Pablo
Chegando no shopping, não demorei muito para achar exatamente o que eu queria. A loja de móveis estava completamente lotada, mas com muitas promoções natalinas.
Difícil era encontrar um vendedor disponível, já que todos pareciam estar muito ocupados com suas vendas.
— Alguém… por favor…
Passei pela multidão, tentando sem sucesso chegar em alguém até que esbarrei numa pessoa, que xingou alto.
— Putä que pariü! Porrä! Ah! É você, Pablo?
Olhei-o reconhecendo finalmente a sua voz com tanta confusão de gente falando ao mesmo tempo.
— Ah, oi Ronan. Está uma confusão aqui. — Coloquei as mãos na cintura averiguando o caos que as semanas antes do natal podiam trazer.
— Verdade, mas… O que traz o recém casado para essa muvuca? Deveria estar trepando a essa hora.
Sorrindo olhou despretensiosamente para o seu relógio de pulso, enquanto éramos levemente empurrados conforme se aglomeravam mais clientes no estabelecimento comercial.
— Pois é, deveria mesmo. — Concordei coçando o queixo, notando aquele risinho faceiro sumir pouco a pouco do seu rosto.
— Então, o que te faz vir aqui nessa época se podia estar usufruindo bem gostosinho da sua princesa? — falou com certa inveja, um tom que ele nunca usou comigo.
— Estou a procura de uma cama gigante, sabe? — Gesticula propositalmente para saber até onde iria sua reação. — E um berço para o nosso filho.
— Então os rumores sobre a pressa desse casamento eram de fato reais. Conseguiu a sua tão sonhada família, não é? Quem diria que o santinho do Pablo iria furar a fila. — Sorriu novamente. — De todos do pelotão o que não perdoava uma xotinha era eu, portanto quem sabe tenha uma porrada de filhos por aí.
— E, uma DST com certeza — falei baixinho.
— O que disse amigão?
— Uma vendedora apontou na nossa direção, vamos lá? Ou está de saída?
— Que nada, vim comprar uma escrivaninha nova. — deu uma ligeira risadinha. Típica de quando está saindo com alguma mulher.
— O que houve com a antiga?
Andamos lado a lado com certa dificuldade, mas a vendedora disponível estava fazendo das tripas coração para nos atender agora.
— Eu e a gata que tracei ontem, quebramos.
Fiquei imaginando quem seria. Renan sabia como ser um verdadeiro canalha quando enjoava da sua presa.
Olivia
Depois de tanto chorar a sua perda, resolvi procurar Pablo para explicar melhor o meu ma.u humor repentino, mas não o encontrei na casa toda. Até procurei-o do lado de fora, em volta da propriedade, e nada dele. Nem liguei de estar descabelada, vestida apenas com um blusão desgastado e furado, parecendo uma mendiga.
Ao retornar minha barriga deu uma tremenda ronco, então confiantemente fui a cozinha procurar algo para comer enquanto o soldadinho ficava fora sem ter a pachorra de avisar da sua partida. Na certa ficou de saco cheio da esposinha e foi fofocar e beber com os amiguinhos do exército.
— Um bando de idiotas!
Abri a geladeira com força, sacudindo algumas garrafas de sucos naturais. Bem grossos, pareciam vitaminas horrorosas. Nada de refrigerante por aqui, mas acabei encontrando algumas frutas, que pareciam dar uma excelente salada de frutas. O problema era cortá-las, isso demoraria um século e a minha barriga roncava sem parar.
— Calma menino comilão.
No meio de uma densa mata atlântica de verduras, achei um pedaço solitário de lasanha. Devia ser do restaurante que fomos. Nem sabia que ele havia trago algo para a viagem. Peraí, o soldadinho não estava bêbado demais para ter pensando nisso? Ou estava me engabelando? Cretino! Safado!
Mordisquei o beiço inferior sentindo como essa constatação me afetava diretamente na minha bocet.a assanhada por aquela pic.a grande.
O estômago deu outra densa roncada.
— Acalme-se monstrinho, a mamãe monstra vai te alimentar.
Peguei o prato contendo o pedaço supremo daquela delícia, e uma garrafa lacrada de suco de goiaba com lichia. Era isso ou água do filtrada.
Após fechar desajeitadamente a geladeira coloquei o suco na mesa e fiquei olhando fixamente para o microondas. Mas antes de utilizá-lopegei meu celular para fazer uma pesquisa rápida.
— Humm… então é só fazer isso e voilá! Um prato quentinho de lasanha. Nada de difícil.
Olhei de perto o utensílio, entendendo melhor seu uso, e pensando o quanto eu era uma mogol por nunca usar como deveria.
— Era apenas sua preguiça de pesquisar algo tão óbvio Oli.
Abri e coloquei-a no centro, fechei e digitei uns dois minutos. E esperei… esperei, vendo através do vidro o prato girando… girando. Escutando uns estalos, a comida esquentando de dentro para fora, e no fim um pequeno som do que parecia ser uma explosão. Ops!!!
Pablo
Depois de três horas e meia retornei para casa, com a sensação de dever cumprido. Ainda deu tempo de passar no mercadão da cidade, onde encontrei o que precisava para deixar a nossa casa com a cara do natal. Faltando dias para o grande evento precisava caprichar para mostrá-la o quanto esse dia poderia se tornar especial.
Cheguei de fininho, trazendo muitas sacolas de compras comigo, além de uma caixa comprida e fina. Tinha uma fina e tênue esperança de encontrá-la dormindo.
Deixei as coisas no tapete da sala, depois de arrumar as sacolas fui direto para o quarto, encontrando-a quase exatamente como havia deixado; deitada na cama, só que agora de lado, abraçando o travesseiro enquanto o outro dava apoio no meio das suas pernas.
Voltei à sala sorrindo, na intenção de arrumar cada detalhe desse evento.
Olivia
Descansei bastante depois de comer, mas acabei despertando ouvindo uma música natalina.
— Mas que bost.a é essa?
Esfreguei os olhos, já me ajeitando sobre a cama.
— Pablo, é você? Se não for, já aviso logo ladrão metido a Papai Noel que aqui não terá vez!
Calcei as pantufas de cabeça de piu piu, para não dar chance ao azar e escorregar sem querer. Passando pelo corredor peguei um taco de beisebol atrás da mesinha de canto, pondo-a propositalmente atrás do meu ombro. Andei silenciosamente enquanto via uma luz bizarra piscando. O som natalino vinha com um barulho de trenzinho, que tranqueira é essa?
Ao chegar na sala me deparei com uma alta árvore de natal da cor branca, que chegava quase até o teto, contendo uma estrela dourada piscante, ela estava completamente enfeitada com bolas roxas penduradas cuidadosamentes em volta. Os pisca-pisca cercaram os demais enfeites. Havia presentes ao redor, no chão. Ao derredor, um mini trem de brinquedo fazia seu círculo completo. A sala estava repleta de coisas que arremeteram ao clima natalino; meias vermelhas penduradas por fio de parede a parede, bonequinhos de pelúcia de neve espalhados pelo sofá, além de outros itens que nem sabia que existiam para completar esse evento que não mais achava graça. Emocionada, e porque não dizer um tanto tocada, larguei o objeto que serviria para espancar o intruso, fazendo um barulho que se transformou num eco.
— Olivia, querida…
Virei o rosto ao descer as mãos, notando o soldadinho apenas de cueca e de touca vermelha com a ponta de pompom branca. Na mesma hora meus sentidos de predadora foram aguçados. Humm. Papai Noel gostosão!!!