Capítulo 2

1176 Words
Pov. Narrador Álvaro observa a noviça se afastando dividido entre raiva e frustração, ele precisava encontrar uma maneira de mantê-la sobre controle. Entretanto, sempre que se encontram nos corredores pelo acaso, dias seguintes após a confissão, a garota se agarra a uma das irmãs do convento como linha de defesa impedindo-o de se aproximar. Seu desejo ardente em manter distância é tão grande quanto a paixão que queima o espírito do homem culto. Desde que entrou para o convento substituindo a sua irmã, o plano de Samuel estava fadado a fracassar por um motivo muito simples. Sua aparência e personalidade eram cativantes demais para passar despercebido. Mesmo se esgueirando pelos corredores agindo de forma fria e distante as pessoas não conseguiam evitar observarem a sua rotina e o comportamento contraditório que demonstrava do que imaginaram que seria. "Uma garota que pertence a um lugar tão luxuoso e almejado só pode ter vindo para o interior de uma cidade pequena por um motivo, mas com certeza não foi para se tornar uma noviça", todos da comunidade pensaram o mesmo. Todavia, o que receberam foi uma garota culta ao invés de uma jovem problemática, sua beleza era estonteante e sua personalidade submissa. A intenção do rapaz era passar por despercebido, porem, a indiferença que buscava foi moldada em admiração. Ao se deparar com um belo cisne, o padre se tornou o caçador determinado a perseguir e capturar. Álvaro aguardava pacientemente, quando a oportunidade finalmente surgiu numa manhã fria e animada. Rodeada pelas crianças do coral no pátio do convento, a noviça sorria alegremente enquanto conversavam sobre a bíblia. Parecia descontraído e muito divertido, o único momento em que a noviça demonstrava um pouquinho felicidade era na presença das crianças. Ainda assim, a sua expressão era diferente como se estivesse tentando se controlar. Naquela manhã nublada seu sorriso brilhava tanto quanto o sol. Foi curioso e hipnotizante ao ponto dos seus pés caminharem em sua direção antes que pudesse se controlar. - Bom dia crianças, como vão os estudos? - Bom dia Padre Álvaro! Exclamam as crianças em união. Suas vozes soaram altas e eufóricas, pareciam estar se divertindo mais do que imaginava. O homem olha para a noviça e sua expressão alegre havia mudado para uma séria e desgostosa, mesmo sendo discreta era perceptível pelo seu olhar o incomodo que sentia sobre a presença do ministro religioso. Bom, não era para menos levando em conta o seu comportamento selvagem. - Vejo que vocês estão se esforçando muito nos estudos, isso é ótimo, consagrar-se a Deus é oferecer toda a nossa vida como um sacrifício vivo e santo, buscando viver conforme a sua vontade. Aos olhos de Samuel suas palavras parecem tão dissimuladas e manipuladoras quanto o sorriso que esbanjava em seu rosto. - Irmã Suellen, seu trabalho como professora religiosa está dando frutos maravilhosos. Essa tarde preciso que venha a capela para que possamos conversar em particular sobre o seu desempenho. - Ah, tudo bem... Mas, antes eu preciso conversar com a irmã Rosemara sobre os preparativos para o evento de dezembro. - Se não me engano, esse evento está a ser organizado pelas irmãs Gardênia e Andressa sobre a supervisão da diretoria. Como você poderia ajudar se a administração ainda está calculando as despesas? - Bem, eu sou formado em_ Ah, meu irmão mais velho tem o seu próprio negócio e por estar sempre ao seu lado aprendi algumas coisas aqui e ali... Posso não ter um diploma, mas o meu conhecimento pode servir de alguma ajuda. Responde Samuel com um olhar agressivo. - Não precisa se preocupar com essas coisas no momento Irmã Suellen, as pessoas encarregadas da administração são capazes de lidar com esse trabalho sem problemas. Você terá a oportunidade de ajudar nesse projeto futuramente organizado a decoração e apoiando o coro, como fez no ano passado. A expressão do Padre parecia suave e relaxada, mas era perceptível as suas intenções pelo seu olhar penetrante e voraz. O gosto amargo na boca da noviça indicava que algo não estava certo, no entanto, não há nada que ele possa fazer após receber esse ultimato. - O senhor tem razão... Essa tarde nos encontraremos na capela. - Ótimo, vou organizar uma reunião com a madre para conversarmos sobre o seu futuro como freira. O homem se aproxima do jovem ansiosamente e com as mãos sobre o seu ombro um sorriso largo e radiante se revela em seu rosto. Samuel podia pressentir naquele sorriso perverso e carismático que algo estava prestes acontecer, seu corpo inteiro se arrepiou quando suas mãos frias encostaram na sua bochecha por um breve momento antes de seguir o próprio caminho. Seus olhos voltam para as crianças após a partida do padre e pensamentos sombrios sobre o que esse homem podia fazer com sua irmã lhe vieram a mente instintivamente. "Afinal, o que seria dela se estivesse no meu lugar? Que tipo de coisas esse homem faria aproveitando-se da sua ingenuidade e vulnerabilidade?" Samuel se preocupava muito com a sua irmã, mas o principal motivo era por serem gêmeos idênticos. Um detalhe superficial que acabou se tornando a chave dos seus segredos. A noviça teria sofrido o resto do dia todo pensando no que fazer sobre esse assunto se não fosse pelo diretor do convento. Na maioria das vezes o diretor era um homem respeitoso e digno, mas, quando se tratava de mulheres, mesmo sendo um homem comprometido não conseguia resistir a tentação. Desde que descobriu o seu caso com a Irmã Lilian há três meses, a noviça ficou encarregada de acobertar os seus encontros em troca de ligações para a sua família, já que manter contato com a família durante o noviciado é proibido na congregação antes de um ano e dois meses de estudo. - Bom dia, o senhor precisa de ajuda? - Bom dia, sim, eu marquei uma reunião importante essa tarde e preciso que você organize esses papeis para mim. Vamos discutir sobre pautas sócias e se tratando da presença do Padre Marcelo e Padre Luiz na mesma sala, já consigo visualizar a terceira guerra mundial. O diretor se levanta da sua mesa preguiçosamente e caminha em direção a saída se esgueirando pelas paredes, demonstrando um desânimo exagerado. Por ter sido chamado para fazer esse trabalho, Samuel supositava que logo após essa reunião o homem se encontraria com a mulher e usaria a desculpa do compromisso para ignorar as ligações da esposa. - Certo, fique a vontade para descansar após a reunião. Vou me encarregar de informar a sua esposa da reunião quando ligar e organizar o seu escritório. - Obrigado... Confesso que no começo duvidei muito da sua proposta, mas agora vejo como você é uma jovem dedicada e gentil. Um sorriso bobo se forma nos seus lábios e nesse momento a expressão suave no rosto da noviça se escurece. Percebendo a sua desaprovação, o homem muda de atitude rapidamente e abandona a sala. Se tratando de um cafajeste o jovem sabia muito bem o que aqueles elogios significavam e não gostou nem um pouco da sua ousadia.
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