Capítulo 1 - Um dia de Olga
∆ Narrado por Olga ∆
Despertador as seis da manhã, segunda-feira de um dia qualquer do mês de Janeiro. Enquanto as pessoas se preparavam para férias de verão e viagens familiares, a minha querida família se reunia para o café da manhã, já em seus trajes caros e engomados.
Meu pai, como sempre, sentava no centro da mesa, em sua cadeira de couro preto, que era um jogo completo das outras. Minhas irmãs se sentavam juntas ao lado direito do meu pai, e eu me sentava ao lado esquerdo. Apesar de parecer, nossos cafés não eram silenciosos, conversávamos sobre coisas aleatórias, meu pai sobre suas transgressões na empresa, minhas irmãs sobre suas descobertas. Lucy era a mais velha, estava com 38 anos, ela era uma bióloga marinha, e passava meses longe, sempre que haviam espécies em extinção ou novidades no mar, inclusive, falávamos sobre sua próxima viagem a Ásia, para estudar algum tipo de peixe invasor que era uma ameaça ao ecossistema.
Minha irmã do meio Mary, tinha 32 anos e já era uma jovem historiadora, como podemos perceber, todas entraram em carreiras geniais onde precisavam viajar e ficar fora em grandes projetos por longos períodos.
Enquanto as bonecas trilhavam suas vidas ao redor do mundo, alguém precisava assumir o futuro da empresa, e isso me foi deixado sem oportunidade de questionamento. Então, eu, aos meus plenos 25 anos, estava sendo treinada desde sempre para liderar uma empresa da qual eu não fazia a menor questão.
Papai era rígido quanto ao meu ensino, e apesar de já ter feito faculdade de Economia em Harvard, ainda tinha muito o que aprender da vida empresarial. Longos períodos de faculdade ainda me aguardavam pela frente, fora as longas caminhadas pela empresa, onde eu já estava trabalhando desde os meus 18 anos.
Minha relação com minhas irmãs era bem tranquila, fomos criadas por nossos pais rígidos e amorosos, até o dia em que minha mãe faleceu em um acidente de carro, 10 anos atrás, desde então, a parte carinhosa não era mais a mesma, a parte preocupada de meu pai começou a sufocar todas nós.
Minha mãe, Ellie, era uma mulher fenomenal. Bela, bem sucedida, andava com roupas de grife e estava sempre em eventos de luxo. Adorava fazer apostas, e me ensinou tudo o que sei sobre Pôquer, Charutos e uísque, embora na época eu nem pudesse beber, fumar ou jogar.
O meu lado um tanto sombrio, se fez mais presente quando completei 21 anos, e como um auto presente, fui a todos os salões de jogatina e zerei muitos apostadores. Naquela noite, eu havia libertado o único lado do qual eu realmente gostava, o meu lado verdadeiro, sem cobranças, sem olhares assustados. Em uma mesa, só existem os olhares de blef, ódio e ganância. E ninguém se importa com o seu status pessoal, é claro, isso nos lugares mais escondidos, onde tudo era proibido, e dever dinheiro na casa, era uma sentença de morte.
Passava as semanas dentro da empresa, trabalhando sob os olhares críticos dos outros acionistas. Estava sempre sendo vigiada pelos filhos e funcionários do lugar, e a qualquer deslize, eu poderia manchar o nome de meu pai, o que era uma verdadeira ameaça a minha autoconfiança e estima.
Me sentir descartável, ou a causadora de vexames, não era o meu objetivo, então sempre trabalhei para não chamar muita atenção, eu era, o que diziam, uma mulher discreta e cafona, porque sinceramente, se minha outra personalidade desse as caras, tudo viraria de pernas pro ar.
Tudo começou em 2019, quando tive a brilhante ideia de abrir o "Secret". Que era uma casa de apostas bem escondida em Utopia no Queens (NY). Só pessoas que não representavam ameaças tinham um passe livre para entrar, e meus seguranças tinham uma lista enorme de nomes que estavam bloqueados. E, apesar disso, eu também me mantinha sempre coberta para chegar lá. Chapéu, óculos, lenço, luvas, casacos. TUDO! E para jogar comigo, só os vencedores da noite podiam entrar na sala exclusiva de apostas, onde eu, tinha uma lista longa de vitórias.
O pôquer é simples, mas depende muito da sorte e dos blefes. Se eu, em algum momento, deixasse de jogar por algum tempo, nunca conseguiria chegar a onde cheguei. E acredite, minha mente trabalhava 24 horas por dia, pensando e analisando jogadas das quais fui bem ou m*l.
Essa noite era uma grande vitória para o Secret, teríamos a nossa primeira noite de apostas oficiais com os maiores vencedores de 2022. Para dar as boas vindas ao novo ano de 2023 que chega me garantindo mais dinheiro e renome.
Eu tinha uma conta poupança com todo o dinheiro que a casa já havia conseguido, e sinceramente, abandonar toda a minha vida em NY, não seria difícil, não no quesito sobrevivência e luxo, mas impossível na questão familiar.
( • • • )
Encerrando um tanto quanto antes as apresentações familiares, e do meu espacinho pessoal. Após o café da manhã, todos seguimos nossos rumos para os trabalhos e estudos. Não foi tão difícil pois a empresa era bem elaborada. A OC (Ongoing Changes), era uma empresa que trabalhava para representar marcas de Carros e Motos importados, todos os anos nós avaliamos modelos de carros e oferecemos melhorias e ajustes nos custos e benefícios, tínhamos grandes parcerias como a Tesla e a Harley, então o sucesso das nossas parcerias eram de extrema importância.
Eu trabalhava na parte financeira e avaliava os ajustes dos automóveis, e depois que terminava meu expediente, ficava umas três horas na Secret analisando o desempenho das mesas e, as vezes, eu ficava na banca distribuindo as cartas para os clientes mais importantes. Sem me mostrar por nenhum minuto.
Na Secret, eu era conhecida como a Senhora viúva, Lore. Para todos os efeitos, criar uma personagem jovem, que já foi casada e que perdeu o marido num acidente de carro, era o menos questionável possível. As pessoas não queriam falar sobre isso, e eu me manter sempre coberta e de preto, era como um ato de luto, pela morte do meu marido falsário.
- O Secret
Em uma noite comum de sexta-feira, a casa estava lotada, cheia de pessoas belas e endividadas, o que era mais engraçado. Meus seguranças acompanharam muitos mocinhos ricos até a porta de saída nessa noite, e eu sempre achava aquela cena extremamente maravilhosa, o que significa que os playboys estão perdendo para meus jogadores e para a banca.
Olhando pelas imagens de segurança do meu escritório reservado, notei um homem todo coberto. Chapéu, óculos escuros, e com um terno que não parecia grande coisa, um novato nessa casa de apostas. Pedi para que os seguranças ficassem de olhos nele, até porque, muitos curiosos tentavam arrancar informações sobre meu estabelecimento, assim como os policiais.
Até então, esse homem não representava ameaça alguma. Mas, pouco antes de fechar a casa, ele ainda estava nas mesas, ganhando dos clientes mais poderosos, e de meus melhores jogadores.
Suspirei com um riso curioso, seria divertido acabar com esse homem.
Lilly, a bancária da mesa de apostas, apertou o botão de solicitante, que é quando há um jogador experiente ganhando muito dinheiro, e é nesse momento que a mesa dos fundos é posta.
A sirene da casa ecoou, e todos os que já estavam familiarizados com o ambiente, começaram a balançar as suas fichas de apostas, fazendo bastante barulho para a entrada da Kinga!
Passei pela porta principal, e fui caminhando até os vencedores que eu notei durante a noite.
Fui tocando no ombro de todos os 7 jogadores, que comigo, fechariam a mesa em 8. 4 medianos e 3 mestres, para equilibrar o jogo, já que os medianos adoravam aumentar as apostas sem terem o mínimo de cartas possíveis.
Após selecionar os seis, caminhei em direção ao homem novo que estava ali, e notei que era um jovem de descendência asiática, alto, forte, e com um sorriso convencido no rosto, eu não sabia qual dos dois F's gostaria de usar com ele.
Falir ou f***r! Logicamente, ambos da maneira profissional, dentro dos parâmetros desta bela casa de apostas.
"Alguns acreditam que o pôquer se originou na China, na Dinastia Sung; século X."
Era curioso estar na presença de alguém que despertava um interesse diferente em mim. Meus funcionários puxavam todas as fichas das pessoas que entravam naquele lugar, mas sobre ele, após o tumulto, foi impossível de descobrir.
Sobre o tumulto...