Capítulo IV

1005 Words
Ana estava sentada no banco da praça, perdida em pensamentos. Levantou o rosto em direção aos raios de sol, com os olhos fechados. Há muito tempo não saía de casa sozinha, mas, naquela manhã, precisava de um pouco de ar puro. Desde aquela noite, ela tinha medo de ficar sozinha, mesmo rodeada por mães, idosos e crianças brincando naquela praça. Nenhum lugar lhe parecia seguro. Qual estranho, vulto ou sombra fazia com que o seu coração disparasse. No entanto, estava com mais medo de perder o amor do marido por não conseguir enfrentar a vida. Sempre se considerou uma mulher forte e decidida, mas agora, ela não se considerava nem sombra da mulher com quem Jonny se casou. Incrível como, apesar da dor que uma pessoa possa sentir, a vida continua. E tem mesmo que continuar! As gargalhadas e choros daquelas crianças eram a prova viva disso. Ana abriu os olhos e abaixou a cabeça em direção voz nasalada que lhe era dirigida. — Hein, moça, amarra o meu tênis?— Repetiu a menina, sendo finalmente ouvida. Ana abaixou a cabeça na direção da voz que tentava chamar a sua atenção e deparou-se com uma menina de quatro anos, cabelos loiros e imensos olhos azuis, parecendo um anjo vestindo um casaquinho azul-celeste. — Claro que sim, querida! Ana sentou a menina no banco cantando uma música que a sua mãe costumava cantar, lhe ensinando a dar o laço. “… O coelhinho sai da toca e puxa a orelhinha…” A menina gargalhou, deliciada. — Qual o seu nome, mocinha? — É Vivi. — Você uma menina muito simpática, Vivi. — Ana olhou em volta. — Onde está a sua mãe? — Minha mãe foi morar com o Papai do Céu. Ana ficou surpresa com a resposta da menina, não sabendo o que deveria dizer. — Vivi, já agradeceu a simpática moça por te ajudar a dar o laço? — Disse um homem por trás do banco onde elas estavam sentadas. Ao ouvi-lo, Ana levou um susto e ficou nitidamente abalada. — Queira me desculpar, senhora, não quis assustá-la. Meu nome é Pedro, sou avô dessa menininha. Pedro estendeu a mão para se cumprimentarem, mas Ana não a apertou. Ele respirou profundamente, mas pareceu não se ofender com a desfeita, pelo contrário, sentou-se ao lado dela, enquanto a menina correu em direção às outras crianças. — Vitória é exatamente como a mãe dela. Conversa e sorri para todos, como se os conhecesse. Espero que não tenha lhe incomodado. — De maneira alguma, é uma menina doce e simpática, também muito bonita, parece um anjinho. — Sim, ela e a mãe nasceram com os mesmos olhos da minha falecida esposa, esse azul é muito especial, quase violeta. — Vivi me disse que a mãe dela foi morar com o “Papai do céu”… Se me permite o atrevimento, o que houve com a mãe dela? — Ana perguntou intrigada, sua mente sombria esquecendo as boas maneiras. Pedro não se importou com a pergunta invasiva, parecia até mesmo esperar algo do tipo. Olhou na direção da neta, balançou a cabeça, pensativo, e com um suspiro, finalmente respondeu: — Minha filha se foi… e eu não pude fazer nada…Uma lágrima rolou pelo rosto dele. — Ver você aí sentada me fez lembrar dela. ◆◆◆ Jonny chegou em casa ansioso para falar com a esposa, todavia, não a encontrou. Um misto de surpresa e preocupação apoderou-se dele. Há meses, Ana não saía de casa desacompanhada. Ele ligou para o celular dela, no entanto, ela não atendeu. Preocupado e não sabendo ao certo o que deveria fazer, Jonny buscou no aplicativo de seu celular o GPS que estava conectado ao celular de Ana. O GPS poderia informar-lhe exatamente onde ela estava. No momento em que a informação apareceu na tela do seu aparelho, a porta da sala abriu e Ana entrou, carregando uma sacola de frutas. — Onde você estava? — Perguntou Jonny, com os olhos arregalados de surpresa ao vê-la chegar. — Eu precisava de um pouco de ar puro e saí para dar uma volta pela praça. — Ela falava e, ao mesmo tempo seguia o seu caminho até a cozinha e colocou a sacola de frutas sobre a pia. Jonny a seguiu. — E você está bem? — Ele perguntou, apreensivo. — Sim, estou muito melhor agora. Foi bom ver um pouco de vida… Ana lavava as maçãs na pia quando Jonny a abraçou por trás, um pouco sem jeito por não saber qual seria a reação dela. Ela fechou a torneira e virou de frente para ele, passando os braços em torno do seu pescoço. — Ana… Prenderam um homem no shopping igual ao retrato falado, foi reconhecido por uma menina de dezesseis anos. — É ele? — A voz dela estava trêmula, quase suplicante, os olhos brilhavam com lágrimas contidas. — Me fala que é ele, que prenderam ele! — Ela estava nervosa e a sua voz saía desconexa. — Calma, meu amor! — Ele passou as mãos pelo rosto dela, afastando os cabelos que lhe caíam no rosto. — Parece que é ele sim, mas o delegado Meireles pediu que fôssemos lá para uma identificação. Ela o abraçou. Ele podia sentir o coração dela agitado. Fechou os olhos sentindo o corpo dela contra o dele, o perfume dos cabelos dela, o toque do rosto. Amava a esposa mais que a si próprio, no entanto, sentia-se inútil por não poder afastar toda aquela angústia das suas vidas. — E-eu terei que vê-lo novamente? — Encarou-o parecendo uma criança desamparada. — Eu estarei lá com você e ele não poderá vê-la. Finalmente ele vai pagar pelo que fez, Ana! Vai ficar tudo bem e esse pesadelo vai acabar, poderemos voltar a ser como antes. — João… — Afastou-se dele. — Eu não sei se poderei voltar a ser como antes. — Então… — Abraçou-a novamente, sussurrando em seu ouvido. — Então seremos eu e você tentando fazer o melhor que pudermos…
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