– Por que você não tomou seus remédios Clhöe? – minha mãe pergunta duramente com as mãos na cintura e o senhor Newton pigarreia.
– Vou deixa-los assós – ele comenta deixando a sala a e minha mãe assente enquanto meu pai leva a mão à minhas costas me incentivando a respirar.
Eu achei que estava bem, achei mesmo. Achei que não precisaria daqueles comprimidos, só por um dia. Só um dia livre deles.
– Eu esqueci de tomar. Acordei atrasada e saí correndo.
– Se esqueceu? – ela me interrompe – Sabe o que acontece quando você se esquece? É isso o que acontece Clhöe. Você não consegue simplesmente controlar a sua ansiedade. Uma garota morreu, uma garota que talvez você nem conhecia, e aí você surta.
– Grace – meu pai repreende ela – Quem está surtando é você. Ela já disse que se atrasou, não pressione – ele está nervoso, eu sei. Há muito tempo não vejo ele falar rude com minha mãe.
Então ela se cala e suspira.
– Clhöe, eu estou preocupada, só isso – dessa vez sua voz é embargada – Eu... O que está acontecendo com você? – seus olhos rígidos e frios se enchem de lágrimas e ela chora bem na minha frente angustiado.
Porque é assim como uma pessoa se sente, quando vê outra sofrer e não sabe mais o que fazer para ajudar. Ela sofre junto.
E é isso que uma pessoa como eu faz. Eu faço todos ao meu redor sofrerem por não conseguirem ajudar.
Emilly sofreu por que não conseguiram ajuda– la.
Styles sofre por que não conseguiu ajuda– la.
Diana sofre por não conseguir ajudar o filho.
E agora, Megan está morta e pessoas estão sofrendo por isso.
É um efeito dominó. Um sofrimento ligando a outro. Um tormento ligando a outro.
Eu não digo nada. Apenas me levanto da cadeira e meu pai abre a porta para que passamos.
Vou para casa ao invés de ficar para as homenagens para Megan.
Tio Will está na sala lendo um jornal quando chego. Ele bate na almofada para que eu me sente ao lado dele enquanto minha mãe corre para o quarto segurando seus soluços que insistem em escapar de sua boca. Meu pai vai atrás dela enquanto suspiro.
– Ela era da sua sala? – n**o para tio Will – Vocês eram amigas? – ele põe o jornal em cima da mesinha do centro e suspira.
Reparo que na primeira folha do jornal, está a foto de Megan abaixo das letras grandes em negrito "Jovem é atingida por 15 facadas e morre em quarto de Hotel"
– Eu só falei com ela algumas vezes – comento encarando a TV desligada e um soluço escapa de meus lábios – Eu nunca devia ter falado com ela tio, nunca. Devia ter ficado longe dela – choramingo cobrindo o rosto e ele suspira.
– Tudo bem querida. A culpa não é sua. Nós simplesmente não sabemos quando uma pessoa vai partir. Se soubéssemos, nem deixaríamos os que elas chegassem – ele comenta tentando me consolar – Agora seja forte Clhöe. Eu vou te levar para a consulta – assinto secando as lágrimas.
Subo para o quarto e me sento na cama soltando um longo suspiro. E ao invés de tomar um banho e trocar de roupa, opto por ficar com a roupa que fui para o colégio e aproveito o tempo que me resta para ficar deitada passando e repassando os últimos acontecimentos.
Eu vou ter que colocar Styles contra a parede dessa vez. Se ele realmente matou Megan, tudo irá mudar.
Me custa acreditar que não foi ele, mas tudo se encaixa perfeitamente e ele terá de ser punido.
Não troco nenhuma palavra com tio Will durante o percurso até o consultório da Doutora Nora, então ele liga o som em uma rádio aleatória e batuca com os dedos no couro do volante do carro.
– Eu venho te buscar, então se eu me atrasar me espere exatamente aqui – assinto descendo do carro.
Eu subo os pequenos degraus apressadamente, e ao contrário das outras vezes que vim aqui contra a minha vontade, hoje é diferente. Estou ansiosa para conversar com a doutora.
Antes que eu bata na porta, ela se abre eu cambaleio com os olhos arregalados.
– Clhöe? O que tá fazendo aqui? – Styles diz arqueando a sobrancelha e antes que eu diga qualquer coisa a doutora Nora caminha até a porta.
– Ah querida, que bom que você veio! – ela anuncia sorridente – Nos vemos na próxima consulta Harry – ela se despede e ele assente mordendo o maxilar enquanto dá as costas ainda assombrado por ter me encontrado ali.
Harry está vindo em consultas, com a doutora Nora?! Mas é claro que sim, o que mais ele viria fazer aqui?!
– Sente-se querida – a doutora faz um gesto para que eu me sente enquanto observa por uma última vez anotações em seu caderno e em seguida ela vira para uma nova folha em branco – Como você está?
– É a primeira consulta dele? – não contenho a minha curiosidade e ela solta um leve riso.
– Não posso falar dos meus outros pacientes, isso é antiético – ela me explica e eu assinto – Vocês se conhecem?
– Sim.
– Mais um motivo para não comentarmos – ela sorri cruzando as pernas – como você tem estado?
– Péssima – confesso ela anota.
– Por que? Você escreveu a carta que eu te pedi? – assinto.
– Só que eu joguei fora – mordo o lábio – me desculpe Doutora.
– Tudo bem Clhöe. Eu fico feliz que tenha escrito. Essa era a meta principal, você se sentiu mais leve depois de ter escrito todos os sentimentos que você guardava todo esse tempo?
– Sim, e... Achei que estivesse forte depois disso, mas, eu percebi que esse não é o meu verdadeiro problema.
– Sinta– se à vontade para me falar.
– Eu... Eu... Doutora, o que uma pessoa dele fazer quando sabe demais? Quando sabe coisas que ela não deveria saber e se souberem que ela sabe, essa pessoa pode se machucar? – a Doutora arqueia a sobrancelha.
– Clhöe, você está com a mente a mil. Essa não é você. Respire e me conte exatamente como eu te ensinei, até chegarmos à raiz do problema.
– Podemos esquecer um pouco do Zayn? – ela assente.
– Sim claro,
– Eu conheci uma pessoa, e ela guarda um segredo. E... E ninguém pode saber. Na verdade ele não quer que ninguém saiba, muito menos eu. Mas eu descobri, só que eu quero ajudar ele e discutimos, e eu citei o nome de uma pessoa que sabe desse segredo. E aí essa pessoa meio que se deu m*l por que eu citei o nome dela na discussão, mas eu não sei se ele fez isso com essa pessoa ou se é coisa da minha cabeça – a Doutora Nora arqueia a sobrancelha e suspira antes de falar.
– Bom, pelo que eu entendi, você não quer me contar o nome dessa pessoa certo? – assinto – Só quer um conselho?
– Sim.
– Você nunca vai saber se não perguntar para ele. Falta de comunicação nunca foi um bom aliado – eu suspiro e ficamos em silêncio.
– Clhöe. Isso tem alguma coisa a ver com Harry? – mordo o maxilar.
– Por que teria?
– Você não é de falar muito, é quieta e só fala de certas coisas se perguntam para você. Eu vi como você e Harry olharam, assombrados. Ele foi embora assim e você está assim até agora.
– Achei que não pudesse falar dos seus pacientes – retruco.
– Você está agitada e ligando certas coisas... – ela faz uma pausa mas não termina a frase – Faça um desenho para mim – ela pede e se levanta caminhando até a mesa para pegar lápis e um folha em branco – Desenha para mim essa janela – ela pede e abre a cortina revelando o jardim por trás dela.
Assim que termino o desenho, entrego a ela e ela guarda dentro do caderninho.
– Na próxima consulta, vamos trabalhar em cima desse desenho – comenta e eu assinto caminhando até a porta – Até a nossa próxima consulta – ela se despede.
Tenho certeza de que tio Will irá se atrasar. Eu solto um leve riso com este comentário enquanto desço as escadinhas sem muita pressa, eu para imediatamente assim que me deparo com o carro preto de Harry, parado em frente ao consultório e ele encostado de braços cruzados.
– Entra no carro – ele diz e eu mordo o maxilar enquanto ele entra e me espera.
Preciso fazer o que a Doutora falou. Se eu não perguntar, nunca irei saber.
Eu entro em silêncio e ele dá a partida no carro.
– Aonde iremos? – pergunto.
– Vou te levar para casa, as ruas estão perigosas.
– As estão perigosas ou você é perigoso? – ele morde o maxilar e me olha.
– O que você quer dizer com isso?
– Harry, não minta para mim, você matou a Megan?