(Pither)
Vi quando Déborah ficou transfigurada com o comentário confuso da faxineira.
- Déborah! Eu posso explicar....
- Não Pither! Isso pra mim já é o limite! Ela balançou a cabeça, e senti minhas orelhas arderem. Ela pegou sua bolsa do sofá e saiu pela porta, pisando duro.
- Déborah espera! Fui atrás dela. Segurei no seu braço, virando-a. -Tenta entender! Ela não fez por m*l, isso só pode ter sido um m*l entendido!
- É...Causado pela sua, Sei lá o que! Que está falando pras pessoas, que é a sua noiva!
- Não Déborah... Esther jamais faria isso!
Ela puxou o seu braço das minhas mãos, e me olhou furiosa.
- Está defendendo ela?! Soltei meu corpo e dei um enorme suspiro. - Já entendi... Eu não tenho mais nada o que fazer aqui!
Déborah entrou no carro, e foi embora. E eu bati com as minhas costas na parede, nervoso. Por que sempre as coisas dão errado pra mim?!
(...)
Voltei para dentro e fui direto pra cozinha. Olívia preparava o almoço, enquanto Naná estava na sala de jantar arrumando a mesa. Encostei o meu ombro e minha cabeça no batente da porta, e Naná olhou pra mim.
- Eu avisei! Ela disse ainda ajeitando os pratos.
- Ótimas palavras de conforto, não poderiam ser melhores! Falei desanimado.
- Valdete, já me contou o que aconteceu agora a pouco... Vai despedi-la?
- Claro que não! Respondi.
- E Déborah, já foi? Naná perguntou.
- Sim... Cuspindo fogo pelas ventas! Falei saindo da porta e me aproximando da mesa.
- Aaah Pither... Nem que ela fosse a mula sem cabeça! Naná disse sorrindo tentando me animar, mas desistiu.- Eu sinto muito, pelo que aconteceu hoje !
Assenti, e perguntei.
- E Esther?
- Está no parque aqui em frente... Estava tão triste! Precisava espairecer a cabeça!
Balancei a cabeça compreendendo.
- Vou falar com ela!
Saí pela porta da cozinha, e desci a rua sentido ao parque do condomínio. Esther estava sentada na grama, de costas. Olhava atentamente duas crianças que brincavam em balanços, uma do lado da outra. Apesar do sol, o ar estava gelado. Era normal nessa época do ano.
Esther vestia calça jeans, camiseta manga longa e botas cano médio. Seu cabelo estava em um r**o de cavalo, e vi quando ela puxou a manga da camiseta para secar os olhos. Me senti um i****a!
Me aproximei sentando me ao seu lado, ela nada disse. Continuou olhando pra frente, como se eu não existisse.
- Oi! Falei chamando sua atenção.
- Oi! Ela me respondeu séria ainda olhava para as crianças no balanço.
- Você está brava comigo? Perguntei.
Ela não respondeu, abaixou seus olhos triste, e colocou suas mãos sobre o joelho. - Pior! Você me odeia!
Ela se virou pra mim, e me olhou nos olhos.
- Eu não te odeio Pither! Só estou chateada... Por que não me contou que era noivo?
- Eu ia te contar... Juro! Falei.
- Quando? Ela perguntou. - Achei que éramos amigos...
- E somos! Olhei pra ela com carinho. - Esther! Isso não muda nada entre a gente... Tudo o que eu te prometi, eu vou cumprir!
Ela mordeu os lábios, como se tivesse medo do que ia falar.
- Isso muda tudo Pither... Ontem no parque, era pra Déborah estar com você! Não eu!
- Claro que não! Eu queria que você fosse comigo! Ela virou seu rosto pra frente, não estava convencida. - Independente do meu casamento, eu posso sair com uma amiga pra onde eu quiser!
- Claro! Você queria uma distração até o dia do seu casamento...
- Nãaaao! Falei tão alto, que chamei atenção das crianças. Me recompuis, e voltei a falar. - Esther! Você fala como se tivesse se arrependido de ter fugido do orfanato comigo!
- Pither! Ela me fitou nos olhos. - Eu jamais me arrependeria! Desde o início eu confiei em você... Só achei que você também confiava em mim!
- Eu confio! Só que a gente nunca tinha conversado antes...
- Pois é! A gente nunca conversa... Não sobre você! Porquê é tão difícil falar?
Fiquei quieto. Nessa hora eu que desviei o meu olhar, me virando para os balanços que agora estavam vázios.
- E aí você fica mudo outra vez! Ela disse empurrando seus lábios pra frente.
- Esther! Talvez eu não sou o moçinho que você imagina que eu seja!
- Por que você está falando isso pra mim? Ela perguntou com os olhos marejados.
- Eu não sou um 'Príncipe Encantado!' E não acredito no 'Felizes para Sempre!' Não pra mim! Falei. Meu maxilar estava tenso. E senti que Esther estava desacreditada.
- Então, você não a ama?! Ela afirmou.
- Não! Respondi.
- E por que vai se casar Pither? Esther me olhou com seus olhos penetrantes.
- É complicado... Falei.
Ela virou seu olhar para o chão, parecia decepcionada.
- Fiquei tanto tempo trancada naquele lugar, que perdi todo o rumo de uma vida... Acreditando em amor verdadeiro e contos de fadas!
Nessa hora, eu toquei na mão de Esther fazendo a olhar pra mim.
- Não perdeu Esther! Com você vai ser diferente... Sorri enquanto falava. - Na hora certa, você vai encontrar um cara tão legal que vai fazer a sua vida mudar completamente!! E ele vai te amar tanto, que vai fazer você se sentir única! E aí, ele vai olhar no fundo do seus olhos e dizer que te ama! E você vai se sentir especial.... Porque é assim que tem que ser! Você merece isso!
Esther engoliu em seco. Não sei se ela tinha me entendido m*l, só sei que ela se levantou e saiu. Me deixando sozinho, sentado no chão daquele parque.
(Esther)
Entrei na casa correndo. Subi as escadas e fui pro meu quarto. Fechei a porta, e me joguei de bruços em cima da cama.
Eu estava indignada com tudo aquilo que ouvira de Pither... " Naná tinha razão! Ele prefere não sentir! Não acreditar! É mais fácil pra ele". Não era justo! O que fez Pither ser assim? Fechar completamente o seu coração, como se nada tivesse sentido... Como se não merecesse ser feliz!
Levantei a minha cabeça e a apoiei sobre o braço, imaginando o que faz Pither estar sendo obrigado a casar com Déborah? E por que justo eu, tinha sonhado com ela e seu anel de noivado dias antes?
Tudo era um grande mistério, e a cada dia que passa eu me vejo em um mar de acontecimentos inesperados. Alguns bons, outros nem tanto... Mas de uma coisa eu sei! Pither se equivocou quando mencionou que não acreditava em "Um felizes para sempre" pra ele. Quando disse que não era um príncipe... E que eu sim merecia um amor verdadeiro. Alguém pra me sentir especial! Se ele soubesse que as únicas vezes que me senti especial, foi quando estive com ele.
Mais prefiro guardar pra mim, de nada vai adiantar! Ele vai se casar... E eu vou ter que me conformar de vê lo infeliz para sempre ao lado dela.
Alguém bateu na porta, e ela se abriu.
- Posso entrar querida?
- Naná! Pode sim...
Ela entrou com uma bandeja nas mãos, e deixou sobre a mesinha. Me sentei na cama, e dei um meio sorriso.
- Não precisava se incomodar me trazendo o almoço até aqui!
- Imagina querida! Eu sabia que se não trouxesse você não ia descer... E você precisa se alimentar!
Naná sentou-se na cama, ao meu lado.
- Naná! Por que não me contou que Pither era noivo? Perguntei.
Ela me olhou com tristeza.
- Por que eu já tinha falado demais aquele dia! E achei que sobre a noiva, caberia a ele contar.
- Ele te contou o que aconteceu no parque? Perguntei.
- Não querida! Ela balançava a cabeça em negativa. - Quando Pither chegou o senhor Álvaro estava almoçando... Daí somente o servi e voltei pra cozinha. Não conversamos!
Assenti com a cabeça. Naná pegou na minha mão.
- Filha! Hoje mesmo eu falei para o Pither te contar sobre tudo! Que estava noivo e que iria se casar! Mas ela chegou antes, e o resto você já sabe.
- Ele não a ama! Falei me sentindo sufocada. - E por que insiste em se casar com ela?!
Ela sorriu e baixou o seu olhar. Naná sabia, mais não queria me contar.
- Você sabe!! Mexi meu dedo pra ela, com cara de espanto. - E mesmo assim vai deixa lo se casar?
Ela me respondeu desanimada.
- Você fala como se eu tivesse alguma influência sobre ele! Pither é extremamente teimoso! Mais quero que saiba de uma coisa...
- O que ? Perguntei curiosa.
- Eu não perco as esperanças! De um dia Pither cair na real, e desistir dessa farsa toda!
Mal sabia ela que esse também era o meu desejo. Que Pither visse que ele não tem nada a ver com essa tal de Déborah.
- Esther?! Naná trouxe minha mente de volta para o quarto. Então a olhei. - Eu estive pensando... Se nada acontecer, e Pither acabar se casando mesmo com aquela antipática... Eu vou me demitir! E quero que você venha comigo!
- Se demitir? Faria isso com ele? Perguntei.
- Aaaih filha.... Pither já é um homem formado! Além disso, quando se casar não vai mais precisar de mim! Não tenho porque ficar morando nessa casa.
Ela falava como se visse uma luz no fim do túnel.
- Mais iríamos pra onde? Perguntei sorrindo.
- Aaaah não sei! Pra qualquer lugar... Não precisamos de muito para sermos felizes! Ela disse animada. - Passei a maior parte da minha vida aqui! Não tenho mais ninguém, além dessa família. Você também é sozinha! Junte se a mim e faríamos companhia uma a outra!
Comecei a imaginar depois que Pither se casasse, o vazio que aquela casa seria. O Senhor Álvaro m*l me dirigia a palavra a maioria dos dias.
- Combinado Naná! Se tudo sair como não desejarmos... A gente foge e vamos viver a nossa vida em outro lugar!
Ela me abraçou, e eu senti como se de algum lugar a Miriam tivesse colocado a Naná no meu caminho. Para fazer eu me lembrar, como era bom se abraçada outra vez.
(Pither)
Eu estava tão m*l que quando Miguel me ligou, me chamando para comemorar o aniversário com ele... Eu aceitei!
Só porque sabia que, com certeza seria em um bar! E álcool era algo que eu realmente estava precisando.
Podem me chamar de fraco! Mimado! Ou até irresponsável! Eu não ligo... Já passei dessa fase. Em que as coisas realmente me afetam!
Hoje estou no ponto morto... Vai trabalhar na minha clínica! Vou! Vamos casar? Vamos! E quero morar com meus pais depois de casarmos! Assim seja...
Só não ache r**m quando me ver chegar duas, três horas da manhã embriagado. Cheirando a Uísque, ou talvez até perfumes barato sobre a camisa, que possam me entregar! Eu não vou mudar! Não pretendo ser diferente! Não por eles, que me obrigam a fazer coisas que eu não quero! Eu sou assim... Todo errado!! Posso um dia até pagar a minha língua ! Mais será por quem realmente valha a pena !
Estamos numa mesa de bar com Miguel, Matheus que também foi enxotado pela namorada. Com a única diferença que ele se importa... E eu! O grande cafajeste que induz uma garota de 17 anos a pular o muro do orfanato! Depois faço um negócio 'Nada convencional' com uma diretora sem escrúpulos, incluindo o meu carro.
A única pessoa que eu realmente confio, é uma mulher que foi a minha babá! Constrangedor! "Tim- Tim" Um brinde para o cara mais patético do planeta.
- Garçom! Por favor! Uma rodada de Bourbon! Levantei meu dedo.
É...! Afogar as mágoas custa caro! Mais uma, duas, três rodadas.... E eu esqueço até o meu nome!... Menos dela! Tá cravado aqui no meu peito! Ela acreditou! Precisava acreditar... Eu vi a decepção nos olhos dela.
Só mais uma dose de Johnny Walker. Pra decidir que a festinha de comemoração já tinha chegado ao fim. Joguei a minha jaqueta sobre as costas e sai daquele bar.
Coloquei a chave na ignição, o tempo estava virando pra chuva. Eram quase duas da manhã... Minha visão estava turva! Gosto de álcool na boca, a língua amortecida, pálpebras pesadas... Se eu pudesse ligar para alguém me buscar, ligaria pra ela... Mas como ela ainda não tem carteira de motorista, decidi anular essa opção!
Você deve estar me achando um chato! Qual é?! Quando estou bêbado fico sincero... E quer uma verdade agora?
Foi tudo da boca pra fora hoje... Eu não quero que ela encontre o cara perfeito! Mesmo sabendo que ela merece isso! Eu morreria se ela me ouvisse, e tentasse procurar um amor verdadeiro por aí!
-Tabom agora deu pra falar sozinho Pither!
Saí com meu carro e segui a estrada. Se eu não conseguir chegar em casa, avisa ela que eu me importo! Que eu sinto! E que eu acredito!
Tudo bem fingir! Alivia a dor por um tempo.... Foi assim que eu venho sobrevivendo a perda da minha mãe!
Mesmo que eu vá falando o caminho inteiro, sobre ela! Não importa! Porque sei que amanhã eu vou acordar de ressaca e provavelmente esquecerei de tudo...