Eu andava pelas ruas apressadamente. Estava escuro e as ruas de São Paulo estavam ficando parcialmente desertas, coisa que eu quase nunca via. Era bem tarde também, e eu imaginava que as pessoas inteligentes já estavam no conforto e segurança de suas casas, não perambulando pelas ruas perigosas sozinhas.
Bufei apertando o passo e segurando a alça da minha bolsa com mais firmeza. Não tinha necessidades disso, pois a única coisa que eu tinha comigo que tinha maior valor era meu celular desligado, e ele estava guardado dentro do meu bolso traseiro. Mas apertar a alça da bolsa no ombro, era uma coisa que eu fazia automaticamente.
Me preparei para virar em uma rua residencial, que era caminho para minha casa, quando estaquei no lugar com o primeiro som. Crescendo em uma favela, como eu cresci, não tinha como não saber que barulho era aquele, e definitivamente aquilo era tiro. Parei novamente e mais dois disparos ecoou. Me preparava para correr quando o som de pneus e motor acelerado fez meu corpo gelar. Não tinha para onde correr se o carro viesse em minha direção. Para meu alivio o carro seguia para o final da rua, que dava acesso a outra rua mais larga.
Tirei o celular do bolso com nervosismo, meus dedos tremiam, enquanto eu apertava o botão lateral do celular. Um desenho de uma bateria sem carga apareceu e eu xinguei baixinho. p**a que pariu, eu tinha esquecido que o celular estava descarregado. Estava prestes a dar o fora dali. Tentar conseguir ajuda de algum outro jeito, quando escutei um gemido baixo.
Meu corpo todo congelou naquele momento. Xinguei e me amaldiçoei por não correr para a direção contraria, o mais rápido que minhas curtas pernas permitissem, e sim adentrar a rua meio estreita e deserta. Eu não podia nem culpar a minha curiosidade, pois eu tinha uma ideia do que teria acontecido ali. O que me fez aproximar, foi justamente o fato de ter uma pessoa no escuro, provavelmente morrendo.
Guardei o celular de volta no bolso traseiro da calça e me aproximei mais da rua escura. Já estava profundamente arrependida e prestes a dar meia volta, quando o vi caído ao chão.
— Merda. - resmunguei olhando a poça de sangue que se formava embaixo do homem caído. Ele estava de olhos fechados, respirando ofegante, mas ao me ouvir seus olhos abriram.
Olhos verdes intensos se cravaram em mim, me fazendo parar por um momento.
— Você deveria sair daqui. - sua voz saiu calma. Não combinava em nada com a cena que se desenrolava a minha frente.
Sua expressão se transformou em uma careta de dor e eu forcei minhas pernas a se movimentar.
— Eu preciso chamar uma ambulância. Você tem que me mostrar onde está seu telefone. - exigi apressadamente, enquanto tratava de tirar o casaco do meu corpo. A mão do homem se levantou e ele apontou para um aparelho celular caído a poucos metros de distância dele. A bateria estava fora do aparelho e eu rezei para que o celular estivesse pegando ainda, quando me aproximei e o montei.
Suspirei de alivio quando o celular acendeu e pressionei meu casaco no ferimento de bala que tinha perto de seu peito direito. Suspirei aliviada quando uma foto dele apareceu na tela. Não me prendi a isso, deslizei meu dedo pela tela e suspirei de alivio quando a mesma debloqueou. E agora, ligar para a ambulância ou polícia?
O sangue que encharcava o chão respondeu por mim. Disquei o número da ambulância e relatei brevemente o que teria acontecido. Estava falando do quanto ele parecia estar bem r**m, quando meus olhos recaíram em seu corpo e eu notei um segundo ferimento. Sua camiseta preta tinha mais um buraco em sua barriga e eu praguejei por não ter outro pano para estancar o ferimento.
Quando terminei de passar o endereço para a ambulância, dei um jeito de me enfiar atrás do homem ferido e puxei seu corpo o máximo que conseguia para meu colo. Minha perna direita se enganchou em sua cintura e eu tentei estancar o sangramento o máximo que conseguia com o tecido da minha calça jeans. Logo percebi que não adiantaria de muita coisa e rezei para que a ambulância chegasse logo.
— Você é louca?! Eu disse que você deveria ir embora. - para alguém que tinha acabado de tomar dois tiros, sua voz saia alta e clara.
— Talvez eu seja mesmo. - resmunguei apertando o pano em seu peito com uma mão só, enquanto segurava seu celular com a outra. — Estou ligando para a polícia. A ambulância vai chegar a qualquer momento. Por favor, me diga que você não foi baleado em algum acerto de contas... - pedi baixinho, enquanto discava o 190.
— Diga que sou o Cabo Anthony Carvalho, primeiro BPM. Foi uma tentativa de assalto e quando perceberam que eu...
— Tudo bem, tudo bem... não se esforce. - minha voz saiu apressada e um pouco histérica, quando pedi que ele poupasse suas forças. — Alo? Oi! Tem um policial baleado aqui na... - lhe passei todas as informações assim que ouvi a voz do outro lado. Confirmei o endereço duas vezes para ter certeza de que me escutaram. E quando me garantiram que enviariam viaturas para o local, eu desliguei. — Aguente, eles estão chegando. - sussurrei baixinho, enquanto apertava as duas mãos no ferimento de seu peito. Eu já podia sentir minha perna ensopada com seu sangue. — Por favor, não morra.
— Estou fazendo o meu melhor. - sua voz saiu em um resmungo. — Você não precisava fazer isso. Eles... eles podem voltar.
— Eu falei para poupar suas forças. Cale a boca e tente ficar acordado. - resmunguei olhando para os lados e vendo sua arma caída próximo da gente. O pequeno movimento que eu fiz para pega-la, foi capaz de arrancar um gemido dele e mais sangue de seus ferimentos. — Desculpe, desculpe. Tente segurar a arma e nos defender. - coloquei a arma em suas mãos, e ele as segurou em seu colo. Tentei ignorar o fato de que suas mãos tremiam levemente.
Eu não tinha o costume de falar com Deus, mas naquele momento me peguei pedindo a Ele, ou a qualquer outra divindade, que nos guardasse até que a polícia chegasse. Pois, não teríamos chances se a pessoa que atirou no Cabo Anthony, voltasse para confirmar se ele estava mesmo morto.
E para meu alivio eu pude escutar uma sirene barulhenta, antes mesmo de vê-la de fato. Dois carros de polícia chegaram juntos e fazendo um enorme barulho, enquanto iluminavam parcialmente aquela rua residencial. Olhei para os lados, ao ver o primeiro sinal de vida humana nas casas, desde que tinha encontrado o policial ferido. Agora eles apareciam? Bando de curiosos!
Eu entendia que não era nada seguro sair para fora depois de ouvir três tiros sendo disparados, mas eu estava nervosa e nada no mundo, nem o fato de que os vizinhos curiosos estavam certos, me fariam confirmar aquilo.
— p**a que pariu. - foi a primeira coisa que ouvi, ao escutar as portas baterem e vários policiais aparecerem no meu campo de visão. — Carvalho, está vivo cara?! Fala comigo pelo amor de Deus...
— Estou... por enquanto. - a voz dele saiu baixa. Eu estava tão nervosa que não tinha me atentado ao fato de que era bom que eu o mantivesse acordado.
— A ambulância está chegando. - olhei pela primeira vez para o rosto do policial a minha frente. Seu rosto estava fechado em uma expressão séria, e sua barba só o deixava com a aparência mais severa. Seus olhos escuros estavam grudados no policial ferido em meu colo. — O que aconteceu? - foi a primeira vez que seus olhos escuros fizeram contato comigo. Estremeci ao ver seu rosto. Ele parecia bravo e embora eu soubesse que não era comigo, não consegui evitar de tremer.
— Parece que tentaram assaltar ele e quando viram que ele era da polícia atiraram...
— O que você fazia a essa hora na rua? Como o encontrou? Como... - sua voz estava alta e ríspida. Ofeguei com o tom. Ele suspeitava de mim?
— Eu estava indo para a casa! - naquela altura não consegui segurar mais as lágrimas. — Eu... eu... tinha acabado de sair da casa de uns amigos. Minha moto está na oficina e meu carro está emprestado. Eu nem planejava sair hoje. - tagarelei nervosamente. — Mas meus amigos insistiram e... e faz tanto tempo que eu não saia. Desde o começo dessa pandemia. Achei... achei que não faria m*l me divertir um pouco. Meu celular descarregou, eles tentaram chamar um Uber ou um 99, mas nenhum aceitou. Os que aceitaram cancelaram! Então vim de ônibus e desci no ponto mais próximo a minha casa. - olhei em direção de onde eu vinha e solucei.
— Freitas, deixe a menina em paz. - policial Anthony murmurou fracamente, enquanto tossia. — Não foi ela. Ela, na verdade, é a única coisa que está impedindo que eu sangre até a morte. A garota é completamente doida por aparecer no local, logo depois de escutar tiros, mas essa atitude está me mantendo vivo. Ninguém mais apareceu. - fiquei em silencio ao perceber que ele tinha notado que os vizinhos não tinham colocado a cara para fora de suas casas, até que a polícia tivesse aparecido.
— Vocês... vocês não podem... - olhei para minhas mãos ensanguentadas e depois encarei o policial com cara de poucos amigos. — Ele está sangrando muito. Não seria melhor...
— Não podemos move-lo. - assenti freneticamente, enquanto pressionava meus lábios um no outro para evitar o choro. Eu não tinha esse direito. Não era eu quem estava morrendo. — Aguente firme. A ambulância está chegando. - eu não soube dizer se ele tinha dito para mim ou para Anthony.
E de certo não demorou muito para que a ambulância chegasse. Ambos estavam em seus carros, falando pelos rádios que eles tinham conectados aos veículos, logo depois de Anthony confirmar qual era o carro dos assaltantes.
Observei a ambulância parar a nossa frente e quatro paramédicos se aproximarem com a cama.
— Esta ferida? - balancei a cabeça negando aquela pergunta e tentei ficar o mais imóvel possível, enquanto eles retiravam um Anthony desacordado de cima de mim.
Meus olhos estavam vidrados na cena que era os paramédicos trabalhando em cima do policial. Sua camiseta foi rasgada com eles ainda em movimento para a ambulância, e eu pude vê-lo ser conectado alguns aparelhos portáteis, antes que as portas fechassem e a ambulância saísse rapidamente, deixando um rastro de sangue no chão.
— Venha, iremos te levar para o hospital. - o policial, que eu ouvi ser chamado de Freitas, estava na minha frente. Eu ainda me encontrava sentada no chão, na poça de sangue de Anthony.
— Eu... eu não estou ferida. - murmurei encarando minhas pernas cobertas de sangue, antes de olha-lo brevemente. Eu não sabia se conseguiria me levantar. Tudo aquilo parecia surreal demais.
— Você parece estar em choque com tudo isso. Iremos para o hospital para acompanhar a situação do Cabo Carvalho e você irá conosco. Você vai passar pelo médico, nem que seja para que ele te receite algum calmante, e depois colheremos seu depoimento e te levaremos para casa. Você pode ter salvo a vida do nosso policial, é o mínimo que podemos fazer. Compreendeu? - assenti devagar, agradecida por ele ter tomado as rédeas da situação. Eu me conhecia bem o suficiente para saber que ficaria congelada ali por algumas horas.
Sua mão direita agarrou meu braço com delicadeza e eu fui colocada em pé. O policial Freitas me colocou no banco da viatura e nem ele ou os outros quatro policiais pareceram se importar com o sangue sujando o estofado. Eu também me mantive em silencio. A outra viatura ficou para trás e eu ainda pude ser capaz de observar mais duas chegando, antes que o carro em que eu estava começasse a se mover com rapidez.
Tudo passou como um borrão quando pisei no chão branco do hospital. Eu deveria estar assustadora coberta de sangue, pois assim que entrei, acompanhada dos policiais, duas medicas se aproximaram rapidamente. Seus olhos cobertos de espanto e preocupação.
— Aparentemente, ela não está ferida. Estamos com o policial baleado que chegou para vocês. - a voz ríspida e grossa de Freitas ecoou antes mesmo que eu pudesse abrir minha boca. — Se puderem levar ela para algum lugar e lhe receitar algo, ela parece estar em choque. Preciso colher o depoimento dela, mas não farei isso antes de saber a situação do meu policial. - sua voz firme não dava margens para que elas contestassem. E não o fizeram. Mãos pequenas e gentis se fecharam em meu braço. — Vá com elas. Irão cuidar de você. Você está cheia de sangue e logo a mãe do Cabo vai chegar. Não quero que ela se assuste. - assenti devagar e me deixei ser arrastada para uma pequena sala vazia com uma maca no centro.
— Querida, você está machucada? Eu não consigo ver com todo esse sangue...
— Não estou ferida. - murmurei afastando-me brevemente das mãos que me apalpavam. — Estou bem. Não estou em choque, só... eu só... - respirei fundo tentando me acalmar. Meu coração não desacelerou desde o momento em que vi o Cabo Anthony caído. — Isso nunca me aconteceu. Eu... eu nunca imaginei que...
— Está tudo bem agora. - uma mão quente passou pelo meu braço e eu me arrepiei. Meu casaco tinha ficado na rua, ensopado de sangue, e pela primeira vez eu senti o frio que estava fazendo em São Paulo.
— Você tem alguma notícia? - não precisei falar o nome dele. Com toda certeza elas saberiam de quem eu estava falando. A cabeça da medica balançou de um lado para o outro, negando minha pergunta e eu suspirei. — Eu gostaria de doar sangue. - não perguntei qual o tipo sanguíneo dele. Eu só queria ajudar de algum jeito. Se não fosse ele, que fosse outra pessoa. — Não uso drogas, não fumo. Bebo socialmente, mas hoje eu não bebi. Minha última tatuagem ou piercing tem mais de seis meses. - balbuciei as informações que eu achava importante e ganhei um sorriso acolhedor em troca. — Eu... eu posso doar o sangue aqui? Eu não quero...
— É claro. Você gostaria de ir ao banheiro se lavar? - ambas olhamos para minhas mãos cobertas com o sangue do Cabo Anthony, já seco, e eu assenti. — Venha, irei te levar e você pode me esperar lá para te buscar. Tudo bem? - assenti novamente e me deixei ser guiada até uma porta com o desenho de uma boneca de vestido.
Ela me deixou lá dentro e eu abri a torneira, deixando que a água caísse em minhas mãos e se pintasse de vermelho dentro da pia branca. Fiquei um bom tempo, só observando a água gelada caindo sobre meus dedos, até que com um suspiro tremulo eu peguei o sabão e comecei a lava-las.
Eu não tinha sido baleada, eu estava bem. Não tinha o direito de surtar.
Lavei os braços, as mãos e o rosto. O banheiro não tinha espelhos, mas eu tinha quase certeza de que tinha passado a mão no rosto em algum momento. Não me preocupei em limpar minhas roupas, já que era um caso perdido. Quando me dei por satisfeita, usei o vaso sanitário para aliviar minha bexiga e aguardei que a medica voltasse. O que não demorou muito. Duas batidinhas gentis na porta e a voz dela ecoou murmurando um “Sou eu”.
Chegamos ao pequeno quarto e eu estendi meu braço direito em sua direção. Não olhei para a agulha quando entrou em minha pele, ou se quer para a bolsinha que se enchia com meu sangue. Esperava que Anthony não precisasse dele, embora eu duvidasse daquilo pela quantidade de sangue perdido, e se meu sangue não o ajudasse iria ajudar outra pessoa. Assinei um termo ali mesmo, confirmando ser maior de idade e assinalando que não tinha nenhuma doença ou vícios.
— Ai meu Deus! - um grito me tirou dos meus pensamentos e eu levantei o olhar para a porta, somente para encontrar uma mulher parada na entrada. Ela era alta, cabelos e olhos claros. Seu rosto estava contorcido em uma careta e ela se parecia muito com o policial ferido. Soube no mesmo momento que aquela era sua mãe.
O policial Freitas estava ao seu lado e a mulher tinha seu rosto lavado em lágrimas.
— Eu vim colher seu depoimento e não consegui segura-la. - Freitas comentou enquanto adentrava o quarto. — Está doando sangue. - aquela não era uma pergunta, mas mesmo assim eu assenti, enquanto olhava pela primeira vez para a pequena bolsa que se enchia vagarosamente.
— Eu nem sei como te agradecer. - mãos femininas se agarraram as minhas e as apertaram fracamente. — Você salvou meu menino. - olhei para a senhora com atenção e respirei aliviada pela primeira vez, quando escutei aquelas palavras. Soltei uma respiração tremula ao processar a informação. Ele estava vivo. — Eu... eu nem sei o que falar. Obrigada, obrigada, obrigada. - as lágrimas deslizavam livremente em seu rosto, enquanto ela me agradecia. Dei um pequeno sorriso em sua direção. O primeiro daquela noite.
— Você não tem que me agradecer...
— Eu tenho sim. - a mulher fungou audivelmente e suas mãos largaram as minhas. — Os médicos me falaram que por você ter sido rápida em estancar o sangramento e ligar para eles... você salvou a vida do meu filho. - suas mãos tremulas afastaram as lagrimas do seu rosto. — Eu posso te dar um abraço? Menina, eu nem conheço você, mas te ofereceria o mundo se fosse possível, somente por você ter... você...
— É claro que pode. - minha voz saiu suave e eu lhe ofereci um outro sorriso ao escuta-la. Seus braços circularam meus ombros com delicadeza e a mãe de Anthony me abraçou. Ela estava quentinha e seus braços me reconfortaram. Me lembrei da minha mãe e de como eu estava com saudades dela e retribui seu abraço como pude. Imaginando que eu gostaria que alguém fizesse isso se fosse a minha mãe ali. — Você não tem que me agradecer. Eu estou muito feliz em saber que ele vai ficar bem.
A mãe de Anthony se despediu de mim, dizendo que precisava ficar com seu filho e me agradecendo mais algumas vezes, antes de sumir pelos corredores do hospital. O policial Freitas, no entanto, ficou ali.
A medica nos deixou sozinhos, me garantindo que voltaria para checar a bolsa de sangue logo, logo, e o policial tratou de colher meu depoimento. Tentei ser o mais clara possível, enquanto ele questionava onde eu estava antes de tudo acontecer. Por mais que sua voz estivesse menos ríspida, eu não conseguia deixar de lado o fato de que parecia que eu era algum tipo de suspeita. Tentei ao máximo colocar na minha cabeça que aquele era o tratamento de praxe e que não era nada pessoal.
Lhe contei todo o meu dia detalhadamente, não deixando passar nada, e tendo a certeza de contar tudo devagar e com os mais precisos detalhes, ao ouvir os barulhos de tiros. Ele estava frustrado no final, pois eu não tinha como ajudar em muitos detalhes. Afinal, eu não tinha visto absolutamente nada. Quando encontrei Anthony, ele estava caído ao chão e a rua completamente deserta. Tentei não ficar frustrada também, mas no final do meu breve relato, eu estava desapontada por não poder ajudar em nada.
— Você ajudou. Se não fosse por você, o Cabo Carvalho poderia estar morto quando a ajuda chegasse. Você ajudou e muito. Eu e todo o meu batalhão lhe agradecemos. Tenho certeza de que o Cabo Carvalho lhe agradeceria pessoalmente se pudesse. - tentei não corar com suas palavras e seu olhar intenso. A sinceridade impregnada em cada palavra que saia de sua boca. — Estamos e sempre estaremos em debito com você...
— Não foi nada. - murmurei humildemente, pois eu não sabia o que dizer naquele momento. Sua risada baixa preencheu o ambiente.
— Parece que isso daí já encheu. - apontou com a cabeça a pequena bolsa de sangue que estava cheia. — Irei chamar a medica e iremos te levar para sua casa.
— Não precisa se incomo...
— Não é incomodo nenhum. É o mínimo que podemos te oferecer. - me cortou já se levantando e indo em direção a porta.
Logo ele voltava acompanhado da medica que tinha me atendido. As mãos pequenas e gentis da mulher retiraram a agulha de minha veia com extrema gentileza e logo depois um algodão foi pressionado na minha pele e deixado ali para estancar o sangue.
Fui instruída a repousar e me alimentar bem, depois da doação de sangue. Eles mesmo me ofereceram alguns biscoitos salgados e uma caixinha de suco de laranja. Agradeci aceitando, embora eu não fosse comer. Eu odiava bolachas água e sal. Mas não quis fazer nenhuma desfeita para quem estava me tratando tão bem.
— Levarei a moça até a casa dela. Estou levando a viatura. Fiquem com a mãe do cabo e o que ela pedir, vocês fazem. É uma ordem.
— Sim, senhor. - os policiais que estavam na recepção responderam em conjunto.
— Eu não vou demorar. Outra viatura está a caminho. - ele não esperou resposta de seus policiais. Me guiou porta afora em silencio. Me sentei na parte traseira da viatura e respirei fundo, enquanto sentia o carro começar a se mover. — Você come hambúrguer? - sua voz ecoou de repente chamando minha atenção. Devo ter feito uma cara de i****a, pois ele repetiu a pergunta. Assenti. — Mc Donald’s ou Burger King?
— O que?
— Você prefere Mc Donalds ou Burger King? - seus olhos me fitaram pelo espelho do carro, quando ele parou em um sinal vermelho. — Isso aí é horrível. Ninguém merece forrar o estomago com bolacha água e sal e suquinho, depois de passar por tudo isso. Então, sim. Estou te levando para comer um lanche. Passaremos do Drive thru. Escolha ou eu escolherei. Também estou com fome.
— Burger King. - murmurei baixinho quando o carro começou a deslizar pelas ruas da Av. Paulista.
Me afundei no banco ao vê-lo girar o volante da viatura e se dirigir a um Drive thru do Burger King.