No dia seguinte, acordo com batidas na porta. Eu me levanto preguiçosamente, olhando a hora no despertador, que está desativado e há um pequeno pedaço de papel ao lado do mesmo.
"Descanse, doce Clhöe.
H.S."
Antes que eu gire a chave na maçaneta, flashbacks da noite passada invadem a minha mente e eu encosto a testa na porta com os olhos fechados.
Nunca achei que Styles poderia me fazer sentir algo tão bom, como ontem. O modo como seus lábios gélidos tocaram os meus, cheios de afeto, seu toque suave sob a minha pele, o jeito como se comportou sem me deixar confusa, me fez acreditar de que eu estava certa sobre tudo. Ele não é o monstro que todos falam que é.
– Clhöe? Você não vai para a faculdade? – é a voz de minha mãe me despertando do transe.
– an.. – giro a chave na maçaneta e dou passagem para ela entrar – que horas,... que horas são? – coço a nuca fazendo ela rir.
– Agora querida, cadê seu despertador? – meus olhos se arregalam – Meu Deus Clhöe, está queimando em febre – ela diz colocando a mão em meu rosto – você já tomou algum remédio? Quer ficar em casa hoje?
– Eu vou ficar bem.
– Tudo bem – ela faz um coque em meu cabelo – você esqueceu de colocar o despertador para despertar? – assinto – Você nunca foi de dormir tanto. Tem dormido tarde?
– Sim.
Ela fica os olhos em meu pescoço e rapidamente eu entro no banheiro.
– O que é isso Clhöe? – ela vem atrás de mim – que marcas são essas?
– É só... Eu... Eu bati na quina da cama quando brincava com Tio Will – me observo no espelho e vejo uma marca roxa perto de meu pescoço e alguns flash da noite passada invadem minha mente.
– Na quina da cama? Não tem uma desculpa melhor? Porque não diz logo que um garoto fez isso? – ela me questiona me fazendo chorar e ela pigarrear sem saber o que falar – Eu vou preparar um chá – ela diz se retirando do quarto ainda me olhando em dúvida – vou ver se seu tio te dá uma carona até lá.
. . .
O campus está vazio, como sempre está quando chego atrasada e eu corro até a sala de aula. Abro a porta da sala e todos estão em silêncio, sentados em dupla. Presumo que seja uma prova.
– Senhorita Beaumont, sente-se com o Senhor Styles – diz o professor me fazendo engolir o seco e eu sinto meu coração bater mais forte cada vez mais.
Styles está com fones de ouvido, batucando com as pontas dos dedos na folha de respostas, e mesmo parece não ter me notado ainda.
– Eu posso? – aponto para a cadeira ao lado dele, e o mesmo me assente.
Observo a folha quase toda preenchida e Styles me entrega o lápis para que eu responda a última questão que falta.
Procuro alguma coisa em minha mente, mas não faço a menor idéia do que responder. A única coisa que tenho certeza é que com certeza, eu estava esgotada no dia da explicação ou simplesmente devia estar com a cabeça em outro lugar.
Styles percebe a minha dificuldade e toma a folha da minha mão, para responder. Eu mordo o lábio frustrada, vendo– o responder sem demora.
Sua caligrafia é quase uma obra de arte. Seus dedos deslizam rapidamente sobre o papel formando as letras de meu nome.
Ele está me deixando louca.
Por que está tão quieto? Aonde está seu olhar intenso? Por que ainda não disse nada sobre ontem á noite?
– Obrigada – digo assim que o professor recolhe a nossa folha.
– Não agradeça.
– Bem...
Por um momento Styles se vira para mim, me fazendo desviar o olhar, mas rapidamente ele volta a encarar o professor, que escreve um lembrete na lousa. Ele guarda a caneta no bolso da calça jeans preta, e o sinal bate, anunciando o término da aula. Eu caminho até meu armário junto de Marcelly que não para de tagarelar sobre Violette e João estarem tendo um caso.
– E o que tem? – dou os ombros.
– Isso parece i****a demais.
– Deixe eles Marcelly – repreendo.
– Desde quando você me repreende? – ela estranha me fazendo bufar.
– Eu só acho que se eles se gostam, por que não podem ficar juntos? – sim, talvez eu esteja um pouco irritada comigo mesma.
Por causa Dele.
Não consigo tirá-lo da cabeça.
A alguns dias atrás eu agradeceria por ter simplesmente me ignorado e não ter dito nada para mim. Mas nunca achei que diria isso:
"É frustrante não ter seu olhar por perto."
Só de pensar em seus olhos percorrendo meu corpo, sinto meu coração se acelerar como nunca havia antes.
Mas hoje, ele simplesmente resolveu dizer nada.
Harry Styles está a me por louca. Estou enlouquecendo por sua causa. Como consegue ser tão único e avassalador? Por que é que me causa tantas dúvidas e ao mesmo tempo tantas certezas? Será que o que fizemos, significou alguma coisa para ele? Por que é que fez aquilo comigo, ontem à noite?
– Como foi sua primeira aula extracurricular? – Marcelly pergunta enquanto entramos na sala.
– Foi, normal – respondo – E a sua?
– Um tédio como todas as outras – ela resmunga e antes que eu possa pisar dentro da sala, sinto alguém segurar meu pulso e eu me viro rapidamente para Cristian.
– Por que é que eu não te vejo no intervalo? – ele sorri me cumprimentando com um beijo no rosto.
– Bem, eu não sei – sorrio.
– Você vai para a aula extracurricular? – assinto – A gente se vê lá então.
– É, a gente se...
– Será que dá para sair da minha frente? Que eu saiba isso aqui ainda é uma passagem – Styles resmunga para nós e Cristian sai da frente da porta para que eu ele possa entrar.
– O seu namorado é bem esquentadinho – Cristian comenta.
– Ele... Não é meu namorado – respondo fazendo o moreno dos olhos cor de mel suspirar de alivio.
– Ainda bem, você não daria certo com ele, é muito gentil e ele um cavalo – eu solto um riso sem graça com seu comentário.
– A gente se vê Cristian – me despeço
– A gente se vê Clhöe – ele beija minha bochecha e sorri antes de ir.
. . .
Caminho de volta para casa, me abraço, para me manter mais aquecida e percebo que estou com febre. Porém ignoro meu m*l estar e bufo frustrada.
Ele não foi para a aula extracurricular.
Por que está me torturando dessa maneira? Por que raios estou tão nervosa?
Por que Harry Styles é como uma d***a, que te faz m*l enquanto você tem por perto e quando você fica longe, parece que vai morrer?
Chuto algumas pedras pelo caminho e sinto um arrepio dos pés a cabeça ao reparar na rua em que estou passando.
São inúmeros becos, e o vento gelado arrasta alguns jornais pelo chão.
Eu aperto o passo, segurando na alça da bolsa, e a minha respiração pesada se condensa no ar.
Uma fina garoa começa a cair e depois de alguns minutos, a mesma se transforma em uma chuva de pingos grossos que molham minha roupa e eu praticamente corro para chegar logo em minha casa que ainda está um pouco longe.
Ouço o som de um carro se aproximando e assim olho para o lado, meu corpo se paraliza por um momento.
– Está muito frio ai fora? – Styles pergunta destravando as portas – Entra, eu te levo – ele diz enquanto entro – já não te falei para não andar sozinha Clhöe? – ele me repreende.
– Eu sei mas não tenho muita escolha – ele assente num suspiro.
– Você tem eu – ele responde e eu levanto a sobrancelha.
– Desculpa.
– Não peça desculpas, não precisa, raios! O que devo fazer para parar de se desculpar? – ele diz jogando minha bolsa no banco de trás.
– Você soa autoritário – respondo fazendo ele morder o maxilar e dar a partida no carro.
– Desculpa, vou tentar melhorar nisso. Você está gripada?
– Sim.
– Não devia estar pegando essa chuva – diz – Isso só vai piorar seu estado – liga o ar quente do carro e eu agradeço mentalmente – Como foi a aula extracurricular?
– Não foram muitas pessoas – digo – Você não foi? – claro que ele não foi!
– Tive que resolver um problema.
– E que problema é esse? – questiono.
– Problemas, eu sou cheio deles – por fim diz, e eu fico em silêncio.
– Por que você não me conta? – quebro o silêncio.
– Porque você vai se afastar.
– Por que acha que eu faria isso?
– Porque é o que todo mundo faz, ou deveria fazer.
– Por que você acha isso?
– Você não vai chegar á raíz do meu problema Clhöe, não tente esse método comigo – ele me corta e eu suspiro.
– Você está sempre pedindo para eu me afastar de você – comento – E está sempre me pedindo para ficar.
– É eu sei, mas estou tentando acertar com você e odeio quando não consigo fazer isso.
Seus dedos batucam no volante e ele morde o lábio rosado, com os olhos focados na estrada. Por um momento ele me olha me fazendo desviar o olhar, fazendo ele dar um sorrio fechado.
– Pare de me olhar desse jeito Clhöe – ele apoia mão em minha coxa e eu me remexo no banco.
–De que jeito?
– Você está me olhando como se estivesse querendo dizer alguma coisa – mordo o lábio inferior, encarando minhas mãos – Você pode dizer o que quiser Clhöe, não tem porque esconder as coisas de mim – ele aperta minha coxa me fazendo suspirar – Pode dize...
– Pode parecer loucura o que eu vou dizer, mas por que você está me tratando assim? – sinto meu rosto corar e ele gargalha de leve.
– Te tratando como? Por que está dizendo isso?
– Eu não sei – minha voz sai baixa e eu sei que isso soou muito criança já que ele ri mais uma vez.
– Na verdade eu só achei que você iria se sentir melhor – não, isso me faz se sentir melhor – eu te disse ontem que estava procurando uma forma de fazer isso para de doer. E estou tentando – Clhöe, você mais do que ninguém sabe o que sinto por você. O que está sentindo?
– Me desculpe.
– Não tem que me pedir desculpas Clhöe – ele para o carro para levantar meu queixo e eu só penso em como sair dali depois de tantas coisas ridículas que eu fui capaz de dizer – Vai parecer muita loucura se eu te disser que você foi a primeira coisa que veio a minha mente quando eu acordei? – ele põe um mecha de cabelo atrás de minha orelha – Mas hoje, eu só quis te dar espaço.
– Vai parecer muita loucura se eu disser que está me enlouquecendo?
– Clhöe, – ele me chama – Não diga que eu te ignorei nunca mais, nem que...você sabe que é a única que atrai meu olhar, eu já te disse isso.
– Eu não vou mais dizer isso.
– De agora em diante, você vai começar a me falar o que quer que eu faça para que se sinta bem, eu não quero mais que me esconda nada – assinto – Sabe que não precisa ter medo de mim, nós conversamos ontem. Isso para você pode parecer loucura, mas é apenas você sendo você, e eu quero que você seja você quando estiver comigo, vai me dizer o que te incomoda e vai pedir o que quiser, sem me esconder o que sente – é importante para mim saber a sua opinião e o que você não quer.
– Tudo bem – digo fazendo ele sorrir mostrando suas covinhas que me levam a loucura.
– Você quer me contar alguma coisa? Ou pedir algo agora?
– Seria loucura te pedir para fazer aquilo que fizemos ontem á noite?