Capítulo I

2882 Words
༻DEDICAÇÃO.༺ Para os aventureiros do prazer nas profundezas do desejo proibido, que ousam seguir os sussurros do tempo em busca do êxtase da paixão e caçam o enlouquecedor calor do amor em meio às eras. ༻᪥༺ Celleney Peny. Horas e horas passaram-se, e os meus olhos observam o ponteiro rolar sem pausa num ritmo em que faz a minha cabeça doer, ainda mais com esse som... h******l, que está a batucar a minha mente. Tic-Tac. Tic-Tac. Tic-Tac. Os meus olhos estão marejados em lágrimas, olhando para o bendito projeto na mesa, a minha testa está suada. Eu estou aqui, basicamente há dez horas e quarenta minutos, em cima dos saltos, vestida com as roupas que fui para a balada, para me esquecer de tudo isso. Mas é como se esse tic-tac, tivesse me assombrando. Basicamente, esse projeto é de um relógio que o meu avô planeou, e eu estava o ajudando, ele possui a maior marca de relógios do mundo. Eu não necessariamente me importo com eles, mas eu gostava de estar com ele, vivendo esse mundo dos ponteiros e peças infinitas que determinam o tempo que ele tanto amava, e bem, resultou na fortuna da minha família. Eu morava com ele, os meus pais, bem... eles cuidam dos negócios da família, muita fortuna para gerir e passar o tempo que eu queria que eles passassem comigo, nunca foi uma opção, portanto, eu vivi até os meus vinte anos, ou seja, até agora com o meu avô, que embora fosse ocupado, tinha a opção de ficar nos bastidores de tudo e consequentemente passar mais tempo com a sua neta querida. Mas aparentemente, ele controlar o tempo das outras pessoas com esses relógios não ajudou em nada a controlar o tempo dele, e ele resolveu deixar-me aqui, sozinha, sem saber quanto mais tempo eu terei que ficar nesse planeta terra. - Muito obrigada por isso, senhor Peny. - eu falo suspirando comigo mesma, frustrada e quente, e com dores nos meus tornozelos, por conta dos saltos que permanecem nos meus pés, mas é como que se eu tirasse os meus olhos desses papéis para os descalçar, eu perderia o foco completamente. Eu saí para me esquecer que ele me deixou aqui, mas ouvindo aquelas músicas bombardeando os meus ouvidos, o único som que continuava me perturbando era esse tic-tac. "Se eu morrer antes de acabar de montá-lo, você terá que o terminar, Neyney." Eu não prometi nada, mas estou aqui o fazendo, porque a minha alma reage como se eu tivesse realmente prometido que o faria. - Mesmo se eu conseguir concluir essa m***a, o senhor não estará mais aqui para ver... Qual é o sentindo disso? - eu balbucio realmente irritada. Irritada com tudo e com ele. Ele sabe que eu só suportava ficar com ele, porque ele me deixou aqui sozinha? Duas semanas se passaram, e os meus pais voltaram as suas obrigações e eu estou aqui, sofrendo e sem cumprir obrigações nenhumas. - ARGH! - eu exclamo, me sentando no chão saturada, não aguentando mais procurar a última etapa, a peça está aqui e eu simplesmente não consigo acabar esse maldito e amado relógio. Por causa dele, eu estou aqui lutando com um objeto que fica no pulso, e eu quase nem uso, eu consigo ver horas no celular... Consegui montar algo que ele não conseguiu completar e eu achava impossível, até duas semanas atrás e simplesmente quando falta o último passo, dessa maldita peça, que ele teve que gastar bilhões levando da Antártica, titânio puro no caso. Para quê? Numa coisa que fica no pulso? Eu não faço a mínima ideia. "Por que perder tempo que podia estar me mimando com um relógio tão complexo?" - eu o questionei o encontrando aqui na oficina, entretido com isso e o seu rosto iluminado, sorriso acolhedor, olhar de quem sabe tudo com esses óculos de mil e um graus, e acompanhado de algumas rugas de charme no seu rosto se vira na minha direção. "Sabe, as melhores descobertas são feitas por meio da complexidade, Neyney." - ele diz e eu suspiro. "O que vai descobrir com ele? Como ler às horas?" - eu brinco e ele sorri. "Provavelmente outro tipo de horário, ande venha ver." - ele diz e eu vou. - Assim eu consigo mimar a minha neta favorita e o meu relógio favorito." - ele disse e eu o encarei. "De netas o senhor só tem a mim, o resto são todos rapazes." - eu digo. "É por isso que você é a minha favorita." - ele diz e eu reviro os olhos. "O senhor basicamente está a dizer que eu deixaria de ser a sua favorita, se tivesse outras netas, percebeu?" - eu o questionei vendo ele fazer mais uma circunferência nessa folha. "Jamais, eu disse que você é a minha favorita porque de todos os meus netos, você está aqui." - ele se retificou. "Humn, eu posso trabalhar com isso." - eu respondi-o e ele sorriu, e eu resolvi escutar ele falar sobre o bendito relógio pelas seguintes horas. Tic-Tac. Tic-Tac. Tic-Tac. Os meus olhos correm exaustos pelo chão emadeirado da oficina, cheio de folhas que eu muito organizada deixei cair propositadamente, quando eles observaram o rascunho com a maldita parte que falta resolver nesse relógio e a minha primeira reação foi engatinhar e pegar na folha. É só um rascunho, que aparentemente não vai prestar para nada e só vai fazer com que eu perca mais o meu tempo, mas o meu coração que acelerou um monte quando o viu, o vê como uma esperança. Se eu não conseguir montar esse relógio, será o mesmo que estar a perder tempo, porque eu não consigo fazer mais nada senão chorar, ficar zangada, frustrada, indignada, ou pensar nesse maldito relógio. Eu sinto que enquanto eu não resolver o mistério da complexidade desse bendito relógio, eu perderei a minha cabeça e com ela, e o meu cérebro é que ficará complexo, até demais para os psiquiatras cuidarem do estado dele, que já não serve nem para manicómio a esse ponto. Eu me levantei colocando esse rascunho do lado do relógio, voltando a pegar a peça de bilhões, tentando não rebentar com ela e colocar ela nesse experimento absurdo. - Senhor Peny, ao menos tire esse peso de mim, de uma vez. - eu balbucio tentando entender o que é suposto fazer com isso, porque a esse ponto eu já não faço a mínima ideia. E olha que eu me descobri melhor nisso do que achei que era, achei que todo esse tempo eu não estava a prestar atenção nenhuma, e agora me descobri como uma mastermind de relógios, o meu subconsciente estava consumindo tudo e eu nem fazia ideia. Tic-Tac... Horas se passaram, enquanto eu tentava desmistificar esse rascunho e todos os outros, para descobrir o que realmente acabaria com o meu sofrimento mental, de alma, e físico, porque os meus pés e a minha coluna estão me quebrando. Treze horas e sete minutos, o horário total em que eu me encontro no meio desse caos, quando finalmente eu consegui encaixar essa peça no seu devido lugar, sem acabar com ela. O meu avô tinha bilhões para gastar nela, mas eu não tenho. - Funciona? - eu questiono-me retoricamente observando o relógio de pulso, mas os ponteiros simplesmente não se movem. Deixo um suspiro frustrado sair dos meus lábios, colocando ele em meu pulso, indignada comigo mesma. - Quem eu acho que eu sou? O senhor Peny? - eu questiono-me indignada por achar que eu realmente conseguiria montar isso, em duas semanas e treze horas, basicamente. Eu pego todas essas folhas e as dobro o mais cautelosa que posso, não me deixando levar pela minha raiva e frustração, para não rasgar elas, e as guardo o mais longe do meu campo de visão. Nem termino de as guardar porque os meus pés doem, então limitei-me em sentar-me na poltrona, frustrada, olhando para os porta-retratos em cima da mesa de madeira. Com lágrima nos olhos, as pálpebras querendo se fechar de tão partida quebrada que eu estou de cansaço, o meu corpo implorando por uma cama e descanso, porém a minha alma, indignada e frustrada por esse abandono traíra dele. Ele podia ter feito tudo, menos, ter tido um ataque cardíaco e me abandonado. Com tantas coisas para se ter em pleno dois mil e vinte e três, ele foi-me ter um ataque cardíaco tendo um compromisso selado por toda a eternidade comigo, de me fazer companhia até eu ficar aborrecida e ficar comigo, mas não... Ele me deixou sozinha, abandonada, solitária, e com um peso de consciência emanado no bendito desse relógio que não funciona por nada. Uma injustiça, que eu estou muito longe de suportar e saber lidar. Em todas as fotos, todos nós estamos com relógios, seria cómico se não. O, porém é que eu não tenho tanto tempo para olhar para o meu pulso para olhar as horas e olho sempre para o horário marcado no meu celular. - Ai... - eu suspiro, voltando o meu olhar para o relógio com peça de bilhões no meu pulso e resolvo, colocar os ponteiros ao menos na hora exata que o meu celular está marcando. Giro a coroa do relógio para regular os ponteiros, e o fecho assim que acerto, mesmo sabendo que ele não rodaria porque não está funcionando, e levanto-me. Mais me vale ir dormir. No mesmo instante em que eu me levantei, os meus olhos foram tomados por uma luz ofuscante que queimou os meus olhos, tornado a minha visão preta no meio de tanta luz. O meu coração acelerou num tanto que parece que eu seria a próxima tendo um ataque cardíaco, a minha pele ficou extremamente eriçada, e o meu cérebro parecia estar sendo domado por inúmeros soníferos, a sensação é extremamente estranha, como se eu estivesse a ser sugada e o meu corpo travado, como se eu estivesse tendo uma paralisia do sono, pois nem alcançar ou afastar a fonte da luz eu consigo. Os meus ouvidos apitam também numa intensidade atroz, e até esse ponto a surpresa e curiosidade da proveniência dessa luz se transformou em medo, quando do nada, tudo se foi, incluindo a minha consciência. Digo isso, porque eu acordei... e se eu acordei é porque adormeci. Mas no caso eu sei que não adormeci, porque eu me lembro avidamente da p***a que aconteceu quando eu me levantei daquela poltrona e do nada, eu estou acordando sem ter dormido, por conta de pingos grossos e múltiplos de chuva caírem intensamente sobre mim, me fazendo despertar, assustada e desentendida. Eu abro os meus olhos sentindo os meus antebraços ensopados em lama, com o resto do meu corpo que está rente ao chão. Que porra... Eu encaminho os meus olhos para frente, em busca de uma resposta a seguinte pergunta? O que eu estou fazendo no meio do nada, ensopada na lama e no meio de uma tempestade? Tempestade? - Porra... - eu balbucio, levando os meus olhos até ao meu pulso encontrando a pulseira do relógio na lama, mas isso é de menos, a questão é que ele está apanhando chuva e por mais que tenham bilhões nele, eu não sei se é a prova de água. Eu me levanto extremamente confusa, com uma dor absurda no corpo, parece que fui atirada aqui, e procuro proteger o relógio da chuva com o meu próprio corpo, visto que a minha roupa está toda ensopada. Olho ao redor, e eu estou literalmente num caminho de terra, sem nada e nem ninguém, tem apenas algo que eu tenho certeza ser uma floresta dos dois lados dessa estrada de tantas árvores que estão aqui, mas a questão é? O que eu, Celleney, estaria fazendo dormindo na lama e no meio de uma floresta? Raptada eu não fui, a única razão para eu ser raptada, seria por ser neta do meu avô ou filha dos meus pais, com isso dito, esse relógio já não estaria no meu pulso, porque é por isso que a minha família é conhecida. Tocada, eu não fui... Cara, eu nem sei como eu vim parar aqui! Eu estava na oficina. Onde é aqui? Nenhum táxi deve parar aqui, então bêbada o suficiente para fazer algum taxista me levar de casa até aqui, eu não estava. Que p***a! - Argh, Celleney... - eu resmungo comigo mesma, tentando entender as hipóteses do meu próprio cérebro, porque eu estar aqui não faz o mínimo sentido. Nem de lama propriamente eu gosto. Os meus pés estão doloridos, então eu realmente estive em pé esse tempo todo na oficina... o relógio está no meu pulso. Nada explica, o como eu vim parar no meio do nada. Olho para os lados e nada... - O que eu estou achando que vou encontrar no meio da floresta, um Uber? - eu questiono-me indignada comigo mesma e em pânico, ia fazer menção de tirar os meus saltos e caminhar até achar alguma rua em que carros já passem, isso claro, se nenhum bicho dessa floresta ou serial killers saírem de dentro dela para me m***r, mas desisto. O chão está muito perigoso para andar descalça, mais vale partir o pé com esse salto para completar a minha desgraça, que até agora não estou entendendo como aconteceu. Está escurecendo... mas na oficina, era de tarde ainda. Eu ainda estou com as roupas que usei para a balada e estou a morrer de frio. Eu caminho matutando e puxando o meu cérebro para me fazer entender como essa p***a aconteceu. É como quando você é criança, adormece na sala ou no carro e acorda na sua cama, porém, nada parecido, e mais caótico, porque ao menos no final eu sabia que tinha sido o meu avô ou os meus pais me carregando e eu estava na minha casa, e não no meio de uma floresta sombria e fria, sozinha e sem celular. Os meus amigos não me deixariam sair com qualquer pessoa que me deixaria desse jeito no meio da floresta, os seguranças me seguiriam se eu... por algum acaso tivesse bebido demais e decidisse sair... e eu não sairia a pé, sem carro para o meio do nada. Estava a caminhar, o mais rápido que conseguia, mais pela p******o do relógio do que a minha, tentando entender as coisas que estão confusas na minha mente, quando os meus ouvidos são preenchidos pelo som de cavalos galopando. O meu olhar curioso e de susto se vira, pois o som vinha de trás de mim, e duas carruagens são avistadas por mim, e a minha barriga faz cócegas de imediato. Isso só pode ser uma pegadinha... Eu paro, observando literalmente carruagens daquelas de desenho animado virem, no meio da floresta. Tem alguma festona fantasia aqui algures, num sítio, uma quinta, provavelmente? Faria sentido eu estar aqui, talvez, se assim for... Eles não abrandam, enquanto vêm, então eu grito. - Ei! - eu grito indo parar no meio da estrada, estendendo a minha mão para cima, para chamar a atenção deles, porque a outra está a proteger o relógio. Espera, o relógio... Luz! - Ei! - eu exclamo outra vez, vendo eles continuarem no mesmo ritmo. - Vocês não estão me ouvindo? Parem! - eu grito, com pingos de chuva escorrendo incansavelmente pelo meu rosto e cabelos, quando eles abrandam, mas para a minha surpresa de dentro da primeira carruagem, homens fardados como guerreiros, descem, apontando armas e outros espadas na minha direção com uma expressão nada amigável. E eu riu. - Que p***a é essa? - eu questiono não percebendo que p***a de festa está decorrendo para levarem os personagens tão a sério, e eles encaram-se. - Quem é você e o que está a fazer aqui? - um deles questiona, e nem um riso dá. Será que eles não vêm, o quão possivelmente ridículo isso é? - O meu nome é Celleney e eu também gostaria de saber o que eu estou fazendo aqui. - eu os respondo e eles se encaram enquanto eu me aproximo, porém, eles continuam na defensiva e apontam mais dessas geringonças na minha direção. Espera... isso são armas de verdade? - Com trajes como esse, só pode ser uma meretriz. O príncipe, não aceita concubinas, agora saia daqui. - um diz extremamente rude e eu acho que estão a levar essa brincadeira longe demais. - Meu querido, você está-me vendo com cara de meretriz e concubina por acaso? - eu o questiono indignada e eles olham-me de cima a baixo, como se fosse óbvio... Humn, as minhas roupas, elas não têm nada de mais, é só uma minissaia... quem nunca viu uma minissaia? Homens são idiotas. - E quem usa essas palavras ainda? - eu os questiono indignada, meretriz, concubina... Ora! - Eu só quero boleia de volta para a minha casa, ou para onde eu possa voltar para a minha casa, e mais nada, me levem para a festa que vocês estão a ir que eu me viro por lá. - eu peço e eles me encaram como se eu estivesse falando chinês. - O que está acontecendo? - eu ouço uma voz é um sotaque mais civilizado e comportado vindo da outra carruagem, aonde eu direciono os meus olhos. ༻᪥༺
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