– Clhöe, – ouço a voz de minha mãe e me viro para a parede cobrindo a cabeça – você precisa acordar querida.
– Uhum – resmungo me espreguiçando.
– Cadê o Tio Will? – pergunto lembrando-me que tinha adormecido em seu peito.
– Esta dormindo – minha mãe responde – Vou te esperar lá em baixo – assinto me sentando na cama.
Esfrego os olhos e bocejo. A janela está fechado e eu caminho até ela e coloco um cabide impedindo que ela seja aberta.
Styles não vai mais entrar aqui. Ele não tem o direito de me acusar sobre algo que ele nem sabe.
Tomo os comprimidos de sempre e entro no banho.
Espero que a consulta com a doutora Nora não demore. Eu não quero falar com ela sobre o que está acontecendo. Na verdade eu nunca deveria ter vindo para cá, se aquilo não tivesse acontecido.
– Bom dia família! As minhas costas estão me matando socorro – tio Will resmunga se sentando na mesa junto conosco.
– Aquela cama está te fazendo m*l – meu pai comenta e tio Will assente.
– Acho que terei que me mudar para o sofá – ele responde enchendo uma xícara de café – E você Clhöe, dormiu bem? – assinto para tio Will que sorri – Muito bem garota, muito bem.
– Clhöe, termine logo seu café, para não nos atrasarmos – minha mãe corta a animação de tio Will enquanto seca as mãos no pano de prato.
– Meu Deus Grace, a doutora não vai fugir não, deixe a garota tomar café em paz – Tio Will resmunga e minha mãe bufa.
– A doutora não vai fugir mas Clhöe tem hora marcada Willian – minha mãe retruca – Aonde eu estava com a cabeça quando deixei Alex me convencer de que você faria bem para Clhöe ao invés de uma qualificada psicolo...
– Eu tenho culpa agora? De tudo?! Me poupe Grace Marie Jonnes! – tio Will gargalha ironicamente.
Meu pai faz sinal para mim, e nós dois nos levantamos dali, saindo pela porta.
– Mamãe está insuportável – comento entrando dentro do carro e ela ri calmo.
– Ela está preocupada com você querida.
– Eu não quero que ela fique preocupada, eu quero que ela seja compreensiva e equilibrada, tio Will não tem culpa. Não é responsabilidade fazer com que eu fique bem – murmuro dele pra vir na e meu pai assente – e eu não quero ir a psicóloga papai, eu... eu não conversar com ninguém sobre essa fobia, eu prometo que...
– Você sabe que não é sobre a fobia que você deve conversar – ele me olha e eu engulo o seco – você ainda está muito traumatizada com aquela perda Clhöe, precisa de ajuda para superá-lo.
– Não Alex. Eu não tenho que superá-lo, eu... eu não preciso de ajuda quanto a isso! – me altero.
– Você teve uma crise ontem, e claro que precisa de ajuda – ele diz calmamente com a mão em minha perna.
Subimos as pequenas escadinhas e ele bate na porta. Em seguida, ouvimos a voz desgastada dela "oh, entre" meu pai gira a maçaneta e faz um gesto para que eu entre.
– Eu te espero aqui fora – assinto para ele e entro na sala, dando passos cautelosos como se estivesse caminhando até a forca.
– Clhöe Beaulmont? – assinto – sente-se querida – eu me sento no divã e ela faz sinal para que eu deite mas eu n**o e ela da os ombros – Se não me falha a memória, a última vez que nos vimos, você saiu por essa porta como se fosse uma foragida da polícia – meus olhos se arregalam com a fala dela e ela solta um leve riso – Bom, Grace me ligou e disse que você precisava de uma consulta para ontem – ela comenta dessa vez seria e eu suspiro.
– A minha mãe é exagerada.
– Talvez seja, mas ela e mãe e... está preocupada certo? – assinto – você pode me dizer o por quê dela estar assim? – pigarreio.
– Eu... Aconteceram algumas coisas por conta da minha adaptação na faculdade e essa loucura toda de pessoas novas – tento enrolar ela que assente.
– Clhöe, eu preciso que preste atenção no que vou dizer – ela fecha por um momento o caderninho e retira os óculos – Você não vai melhorar de uma consulta para outra. A sua mãe se enganou quando viu que você teve uma crise e achou que tudo ficaria bem de hoje em diante, depois que você viesse aqui – assinto sem saber o que dizer.
– Foi só uma crise.
– Sim. Só uma crise. Você sabia que para uma pessoa ter uma crise, ela precisa passar por situações repetidas vezes, até chegar uma hora em que o psicológico dela não da conta e ai manda toda aquela tensão para os músculos do corpo, e ai você começa a tremer, a suar, a pirar – novamente ela rebate me encurralando – Eu estou aqui para te ouvir querida. Você precisa me contar como você chegou nisso tudo e vamos chegar a raiz do problema, vamos trabalhar nele e você vai ficar bem.
– Só que eu não consigo – digo encarando os dedos.
– Não consegue ou não quer?
– Não sei por onde começar – confesso meus olhos marejam, a doutora percebe minha voz embargada e me entrega um copo de água.
– Que tal me dizer da sua infância? – assinto.
– Eu estudava num colégio só para garotas – respondo.
– Essa e a sua melhor lembrança? – ela gargalha e eu n**o fechando os olhos fortemente.
– Sempre morei nos E.U.A, na mesma casa desde sempre e via meu pai uma vez por mês, por que ele trabalhava muito longe, então eu mandava cartinhas para ele e... eu passava o dia inteiro lendo – faço uma pausa e ela faz um gesto para que eu continue – tio Will sempre ia me ver e – solto um leve riso – a gente fazia uma cabana com os lençóis de minha mãe no quintal e fingíamos estar num acampamento para músicos. Eu tinha uma guitarra de brinquedo, movida a pilhas, mas eu gostava mesmo era do Ukulele que tio Will tinha, e ele tocava Jason Mraz enquanto eu fazia as comidinhas (cookies e danone, numa panelinha).
– Ele tem um belo gosto musical – a doutora Nora brinca e eu gargalho assentindo.
– Mas ele teve que vir para Europa e eu nunca mais vi ele – dou um gole no copo de água – mas eu cresci e fiz amigas, eu fiz mechas rosa no cabelo e ganhei meu primeiro batom de minha mãe. Mas os garotos precisavam de mais do que um batom rosinha para se interessar por garotas como eu, era hora do meu primeiro sutiã – suspiro – Na sétima série eu queria ser veterinária – solto um leve riso – porque, a Dorothy, minha cachorra ficou muito doente, eu decidi que seria veterinária para salvar os animais e não ver os donos deles sofrerem como eu sofri – mas isso ficou para trás porque na oitava série eu queria ser fotógrafa. Eu amava fotografar o céu e pessoas distraídas mas no segundo ano, esse sonho ficou para trás quando eu conheci ele. Na verdade, a nova meta a ser cumprida era ser a mulher da vida dele – faço uma pausa e bebo a água mas não tem mais água no copo e eu me frustro.
– Ele quem?
– O meu ex namorado Doutora – assim que digo isso num sussurro ela encontra uma posição melhor para se sentar na poltrona e escreve algo em seu caderninho, como se fosse isso que ela estava esperando ouvir desde que cheguei aqui.
– Você namorou, mas é claro. Até parece que uma garota tão linda como você não encontraria um namorado – ela comenta num sorriso.
– Tive sorte. Era isso que me falava sempre. Que eu tinha sorte em ter ele, – comento encarando meus dedos e ela fica em silêncio.
– Foi um relacionamento r**m?
– Um relacionamento r**m de 3 anos – respondo e ela se levanta da poltrona dela e se senta ao meu lado.
– Bom, – ela põe a mão em minhas costas – Chegamos á raiz do problema? – assinto mordendo o lábio e uma lágrima escorre de meu rosto, em seguida eu soluço e cubro o rosto com as mãos – Tudo bem Clhöe, está tudo bem agora. Você já desabafou em voz alta com alguém? – n**o e ela anota – Você entende que precisa contar para alguém? Entende que precisa por para fora o que você está guardando aí dentro Clhöe – assinto tentando conter os meus soluços – aí dentro, está transbordando Clhöe, você precisa por para fora, ou vai acabar se afogando – a Doutora me entrega um lenço – Quando a gente tem um pesadelo, a gente acorda no meio da noite, se encolhe e não consegue dormir mais, e aí quando fecha os olhos o pesadelo parece continuar. E aí quando amanhece, a gente se senta na cama e se lembra do sonho, mas não sente mais medo e quando a gente conta pra alguém a gente vê como foi bobo – ela acaricia meu cabelo enquanto fala – Você teve um pesadelo Clhöe, acordou e passou a noite inteira encolhida com medo, mas amanheceu querida e você nem se deu conta, porque as cortinas estavam fechadas bloqueando a entrada do sol – ela se levanta e abre as cortinas do consultório, revelando os grandes janelões de vidro e do outro lado há um belo jardim e bancos de madeira branca – agora é a hora que você se senta e se lembra do que sonhou – ela se agacha junto a mim e segura minha mão, – E contar como foi esse pesadelo – ela faz um gesto com a cabeça me incentivando a falar e eu respiro fundo assentindo.
– Ele se chamava Zayn.