Tem algo de errado aqui....

1779 Words
-Quem é você? Foi a primeira vez que ela falou. Uma voz doce, calma e baixa. - An... Desculpa... Meu nome é Pither! Eu ofereci a minha mão. Ela ficou olhando por um tempo, pra falar a verdade achei que ela não ia segurar. Mas por fim acabou cedendo. - E você como se chama? Ela abaixou a cabeça e não me respondeu. "E quem disse que ia ser fácil?... Pensei" - Posso me sentar aqui? Apontei pra beirada da cama. Ela permaneceu calada e eu me sentei. - Olha está lendo" Dom Casmurro"! Um clássico da literatura, vejo que você gosta da " Capitu e do Bentinho!'' Ela calada estava, calada continuou. Seu olhar era vago como se não quisesse me ver: - Olha, por mim ficamos aqui até a noite toda! Tenho todo o tempo do mundo e pelo que sei você também. Eu não sou de desistir tão fácil, por isso se você acha que fazendo o jogo do silêncio comigo, vai adiantar engano o seu! Amanhã estarei aqui de novo, e de novo, e de novo.... Até você falar comigo! Levantei meus ombros e ela olhou pra mim. Fixei meu olhar no dela e ela não fugiu. - Tá! Vamos começar de novo... Como você se chama? - Esther!Ela disse tão baixo que m*l pude ouvir, mas já era um progresso. Sabia que meu poder de persuasão não falharia! - O que veio fazer aqui? Ela me perguntou tão espontaneamente, que tive que pensar em uma resposta rápida e sábia: - Vim te conhecer! - Ao mandado dela? Ela falou e seus olhos brilharam na hora. - Não claro que não! Fui eu que insisti em conhecê-la... - Aéh? Esther aproximou um pouco seu corpo para frente. E eu pude ver seu rosto um pouco mais de perto. - E porque trouxe ele com você ? - Ele quem ? Perguntei sem entender. - O Saulo! Ela deu sinal com a cabeça para a porta. - Mais o nome dele não é Cleiton? - Shiiii!!! Ela me cortou fazendo o sinal de silêncio com o indicador na boca.- Ele consegue nos ouvir... - Mais a Dona Lúcia disse que ele se chamava Cleiton. Falei a frase bem atônito, com a total certeza de que foi isso que eu ouvi. Pela primeira vez a garota sorriu. Um sorriso curto, mas bonito. Então ela sussurrou: - E o senhor acredita em tudo o que a Dona Lúcia diz? Foi aí que a porta se abriu, Esther voltou a colocar o livro em frente aos olhos e fingiu que estava lendo onde parou. O "Guarda roupas" entrou segurando a porta: - Acabou o tempo de visitas doutor... Dona Lúcia o espera. Levantei da cama, e fingi deixar a minha caneta que estava no jaléco cair. Esther me olhou, e no chão agachado eu sussurrei: - Eu volto amanhã! Eu saí daquele quarto, mas pela última vez eu a olhei e senti que meu coração ficou apertado ao deixá-la sozinha. Tão linda, tão solitária e se minha intuição não falhasse, a vilã aqui não era ela! Segui aquela diretora todo o percurso até a sua sala outra vez. Quando entramos na sala, ela virou se pra mim e disse: - Então Doutor! o que achou? Ela analisava cada gesto meu, precisava ser cauteloso e ganhar tempo. - Infelizmente, ela não me disse nada! Não consegui avalia-la... Não posso diagnosticar uma paciente assim em minutos! Andei pela sala. Mexi nos cabelos, minha mãe dizia que era um sinal quando eu estava tenso. - Talvez esse seja um dos sintomas da esquizofrenia dela Doutor! Ela vive em um mundo isolado. - Talvez... Falei olhando-a.- Por hora sugiro que eu a veja outra vez amanhã. - Sim claro! O senhor terá todo o tempo que quiser, para analisa-la. ══════ஜ▲ஜ══════ Saí daquele lugar com uma impressão de que a aquela diretora profana queria me manipular, sobre o caso daquela moça. Se ela realmente estava doente eu precisava saber. Entender o que realmente acontece alí dentro. Alguém está mentindo nessa história, e eu vou descobrir a verdade! Voltei dirigindo pra casa. E durante o caminho eu pensava. "Nunca tratei nenhum caso de esquizofrenia, ou melhor nunca tratei nenhum caso. Mas estudei, sei que estou capacitado! Muitos anos em Havard! Essa foi a profissão que eu escolhi. Não poderia amar tanto uma coisa, como amo a medicina." Mas por outro lado... E se aquela diretora tiver razão, e se aquela moça tivesse realmente doente? Então... Por que os médicos não tentaram reintegrar ela de volta a sociedade? Por que a escondem naquele lugar horroroso? Uma diretora que mente sobre a indentidade de seu guarda. Uma moça extremamente inteligente a ponto de saber me fazer perguntas óbvias e capitar tão fácil meu sinal da caneta... Ela lê livros e seu quarto é extremamente organizado. Agora coisas muito erradas estavam acontecendo ali, e eu tinha que descobrir! (Esther?) Quando a porta se abriu, peguei o livro da escrivaninha e comecei a ler imediatamente. Imaginei que seria o Saulo com aquelas porcarias de comprimidos. Mas quando olhei pelo canto dos olhos vi quando uma sombra branca apontou na porta! Era alto, em torno de um metro e oitenta mais ou menos. Mas não era o Saulo. Esse não era gordo. Era magro, branco, cabelos castanhos e bem lisos caiam em um corte que eu nunca tinha visto. Ele olhou pra trás quando Saulo bateu a porta, analisava o quarto em silêncio. Mas quando me viu percebi que apertava os olhos para tentar enxergar melhor. As persianas estavam fechadas, sempre esteve. O quarto era tão velho que as rachaduras iluminavam o ambiente, juntamente com o meu abajur. Ele se aproximou da cama, me observava cauteloso. Como se pisasse em ovos! Quando abaixei meu livro, pude ver melhor seu rosto. Ele tinha barba, usava óculos, os olhos eram verdes e a cara de sério! " Meu Deus, porque era tão sério?!" Pensei... No início tive muito medo dele. Sabia que era mandado por ela, mas depois senti como se já o conhecesse... Será?! Devo estar enganada! Aquela bruxa, conseguira outro médico pra me examinar!" Então... Quando ele me disse - "Não tenha medo, eu não vim te fazer m*l"! Eu consegui olha lo novamente, sua voz era doce. E ele já não me parecia tão ameaçador. Quando ele disse que se chamava "Pither" e me ofereceu a sua mão, soube naquele instante que podia confiar nele. Mas eu precisava de mais... Algo muito maior do que só confiança. E depois ele pediu pra se sentar; eu não o respondi. Então ele perguntou meu nome eu não falei nada.Permaneci quieta, só ouvindo o que ele dizia sobre o livro e a história.Mas quando ele me disse: "- Olha, por mim ficamos aqui até a noite toda! Tenho todo o tempo do mundo e pelo que sei você também...Eu não sou de desistir tão fácil, por isso se você acha que fazendo o jogo do silêncio comigo, vai adiantar engano o seu! Amanhã estarei aqui de novo, e de novo, e de novo.... Até você falar comigo! ... Era só isso que eu precisava, de alguém que não desistisse fácil. Alguém realmente persistente em lutar por algo! Eu enfim criei uma esperança,talvez possa ser ilusão. Mas naquele momento acreditei mesmo que aquele médico me tiraria dali. Quando enfim disse que me chamava ESTHER' ele ficou sem reação, seus olhos verdes ainda fixos nos meus, parecia realmente confortável com a minha presença. Mas a minha pergunta repentina o surpreendeu. Pither pensou um pouco pra falar. Parecia cauteloso com as palavras, teve medo de me dizer que era o médico... Há! Como se eu não soubesse! Ele disse" Que veio me conhecer ". E eu respondi" Ao Mandado dela". Ele me pareceu nervoso. Na hora negou! E eu precisava deixa-lo de sobre aviso, que no meu quarto tinha "micros escutas" por toda parte. E eu não poderia falar nada! Por isso sutilmente o avisei e ele cochichou sobre o possível nome inventado do "p*u mandado" da Lúcia. Esses dois eram muito espertos, colocaram escutas no meu quarto, porque previram que Pither poderia querer entrar. Criaram um nome falso pra aquele i****a do Saulo. Mas nunca poderiam imaginar,que por trás de uma caneta havia um sinal ... Eu volto amanhã" ... (Pither) Abri a porta de casa e Naná, andava de um lado para outro. - Aaah graças a Deus! Onde você estava Pither? A sua noiva já ligou aqui dezenas de vezes atrás de você ! Seu celular estava fora de área. E eu não sabia mais o que dizer pra essa moça. Passei a mão sobre a nuca, curvando a cabeça pra trás. - Caramba! Eu esqueci do jantar com a Deborah!! Fechei meus olhos e tentei me explicar. - Putz! Naná não foi por querer, eu estava fora da cidade numa consulta e lá nao pega celular! - Ainda bem que eu não disse nada ao seu Pai! Você sabe como ele anda nervoso. Ia achar que você estava bebendo de novo! - Obrigado Naná. Disse beijando-a - O que eu faria sem você? Ela sorriu e disse : - É meu jovem Pither, mas nem tudo está perfeito! Diana usou de sua voz irônica.-Sua namorada ligou avisando que está vindo pra cá! Soltei as mãos do ombro de Naná naquele momento, e sai de perto dela. Eu bagunçava meu cabelo, tentando pensar em algo para tentar me livrar daquela noite. Então me virei para trás e olhei pra Naná. - Não consigo pensar em nada... E você? Ela balançou a cabeça em negativa. - Nãooo... Nenhuma desculpa! Coloquei minhas mãos no rosto, e debrucei com a cabeça no ombro de Naná. - Vá tomar banho Vai... Ela disse dando tapinhas nas minhas costas. - Não adianta adiar o inevitável! Levantei a cabeça e desci minhas mãos do rosto. - Você ri né?! Por que não é você que vai passar pelo interrogatório dela. Me virei e fui em direção a escada segurando no corrimão, fingindo subir em câmera lenta. Naná me olhou erguendo uma sombrancelha só. - Quem mandou ser um pedaço de m*l caminho, agora ela não desgruda de você! Naná sorriu ironicamente. Subi as escadas correndo e no penúltimo degrau olhei pra baixo e perguntei sério: - O que será que a Deborah mais gostou em mim? Pude ouvir a resposta de Naná ecoando pela cozinha .- Os olhos talvez! Respondeu debochando.-Agora trate de ficar pronto logo! Ou ficará sem eles quando ela chegar e vê que ainda está aí! Sorri sozinho e fui para o meu quarto, ensaiando o papel de " Bom Noivo" da noite.
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