Senhor Mocinha

985 Words
Os olhos verdes de Peter ainda estavam nublados de sono quando ele olhou para o relógio de pulso. Um grunhido escapou de seus lábios enquanto amaldiçoava como se Hellen não estivesse parada à sua frente. Após o pesadelo, ele permanecera na esteira até as cinco da manhã, planejando dormir pelo menos duas horas antes de assumir as responsabilidades de assistente de Marcos, uma tarefa que executava com eficiência notável. Ao focar sua atenção em Hellen, seus olhos encontram a figura dela, mas não a enxergam realmente. Para Peter, Hellen era um estorvo, alguém no lugar errado e na hora errada. Uma expressão de desgosto se manifesta em seu rosto, evidenciando sua aversão à presença dela. Ele fita Hellen com um olhar crítico, seus olhos verdes transmitindo uma frieza que tornava clara sua falta de paciência. Hellen, por sua vez, sente-se insultada como nunca antes na vida. O olhar de Peter é tão cortante, tão cheio de desdém, que ela se arrepende instantaneamente de ter batido à porta dele. Para piorar a situação, Tótó, o cachorro de Hellen, escolhe aquele momento para tentar escapar da coleira. Ele puxa com força, tentando explorar cada canto do apartamento do "d***o mais lindo" que Hellen já tinha visto. Quando ela não solta a coleira, Tótó começa a latir em protesto, tornando a careta de Peter ainda mais evidente. Os segundos parecem esticar-se enquanto o confronto silencioso entre os dois se desenrola. Peter, irritado e exausto, não esconde seu desagrado. Hellen, por sua vez, sente o peso do olhar crítico de Peter como uma afronta pessoal, enquanto lida com a teimosia do pequeno Tótó, que parece determinado a desafiar não apenas sua dona, mas também o homem de olhos verdes que agora a encara com desprezo. Ao ouvir o latido do cachorro, Peter não pode evitar sentir um arrepio percorrer seu corpo. Com relutância, força-se a olhar para o "demônio" em sua porta. Ao deparar-se com o Chihuahua, ele sente um alívio momentâneo, pois nem mesmo ele poderia ter medo daquele filhote de demônio. Foi somente nesse momento que Peter realmente observou Hellen. Seus cabelos cacheados estavam em desordem, como se ela tivesse saído da cama e vindo diretamente até ele. Seu rosto ostentava uma expressão indignada, embora, aos olhos de Peter, o único com motivos para tal fosse ele próprio. Ela era linda, mas nada nela atraía Peter. Ela não despertava a fera dentro dele. Diante do olhar avaliador de Peter, Hellen se sente decididamente arrependida. Não se arrumou para estar ali, afinal, ela esperava encontrar um velho gordo, careca e dentuço, não um deus do Olimpo. Mesmo Tótó, para o desespero de Hellen, parece se intimidar com o olhar de Peter e para imediatamente de latir. Hellen tenta recompor-se, embora seu interior esteja repleto de uma mistura de desconforto e surpresa. A tensão paira no ar, e o confronto entre eles parece estender-se além do momento presente. O pequeno Chihuahua, agora em silêncio, observa o curioso encontro entre sua dona e o vizinho com uma expressão que quase parece compreensão. Hellen, sentindo-se ofendida, decide que a melhor defesa é o ataque. Com sarcasmo, ela lança: "Então você é o senhor mocinha que não consegue lidar com um pouco de barulho." Por um momento, Peter sente uma vontade de rir, já que ninguém em sua vida o chamara de "senhor mocinha". No entanto, a raiva e o desconforto superam qualquer senso de bom humor, e ele retruca: "E você é a maluca com voz de taquara rachada que se acha a cantora profissional, e ainda tem um demônio que late a noite inteira. Se bem que ele deve fazer isso em protesto por sua voz e gosto de música duvidoso." Hellen não estava esperando que Peter a atacasse também, na verdade, nem ele sabia por que estava se dando o trabalho de responder. Sem dar o braço a torcer, ela diz: "Francamente, o senhor perturba mais a ordem com essas ligações incessantes ao síndico do que eu e meu cachorro." Peter se pergunta até quando vai brincar de ser assistente de Marcos e até quando vai ficar nessa queda de braço com o pai. Tudo o que ele queria agora era voltar a dormir, mas seu senso de responsabilidade com Marcos não permitia que ele fizesse isso. Mais irritado, ele diz: "Olha aqui, senhora barulho, não sei você, mas eu trabalho e prezo meu sossego quando chego em casa. Então, feche essa matraca." Ao dizer essas palavras, Peter fecha a porta na cara de Hellen, mas ainda pode ouvi-la dizer: "Trabalha do que? Só se for de segurança para proteger as pessoas do seu próprio mau humor, infeliz." Um sorriso amargo se forma no rosto de Peter, pois ela não tem noção do quanto está perigosamente perto da verdade. Hellen fica por um momento encarando a porta fechada, como se o silêncio súbito do lado de fora trouxesse um breve alívio. Ela suspira, resignada, e então dá meia volta para voltar ao seu apartamento. Hoje seria o dia da entrevista com Marcos Deravux, e ao pensar nisso, todo seu foco muda do vizinho extremamente bonito e chato para o misterioso homem que poderia ser, ou não, seu irmão desaparecido. A caminhada de volta ao seu apartamento é repleta de pensamentos turbulentos. Hellen tenta afastar as emoções causadas pelo encontro com o vizinho, concentrando-se agora na oportunidade que se apresentava com a entrevista. A possibilidade de finalmente encontrar seu irmão desaparecido a motiva, e a expectativa da reunião com Marcos Deravux toma conta de seus pensamentos. Ao chegar em casa, ela se prepara para o encontro, ajustando os detalhes finais de sua aparência e revisando mentalmente todas as informações que conseguiu reunir sobre Deravux. A determinação toma conta de Hellen, e ela se força a deixar para trás o episódio com o vizinho e focar no que realmente importa: desvendar os mistérios de seu passado e encontrar seu irmão perdido.
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