Pov. Narrador
Samuel, levanta da borda da cama, permanecendo de pé enquanto encara o homem do outro lado do quarto. Seu olhar era faminto e perturbador, como se estivesse a um passo de cometer uma loucura.
- Padre, eu vou embora em alguns dias, não deveriam desistir desses sentimentos?
- E porque desistiria? Eu desejo você com uma paixão que parece consumir cada parte do meu ser. Você acha que eu posso apagar esses sentimentos como se não fossem nada?
- Não sinto nada por você... Não percebe que essa situação está fugindo do controle?
Álvaro deu um passo em sua direção, a expressão no rosto se tornando mais séria e intensa. Ele parou apenas alguns centímetros de distância, as palavras saindo quase como um sussurro.
- Você pode tentar mentir para si mesma, mas os seus olhos nunca conseguiram esconder a verdade. Você pode fingir indiferença, mas eu sei o que realmente sente. Posso ver a chama que ascende em seu olhar sempre que estamos próximos.
Seus lábios soltam um suspiro frustrado e suas mãos se fecham em punhos ao lado do corpo. Parecia estar lutando contra a frustração que percorria pelas suas veias.
- Padre Álvaro... Não, você está enganado_
Seus lábios tremem diante da doce opressão dos seus sentimentos, lutando formar palavras, conciliando a fé com essa atração avassaladora e hipnotizante. O rapaz caminha pelo quarto, buscando acalento, mas o ar frio da noite fez pouco para esfriar o fogo que ardia por dentro, enquanto suas palavras ecoavam pela sua mente, envolvendo seus ideais numa teia de fascínio proibido.
- Até quando resistirá a verdade que pulsa entre nós? Nossos espíritos estão presos de maneiras que nem mesmo o próprio Deus pode separar. Juntos encontraremos a liberdade, bastava... Segurar a minha mão.
O eco das batidas do seu coração refletiam o ritmo frenético dos seus pensamentos. A mão do Padre se estende ligeiramente, um apelo silêncio para que a noviça rompesse a barreira final que separava os seus mundos.
O sorriso malicioso de Álvaro se alargou, enquanto a noviça se aproximava de sua mão estendida. Sua vitória era clara nos olhos, e não hesitou em agarrar o seu pulso puxando para mais perto, colocando-a de joelhos diante dele.
- Sim, é assim que eu gosto. Ajoelhada aos meus pés, pronta para servir ao seu homem.
Seu peito estufado orgulhosamente com a vitória, trouxe clareza aos seus pensamentos. Permitindo que sua mente conturbada despertasse e reagisse torcendo o nariz em desaprovação.
- Caralho... Você realmente sabe como ferir um homem...
A surpresa do Padre foi momentânea, seguida por um gemido de dor ao ser acertado por um soco, diretamente em suas bolas. Dobrando seu corpo com um estrondo, agarrando a si mesmo enquanto se contorcia no chão, seus olhos se enchem de lágrimas.
- Eu não vou ceder aos seus_
- Porra... Não precisava ser tão violenta.
Samuel, engasga com suas palavras sentindo um aperto no peito. Enquanto, o homem solta uma risada dolorida, tentando parecer despreocupado, apesar de ser incapaz de controlar o seu olhar de desaprovação.
- Você sempre foi tão rebelde... Sua residência é o que torna essa perseguição tão divertida.
- Em breve, vou embora desse convento e você não vai ser capaz de me perseguir!
Álvaro franze a testa, sua expressão se tornando séria, enquanto ouvia as suas palavras.
- Você realmente acha que vai escapar assim tão facilmente? Você pode ir embora do convento, mas eu ainda estarei aqui esperando pela sua volta. E acredite querida, quando digo que você vai voltar para mim...
Um arrepio percorre a espinha da noviça, a expressão séria no rosto de Álvaro significava uma declaração de guerra, deixando explícito em seu olhar que não se importaria com as consequências que infligeria. Temendo pela própria vida, diante daquele olhar nebuloso e penetrante que descia descaradamente pelas curvas da sua cintura, ameaçando com uma presença passiva. Fez o rapaz se descontrolar e agarrar o abajur sobre a mesa, buscando defesa.
- Não se aproxime!
- Quanta coragem... O que você pretende fazer com o abajur?
- O que mais eu poderia fazer?...
Álvaro não podia deixar de se divertir com sua tentativa de ameaça, apesar da situação tensa. Ele deu um passo para trás, levantando as mãos em sinal de rendição. Observado com olhos perspicazes a tensão em seu suspiro frustrado.
- Você parece tão cansada, querida... A pressão da situação está pesando em seus ombros, não é?
- Como espera que fique tranquila, sendo atacada por você a cada segundo?
Álvaro deu um leve sorriso de satisfação, claramente apreciando o fato de que era capaz de tirar a noviça do sério tão facilmente. Ele permaneceu onde estava, estudando a sua expressão com atenção.
- Oh, você não precisa ser tensa o tempo todo... Sabe, eu posso ser muito gentil quando quero.
Suas mãos pousam sobre o peito abrindo os botões da camisa lentamente em provocação. Rosnando ao abrir a camisa revelando seu corpo sarado. Algo que funcionária perfeitamente se a noviça não fosse um homem hétero.
- Eu estou falando sério, saia do meu quarto!
- Se essa é a sua maneira de me expulsar... Estou começando achar que você gosta da minha companhia~
Sua voz sai rouca e grave, numa tentativa falha de provocar os seus sentidos. Então, a noviça ergueu o objeto em ameaça tentando parecer confiante, suas mãos tremiam apreensivamente. Mas, a hesitação em sua mão não passou despercebida aos olhos de Álvaro. Ele permaneceu calado observando com uma expressão divertida, quase desafiadora. Era claro que estava desfrutando da situação, se deliciando com o conflito em sua mente.
- Não me provoque! Acha mesmo que não sou capaz de jogar isso na sua cabeça?
A ameaça verbal pareceu ter encorajado ainda mais o Padre. Ele se aproxima lentamente, com passos calculados. As mãos cruzadas atrás das costas, enquanto lançava um olhar provocante e travesso.
- Oh, eu adoraria ver você tentar... Ter uma cicatriz infligida por você no meu peito, seria o meu maior orgulho~
Álvaro provoca a noviça notando como sua mãos tremiam e a expressão nervosa em seu rosto. Ele estava se aproximando lentamente, saboreando cada momento da sua apreensão. Seus olhos escureceram, percorrendo por inteiro o corpo da noviça, estudando cada detalhe.
- Está com medo, querida?... Você parece tão frágil, tremendo com o coração a mil.
Samuel engasga com as palavras e aponta o objeto em direção a sua cabeça. Seus lábios tremem nervosamente, enquanto tem a mente baleada por pensamentos confusos. Um estrondo ecoa pelo quarto, o som esvaindo pelos cantos num alarme. Avisando as freiras que havia algo de errado acontecendo nos seus aposentos.