Pov. Narrador
Ao se ver preso nos braços daquele homem, seu corpo foi consumido pelo desespero. Ele tentou usar a força dos seus músculos para se soltar das mãos do reverendo, mas a força que induziu se quer moveu os seus ombros. O Padre não parecia ser realmente forte, então o rapaz não fazia idéia do porque não conseguia se defender. Percebendo sua tentativa de resistência a santidade envolve o seu corpo com mais força e se inclina para frente. Provocado pelo seu charme natural e colônia doce.
- Senhor Álvaro_
- Você não pode escapar do seu destino. Não existe escapatória para o nosso amor eterno. Vou transforma-la na minha mulher. Seja obediente e aceite a proposta.
Samuel estava tão desnorteado ansiando por ajuda que quando a freira entrou no escritório sem qualquer aviso prévio, ao invés de sentir preocupação ou medo, seus ombros relaxaram de alívio. Em poucos segundos o escândalo começou a se espalhar por todo o convento, acabando com a reputação de ambos. Ou pelo menos deveria ter sido dessa forma, se a irmã não tivesse morrido de ataque cardíaco ao presenciar aquela cena, livrando o reverendo de uma exoneração.
- Que terrível tragédia Padre Álvaro. Se a ambulância tivesse chegado alguns momentos antes...
- O coração da irmã Rose sempre foi sensível, por isso dedicou tantos anos da sua vida ao convento.
- Sim, mas, o que me surpreende é que mesmo após tantos anos ela tenha vindo a óbito. Entendo que chegara o momento em que Miguel descera dos céus para buscar as nossas almas, entretanto, sobreviver a dois infartos numa idade avançada para simplesmente ser levado logo em seguida não parece justo.
- Eu entendo a sua chateação Padre João, afinal de contas a irmã Rose foi como uma mãe para o senhor, quando foi encaminhado para o nosso convento por deus, através do programa de reabilitação. Mas, ao invés de questionar as decisões do criador permitindo que o tinhoso sussurre tentações nos seus ouvidos. Deveria agradecer o anjo Miguel por guiar a sua alma ao céu.
A noviça observava a consolação do Padre do outro lado do salão com desprezo. Era perceptível pela sua expressão falsa, a satisfação que sentia com a morte da senhora. A rasgação de seda que dedicavam aquele homem em pele de cordeiro era revoltante. Como uma pessoa tão sínica foi capaz de cultivar tanta admiração e simpatia? Será que em nenhum momento as pessoas perceberam a forma descarada como se comporta?
Os dias seguintes foram tão infernais e exaustivos para Samuel que, o seu maior desejo era um minuto de silêncio. As pessoas do convento pareciam mais preocupadas com o estado de ânimo do Pedre Álvaro do que com os familiares e amigos próximos da irmã Rose. "Se eu tivesse contado a minha versão dos fatos, como reagiriam se soubessem a má vontade que o homem expressou em contactar a ambulância?" O rapaz se perguntava a todo momento. As noviças não paravam de murmurar palavras de consolo e lamentar pela cena que imaginam que o homem tenha presenciado, como se estivessem propositalmente instigando a sua revolta. O único consolo de Samuel para esse tormento era passear tranquilamente pelo pátio do convento. Fora do horário de retiro, o pátio permanecia completamente abandonado dando tempo o suficiente para ele acalmar os seus nervos com o frio da alvorada. Mas, como a vida não é um mar de rosas. Durante o seu momento de silêncio, a varoa mais dedicada do convento correu desesperadamente ao seu encontro.
- Irmã Suellen, por favor me ajude.
- Carolina, o seu rosto_ O que aconteceu?!
O corpo da mulher tremia como se estivesse prestes a ter um ataque de pânico. Preocupado o jovem segura as mãos da mulher e a leva para sentar num dos bancos do pátio.
- Meu marido... Eu preciso que me ajude, por favor, não suporto mais essa dor no peito.
- Primeiro você precisa se acalmar e me explicar o que esta acontecendo.
Os lábios da mulher tremem e os seus olhos se enchem de lágrimas. Por muito pouco ela segura as suas emoções.
- Eu já pedi pelo conselho do padre e de algumas freiras. Mas, eu não suporto essa situação. Eu sinto a minha alma queimar toda a vez que perdoo aquele homem. A minha garganta se fecha sempre que preciso dizer como amo estar ao seu lado.
Todos do convento sabem pelo que a irmã Carolina está passando. Mesmo Samuel que chegou recentemente está ciente dos seus problemas conjugais.
- O que aconteceu? Por acaso essa marca no seu rosto foi culpa daquele homem?
- Irmã Suellen... Eu me sinto tão envergonhada.
A mulher esconde o hematoma com os próprios cabelos parecendo tão vulnerável que o rapaz não pode evitar sentir-se no dever de proteger a sua integridade. Era uma situação delicada que não podia ser ignorada novamente.
- Não se preocupe, eu vou cuidar de você. Aquele homem vai pagar por todos os seus pecados na terra. Suas ações serão julgadas pelas leis dos homens.
- Não! Irmã Suellen, eu não posso denunciar o meu marido_
- Carolina, se você não está pronta para fazer isso pelo próprio bem-estar, pense nos seus filhos! Você tem duas garotinhas, já imaginou o que pode acontecer quando elas se tornarem moças? Ele não é o homem por quem você se apaixonou.
As palavras de Samuel são duras, mas encorajadoras o bastante para incendiar o seu coração. O único motivo para continuar ao lado desse homem é pensando na saúde das suas meninas.
- Você está certa... Se eu não cuidar das minhas filhas, ninguém estaria disposto assumir essa responsabilidade. Mas, eu tenho tanto medo.
- Do que você tem medo?
- Existem muitas pessoas na igreja que desaprovam o divórcio e se eu não tiver o apoio da igreja. Não terei forças para continuar.
- Carolina, eu vou estar ao seu lado sempre que precisar. Eu não vou permitir que você seja reprimida ou desamparada.
As palavras de consolo da noviça tocam o coração da varoa. Era exatamente esse tipo de conselho que ela buscava, apesar de não ter certeza se teria forças para enfrentar o marido.