BRIANA MORRIS
Passo na minha sala apenas para pegar a bolsa e logo em seguida vou para o meu apartamento.
Por mais que mamãe insista para que eu more com ela, ainda assim prefiro a minha privacidade.
Confesso que as vezes me sinto culpada por deixá-la sozinha, mas sei que ela me entende.
Não moro muito perto da empresa, então demoro um pouco para chegar e como já estou atrasada para encontrar a Duda na tal boate, não posso perder muito tempo.
Corro para tomar banho e me arrumar o mais rápido que consigo.
Me olho no espelho e me agrado da imagem que vejo. O vestido que vai até o meio das minhas coxas me cai bem e o cabelo amarado em um coque frouxo completa o visual despojado, ao mesmo tempo, sexy.
Não me sinto muito à vontade arrumada desse jeito, mas a ocasião pede, então completo com uma maquiagem leve.
Por último, passo perfume.
Adoro fragrâncias florais, são os meus preferidos.
Estou prestes a sair e é como se escutasse a voz de Oliver no meu ouvido, então volto correndo pra o quarto:
“Sempre use o seu colar quando for sair Briana, é para a sua segurança.”
Procuro pelo colar e o coloco no pescoço, um lindo pingente de ouro rosé com topázio London e Diamantes.
Lindo e discreto.
Até que combinou com o meu vestido.
Agora sim, eu posso sair de casa e segundo Oliver vou estar segura, o que chega a ser ridículo de se pensar.
Mas se ele manda, eu obedeço.
Dirijo pelas ruas tranquilamente até chegar ao meu destino.
Quando estaciono em frente a boate do endereço que minha amiga mandou, sinto vontade de voltar para o meu apartamento correndo.
Caramba, essa boate é do Oliver.
Duda tinha que escolher justamente essa?
Eu só não vou embora porque já tinha mandado mensagem para ela no caminho avisando que já estava chegando.
Respiro fundo tomando coragem e saio do carro.
Oliver com certeza vai saber que estive aqui e vai me encher de perguntas como sempre faz, mas eu não tenho nada o que esconder dele e estou encontrando uma amiga e o noivo dela.
Nada de mais.
Como não tem a mínima possibilidade de enfrentar a fila enorme em frente a boate, eu me aproximo de um dos seguranças e sussurro um nome que vai me fazer entrar rapidamente.
Como eu já esperava, o nome sussurrado logo aparece na minha frente.
— Briana Morris, Oliver sabe que está aqui?
Sorrio para o elegante senhor a minha frente e ele balança a cabeça.
— Não, e o senhor também não vai falar nada.
— Briana! — Ele fala o meu nome em forma de aviso.
— Fred... — falo de forma carinhosa com ele.
Fred é primo e, ao mesmo tempo, sogro do Oliver, chega a ser engraçada a convivência dos dois.
— Entra logo, sua pirralhada, mas ele vai ficar sabendo.
— Fred, não estou fazendo nada de mais, vim encontrar com a Duda e o noivo dela. Quando ela me passou o endereço do lugar não me atentei que seria aqui. Não vou demorar, sabe que não gosto de ambientes como esse.
— Tudo bem, se precisar de alguma coisa mande me chamar, o Denner está aí também.
Estanco no lugar ao escutar esse nome.
— Denner está aí!?
Ele me encara como se quisesse ler a minha alma.
— É claro que está, afinal ele é o dono disso tudo também, não é mesmo? Meu neto é muito bom nos negócios. — Fala sério.
Às vezes, esqueço que Denner é neto dele.
— Como uma pessoa tão arrogante e sem coração pode ser neto de um homem tão adorável como o senhor?
Ele gargalha.
— Você não muda nunca, menina. Denner tem uma personalidade forte, mas, no fundo, é um bom garoto.
— Ele não tem nada de garoto e é terrivelmente terrível. Não o suporto e sinto vontade de jogá-lo pela janela da sala da presidência. Ele me irrita a ponto de me fazer... — Paro de falar quando me dou conta de que é do neto dele que estou falando. — Desculpa, Fred.
Ele sorri balançado a cabeça.
— Meu Deus, é como se estivesse vendo a mesma história se repetir depois de tantos anos.
— Que história!?
Ele sorri sem graça.
— Uma história muito sofrida e cheia de dor, mas que, no fim, teve um final feliz. Agora vamos encontrar a sua amiga.
Não entendo muito bem o que ele fala, mas o sigo e não demora muito encontro Duda e o noivo dela.
— Se precisar de mim, já sabe — Fred fala e me dá um beijo no rosto.
Assim que ele sai, cumprimento Duda e o noivo dela.
— Você conhece o dono daqui? — ela pergunta surpresa com a atitude de Fred.
Duda não sabe que o conheço, ela sabe apenas do meu relacionamento com o Oliver.
— Longa história.
Ela sorri.
— Fico feliz em saber que você ainda me esconde coisas sendo que a minha vida para você é um livro aberto.
— Treta de melhores amigas? Vou pegar uma bebida enquanto lavam a roupa suja — Justin fala dando um beijo em Duda, em seguida beija a minha bochecha.
— Vai começar o drama?
Ela bufa irritada.
— Não é drama, é que só assim você me conta as coisas. Sinto sua falta. Voltou para a cidade e nem mesmo teve coragem de me ligar, tive de fazer chantagem emocional para você estar aqui.
Eu vou até ela e a abraço.
— Me desculpe, Dudinha, mas foi tudo tão rápido que não tive tempo. Não foi nada fácil minha chegada na cidade, meus dias foram transformados em um inferno.
— Um inferno gostoso de se admirar ou um inferno dos infernos mesmo?
Acabo sorrindo de como ela fala.
— Um pouco das duas coisas. E o Fred é primo e sogro do Oliver.
Ela arregala os olhos.
— Sério!?
— Sério e essa boate pertence ao Oliver e não ao Fred, mas para todos os efeitos, Fred é o dono, então...
— Já entendi, essa gente rica é muito estranha, sabia? Quando você ficar rica não se deixe contaminar por eles.
Acabo gargalhando do que ela fala.
— Você não muda.
— Nunca, minha querida. Agora me fale como é trabalhar... p***a! — Ela coloca as mãos na boca e olho na direção em que ela olha.
Vejo Denner no maior beijo com a mulher que estava no colo dele mais cedo na empresa e não sei o motivo, mas ver isso me incomoda um pouco.
— Não é da minha conta — falo e ela levanta uma sobrancelha.
Por que ele tem que estar aqui?
Parece uma perseguição.
— O seu amor platônico por ele já passou?
Olho para ela surpresa.
— Do que está falando? Eu nem mesmo o conheço.
Ela sorri.
— Pra cima de mim, não né, Briana? Você não o conhece pessoalmente, mas sabe de praticamente tudo da vida dele.
— Já disse que não me interessa e nunca tive um amor platônico por ninguém. Cadê o seu noivo que não volta com as bebidas? — pergunto tentando mudar de assunto, mas ela não desiste fácil.
— Aquele senhor não é o dono daqui, mas o Oliver, então quer dizer que o seu novo chefe é o dono daqui também, já que ele é o herdeiro de tudo o que o senhor Thompson tem.
— Ele não é o meu chefe.
— Trabalha para ele.
— Eu trabalho para o Oliver.
— Não é a mesma coisa?
— Não, não é.
— Para mim, é a mesmíssima coisa. Tem que fazer tudo o que ele manda, então ele é o seu chefe.
— Ai, Duda, você saber ser chata quando quer.
Nesse momento, Justin chega com as bebidas, pego um copo da mão dele e viro de uma vez sentido o líquido descer queimando a minha garganta.
— Mas que p***a é essa? — pergunto fazendo uma careta.
— É o meu uísque caro que você acabou de virar praticamente em um gole sem nem mesmo saber aproveitar o sabor.
— Isso é horrível. E cadê as outras pessoas que também viriam comemorar o seu aniversário?
— Estão chegando, enquanto isso vamos aproveitando. Agora eu vou buscar outro uísque.
— Por que eu não consigo aproveitar lugares assim? Para mim, isso tudo não passa de uma grande chatice, ainda mais tendo a visão do Denner com outra mulher, no que parece uma sala privada de vidro.
— Vai acabar atraindo a atenção dele se continuar o olhando assim... — Duda para de falar no momento em que Denner olha na nossa direção.
É como se o meu olhar estivesse chamando pelo dele.
— Às vezes eu tenho medo do que sai da sua boca.
Ela sorri.
— O nome disso é experiência.
Vejo que ele fala algo no ouvido da mulher e me olha novamente.
— Eu vou embora, sinto muito.
— Briana! Praticamente acabou de chegar.
— Não posso ficar aqui?
— Briana. Uma hora vai ter que...
— Não, Eduarda. Eu não preciso contar nada, eu já tenho problemas o suficiente com ele achando que sou amante do Oliver.
Ela arregala os olhos.
— O quê!? O senhor Thompson já sabe disso?
— Não, e pela minha boca não vai saber. Oliver é um homem muito ocupado e não vou incomodá-lo com isso.
— Precisa contar para ele.
— Não preciso não e agora eu vou...
— Com licença, senhorita. Será que pode me acompanhar?
Sou interrompida por um homem muito alto e forte que está ao meu lado.
— Não, ela não pode.
Duda sabe muito bem o que está acontecendo aqui, ela não é boba.
— Ele mandou me acompanhasse até a saída, não foi mesmo? Ele não quer ter que se divertir tendo que olhar para a amante do pai dele — falo olhando para o homem.
— Mas isso é um absurdo — Duda fala muito chateada.
— Tudo bem, Duda.
— Não está nada bem, Briana, você é uma cliente como qualquer outro que esteja aqui dentro.
— Por favor, senhorita, me acompanhe.
— Ela não vai.
— Eu vou sim, não quero mais confusão, Duda. Sabe muito bem que não me sinto à vontade com isso.
Ela me olha respirando fundo, me abraça forte e fala baixinho no meu ouvido:
— Você é a melhor pessoa que eu conheço na vida, mas não pode deixar que os outros pisem em você desse jeito, Bri.
— Vai ficar tudo bem, no fim do dia...
— Tudo sempre fica bem — ela completa a frase.
— Sempre fica. Eu te ligo assim que eu chegar em casa.
— Vou aguardar, também não vou mais ficar aqui. Assim que o Justin voltar com as bebidas, vou chamá-lo para irmos embora, nunca mais venho aqui.
— Não precisa ter que encerrar a noite de vocês por minha causa, isso só faria com que eu ficasse m*l.
Ela me abraça mais forte ainda.
— Cedo ou tarde vai ter que dar um basta nisso. Tem que aprender a lutar suas batalhas e sair por cima, Bri.
— Estou tentando, mas não é fácil. Por isso não quero envolver o Oliver nesse absurdo, isso só o deixaria chateado. — Beijo o rosto dela e nos despedimos com a promessa de que eu ligarei assim que chegar em casa.
Quando me aproximo da saída o homem que me acompanhou segura em meu braço e me assusto com o aperto dele.
— Por aqui, senhorita.
Ele me guia em outra direção.
— A saída não é por aí.
— Não, não é, o senhor Thompson a aguarda na sala de jogos.
Meu coração falha uma batida ao escutar isso, pois esse lugar não é só uma boate normal como as outras.
Saber que Denner quer me ver na sala onde homens ricos saem pobres, me faz sentir um arrepio na espinha.