Pov. Samuel
Desde aquele incidente na capela, eu me sinto perturbado. Essa tarde m*l consegui me concentrar nas minhas tarefas diárias pensando em Álvaro. Sua presença me persegue mesmo a distância como uma entidade opressora e maligna. Não sei o que fazer...
- Irmã Suellen, percebi que recentemente anda distraída... Aconteceu alguma coisa?
- Não, está tudo bem...
- Você não conversa com seu irmão a um tempo, como vai a sua saúde?
- Meu irmão, está sendo tratado numa clínica particular. Os médicos são atenciosos e eficientes, então ele vai se curar em breve.
- Graças a Deus... Deve ser muito angustiante não estar ao seu lado, nesse momento difícil... Vocês se dão bem, certo?
- Sim, o meu irmão é a minha única família nesse mundo. Nós vivemos grudados desde pequenos...
- Deve ser difícil ficar longe dele nesse momento.
- Sim, mas eu rezo todos os dias, Deus é bom e ajuda aqueles que precisam.
A mulher concorda com a cabeça e continua tricotando. Nosso convento prepara agasalhos para os necessitados todo verão e entregamos no inverno, junto as doações dos moradores. Ao mesmo tempo que organizamos o festival e distribuímos alimentos aos moradores de rua no Ginásio Falcão diariamente. A cidade não é muito populosa, mas ainda existem pessoas necessitadas pela região e, também, as que vêm de outras cidades.
Eu sempre gostei de estar a disposição. Apesar de não ser muito bom em tricotar o mais simples cachecol, quando vejo que estou fazendo a diferença na vida das pessoas, eu me sinto realizado.
- Suellen, tem uma mulher procurando por você na igreja. Melhor você se esconder antes que te veja!
- O que? Do que está falando?
As palavras da jovem são rápidas e confusas demais para serem compreendidas. É possível ouvir vozes alteradas vindas do corredor e antes que a garota pudesse se acalmar, para que, pudesse explicar o que estava acontecendo. Acaba caindo no chão e batendo a cabeça na mesa ao ser empurrada pela multidão. Especificamente, por uma mulher enfurecida por nenhum motivo aparente. Seus passos pesados sobre o chão traziam consigo a força de um urso pardo.
- Irmã Leidiane_
- Sua vagabunda! Como você ousa cobiçar o meu homem?!
Minhas bochechas são marcadas pelos seus dedos e o meu corpo fica paralisado por um breve momento, sua fúria não permite brechas.
- E ainda tem coragem de atender o telefone, como se nada estivesse acontecendo! v***a, safada!
Estou tão confuso e perplexo que não consigo reagir a tempo de levar outro tapa. Sua pose ameaçadora e seus movimentos agressivos eram difíceis de acompanhar.
- Por favor, se acalme... Eu não_ Senhora, não sei do que está falando.
- Discimulada, como ousa negar o seu envolvimento? Eu tenho provas, os fios do seu cabelo estão espalhados por toda parte no escritório do meu marido.
Eu estou confuso, tentando entender a situação, quando o culpado por esse tumulto se revela no canto da porta... Aquela mulher era a esposa do diretor do convento, a mulher que enganava constantemente pelo telefone, inventando desculpas para que o seu marido tivesse a oportunidade de se encontrar com a sua amante... Sua verdadeira amante, estava bem ao seu lado. Enquanto, eu sofria agressões em seu lugar, sendo difamado e humilhado publicamente.
- Senhora, houve um engano... Eu não sou a pessoa que pensa_
Antes que pudesse continuar a mulher rasga as minhas roupas num ato de ódio, expondo minhas costas e pescoço. As costuras do meu vestido estavam frágeis devido ao ataque de Álvaro, então bastava um singelo movimento ríspido para desabrocharem feito flores.
O clima estava pesado e a tensão aumentando conforme a mulher avançava em minha direção. Eu tentei me esquivar, mas ela agarrou o meu véu. Eu estava prestes a ser desmascarado, quando Padre Álvaro apareceu e empurrou a mulher para longe.
- Não toque na minha mulher!
Sua voz rugiu na multidão tirando todos do transe, forçando o diretor a correr em direção a sua esposa. Álvaro cobre o meu corpo com os seus braços e, atenciosamente, usa um dos agasalhos para censurar a f***a.
- Querida, não precisa ter medo... Vou proteger-te...
- Padre Álvaro... O que você_
Os olhos do homem eram suaves e intensos até perceber a ferida em meu rosto e se tornarem selvagens.
- Se teus olhos te fazem pecar, arranqueos fora!... Um homem que comete adultério e ultrapassa os limites deve pagar pelos pecados!
- Não, por favor, se acalme! Não piore a situação!
Eu seguro as roupas do Padre com força tentando conter a sua raiva. Afinal, essa situação não passa de um m*l entendido.
- Não aconteceu nada, senhora, houve um m*l entendido! Não existe nada entre eu e o seu marido!
- Você ainda ousa negar!?
- É verdade, eu nunca me interessaria por um homem casado!
- Eu não acredito! Todos sabem que você passa a noite no escritório do meu marido, mesmo sendo proíbido!
Álvaro se coloca na frente da noviça pronto para defender a sua honra e mostrar para todos o verdadeiro dono do seu coração.
- Ela jamais se interessaria pelo seu marido! Suellen é uma mulher digna, que respeita a família e estuda todos os dias para se tornar freira!
- Esta dizendo que não sou uma mulher digna? Eu trabalho todos os dias feito uma cachorra para sustentar os nossos filhos, enquanto esse homem vive na igreja como se fosse um homem devoto, quando não se importa nem em buscar os próprios filhos na escola. Essa jovem bonita e disposta, esta trabalhando com o meu marido até tarde da noite e, ainda tem coragem de dizer como é inocente?
- A senhora, não sabe o que esta dizendo_
- Eu conheço o meu marido e tenho certeza que jamais perderia essa oportunidade.
- Senhora, não pode se basear em suposições para tomar decisões.
O padre tenta de tudo para dialogar com a mulher, mas ela não parece disposta a conversar. Seus dentes rangem desejando se vingar em nome da noviça e ao perceber a instabilidade do seu espírito, a mulher sorri com satisfação. A mulher tenta parecer uma inocente e dedicada dona do lar, mas sua atitude petulante e decote ousado mostram o contrário.