Capítulo 1
Pov. Samuel
Era uma tarde calorosa cheia de afazeres, beirando o final das aulas e o início do verão a nossa igreja se organiza para o evento mais importante do ano. O natal é a época mais importante para a minha comunidade por dois motivos principais, arrecadação de fundos e conversão em massa. Durante o natal nossa igreja organiza um jantar para comemorar o nascimento de Jesus Cristo buscando apoiar e promover o instituto Maria Helena. Esse é um dos únicos eventos onde abrirmos as portas para todos os tipos de pessoas.
Somos uma comunidade muito tradicional, então a maioria dos irmãos e irmãs que frequentam a igreja são da mesma família ou tão velhos quanto intrometidos. Bom, é uma igreja pequena que fica no interior de uma cidade do litoral.
- Padre, preciso me confessar. Digo um tanto apreensivo.
O Padre sorri de forma empática parecendo tão receptivo quanto se mostrava gentil.
Normalmente, as crianças órfãos que comparecem ao jantar representando o instituto servem de consolo para agonia que venho sentindo. Mas, recentemente algo vêem me dizendo que não posso continuar agindo como se nada estivesse acontecendo.
- Existe um segredo que venho carregando a meses, algo que me perturba diariamente... Mas, antes de confessa-lo preciso que o senhor me responda uma pergunta.
- Sinta-se a vontade para perguntar e compartilhar dos seus pecados. Eu não vou julgar-la, o único que pode fazer é o criador e ele é misericordioso. Responde o Padre de forma digna.
Posso sentir seus olhos fixos, a tensão de suas emoções está recaindo sobre a minha cabeça. Eu tenho medo de me aproximar das pessoas dessa comunidade por esse motivo, mas comparado aos demais, tenho quase certeza que o Padre Álvaro é o único que pode me entender.
- Sua santidade me considera uma boa serva do senhor? Ah, não, na sua opinião eu sou uma boa cristã?
- Sendo sincero, sua pureza e inocência só aumentam o meu desejo. Você é a tentação em pessoa.
O silêncio que se manifesta em seguida é assustador, fico me perguntando se ouvi realmente o que acabei de ouvir ou se foi uma confusão da minha cabeça.
- Ah, o senhor ainda não respondeu a minha pergunta.
- Não existe uma certeza do que é bom ou r**m, apenas uma paixão proibida que não pode ser ignorada. Responde com um olhar malicioso.
Essa é a primeira vez que presencio tamanha ousadia, estou chocado, realmente não esperava esse tipo de atitude vindo de um homem que se mostrava tão culto a religião.
- Paixão? Ao que está se referindo? Pergunto confuso tentando entender o absurdo de suas palavras.
Seus olhos se tornam sombrios e uma expressão perversa se forma em seu rosto, parecia um homem completamente diferente. Foi tão surpreendente que só percebi sua proximidade quando suas mãos tocaram o meu rosto.
- Não tenha medo, estou aqui para realizar os seus desejos mais obscuros ainda que seja aos olhos do criador.
- O senhor nunca se dirigiu a mim dessa forma, porque se insinuar agora?
- Porque agora eu posso ser honesto com você! Sabe, eu sempre escondi os meus verdadeiros desejos... Mas, agora que estamos sozinhos aqui na capela de confissões, eu não preciso disfarçar. Responde determinado a continuar, olhando fixamente para os olhos da noviça.
Estou sem palavras, a única coisa que passa pela minha cabeça é se deveria realmente confessar o que pretendia ou me esgueirar pelos cantos até conseguir escapar das garras desse homem.
- Então me conte minha querida, que tipo de sombras atordoa a sua mente? Seja sincera e estarei disposto a fazer qualquer coisa para satisfazer-la.
O olhar de Álvaro é esguio e luxurioso, o que me deixa muito desconfortável.
- Não é nada do que o senhor está pensando! Digo rapidamente
O homem se aproxima de mim abruptamente, mas eu rapidamente me defendo usando minhas mãos para tampar seus lábios audaciosos.
- Tão imprudente... Mas não se preocupe, eu estarei esperando pelo momento certo de te conquistar. Revela desviando o olhar para as mãos dela.
- Padre, talvez eu não seja o que espera... Na verdade, o que vou confessar pode não ser do seu agrado.
Estou apreensivo, talvez seja melhor eu guardar esse segredo por mais um tempo. Afinal, está quase na hora de partir e voltar a minha verdadeira identidade.
- Não se preocupe, estou aqui para te guiar em todas as suas fantasias mais pecaminosas.
- Na verdade, eu... Não gosto de trabalhar nessa igreja, eu me sinto deslocada e pensei em pedir transferência. Eu não queria dizer nada porque não gosto de causar problemas.
O Padre percebe que tem algo de errado com a minha confissão, algo que não quero revelar e que minhas palavras não passam de uma desculpa. Mas ao contrário do que esperava sua atitude é passiva, ele se afasta e nossa conversa termina com um conselho simples sobre seguir o que o meu coração deseja.
Quando coloco os pés para fora da capela vejo uma das irmãs correndo do outro lado do pátio, minhas pernas tremem ao me dar conta da realidade. O que o Padre Álvaro teria feito comigo se uma das irmãs não estivesse bisbilhotando?
13 de Dezembro -11:42 AM
Numa manhã fria e chuvosa o Diretor do convento pediu para que fosse a sua sala com urgência, parece que depois de alguns meses meu irmão finalmente obteve uma resposta.
- Suellen, seu irmão me ligou mais cedo e pediu para conversar, parece ser um assunto de família importante então resolvi ceder por 30 minutos. Indaga o homem enquanto se levantava para sair.
- Obrigada pela consideração Padre Andersson. Digo amavelmente tentando manter a postura.
- Não se preocupe, Samuel é um homem forte e bondoso por isso a doença que o atormenta logo será curada pelas mãos de Deus, tenho certeza. Consola o homem pouco antes de sair.
Quando o Padre finalmente abandona a sala, eu rapidamente vou até o telefone e ligo para o número discado. Estou tão nervoso que não consigo controlar minhas emoções.
- Suellen? Ah, graças a Deus. Digo aliviado ao ouvir a sua voz.
- O que foi meu amor? Ficou preocupado com a sua irmãzinha querida?
- Meus cabelos estão se tornando brancos cada dia que passa por causa da sua atitude. Eu te amo, mas estou quase enlouquecendo. Digo ansioso.
Suellen ri e me tranquiliza dizendo como estava bem e como tudo havia se resolvido de forma cuidadosa. Depois de receber essa notícia eu sinto como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros.
- Bom, eu já imaginava que tudo se resolveria da melhor forma, logo que Guilherme é um homem bastante perspicaz. Mas, manter essa farsa por tanto tempo foi agonizante.
- Não se preocupe amor, em breve enviaremos alguém para te libertar dessa masmorra.
- Avisa ao Guilherme que mais do que nunca é preciso ser cuidadoso, devemos ser o mais natural possível, ninguém pode desconfiar! Digo um pouco alterado
- Samuel, agora que essa situação está prestes a acabar... Precisamos conversar sobre Vitória.
Sua voz soa trêmula, como se toda sua coragem havia se reunido para responder e ao mesmo tempo o nome que proclama parece tão natural.
- Então o bebê é uma menina? O nome que você escolheu para ela tem bastante força, pensei que escolheria um nome mais delicado.
- Eu não posso abandona-la... Samuel, esse bebê é tudo o que tenho nesse mundo. Confessa entre soluços.
- Suellen, nós trocamos de lugar por um motivo, porque você acha que eu tentaria tirá-la dos seus braços?
- Mas, porque você_
- É justamente o contrário... Suellen, meu amor, eu estou nesse convento porque sabia que você não iria querer abandona-la. Desde o princípio pude ver em seus olhos que essa era a última coisa que desejava.
Seu choro se torna ainda pior, ela está aos prantos e totalmente indefesa. Com uma voz suave consolo sua mágoa dizendo como vou apoiar sua decisão e nossa conversa se encerra.