Acordo antes do despertador tocar. Estou h******l. Penso assim que me olho no espelho. Estou com fundas olheiras e pálida.
Eu odeio tanto estar nesse estado. Eu sei, já deveria ter me acostumado com minha cara branca, mas é deplorável. É como se fosse um convite para olharem para mim e falarem "vejam, eu sabia que ela tinha problemas. A garota é mais pálida que um defunto."
Solto um grunhido com este pensamento e após tomar um bom banho quente, caminho até a pequena cômoda e tomo os dois comprimidos, como sempre. Em seguida, abro meu estojo de maquiagem e trato e passar o blush para dar saúde ás maçãs de meu rosto. Menos m*l.
Gostaria muito de ficar em casa, o único lugar aonde eu não tenho que me preocupar, o único lugar aonde não preciso maquiar minhas cicatrizes, o único lugar que não preciso respirar fundo e contar até dez cada vez que perco o controle dos meus demônios. O único lugar que me sinto segura. E mesmo que essa casa ainda seja estranha para mim, aqui, agora, é o único lugar que eu sei que as coisas vão ficar bem.
Dou uma última olhada no espelho e suspiro. Mais blush.
Passo um pouco mais de blush e por fim, prendo meus cabelos deixando alguns fios soltos.
– Não sei por que se preocupa tanto com isso – mamãe comenta me olhando da porta – Você não precisa provar nada para ninguém – ela se aproxima de mim e com o lenço removedor de maquiagem, retira todo o blush que passei no rosto.
– Mãe... – resmungo – Não quero parecer uma doente com cara de zumbi.
– Clhöe – ela me repreende – Você é linda. Vai acabar pirando se continuar desse jeito filha. Você não parece um zumbi.
– Todos lá já sabem? – Pergunto com total insegurança.
– O necessário para que você fique bem – ela diz indiferente.
Hoje é o meu primeiro dia de aula na faculdade aqui de Brighton desde que eu e minha família nos mudamos para cá. Agora, a empresa onde meu pai trabalha é mais perto. Ele está feliz já que agora não vai precisar ficar dias fora de casa e eu ficaria feliz se esse fosse o único motivo.
Eu sei que eles estão querendo me proteger, montar os meus pedaços novamente. Mas eu não vou melhorar mudando de casa, nem de cidade, muito menos de vida.
– Seu pai vai te levar, ele te espera na garagem – anuncia minha mãe me despertando para a realidade.
– Já estou a descer – solto um longo suspiro enquanto dou uma última olhada no espelho e após alguns minutos encarando meu reflexo, resolvo passar um gloss labial cor pêssego.
Não gosto muito de maquiagem, só gosto de passar blush e quando meus lábios estão muito ressecados, passo gloss lábial. Odeio chamar atenção. Ter uma fobia tão estranha como essa, já é um grande motivo para as pessoas me olharem.
Pego a mochila e desço as escadas da casa nova. Dou um beijo em minha mãe antes de sair e ela diz uma "tenha um bom primeiro dia de aula na nova faculdade Clhöe" Corro para a garagem onde meu pai me espera.
Ele buzina e me apressando enquanto eu entro no carro.
– Por que é que vocês mulheres demoram tanto para se arrumar? – ele comenta dando partida no carro e eu dou os ombros.
O trajeto até o campus é feito em silêncio. Meu pai é um homem de poucas palavras. Talvez eu tenha puxado isso dele. Porém, mesmo que ele seja assim, sou mais apegada com ele do que com minha mãe.
Nos últimos meses ela tem estado insuportável. Não que eu seja uma filha ingrata, mas minha mãe sempre cobrou muito de mim e depois que fui diagnosticada com essa fobia é como se todos os planos dela para mim tivessem ido por água a baixo e agora ela se sentia obrigada a me proteger do mundo.
Eu só gostaria de sair sem me preocupar com o que vou ouvir, ser uma garota normal, que não se importa com o que os outros dizem, que não chora quando falam um palavrão. Gostaria de ser Forte. E sinto uma dor no peito só de pensar nas pessoas novas que me esperam lá.
O campus está deserto, e eu não me lembrava das duas grandes assustadoras estátuas de cerâmica na entrada, na verdade quando vim assinar os papéis de minha transferência, eu não tinha reparado no quão antiga era a construção de toda aquela estrutura, e notando o campus vazio, deduzo que os todos já estejam em aula – e eu atrasada – então eu me apresso a chegar em minha sala, carregando minha bagagem de livros didáticos.
Preciso descobrir aonde é meu novo armário. Não pretendo ficar carregando esse peso por muito tempo.
Assim que abro a porta, deparo–me com uma senhora de cabelos vermelhos e assim que ela nota minha presença, se levanta e faz um gesto para que eu entre e eu entrego o papel da transferência para ela que lê meu nome e morde o maxilar lendo as letrinhas miúdas no canto da folha.
"Diagnósticada com Onomatofobia, por favor, alertar os alunos."
– Pessoal, essa é Clhöe Beaumont nova colega de turma – ela anuncia com as mãos em meu ombro.
– É essa gatinha que não pode ouvir palavrões? – a voz de um rapaz ecoa pela sala e eu sinto meu rosto corar.
– Cale-se Jonny! – ela o repreende – Não quero ninguém mexendo com Clhoë! Espero não ouvir mais nenhum comentário sobre o assunto, estou lidando com futuros psicólogos, não com humoristas – vocifera ela apertando cada vez mais meu ombro – Eu sou a sra. Morgan, sua professora de psicanálise,
Apenas assinto e ergo a cabeça encontrando pelo caminho, os olhos curiosos de todos presentes ali. Preciso sair daqui.
No fundo da sala há um lugar vago, e eu resolvo me sentar ali mesmo. Alguns alunos ao redor me olham com surpresa e eu tento me lembrar de algo errado que fiz, ou o que falei para que eles me olhem dessa forma.
Eu já estava agindo estranho sem nem ao menos perceber?!
No telão, são apresentados slides, então sem demora começo a copiar.
A porta se abre bruscamente interrompendo a explicação, um rapaz entra na sala, sem pedir licença e caminha em minha direção.
– Você está no meu lugar.
Ergo a cabeça e olho na direção da voz grave, e ai me corpo inteiro gela ao deparar-me com o olhar verde mais frio que já vi em todo esse tempo, ele me encara surpreso também, porém morde o maxilar e me olha duramente "sai logo" ordena ele novamente.
– E-Eu não sabia que aqui, cada aluno tinha seu lugar – respondo e todos ali soltam risos baixos, porém voltam a ficar sérios quando o rapaz os encara sem achar graça do meu comentário.
– Não. Ninguém aqui tem um lugar próprio, mas esse ai é o meu lugar – ele responde duramente colocando o caderno em cima da mesa agressivamente.
– O que tem de especial nele? – fecho os olhos fortemente assim que os alunos começam a rir novamente do que eu disse.
Ele passa as mãos nos os cabelos encaracolados, jogando-os para trás impaciente, os olhos verdes esmeraldas semicerrados em minha direção e o mesmo morde o lábio rosado assim que percebe que eu observo cada traço de sua bela face. Ele fecha os punhos e automaticamente os músculos de seus braços cobertos de tatuagens se contraem deixando-o ainda menos amigável.
– Saia logo do meu lugar Clhöe – ele murmura meu nome e meus olhos se arregalam.
Certo, ele sabe meu nome, e tem um lugar reservado na sala de aula, e que eu estou sentada. E que todos acham que estou fazendo piada com a cara dele. Ele deve ser um dos inúmeros valentões que devem ter por aqui pelo Campus, e que eu devo ficar longe.
– M-Me desculpe – digo me levantando da mesa com o caderno na mão totalmente desorientada.
– Styles , ela é nova, deixe ela ai – uma garota em algum lugar da sala diz com a voz tremula.
– Cala a boca, e fica na sua, a conversa ainda não chegou até você – ele cospe as palavras com uma certa pressa.
– Eu já saí do seu lugar, não precisa ser rude com ela – digo e ele me lança um olhar de repulsa soltando um leve riso balançando a cabeça.
– Só porque você é caloura, não quer dizer que pode colocar a b***a no meu lugar – murmura ele e eu cerro os punhos irritada.
– Não preciso me sentar nesse lugar, não existe só ele nessa sala – ele me olha friamente e eu engulo o seco com medo do que ele possa dizer – Olha, não faço questão desse lugar, pode ficar – pego minha bolsa dali e dou as costas a procura de outro lugar.
– Styles o que está acontecendo? – diz a Sra. Morgan me fazendo dar meia volta.
– Está tudo bem – digo tentando evitar mais confusão.
– Você não poderia ceder seu lugar para ela, só hoje, e pegar outra carteira para você na outra sala Styles? – em resposta Styles abre o caderno e nos ignora completamente.
– Deixe que eu pego para ela – um branquelo alto de cabelos castanhos sorri para mim e eu sinto um grande alívio.
– Acompanhe João – a senhora Morgan diz nervosa encarando Styles por alguns minutos, porém dá as costas e volta a passar os slides enquanto saio de dentro da sala, acompanhando o branquelo.
– Sou João, Prazer – se apresenta.
– E como você já deve saber, sou Clhoë – sorrio – Quem é aquele rapaz prepotente? – ele gargalha com a minha pergunta.
– Mau te conheço e já te admiro por ter encarado ele, mas não faça de novo– ele aperta meu ombro.
– Aquilo foi ridículo – comento e ele dá os ombros.
– Acredite Clhöe, você ainda vai se surpreender com que Harry Styles é capaz de fazer – ele aperta meu ombro e suspira – E bem, como você é... não pode ouvir certas coisas, fica bem longe dele – assinto mordendo o maxilar.
Ficamos em silencio e assim que voltamos para a sala e coloco a carteira o mais longe possível do tal Styles.
*
A hora para o intervalo finalmente chega e eu vou até os armários guardar meus livros, porém me vejo em um verdadeiro conflito com a numeração do cadeado que não abre com o código que tenho anotado no papel.
Bufo colocando novanente a numeração e impaciente, bato algumas vezes na porta achando que a mesma deve estar emperrada.
– O que está tentando fazer no meu armário? – ouço alguém sibilar atrás de mim e assim que me viro, engulo o seco.
– Este armário é meu – me justifico porém Styles continua a me encarar duramente.
– Esse armário é meu, e você está arrombando ele – n**o arqueando a sobrancelha.
–I sso não é verdade, eu tenho um papel com a senha, que foi me dada pelo sr. Newton – protesto.
– Então acho melhor você ir resolver com ele, porque este armário é meu.
– Teremos que ir na sala dele nós dois, porque eu tenho um papel alegando ser meu este armário – eu o interrompo ele revira os olhos e joga os cabelos para trás claramente irritado.
Se aproxima de mim mordendo o maxilar e eu gelo novamente sentindo meu coração bater num ritmo quase implacável. Ele está a centímetro de distância, o cheiro de sua colônia masculina me põe em êxtase total enquanto ele me encara firmemente, como se pudesse ler meus pensamentos e estivesse ouvindo meu coração pulsar.
– Quem você pensa que é garota? – ele pergunta me prensando contra o armário irritado.
– Uma pessoa que está tentando guardar os livros – fecho os olhos fortemente quando percebo o sarcásmo em minha voz.
– Você deve ser a garota da fobia estranha... – ele divaga e eu mordo o maxilar.
–Eu não sabia que aquele era seu lugar – tento me justificar.
– O que acontece se eu disser um palavrão? – meus olhos se arregalam.
– Por favor. Não quero arrumar problemas – sinto meu corpo tremer só de pensar no que pode acontecer se ele disser.
Estou ofegante agora tentando me soltar das mãos dele. Mas ele é mais forte que eu. Muito mais forte.
– Me solte por favor – imploro dessa vez vendo o mesmo abrir um sorriso sombrio no rosto.
– Vou te ensinar umas palavrinhas primeiro.