Continuação...
As outras mesas que ficavam ao lado de fora continuavam seus jogos normalmente, e eles podiam acompanhar a mesa de dentro com telões disponíveis. Muitos curiosos tinham acesso aos jogos mais emocionantes, e se aglomeravam na frente das telas, rindo, comentando e criticando os jogos. Outros, estavam se esforçando para ter a oportunidade de entrar lá dentro; O que era engraçado e ao mesmo tempo um exagero, mas as minhas apostas enchiam os olhos alheios. Muitos saíram dali com o olho brilhando após ver tantas fichas na mesa e muito dinheiro posto.
Caminhei lentamente até o Homem que ainda era um grande mistério. Toquei seu ombro gentilmente e ele simplesmente sorriu, colocando rapidamente sua mão em cima da minha me fazendo o encarar um pouco mais séria.
- Finalmente a Rainha do baile! - Ele me encarou debochado.
- Esperou muito por mim? - Falei baixo.
- Estava cansado de brincar com os peixes pequenos, mas não achei que a sereia apareceria assim tão rápido! - Touché, o cara era um grande convencido.
- Você não representa uma ameaça ainda, mas eu estava com saudades de jogar com alguém diferente. - Dei um sorriso ladino. Caminhei de volta ao corredor. O meu rosto como sempre, estava coberto com o chapéu de véu para esconder a identidade da pobre viúva.
Voltando lentamente a sala de jogatinas superiores, as pessoas nas quais eu toquei, vinham tímidos em uma fila indiana, criando planos e bolando estratégias para vencer. Eu juro que parece divertido, mas o clima fica tenso e pesado e era disso que eu gostava profundamente. O estresse e a pressão deixava os jogadores assustados, mas alimentava minha adrenalina que me fazia sentir mais confiança.
Após todos nos sentarmos, nossos nomes foram postos nas placas de LED baixo, ou como gostaríamos de sermos chamados. Finalmente pude descobrir como chamar o tão belo homem misterioso da vez... Will.
Sinceramente, estava difícil acreditar que aquele era seu nome, mas achei muito criativo da parte dele. Sorri mais forte com a brincadeira, e ele me olhou com um sorriso.
- O que é? Um asiático não pode se chamar Will? - Segurei a risada ao fim da frase. Mas algumas pessoas da mesa não conseguiram.
Alguns entusiasmados davam gritinhos, batiam suas fichas na mesa e pediam para o jogo começar logo.
Assim que a banca começou a por as cartas, uma euforia lá de fora se tornava evidente através das telas que piscavam, também, para nós, momentaneamente mostrando o fluxo de telespectadores. Eu adorava o quão aquilo podia deixar as pessoas nervosas, ou totalmente confiantes, como se estivessem famosos por alguns momentos.
-Vamos nessa! - Hailey, uma das jogadoras, que também havia sido observada por muitas noites, estava prestes a explodir de euforia. Era a segunda vez dela nessa mesa. - Tô pegando sua tática, Lore! - Ela ria.
- Isso é muito bom, garota! - Dei um riso e logo nos p***s em silêncio.
As primeiras cartadas foram horríveis para todos nós, a arte do blef foi a única que sobreviveu até então, pois, as duas primeiras rodadas não fizeram bons pares.
- Embaralha direito Lilly! - Mesac questionava a banca!
- Deixa comigo, senhor! - Ela continuava sempre com uma postura impecável!
- Acho que agora eu pego vocês! - Will me olhou sútil depois de seu pronunciamento.
- m*l posso esperar! - Respondi, sempre com voz baixa.
- Até que a Lore está falante hoje! - Mesac.
- E parece tímida! - Hailey
- Vocês podem até tentar, mas eu duvido que qualquer uma das nossas provocações funcionem, até porque, já tentamos tanto antes... - Ryan.
Sorri com seu comentário.
Nona Rodada de aposta, e todos estavam mais silenciosos e apreensivos, alguns já estavam quase zerados, Will, Hailey e Mesac estavam indo muito bem. todos pareciam bem animados com a dupla de reis na mesa, e a dupla de Ás, o que era bem engraçado, pois a chance de um full house era mais que certeira.
As apostas começaram a aumentar, e o clima ficou tenso. Olhei bem para minhas cartas e pensei que talvez não fosse possível ganhar aquela partida. Hailey abriu a última rodada com All-in, apostando tudo o que tinha. Mesac ficou um tanto quanto incomodado, mas, também, apostou tudo. Ryan e os outros jogadores abandonaram a partida, e Will me encarou, sorriu cheio de sí e empurrou todas as suas fichas na mesa.
- Acho que é agora hein Lore! - Eles provocavam.
- O f**a é que eu dependo dessa última maldita carta na mesa, e as chances são zero, mas, vamos nessa! ALL-IN!
Todos aplaudiram, e eu juro a vocês, eu estava me dando por derrotada, não seria a primeira vez, mas que não fosse pelo maldito novato!
Lilly virou a última carta da mesa, e como eu jamais havia esperado, um milagre aconteceu. Não podíamos mais mexer nas apostas, já que todos nos demos por concluídos. Ninguém retirou sua aposta.
Na mesa, haviam as cartas KKAAQ.
No pôquer você precisa fazer uma combinação usando as duas cartas nas mãos junto com as cartas da mesa.
Mesac abriu - QQ - Um lindo Full-House, uma combinação de uma dupla e um trio. - QQQ + AA ou KK
Hailey abriu - KQ - Full-House, superior ao de Mesac. QQ + KKK.
Nessa jogada
Will abriu - AA - Um squad imbatível, uma jogada de 4 Às. AAAAK
Mesac e Hailey socara a mesa descontrolados, murmuravam pálidos, com ódio nos olhos, e me encaravam de maneira sólida.
- Tá viúva, eu admito! Você perder essa rodada é aceitável demais para nós! p***a, um Squad de Ás?! É a primeira vez que vejo isso nessa mesa! - Mesac estava inconformado com tamanha habilidade.
- Mas não é a primeira vez que eu vejo... - Dei um toque no chapéu, um pedido para que Lilly deixasse as telas ligadas permanentemente, era o grande final da partida.
Foi quando eu abri - 10 e J. Não eram grandes coisas, mas eram todos combinações de naipes iguais, e a carta aguardada na mesa, era exatamente a Rainha de Copas!
Viúva abriu - 10 e J. Royal Flush 10JQKA naipe de Copas! A combinação mais alta do Pôker! Cartas em sequência com o mesmo naipe.
- Nem ferrando! - Todos ficaram boquiabertos, inclusive Will. Minhas mãos tremiam e a adrenalina incendiava meu corpo, p**a MERDA, UM ROYAL FUSH! As mesas lá de fora vidravam, e eu tive medo que minha reputação fosse questionada agora.
- Você é incrível!- Will veio até mim, beijou minha mão e saiu. Todos os outros jogadores continuavam falando sobre a partida, analisando os padrões e fazendo comentários. Alguns diziam que eu estava roubando, que a banca me ajudou, no entanto, foi realmente pura sorte! O meu maior medo era que isso não fosse claro o suficiente, então eu teria que deixar a mesa vermelha por um tempo!
Dei atenção aos clientes, e apreciei Charlie cantar um blues. Ela era excepcional, e tinha uma voz e carisma invejáveis. Lhe comprei flores e fiz questão de lhe entregar antes de deixar a Secret para meu merecido descanso!
- Você é fenomenal! - Sorri para ela.
- Você brilhou radiante hoje, Olga! - Falou me dando um beijo no rosto. Ela era a única que sabia minha verdadeira identidade. Ela e Lilly.
Peguei meu carro no beco escondido, não tinha motoristas, mas sempre tinha seguranças nas portas do fundo. Assim que arranquei com meu lindo Landau 1983, os seguranças me olharam por um tempo até deixar o beco, aquele não era um lugar tão supervisionado, mas já estávamos alí há alguns anos, então não é como se não fossemos conhecidos o suficiente para não sermos temidos.
Após alguns metros, vi uma figura masculina parada no meio fio, e enquanto ia me aproximando ele ia se posicionando a frente do meu carro. Fui freando devagar, embaixo do banco, já fui em busca da minha pistola, mesmo que aquele cara não representasse qualquer tipo de ameaça.
- Hey, Lore! - Assim que a mão tocou o vidro de meu carro, notei que era Will. - Vai, Lore! Abaixa o vidro? - Ele sorriu.
- Oi? - Abaixei metade do vidro e o encarei.
- Você poderia me dar uma carona? - Tão descarado.
- Com certeza, não! - Dar carona a um completo estranho? Nunca!
- Mas eu moro perto daqui! - Ele riu.
- Que bom, então você pode ir andando!
Subi meu vidro tranquilamente e continuei meu caminho enquanto o via sumir pelo retrovisor. Um tanto quanto abusado da parte dele, me parar tão tarde para tentar alguma gracinha.
Tão bonito, mas tão suspeito!
Enquanto arrancava com meu carro, notei que um temporal se fazia, uma chuva fina ia pincelando o vidro do carro. Me senti um pouco culpada por deixar o jovem rapaz na chuva, mas não era como se eu pudesse permitir que pessoas estranhas se aproximassem, o risco de exposição era tremendo.