Ana caminhava sozinha por uma rua deserta, não conseguia encontrar o endereço desejado. Decidiu virar a esquina, assim, poderia pedir informação a alguém. Depois da esquina, no entanto, havia apenas um enorme muro de tijolos pretos, coberto por musgos de aspecto pegajoso. Virou-se assustada para fazer o caminho de volta, mas a luz do único poste apagou. Apavorou-se sozinha no escuro num lugar desconhecido. Tentou fazer o caminho de volta devagar, mas, ouviu passos atrás de si. Se virou sem enxergar nada. Em vez dos seus olhos se acostumarem com a escuridão, tudo parecia se converter em breu absoluto.
Mais uma vez, ouviu passos, dessa vez, mais próximos e apressados. Ana desesperou-se e tentou gritar, mas sua voz não saía de sua garganta. Estava muda. O chão sob os seus pés cedeu, ela tentou se equilibrar, se debatendo freneticamente. O seu peito clamava por ajuda, queria gritar por socorro, mas, ainda que conseguisse gritar, não tinha ninguém ali que a pudesse ouvir, exceto o homem, cujos passos se aproximavam mais e mais, até que ela caiu desamparada num enorme buraco escuro.
Ana acordou suada e assustada. O pesadelo fora muito nítido, deixando-a confusa mesmo após perceber-se em seu próprio quarto. Olhou para o espaço vazio na cama e sentiu falta da segurança que somente os braços do marido eram capazes de oferecer. Levantou-se e entrou no quarto de hóspedes. Ficou parada ao lado da cama, onde o seu marido dormia.
Respirou fundo para tomar coragem, e finalmente, com um suspiro, deitou-se ao lado dele e o abraçou por trás, tentando não fazer barulho. Sentiu-se tranquila e protegida com o calor do corpo dele junto ao dela.
Finalmente, adormeceu, sem saber que Jonny estava acordado, embora de olhos fechados, e que ao sentir o abraço, uma lágrima escorreu dos seus olhos.
◆◆◆
— Ana! — Sussurrou Jonny no ouvido da esposa.
Estava sentado na beirada da cama, queria acordá-la para se despedir antes de sair para o trabalho. Passava os dedos pelo rosto dela, desenhando suavemente seu contorno.
Ela acordou e ele permaneceu com a mão sobre o seu rosto.
— Bom dia, Ana! Eu já estou de saída para a firma.
Olhou-o, beijou a mão dele, sentou-se e suspirou.
— Você nunca vai aprender a dar nó nas suas gravatas? — Ela balançou a cabeça, ajeitando o nó da gravata dele com maestria.
— Acho que nunca mesmo, por isso casei-me com você. — Ele beijou a testa dela
— Só por isso casou-se comigo?
— Me casei com você por dois motivos, um deles é este nó, que só você sabe dar nas minhas gravatas.
— E o outro? — Ela perguntou sorrindo.
Ele afastou uma mecha de cabelos que teimava em cair-lhe sobre o rosto, prendendo-a atrás da sua delicada orelha.
— O outro motivo… Ana, você é a melhor parte de mim, a única sem a qual eu não posso nem quero viver.
Os dois ficaram se olhando sem dizer nada, corações batendo descompassados. Ele podia sentir, pelo brilho nos olhos dela, que ela ainda era a mesma mulher por quem se apaixonou, a mulher que ele tanto amava. E se ele duvidava da possibilidade de se apaixonar mais de uma vez pela mesma pessoa, acabou de comprovar que existia. Seus rostos se aproximaram naturalmente, ele sentia-se inseguro como um adolescente quando tocou os lábios dela com os dele. Suavemente, entregaram-se ao sentimento, era um encontro de almas, como da primeira vez em que se beijaram.
Foi um beijo longo, profundo. Nenhum dos dois queria que acabasse.
Jonny continuou com o rosto tocando o rosto dela, testa, nariz… Sentiam a respiração um do outro. Desde a noite em que Ana foi atacada, eles quase não se tocaram mais, e aquele beijo representava todo o sentimento que tinham um pelo outro.
O momento foi interrompido pelo toque do celular de Jonny. Era do escritório e ele estava atrasado.
Rejeitou a chamada e pôs o celular no bolso.
— É da firma, eu tenho que ir…
— Eu sei. Não se preocupe, vou ficar bem.
— Se quiser, posso desligar o celular e ficar em casa com você.
— Não precisa, quando voltar eu estarei bem aqui, te esperando.
Jonny sorriu e beijou-a novamente antes de ir. Ele sabia que não podia faltar naquela manhã, tinha assuntos importantíssimos e inadiáveis para resolver, porém, foi difícil se despedir, tendo que abdicar daquele momento tão especial entre eles.