23" O mistério "

1515 Words
Priscilla Minha mãe estava claramente abalada. Suas mãos tremiam enquanto ela se esforçava para manter a compostura. A atmosfera tensa preenchia a sala, com um peso quase palpável no ar. Cada respiração minha parecia mais difícil, e meu coração batia rápido, pressentindo que algo r**m estava para acontecer. O silêncio pesado que envolvia a sala foi abruptamente quebrado pela voz estridente dela, ecoando pelo ambiente e fazendo meu estômago revirar. Eu podia ver a dor e a frustração em seu rosto, o que só aumentava minha própria ansiedade e medo do que estava por vir. Paula_ O que você fez, Murilo?!_ ela exclamou, já ficando brava. A raiva e a frustração se misturavam em suas palavras, cada sílaba era um desafio. Murilo_ Eu não fiz nada, amor. Eu tenho uma viagem de negócios marcada para amanhã à noite. Vou ficar fora por alguns meses_ respondeu Murilo com um tom defensivo, tentando manter a calma. Sua voz era firme, mas havia um traço de exasperação. Ele passou a mão pelo cabelo, um gesto nervoso que não consegui ignorar. Priscilla_ Assim do nada, pai? Tão em cima da hora. Por quanto tempo você vai ficar fora?_ perguntei, sentindo um nó se formar na minha garganta. A incerteza me corroía por dentro. Murilo_ Não sei ao certo quanto tempo, mas vai ser um bom tempo, filha_ respondeu ele, com um olhar preocupado. Seus olhos, geralmente tão cheios de vida, estavam agora apagados, carregando um peso invisível. Eu olhei para minha mãe, que estava calada, apenas olhando fixamente para meu pai. Sua expressão era de completa exaustão emocional. Ela parecia estar à beira de um colapso, os ombros caídos e a respiração irregular, como se cada inspiração fosse uma batalha. Seus dedos estavam entrelaçados, apertados com tanta força que as juntas estavam esbranquiçadas, e ela parecia estar segurando as lágrimas com um esforço quase sobre-humano. O silêncio era pesado e carregado de tensão, um reflexo do turbilhão de emoções que ela estava tentando conter. A cada segundo que passava, a angústia em seu rosto se tornava mais evidente, e era doloroso vê-la assim, tão frágil e vulnerável. Paula_ Você está me traindo, né?_ disse, com os olhos cheios de lágrimas. A dor e a desconfiança transbordavam, e eu podia ver seu coração se partindo. Murilo_ O quê? Tá maluca, claro que não. Amor, é sério, é uma viagem de negócios_ insistiu, agora visivelmente perturbado. Sua voz tremia ligeiramente, um sinal de sua crescente frustração. Paula_ Filha, me deixe a sós com seu pai, por favor_ pediu minha mãe, tentando manter a calma. Havia uma súplica silenciosa em seus olhos, um pedido desesperado por compreensão. Que saco, eu queria ver a briga! pensei, mas obedeci. Subi para o meu quarto, onde a Sophia estava dormindo tranquilamente. A luz suave da lua entrava pela janela, iluminando seu rostinho sereno. O quarto estava cheio de brinquedos e roupas infantis, um espaço improvisado porque meu irmão havia ficado com o único quarto disponível. Não havia como fazer um quarto separado para a Sophia, então ela dormia comigo. Cada vez mais, eu sentia a necessidade de ter um espaço próprio, onde pudesse dar a ela o conforto e a privacidade que ela merecia. Por esse motivo, tenho pensado muito em comprar uma casa. Um lugar que pudesse chamar de meu, onde pudesse criar a Sophia e o Kauã com o espaço e a estabilidade que eles precisam. Obviamente, eu levaria Kauã comigo; ele é meu irmão e eu o amo profundamente. Não consigo imaginar minha vida sem ele por perto. A ideia de ter um lar nosso, onde pudéssemos construir memórias felizes juntos, me dava forças para seguir em frente e lutar por um futuro melhor para nós três. Eu estava deitada na cama, mexendo no celular, tentando me distrair das preocupações do dia. De repente, os gritos dos meus pais brigando ecoaram pela casa, atravessando as paredes e penetrando no meu quarto. A tensão em suas vozes era inconfundível e eu senti um nó se formar no meu estômago. Embora não acreditasse que meu pai estivesse traindo minha mãe, eu tinha certeza de que ele estava escondendo algo importante. Enquanto ouvia a discussão, minha mente começou a vagar. Lembrei-me do que Théo havia me contado recentemente: ele também tinha uma viagem planejada, mas seria apenas no final de semana. Um pensamento inquietante surgiu - será que meu pai e Théo vão viajar juntos? A coincidência de datas parecia suspeita, e quanto mais pensava nisso, mais perguntas surgiam. O barulho dos gritos eventualmente diminuiu e a casa caiu em um silêncio pesado. Após algum tempo, meu pai apareceu na porta do meu quarto. Seus ombros estavam caídos, como se carregassem o peso do mundo. Ele entrou devagar, seus passos parecendo arrastar-se. O rosto, geralmente expressivo e cheio de vida, agora parecia cansado e abatido. Olhou para mim com olhos cansados, um olhar que parecia pedir compreensão e talvez até perdão. Naquele momento, vi a vulnerabilidade e o desespero em sua postura, e meu coração se apertou ao vê-lo tão diferente do homem forte e confiante que eu conhecia. Murilo_ Filha, vim me despedir. Vou para um hotel até amanhã à noite. Sua mãe está insuportável e não quero mais brigar com ela. Você acredita em mim, né, filha? Você sabe que eu nunca trairia sua mãe. Aquela mulher é o amor da minha vida_ disse ele, com os olhos brilhando. Havia um desespero silencioso em sua voz, um apelo por compreensão. Foi aí que percebi que ele estava falando a verdade, mas ainda estava escondendo alguma coisa. Priscilla_ Eu sei, pai. Eu acredito no senhor, fica tranquilo_ respondi, tentando confortá-lo. Toquei sua mão, tentando transmitir algum tipo de segurança. Ele entrou no quarto, aproximou-se da cama onde a Sophia ainda dormia e lhe deu um beijo suave na testa, com um carinho que parecia tentar compensar o tumulto que havia causado. Em seguida, dirigiu-se a mim, com um olhar cansado e preocupado. Acariciou meu rosto e me deu um beijo na bochecha, um gesto de afeto que tentava esconder a dor e a culpa que eu sabia que ele estava carregando. Depois disso, ele se afastou lentamente e saiu do quarto sem uma palavra, apenas o som de seus passos ressoando pela casa. Com a mente ainda borbulhando com a ideia de que Théo pudesse estar envolvido de alguma forma na viagem com meu pai, decidi investigar. Levantei-me da cama e fui em direção ao escritório do meu pai. As escadas pareciam mais íngremes e longas do que o normal naquela noite, cada passo ecoando a inquietação que eu sentia. Desci com pressa, tentando ignorar a crescente sensação de urgência. No entanto, ao descer, a visão que encontrei no andar de baixo me paralisou. Minha mãe estava sentada no sofá da sala de estar, com o corpo curvado para frente e as mãos cobrindo o rosto. Seus ombros se sacudiam levemente, como se estivesse lutando para controlar o choro. O som sutil de suas lágrimas caindo e o silêncio pesado ao redor formavam uma cena de tristeza profunda e desolação. Era um quadro doloroso e real de seu sofrimento, e eu me senti um pouco perdida, sem saber exatamente como ajudar, mas com um impulso crescente de entender o que estava acontecendo e encontrar respostas. Priscilla_ Mãe! Não fica assim. Você precisa acreditar no pai, poxa_ falei, tentando confortá-la. Sentei ao seu lado, segurando suas mãos trêmulas. Paula_ Como, Priscilla? Seu pai não é de viajar assim do nada e tão em cima da hora. Ele não quis nem falar o tempo que ele ia ficar fora. Ele só pode estar me traindo_ falou minha mãe, chorando ainda mais. Suas lágrimas caíam incessantemente, molhando seu rosto. Priscilla_ Se você visse o jeito que ele falava de você para mim, você ia ver que ele nunca faria isso. O pai te ama, mãe. Pode ter certeza disso. Ele fala da senhora com os olhos repletos de amor. Os olhos até brilham, para você ter noção. Não estraga o casamento de vocês assim. Acredita no pai, tá bom? Eu sei e confio que ele nunca faria nada para te machucar_ falei. Dei um beijo nela e fui para o escritório dele, escondida da minha mãe, claro. Fui olhando os papéis na mesa e não tinha nada de importante. Lembrei daquele livro que estava escrito “As leis da máfia”. Resolvi procurar a chave. Rodei o escritório inteiro e nada. Sentei na cadeira para descansar e fiquei encarando o chão. Foi quando percebi uma madeira estranha. Era um fundo falso. Tirei a madeira e lá estava a chave. Consegui abrir o livro e dentro tinha outra chave. Segurando a nova chave, meu coração acelerou. O que meu pai estava escondendo? Cada segundo que passava parecia uma eternidade. Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava a chave. Meu pai, que sempre foi um pilar de segurança e estabilidade, agora parecia estar envolto em mistério e segredos. O pensamento de que ele pudesse estar envolvido em algo perigoso ou ilegal me apavorava, mas eu precisava saber a verdade.
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