Pov. Narrador
A noviça passa a manhã toda tentando acalmar os nervos da varoa e encontrar uma forma de tirar-la de casa o mais rápido possível. Afinal, a sua família morava no interior de outro estado e sofriam constantemente com a falta de recursos, tornando a situação ainda mais delicada e complexa. Foi prometido a mulher ao se casar com o homem uma vida confortável e meios que ajudariam a sua família a sair da miséria, entretanto, a única promessa cumprida é a que favorece qualidade de vida a sua família. A paixão ardente e o amor eterno, declarado tantas vezes de forma poética e romancista em frente a casa dos seus pais não passavam de palavras vazias, visando manipular os seus sentimentos e fantasiar uma pessoa completamente adversa a sua verdadeira personalidade. O homem, na verdade, era uma pessoa c***l e violenta que ameaçava constantemente a segurança das suas filhas e parentes.
- Carolina, pode ser muito difícil para você controlar os seus sentimentos nesse momento, mas para que tudo aconteça como planejado, vai precisar fingir naturalidade quando o seu marido voltar de viagem.
- Entendo, mas não sei se terei forças... Eu estou com muito medo.
Samuel se vira para a varoa interrompendo a caminhada com um semblante serio em seu rosto e gentilmente toca suas costas.
- Estarei esperando por você na esquina da rua, caso leve mais de cinco minutos para sair, vou entrar na sua casa acompanhada dos policiais, não precisa se preocupar.
A mulher abraça a cintura da noviça ansiosamente, desabando nos seus braços. Mas, rapidamente se afasta sentindo uma sensação estranha, o abraço da ascendente a freira era reconfortante de forma singular causando uma certa aflição. Um silêncio constrangedor paira o ar por alguns minutos, então ambos se despedem. Alheio ao seu comportamento defensivo, Samuel sente um certo peso nos ombros ao assistir a mulher partir, como se fosse responsável pela sua segurança e por um breve momento se esquece completamente dos próprios problemas.
- Parece que não sou o único acordando cedo hoje.
- Padre Álvaro_
Álvaro aproveita seu breve momento de distração para agarrar o queixo na noviça e beijar seus lábios suavemente.
- Ah, querida... Seus lábios estão rachados, precisa ser cuidadosa com o seu corpo.
A noviça é arisca e o empurra para longe, torcendo o nariz em desaprovação.
- Porque você sempre me repele como um inseto? Sabe que não consigo controlar os meus sentimentos, então quantas vezes precisarei declarar o meu amor para te cativar?
- Não importa quantas vezes tente, não vou ceder a um cafajeste pervertido como você.
- Eu não sou cafajeste, sou um homem culto que sabe exatamente o que deseja. E o seu corpo é o que mais desejo, Deus é testemunha do quanto anseio corromper o seu espírito.
- Você só pode ter enlouquecido_
- Você é muito teimosa, não é? Eu gosto disso, mas você vai ter que aprender a se comportar se não quiser ser punida.
- Realmente acha que pode me punir?
- Sou um padre, posso fazer o que quiser com você... E se você continuar me desobedecendo, vou ter que usar outros métodos para te ensinar.
- Você não teria coragem, tem medo que as pessoas descubram a sua verdadeira face...
- Eu não tenho medo de nada, nem das pessoas descobrirem a minha verdadeira personalidade. E se você continuar me desafiando, vou provar do que sou capaz...
O jovem se vira desafiando seus limites e acaba sendo agarrado pelo padre e carregado para dentro da capela contra vontade. O homem estava determinado a conquistar a noviça ferozmente.
- Eu vou contar ao diretor que estou sendo assediada.
- Diga e farei com que se arrependa pelo resto da vida, vou espalhar para todos a verdade e manchar a sua reputação...
- Eu não entendo_
- Por quanto tempo achava que podia esconder esse pecado? Uma criança não pode ser apagada como se nunca tivesse existido com tanta facilidade.
Os olhos de Samuel se arregalam em surpresa e desespero.
- Como você_
- O seu corpo é a maior evidência, veja como está inchada e sensível.
O homem toca sua barriga próximo a virilha causando arrepios pelo corpo do rapaz, que se afasta indignado.
- Isso é ridículo, por acaso enlouqueceu?
- Eu sei a verdade! Suellen, eu encontrei os exames, o documento falsificado que dizia ter abortado o feto e cada carta enviada ao seu irmão.
No calor do momento, atormentado por suas emoções, Álvaro é bruto e intimida a noviça pressionando-a contra o altar de Nossa Senhora Aparecida.
- Você veio para o convento para ter o bebê em segredo, confesse! Estamos diante dos olhos de Deus.
- Quem você pensa que é para apontar o dedo?
- Eu não estou te julgando, só preciso que você admita! Seja verdadeira_
- Isso não te interessa! A minha vida não é da sua conta_
- Eu preciso saber quem é o pai dessa criança
- Eu não estou grávida, nunca estive_ Sou uma mulher conservadora, meu corpo é um templo!
A discussão se torna acalorada com ambos interrompendo a fala do outro. Álvaro chega ao seu limite e arranca o véu da noviça expondo sua beleza avassaladora. Seus cachos mesclados entre o loiro escuro e cascalho de pinus, caem sobre os ombros como uma cascata, provocando palpitações no peito do homem.
- Você está pedindo por isso, não é? Está louca para saber do que sou capaz?
- Eu não me importo com os seus sentimentos.
Álvaro empurra a cintura da noviça derrubando a coroa de flores montada pelas crianças do coral que, ao colidir com o chão se divide em pedaços, destruindo a oração e o carinho que tanto dedicaram a Nossa Senhora nas aulas anteriores.
- O que você pensa que está fazendo?!
- A culpa é toda sua por me rejeitar!
O homem altera seu tom de voz e num movimento em falso, surpreso com a sua atitude agressiva, Samuel derruba a imagem da santa.
- Não faça uma coisa dessas, você sabe que te desejo.
- Porque não me deixa em paz? Deveria saber que, quando forçamos uma pessoa a gostar de você, ao invés de conquistar, está piorando ainda mais a sua imagem_
- Você está brincando comigo? Não é possível que esteja dizendo uma coisa dessas... Eu sou jovem e sexy, não me diga que não se sente atraída.
- Eu não me sinto atraída pela sua aparência, a única forma de me interessar por alguém é pela sua personalidade.
Álvaro range a mandíbula enciumado, desejando subjulgar a jovem em seus braços. Era angustiante controlar os seus impulsos e ver que seus esforços não são valorizados. O homem estava por um fio, mas não entendia que mesmo se controlando, estava desrespeitando a dignidade de Samuel.
A santidade olhava fixamente para o pescoço da noviça cheio de cobiça, quando uma tesoura foi apontada para o seu rosto. Bastava um movimento em falso para a lâmina perfurar o seu olho esquerdo.
- Então, você vai realmente me tratar com frieza?
- Estou apenas me defendendo.
- Eu não vou permitir que você escape tão facilmente.
- Se você não me soltar, não vou ter outra escolha a não ser cortar a sua garganta.
Percebendo como estava encurralado, o homem não teve outra escolha a não ser aguardar por uma nova oportunidade. Apontando a lâmina para o Padre a noviça se afasta lentamente em direção a saída e corre o mais rápido possível para o seu quarto. Para sua sorte os corredores estavam completamente vazios, evitando qualquer tipo de situação constrangedora.