Celleney Peny.
Eh...
- O que é isso? - eu questiono a dama de companhia da Cora, observando ela pegar, uns calções que nem alguém dos seus oitenta anos usaria, de seda.
- É uma pantaloon. - ela fala com se fosse óbvio, e eu estou morrendo de frio, apenas vestida com a minha calcinha, observando o que ela tem em mãos, desentendida com essa peça. - Peça íntima senhorita. - ela explica e o meu olho vai da peça para ela e dela, para a peça.
Isso, peça íntima?
É...
- É, eu não vou usar isso, obrigada. - eu respondo-lhe e ela suspira deixando a peça de lado e pegando a outra peça.
- Deixe-me ajudá-la. - ela diz já vindo colocar um corpete em mim, sem me dar chance de expressar a minha opinião sobre essa peça.
Eu a adoro, para falar a verdade, para ir para a balada com um look bem mais elaborado, marcar à cinturinha, nunca é demais, não é?
Mas, não necessariamente é uma peça confortável. Principalmente está aqui, ela é visivelmente pesada, em relação aos que se usam hoje em dia.
Naquela época... eu quero dizer, na minha época.
E não é uma peça que nenhuma mulher, usaria logo de manhã para ir tomar um simples pequeno-almoço, principalmente.
Eu observo a minha cintura ser afinada com uma facilidade abrupta a medida que ela puxa os fios do corpete por trás, que apertam o meu peito também, me deixando ofegante.
- Chega! - eu exclamo, com a voz travada na garganta, observando o corpete amarelo-claro com detalhes nobres, que está agora me asfixiando, salientar os meus s***s e a minha cintura ainda mais.
- Mas não foi até ao final, senhorita. - ela diz parando de puxar os fios atrás, me olhando através do espelho, e eu levo o meu olhar para ela, inconformada.
- Não é para ir até ao final... - eu falo realmente ofegante de tão apertado que está. - Desaperte por favor, eu não estou a conseguir respirar. - eu peço.
- Eu não irei apertar mais, mas não posso desapertar senhorita, senão a saia não irá assentar-lá. - ela me responde fazendo o laço nas amarras do corpete.
Céus...
Para quê tudo isso?
Eu estou tão apertada, que simplesmente me limito em observá-la através do espelho, olhando para o meu cabelo, e pensando no que eu posso fazer com ele.
Os detalhes do corpete são lindos, eu não irei mentir, parece ter sido feito a mão, o seu formato, no decote é em W, salientando os meus s***s.
Ver a minha silhueta tão definida assim, faz-me quase esquecer que estou a sofrer para respirar.
- Aqui está senhorita. - a sua voz soa, voltando com nada mais, nada menos, que tecidos e ferros, que devem pesar toneladas.
- O que é tudo isso? - eu questiono-a já ofegante só de olhar e inconformada.
Porque no final das contas, eu não estou com muita opção do que escolher.
Mas, vocês estão a ver aquela estrutura de ferro, que algumas noivas usam para dar volume ao vestido de casamento?
Pois é, é desse monte de ferro que eu estou me referindo.
- A anágua senhorita. - ela explica calmamente dessa vez, com certeza já cheia de explicar as coisas para mim, quando ela só está tentando fazer o que ela veio fazer aqui.
Anágua, sinceramente eu desconhecia esse nome.
- Eu sei o que é, apenas não entendo o porquê eu preciso vestir isso. - eu falo, com ela deixando-a no chão.
- Nunca usou uma? - ela questiona genuinamente curiosa.
E pela surpresa dela, acho que a minha resposta não deve ser a verdadeira.
- Já... - eu minto e ela assente. - Só não acho necessário vestir isso tão cedo. - eu elaboro, e ela sorri, me ajudando a ficar no meio da anágua, e ela puxa a estrutura até a minha cintura.
- Eu entendo, às vezes é um pouco desconfortável. - ela diz sorrindo, como quem sabe que é. - Mas hoje os preparativos oficiais para o baile de época começam. - ela conte e eu escuto-a atenciosamente.
O que isso significa?
- A duquesa de Aldercrest, chegou. - ela diz extremamente animada.
Aldercrest? Esposa do Virgil?
- A esposa do Virgil? - eu questiono curiosa, e ela ruboriza, fechando essa armadura em mim.
- Não, a mãe do duque. - ela explica. - É a irmã da rainha. - ela conta e ah...
Tá, realmente não me pareceu que aquele i****a tivesse uma esposa que o aturaria.
- Ela é uma dama influente. - ela conta visivelmente animada e eu apenas a escuto curiosa, enquanto fazemos o mesmo exercício para colocar a saia pesada, igual ao corpete em mim, por cima da anágua.
- Ela tem uma personalidade forte e uma inteligência afiada. - ela afirma com admiração. - Normalmente uma palavra dela, determina a sorte de várias moças nobres na introdução à sociedade. - ela diz.
Eu sei o que isso quer dizer?
Não muito, mas facto é, que agora eu estou curiosa para conhecê-la.
- Ela chegou aqui, mais cedo. - ela comenta. - E ela é bem peculiar em alguns aspetos. - ela fala ajustando a saia em mim. - É importante que esteja apresentável, para ficar diante dela, portanto quanto mais volumosa e estruturado a sua saia, melhor. - ela fala e eu me encaro no espelho.
Uma grande gostosa? Sim, eu estou.
Mas também estou extremamente pesada, e apertada.
Desconfortável, mas bonita.
- O que o volume da saia tem a ver com estar apresentável? - eu a questiono, calçando os sapatos que ela me trouxe também.
- Bem, quanto mais estruturada estiver a saia, exibindo todos os detalhes do tecido nobre da sua vestimenta, melhor, porque ela deixa a silhueta mais ampla e bem mais elegante. - ela explica e a esse ponto eu simplesmente assinto.
- Você tem um creme de cabelo? - eu questiono-a.
- Eu trouxe um óleo de amêndoas doces, ótimos, iremos modelar os seus cachos e fazer um coque. - ela diz e eu apenas assinto.
Finalizar o cabelo com um óleo, veremos.
Todo mundo parece ter os melhores penteados que eu já vi, não me resta outra opção senão confiar.
Ela pegou um banquinho, aonde se pôs de pé para fazer o tal penteado em mim, pois, o sufoco de me sentar com essa tonelada de roupa na minha volta, não será agora.
Enquanto ela puxava o meu couro cabeludo, os meus olhos estavam no relógio no meu pulso, e os meus dedos girando a coroa, fazendo os ponteiros deslizarem dentro dele.
Funciona, m***a!
- Algum problema com o seu acessório, senhorita? - a minha aflição tende a baixar assim que eu a escuto.
E eu suspiro soltando a p***a desse relógio.
- Não, nenhum. - eu à respondo enquanto ela desce do banco, e eu levanto o meu olhar para o espelho.
Ganhei um facelift?
Sim, mas que está esplêndido o penteado, é inegável.
Eu estou literalmente vestida como eu achava que uma princesa do século passado se vestiria.
- Obrigada. - eu a agradeço e ela sorri assentindo.
- Gostaria de trocar os seus brincos? - ela me questiona e eu nem os tirei ontem.
- Não, eu estou bem com eles. - eu digo e ela assente.
- Eles são lindos, são diamantes? - ela questiona e eu sorrio.
- São, sim, foram um presente do meu avô. - eu a respondo, e ela os observa assentindo minuciosamente.
Aquele idoso, maluco.
Porque fez isso comigo, senhor Peny?
Olha o lugar em que o senhor me enfiou?
Eu estou embutida em corpete, ferros e toneladas de tecidos que compõem uma única saia, com um penteado que me deu um facelift gratuito.
E ainda, com homens pensando que vim para cá por conta deles, achando que eu sou uma Maria ninguém, tentando a sorte com eles, como se eu quisesse vir parar nesse fim do mundo por homem algum.
Como se eu precisasse disso.
Como eu saio daqui? Qual era o plano do senhor?
Porque aparentemente, o senhor já tinha previsto que essa geringonça funcionaria.
"Se eu morrer antes de acabar de montá-lo, você terá que o terminar, Neyney."
O senhor queria mesmo que eu viesse para esse fim do mundo?
Como eu saio daqui, agora?
- Podemos ir, senhorita. - ela fala e eu assinto.
Não demorou muito para que saíssemos desse quarto e o corredor que ontem de noite estava deserto, me recebe com diversos olhares.
E eu simplesmente limito-me em suspirar, eu tenho mais com o que me preocupar agora, do que com olhares dessas pessoas.
Como eu vou sair daqui?
Todos eles estão desconfiados de mim, e sinceramente, eu não quero ser chicoteada, maltratada, ou ir para essa prisão arcaica que existe aqui.
Muito menos ser conhecida como uma concubina.
E ser faltada com respeito, principalmente pelo senhor duque de Aldercrest.
Ele agora tem um bife directo comigo, depois do que ele sugeriu ontem.
Se eu saio antes desse baile melhor para mim.
- O palácio costuma ficar agitado desse jeito, sempre? - eu questiono curiosa, observando mulheres, circulando apressadas pelos corredores, e uns carregando um rolo de folha como se precisasse resolver coisas para antes de ontem.
- Sim. - ela afirma assentindo. - Mas com os preparativos para o baile, a agitação é dobrada. - ela diz e humn…
Aparentemente esse baile é mais importante do que eu estou imaginando.
Isso é tão surreal!