Bonnie
Ele não ligou.
Tudo bem, não ligo, não tô nem aí, era só um cara, só isso, uma transa casual. Mentira! Fico olhando o celular o tempo inteiro, levo ele ao banheiro quando vou tomar banho, acordo de madrugada para ver se tem alguma mensagem.
— Maldito, sei o que está tentando fazer. — Resmungo para o aparelho.
— O que foi menina? — Me jogo no sofá da sala de estar, da casa dos meus pais, e suspiro.
— Nada, Evelyn. — Minha cunhada é uma das mulheres mais lindas que já vi, com aqueles lindos cabelos longos e ruivos e um sorriso caloroso nos lábios. — Trouxe bolo? — Aponto para o que ela tem nas mãos.
— Sim, para amanhã, você não vai poder ficar? — Eu tinha esquecido do aniversário do caçula de Jason.
— Não posso, mas trarei um presente para o pequeno Júnior. — O guri já vai fazer dez e é o mais mimado da turma de netos. Acho que vou dar uma viagem para Disney, não, dei isso ano passado.
— Nada de viagens, ele está dando muito trabalho ultimamente. — Vou pesquisar o que crianças da idade dele gostam.
Sigo-a até a cozinha, onde Carter e Dan discutem.
— Ele não vai, já falei. — A tensão é palpável, puxo uma cadeira e sento. Evelyn abre a geladeira e guarda o bolo.
— Eu prometi a ele que podia ir, então ele vai sim. — Brigas entre eles era mais comum do que se podia imaginar, Carter ia dormir lá em casa ao menos uma vez na semana.
— Não vai, ponto final! — Grita a histérica. Coitados de Dan e Davi, ter que aguentar Carter o tempo inteiro. — Que saco!
— Não vou discutir com você. — Diz Dan zangado, mas sem alterar a voz, sai deixando Carter a ponto de explodir.
— Danilo, volta AQUI! — Reviro meus olhos e olho para Evelyn que dá de ombros.
— Pare de gritar, sua s*******o! — Me encara como se fosse me matar, contraindo os dentes e bufando. — Não sei porque vocês brigam tanto.
— Não se mete p***a, não venha encher meu saco você também. — Sai batendo o pé.
— Ela só está nervosa porque Davi vai fazer uma viagem com a turma da escola. — Explica Evelyn, servindo uma xícara de café para nós duas.
— Quero ver quando ela descobrir que ele tá namorado. — Rimos.
— Me conta — Lá vem ela. —, o que aconteceu com você essa semana, parece... — Me avalia, Evelyn é do tipo que tem um sexto sentido com as coisas. — Ansiosa.
— Não é nada. — Minto sorrindo. — Coisas da empresa.
— Humm... — Estreita os olhos. — E a Cristy, como está? — Toca na ferida.
— A traidora? Deve estar muito bem a essa hora. — Falo com raiva. Evelyn começa rir.
— Bonnie, você devia estar feliz por ela. — Suspiro frustrada.
— Eu tô... — Evelyn ergue a sobrancelha ruiva. — Mais ou menos. — Cruza os braços. — Quero que ela morra, só isso.
— Quando é a festa de noivado? — Bufo.
— Semana que vem, acho, nem sei de nada, ela deve ter dito. — Olho a hora em meu relógio de pulso. Bebo alguns goles do meu café e desprezo os biscoitos caseiros.
— Ei, vamos para casa? — Jason entra na cozinha e o clima entre eles é totalmente diferente, do casal de doidos.
Jason me dá um beijo na cabeça, como sempre faz, parece que ainda sou uma criança pra ele.
— As crianças vão ficar? — Dona Margarida sempre fica com os netos no final de semana. Jason vai até a esposa e a beija.
— Vão sim, amanhã a gente os vê. — Enlaça a cintura dela. — Bonnie, não está dormindo bem?
Melhor eu sair de perto desse casal antes que eu confesse a eles todos meus pecados.
— Olha a hora! Preciso correr. — Levanto sorrindo para eles. Evelyn percebe minha desculpa e balança a cabeça. — Vejo vocês semana que vem. — Sopro beijos para ambos e saio rápido.
Vou até o escritório, dou um beijo em papai, subo e encontro mamãe com os quatro netos, fico ainda um pouco com eles conversando, depois pego minhas coisas e sigo de volta para meu apartamento.
Está tarde, mas a pista é tranquila e a viagem de duas horas de carro me agrada. Já estava tudo ajeitado para o evento de amanhã. Agora era só comparecer, ficar um pouco e depois sair fora rápido.
Marquei um encontro com o amigo do noivo de Cristy, o Lucas, para hoje à noite, só para quebrar o gelo e ficarmos mais confortáveis amanhã no evento.
Ele é bem educado e gentil, mas acho um pouco sem sal, não tem aquele arrepio ao ouvir a voz, veremos hoje, como vai ser encontrá-lo pessoalmente.
Assim que chego subo e tomo um banho, uso meus cremes mais caros, deixo minhas madeixas soltas, faço maquiagem simples, visto um vestido preto colado em meu corpo, desenhando minhas curvas, bem comportado, nada de costas nuas ou decote na parte da frente, calço um salto alto, coloco meu cartão na capa do meu celular.
Marquei com ele numa boate. Assim que chego vejo a fila de dois quarteirões, é famosa por receber celebridades, e aos finais de semana é que a coisa ferve, é minha favorita, sempre vinha com a Cristy, dançávamos a noite inteira.
— Oi Paul, tem alguma celeridade pra mim hoje? — Dou um beijo no segurança, assim que ele libera minha passagem.
— Os mesmos de sempre Bonnie, faz tempo que você não aparece. — Sorrio, ele mantém o olhar no pessoal que vai entrando.
— Estou esperando alguém. — Apanho meu celular e mostro a foto. — O nome dele é Lucas. — Ele olha só um segundo. — Eu disse para ele te procurar.
— Tudo bem, aproveite a noite. — Entro e sigo para o bar.
— Posso pagar uma bebida pra você? — Um rapaz loiro, já chega passando a mão em meu braço, olho pra ele com desprezo.
— Sai fora! — Digo afastando a mão atrevida.
— Não se faz de difícil, sei que você gosta. — Oi? Olho bem para o infeliz.
— Olha aqui, você tem dois segundos para sair das minhas vistas. — Ameaço com todo desprezo que consigo. Conheço os seguranças e alguns funcionários da boate, sei me defender muito bem, fiz aula de defesa pessoal e se tem uma coisa que eu gosto é de sentar a mão na cara de homem abusado.
— Miguel, quem é essa p**a? — Uma morena alguns centímetros mais alta que eu, se aproxima e olha para nós dois com ódio. Era só o que me faltava. — Não acredito que está me traindo com essa lambisgoia! — Já chega gritando. Ela nem quer saber, simplesmente voa em cima de mim, assim, do nada.
Logo estamos no chão, ela puxa meu cabelo, mas eu não sou dessas, acerto socos na cara dela com toda minha força, se quer brigar então ela vai receber uma surra, pra nunca mais sair por aí se achando a maioral.
— LAMBISGOIA É VOCÊ! SUA... SUA... VACA BURRA! — Alguém logo me tira de cima dela, erguendo meu corpo do chão, a outra avança em mim, acerto ela com minhas pernas. — ME SOLTA, VOU QUEBRAR OS DENTES DESSA v***a! — Outro segura a maldita. Continuo tentando acertar mais chutes. Sou tranquila, faço de tudo para não brigar, mas se entro em uma é necessário muito esforço pra me tirar dela.
— Calminha, Carter. — Paro, paraliso na verdade, ainda suspensa no ar, arrepiada ao ouvir a voz de Mike, bem na minha nuca. Percebo que mesmo com a música tocando alta, muitas pessoas estavam olhando para mim.
— Bonnie? — Chama Lucas, se aproximando de nós. — Solta ela. — Ordena.
Fodeu.