecer as outras. Iuri puxou a chave das grades do bolso e me entregou, meio a contragosto. Logo, saiu acompanhado de Vladimir. - Vamos, eu vou tirar você daqui. - Eu me aproximou de Ava. - Não me toque, por favor. - Ela implorou. - Eu não vou te machucar, eu não sou como o Iuri. - Avisei, destrancando as grades. - Agora, vamos. Ela me encarou receosa, antes de, finalmente, segurar a minha mão e se levantar. Ava era minha!
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