Capítulo 1

1435 Words
Lucy O despertador do meu celular toca sem parar de baixo do meu travesseiro e resmungo irritada por já ter que se levantar. Me sinto cansada, exausta para ser exata, mas a minha única opção que tenho no momento é sair da cama e tomar um banho frio para despertar. Desligo o alarme na força do ódio* e confesso, é muita maldade sair da cama nessa hora onde o frio e a preguiça são cúmplices tendo o apoio da cama macia na tentativa de me vencerem, mas ao lembrar das contas que tenho para pagar, saio da cama em um pulo com os olhos de uma coruja. Corro atrás da minha toalha e entro no banheiro para fazer as minhas higienes o mais rápido possível. A água que desce parece que veio do congelador e assim, desperto-me tremendo por inteira. Mas como todo ritual da preguiça matinal, molho primeiramente os meus pés, depois os braços, as costas, as mãos levando um pouco de água ao rosto e por fim, entro por completo. Poxa vida, está congelando, pois infelizmente o aquecedor do chuveiro está com defeito. Na verdade, desde que moro aqui nunca o vi funcionando e sou literalmente obrigada a passar por essa tortura congelante. Busco a esponja corporal colocando um pouco de sabonete e faço bastante espuma passando pelo corpo todo de forma rápida, suspiros escapam da minha boca enquanto o meu corpo inteiro protesta e assim, tento fazer tudo bem rápido para sair dessa tortura congelante. Ao menos despertei. Vou até à pia escovar os meus dentes e caminho para a cômoda buscar uma lingerie e já vejo a minha roupa que separei ontem antes de dormir. Escolhi uma saia lápis preta que vai até pouco acima dos joelhos, uma blusa de alcinha na cor cinza, um blazer social, saltos médios e opto por uma lingerie preta. Antes de me vestir, começo a arrumar a minha cama e é quando me lembro que hoje é dia de pagamento e abro um leve sorriso. -Graças a Deus! – Falo comigo mesma ao lembrar. Tenho que pagar o aluguel do kitnet, serviços de internet, gás, plano de celular, fazer a minha feira e outras coisas. Tenho um medo absurdo de atrasar algo, evito ao máximo que algo assim aconteça, mas o mais importante é que a empresa onde trabalho nunca atrasa o pagamento e assim, começo a fazer a minha listinha mentalmente. Sou a secretária pessoal do Sr. William Fox na Jasminy Cosmetic. Ela é a maior empresa de perfumes que originou na França, depois, foi aberta uma Sede aqui em Nova York e comecei sendo uma simples estagiária quando fiz os meus dezoito anos. Foi um período complicado, estagiários não são vistos como funcionários e, sim, como empregados. Só me pediam para comprar café, pegar água, andar pelo prédio para buscar itens, digitar documentos extensos, fora as inúmeras horas extras onde muitas vezes fui a última a sair da empresa. O que me fez chegar a ser secretária do Sr. Fox? Houve um apagão enorme no centro de Nova York por quase quatro horas e isso no meio de uma reunião. A antiga secretária estava de ressaca e tive que acompanhar a reunião no lugar dela, fora que, o notebook dela estava sem carga e por sorte, além de eu saber os pontos principais sobre o assunto abordado, eu levei o meu notebook pessoal que continha todo o material e pude mostrar tudo ao Sr. Fox, e com chave de ouro, ele ligou para a Beth que quando atendeu, revelou que estava de ressaca. Ela foi demitida na hora e eu fiquei no seu lugar. Depois disso, passei por alguns julgamentos como, “você roubou o emprego da Beth”. O Sr. Fox até chegou a ouvir isso no começo e demitiu quem causava esses boatos e assim, me dediquei ao meu trabalho. Preciso dele! Graças ao meu emprego, consegui alugar esse kitinet que fica a meia hora do meu trabalho. É bem pequeno, mas como sou somente eu aqui, me acostumei. Tem cama, sofá, televisão, geladeira, mesa para dois, um banheiro, armário na cozinha com micro-ondas e tudo o que preciso de fato, tem. Mas não tem sido fácil, semanas atrás tive problemas com infiltração, o proprietário fez o conserto e depois, um cano da pia da cozinha quebrou, depois de concertado, alguns fios da energia estavam velhos e se romperam. Sem exageros, sempre algo acontece depois que uma já está feita e seria engraçado se não fosse uma certa dor de cabeça. Mas me acostumei e ajudo no que posso. Faço eu mesma a faxina uma vez por semana em todos os sábados, comprei um aspirador de pó para o carpete que não tinha e isso tem ajudado na poeira, semanas atrás até fiz uma pintura no quarto e quando vieram consertar a escada, eu aproveitei para pintar a madeira. O que posso, eu faço e com isso consegui até uns abatimentos no aluguel. Não conheço muito os meus vizinhos, mas quando os vejo, apenas dou “bom dia, boa tarde ou boa noite” e só. Fora esses probleminhas na residência, a localidade é boa e bem tranquila. Depois do quarto arrumado, me visto por completo e como está um pouco frio, decido deixar os meus cabelos soltos. A maquiagem faço de forma básica, somente para dar uma corzinha na pele e busco a minha bolsa verificando se não estou esquecendo nada. -Que meleca! – Noto que o meu celular está prestes a descarregar. Coloco o carregador na bolsa e saio depois de ver que está tudo no lugar, desligo as luzes e tranco tudo já separando as chaves do meu carro que está estacionado na rua. Uma coisa que tenho aprendido a força com o passar do tempo é, sempre desconfie das coisas quando tudo está indo bem de mais por um bom tempo. Não em forma de superstição ou desejar que algo r**m* aconteça, mas para um alerta pessoal mesmo, porque depois que passei por certas situações foi que cheguei nessa conclusão. Posso ter somente vinte e dois anos, mas, posso afirmar que já passei por muitas situações complicadas e isso desde nova. Depois que perdi o meu único amigo no orfanato, fui perseguida lá dentro pelas outras crianças. Sempre fui vista como uma garota frágil e como sempre fui "baixinha", tudo era motivos de piadas e comentários desnecessários, principalmente pelas crianças mais altas que eu. Com o tempo algumas crianças foram adotadas, outras foram ficando maiores na idade de sair e a senhora Rute desde sempre me encorajou a estudar muito para quando chegar a minha hora, eu ter uma escolha e opções. E foi o que eu fiz. Passava as minhas manhãs e tarde devorando os livros, lia de tudo e por muita sorte, consegui livros avançados e pude até fazer alguns cursos com a ajuda dela. Aprendi a falar espanhol e italiano, fiz curso de computação, digitação e adorava sempre quando tinha palestras no orfanato. Enquanto a maioria das crianças brincavam no pátio, no jardim, conversavam e de alguma forma se envolviam em algumas brigas, eu ficava no quarto ou no banco sozinha com um livro na mão. Era chamada de "esquisita" por não brincar, as vezes era chamada de muda sem graça, mas eu sempre tentava evitar ficar chateada com isso. Mas era difícil. Noah foi o único que me protegeu e me teve como uma irmã ali, e por mais que eu tentasse me manter ocupada, sentia a sua falta todos os dias. Foi uma ligação forte e rápida entre nós dois, enquanto algumas crianças não gostavam de mim, nem do meu tom de pele onde também afirmavam que eu nunca seria adotada, ele me aceitou do jeito que sou e depois dele, não tive amigos. Só a senhora Rute que me tratava bem. Eu chorava muito, principalmente por não ter mais o Noah comigo e o pior é, que não pude me despedir direito. Foi tudo tão rápido. Era uma manhã chuvosa e estávamos no pátio, ele foi chamado pela senhora Maria e do nada eu fiquei sabendo que uma família o adotou. Me lembro que naquele período tivemos visitas de casais, mas não imaginei que isso poderia acontecer. Só tive tempo de receber um simples abraço rápido dele que chorava enquanto me entregava um papel, mas a senhora Maria o chamava constantemente e eu nunca soube para onde ele foi. A cena dele saindo pelos portões com a senhora Maria segurando a mão dele ficou gravada em mim e eu nunca me esqueci dele. Só queria saber como ele está hoje.
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