25 "Sombras da traição"

1741 Words
Pesadelo Quando entrei na salinha, não acreditei no que vi. Era um espaço pequeno, com paredes de concreto nuas e m*l iluminadas por uma única lâmpada pendurada no teto. No centro da sala, havia uma mesa de madeira robusta e desgastada, coberta de armas de diferentes calibres, pacotes de dinheiro cuidadosamente empilhados e várias sacolas plásticas contendo drogas. O ar estava pesado, impregnado com o cheiro acre de pólvora e o aroma doce e enjoativo de entorpecentes. Na parede oposta à entrada, várias fotos estavam pregadas, formando um mural inquietante. Eram fotos minhas, da Fernanda, do C2, do TH e de outros vapores meus. Cada foto estava acompanhada de anotações detalhadas, escritas em tinta vermelha, que destacavam informações sobre nossos hábitos, rotinas e possíveis pontos fracos. Em uma foto minha, havia uma anotação que dizia: "Líder - ponto fraco: irmã mais nova." As fotos de C2 e TH também tinham observações meticulosas, revelando que nossos movimentos estavam sendo monitorados com uma precisão assustadora. A sensação de estar sendo vigiado e perseguido se intensificava a cada segundo que passava ali dentro. Minhas mãos suavam frio enquanto meus olhos percorria cada detalhe, tentando absorver a magnitude da ameaça que se desenhava diante de mim. Ali, naquele espaço claustrofóbico, percebi que estávamos em um jogo mortal, onde qualquer deslize poderia ser fatal. Fernanda, visivelmente perturbada, olhava ao redor. Fernanda_ O que é isso tudo? Por que tem fotos nossas aqui?_ perguntou, me encarando e depois fixando o olhar nas fotos na parede. Pesadelo_ Não tá vendo? Aquele desgraçado tava observando a gente esse tempo todo,_ falei com raiva, sentindo a fúria crescer dentro de mim._ Você sabia de tudo isso, não sabia?_ gritei, avançando na direção da Priscilla. C2 interveio rapidamente. C2_ Relaxa, cara. Fica suave aí. Não faz nada de cabeça quente agora, vai ser pior,_ falou, me segurando. Pesadelo_ Como que fica calmo? Coloquei um X9 na minha quebrada!_ rebati, empurrando o C2._ Você vai ligar para o seu pai agora, vai falar para ele voltar, e fala que se ele não vier eu meto uma bala na sua cara, entendeu?_ gritei, apontando a arma na cara da Priscilla. Fernanda_ Pesadelo! Abaixa essa arma, pelo amor de Deus!_ implorou Fernanda, tentando pegar a arma, mas eu desviei. Pesadelo_ Fica quieta aí, Fernanda,_ falei, irritado._ LIGA LOGO, p***a!_ gritei com a Priscilla. Nesse momento, TH, que estava olhando alguns papéis espalhados sobre a mesa, começou a xingar com uma intensidade que fez ecoar pelas paredes frias da sala. Th_ p***a! p***a! Que c*****o é isso? O tom de sua voz carregava um misto de incredulidade e pânico. Minhas mãos ainda estavam firmes na arma, e o som dos gritos dele só aumentava minha ansiedade. Pesadelo_ O que foi, p***a?_ perguntei, tentando manter a calma enquanto meus olhos percorriam a sala, ainda tentando entender toda a situação. TH virou-se para mim, os olhos arregalados e as mãos trêmulas segurando um conjunto de documentos. Th_ Fudeu, Pesadelo. O pai da Priscilla é chefe da máfia, cuzão! Minha mente parou por um instante, e uma onda de choque atravessou meu corpo. Arregalei os olhos na hora, a surpresa tomando conta de mim. Priscilla, a garota que sempre consideramos uma aliada, agora se revelava como parte de uma teia muito mais perigosa do que imaginávamos. TH jogou os papéis sobre a mesa, revelando detalhes impressionantes: fotos do pai de Priscilla em reuniões com figuras proeminentes do submundo, transações financeiras obscuras e até mesmo esquemas de tráfico de armas. Th_ Olha isso, cara,_ ele disse, apontando para uma foto em particular._ Ele tá em todas. Reuniões com os chefes das maiores facções. Não é à toa que sempre tava um passo à nossa frente. A sala parecia girar ao meu redor enquanto eu processava a informação. Cada detalhe ali presente, cada foto e anotação, começava a fazer sentido em um cenário muito mais complexo e perigoso. Pesadelo_ Isso muda tudo_ murmurei, mais para mim mesmo do que para TH._ Se o pai da Priscilla é chefe da máfia, estamos em uma guerra muito maior do que pensávamos. TH assentiu, o rosto ainda marcado pelo choque. Th_ Precisamos recalcular todos os nossos movimentos, Pesadelo. Não estamos mais lidando apenas com traficantes de rua. Isso aqui é coisa grande. A tensão na sala aumentava a cada segundo, e a sensação de urgência crescia. Precisávamos de um novo plano, e rápido, se quiséssemos sobreviver a essa nova ameaça Que p***a um chefe da máfia quer comigo?_ pensei C2, já visivelmente nervoso, falou rapidamente. C2_ Vamos meter o pé, vai dar merda isso aqui. Que p***a!_ disse, saindo da sala. Olhei para Priscilla, que me encarava com medo. Peguei-a pelo pescoço e a prensei na parede. Pesadelo_ Eu vou descobrir o que o filho da p**a do seu pai quer, e quando eu descobrir, eu vou matar um por um de vocês. Até mesmo a Sophia_ falei, olhando nos olhos dela. Priscilla Quando ele mencionou Sophia, senti uma dor aguda no peito, como se uma lâmina tivesse sido cravada diretamente no meu coração. O nome dela ressoou na sala abafada, carregando um peso que quase me fez vacilar. Seus olhos, normalmente tão cheios de vida e malícia, estavam agora mais escuros do que o normal, transbordando ódio e uma determinação feroz. A luz fraca da lâmpada pendurada no teto lançava sombras sinistras em seu rosto, acentuando as linhas duras de sua expressão. Cada palavra dele parecia mergulhar mais fundo na escuridão que agora o envolvia. Tentei encontrar qualquer vestígio do Pesadelo que eu conhecia, o homem com quem compartilhei risadas e conquistas. Mas tudo o que vi foi um homem consumido pela raiva, uma fera enjaulada prestes a explodir. Seu corpo estava tenso, os músculos rígidos como se ele estivesse à beira de um confronto iminente. O brilho de seus olhos, agora quase negros, revelava um abismo de dor e fúria. Era como olhar para um estranho, alguém que havia perdido todas as suas amarras com a sanidade e a compaixão. A transformação era assustadora e fascinante ao mesmo tempo. Lembrei-me dos momentos em que éramos apenas nós dois, quando ele ria de forma despreocupada e seus olhos brilhavam com uma intensidade diferente, uma intensidade que agora parecia perdida para sempre. A raiva havia tomado conta, obscurecendo tudo o que ele era, transformando-o em algo mais perigoso e imprevisível. Pesadelo_ Você reza bastante, porque dependendo do que eu descobrir, eu não vou ter piedade de matar nenhum de vocês. E f**a-se se eu vou estar entrando em uma guerra._ ele falou, soltando-me de repente. Caí no chão, engasgada e com os olhos cheios de lágrimas. Priscilla_ Pesadelo, por favor, acredita em mim, _ implorei, a voz trêmula de desespero._ Meu pai não faria nada de m*l com você. Ele deve ter uma boa explicação para tudo isso. _ falei, desesperada para fazer com que ele visse a verdade. Pesadelo_ Ele deve ter, né? E que boa explicação ele teria para tudo isso?_ Ele apontou para a parede, onde as fotos e informações estavam pregadas._ E que explicação ele tem para essas transferências de dinheiro que ele está fazendo para os vermes, diz aí!? Eu tremia enquanto tentava encontrar palavras. Priscilla_ Eu não sei, e não faz sentido. Se ele estivesse espionando para passar informações para a polícia, por que ele que está fazendo as transferências? Isso não faz sentido algum. Tem mais coisa por trás de tudo isso._ falei, e vi um lampejo de dúvida passar pelos olhos de Pesadelo. Pesadelo_ Que p***a!_ ele exclamou, saindo da sala em seguida, me deixando ali sozinha. --- Depois que eles foram embora, fiquei na salinha, tentando processar tudo que havia acontecido. As paredes de concreto pareciam se fechar ao meu redor, criando uma prisão invisível de medo e confusão. Olhei para as drogas e armas espalhadas na mesa, a visão se tornando cada vez mais opressiva. O medo e a incredulidade cresciam dentro de mim, uma sensação sufocante que parecia não ter fim. "Ele está contrabandeando," murmurei, sentindo a frieza do chão contra minha pele quando me sentei, incapaz de ficar de pé diante de tanta revelação. Com mãos trêmulas, peguei meu celular e disquei o número da minha mãe, na esperança de encontrar alguma clareza ou conforto em sua voz familiar. Ligação on Paula_ Isso é hora de você ligar, garota? A voz dela soou impaciente, mas ao mesmo tempo preocupada, como se sentisse que algo estava errado. Priscilla_ Você precisa vir embora, mãe. Descobri uma coisa muito importante sobre o pai. Houve um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por uma respiração pesada. Paula_ O que foi, Priscilla? O que você descobriu? Minha mente girava com a enormidade do que eu tinha acabado de descobrir. Como explicar tudo aquilo sem parecer um pesadelo? Priscilla_ Você tem que ver com os próprios olhos, mãe. Vem rápido. O silêncio do outro lado se prolongou por um segundo, como se ela estivesse processando o que eu disse. Paula_ Já estou indo. Ligação off Desliguei o telefone e o coloquei de lado, sentindo o peso do momento me pressionar contra o chão. Enquanto esperava minha mãe, o tempo parecia se arrastar, cada minuto uma eternidade. Sentei ali, ainda em choque, abraçando meus joelhos e tentando acalmar a tempestade de pensamentos na minha mente. A revelação sobre meu pai ecoava continuamente, uma realidade sombria que parecia distorcer tudo o que eu conhecia. Sabia que nada seria como antes, que a nossa vida estava prestes a mudar de forma irreversível. O barulho distante de carros passando na rua m*l alcançava meus ouvidos. Tudo o que conseguia ouvir era o som acelerado do meu próprio coração, batendo em um ritmo frenético. As paredes da salinha pareciam pulsar com a mesma intensidade, como se refletissem minha agitação interna. Minha mente vagava por memórias da infância, tentando reconciliar o pai amoroso que eu conhecia com o homem cuja verdadeira natureza agora estava exposta diante de mim. A dualidade da sua existência era esmagadora. A imagem dele sorrindo em fotos de família se misturava com os documentos comprometedores e as evidências irrefutáveis espalhadas pela mesa. Cada segundo que passava me fazia sentir mais isolada, como se a sala estivesse se transformando em uma câmara de pesadelos onde a realidade e a ilusão se misturavam. Ali, sentada no chão frio, soube que minha inocência tinha sido quebrada para sempre, e que a vida que eu conhecia estava desmoronando em pedaços irreparáveis.
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