Mariana Cipriano
Acordei no mesmo horário de sempre, não estava afim de fazer o café, mas como era uma obrigação servir o Mauro, então levantei. Desci as escadas, comprei os pães, fiz o café e quando eu estava colocando os adereços na mesa, ele desceu arrumado já para o trabalho. Coloco o café em sua xícara, e me sento colocando um pouco de café no meu. Paro para observar o Mauro, algo que eu nunca tinha feito anteriormente. Ele era um homem baixo, já estava quase na casa dos 50, então a sua expressão já era de um homem cansado da vida leviana que levara.
Me pergunto: Por que meu pai me jogou para o colo desse homem? Será que ele não imaginaria quem ele realmente é? Desde que casei com Mauro, eu pensei que pudéssemos ser felizes já que eu seria destinada a ficar a vida toda com ele, então eu aprenderia a gostar dele, mas isso nunca aconteceu. O descaso, desamor, indiferença, tudo isso só me fazia ser infeliz, mas como eu sempre fui criada instruída incessantemente pra servir meu marido, eu não reclamava, apenas ficava quietinha na minha.
- Mariana, não me espere, hoje vai ter uma reunião da empresa, e provavelmente vou ter que ficar até mais tarde.
Prendo o riso, imaginando que a reunião dele seria um monte de mulheres, apenas vibro, não vou precisar me preocupar com a janta e nem com o fato dele chegar aqui a qualquer momento. Assinto e pergunto:
- Vai precisar vir buscar algum terno? Quer que eu deixe alinhado pra você? - Pergunto e ele n**a.
- Não, pode ficar tranquila. Não saia de casa, hein. - Ele levanta pegando sua mala em cima da outra cadeira e vai em direção a porta, sorrio sem mostrar os dentes e ele sai.
Respiro todo o ar que prendi durante esses minutos perto dele.
Mando uma mensagem para o Vinícius:
“Mauro vai ficar até mais tarde na empresa, provavelmente só chega amanhã”
“Ainda bem que não tenho hora para sair daí então”
“Você não trabalha?”
“Trabalho, mas eu já te disse, eu faço meu horário”
“Não sei se é uma boa ideia você ficar por tanto tempo”
“Relaxa princesa, estou chegando daqui há 15 minutos”
“Preciso de mais minutos”
“25?”
“Ok”
Subo correndo para o meu quarto depois de arrumar a cozinha, tomo um bom banho, arrumo meus cabelos, saio colocando hidratante corporal, um perfume e como eu não tinha muitas opções de vestido, opto por usar roupas íntimas brancas e um vestido floral larguinho de alças sem sutiã. Visto minhas sandálias de dedo e desço quando ouço baterem na porta, assim que abro, ele entra vestido dessa vez com algo que eu não sabia distinguir.
- Você tá tão bonita. - Ele sorri e me abraça, cheirando meu pescoço e me fazendo arrepiar.
Ele tira as roupas e por baixo da roupa imensa, ele vestia uma bermuda e uma blusa casual.
- Veio vestido de quê, dessa vez? - Pergunto rindo.
- De jardineiro, não é óbvio? - Ele aponta pro corpo e da risada, eu dou risada junto. - Trouxe uma coisa.
Ele pega a bolsa que estava junto com ele, me dá uma rosa e uma barra de chocolate chamada Milka. Meu coração iluminou, era tão bonito o fato dele estar empenhado a estar comigo. Cheiro a flor que estava, obvio, com o cheiro dele.
- Obrigada. - Falo envergonhada e ele ri, me puxando pela mão até o sofá, onde senta e me puxa para sentar no seu colo.
- E aí, como você está? Como está sendo seu dia? - Pergunta, alisando minha coxa.
- Ah, nada diferente do normal… aquela mesma rotina que você já conhece. E o seu? O que você faz nos seus dias? - Pergunto e seguro a mão dele que estava me alisando muito e indo pra debaixo do meu vestido.
- Normalmente eu malho, depois vou para delegacia, às vezes tenho reunião com meu irmão e meu pai sobre o nosso negócio, e agora eu tenho você na minha rotina que deixou tudo mais lindo. - Continua me alisando.
- Que tipo de negócio você e sua família têm? - Fico curiosa.
- Temos uma empresa de whisky, a mesma empresa que fornece whisky pra empresa do seu marido. - Ele fala e eu lembro do Mauro, torço o rosto numa careta e tento me sentar no sofá, ao lado dele, mas ele me prende em seu colo.
- Como que você consegue administrar sua vida de policial e sua vida de dono de negócios? - Pergunto.
- Eu tenho meu irmão, então torna tudo mais tranquilo. Meu pai é presidente e ele é vice, eu não tenho tempo, então sou só o diretor de tudo. - Fico impressionada.
- Poxa, que legal. E qual é o seu sobrenome? Falei de você para minha amiga Pâmela, ela ficou curiosa. - Dei risada.
- Falou de mim com sua amiga? Que passo largo… - Ele fala prendendo os lábios nos dentes.
- Achou muito rápido? - Pergunto um pouco assustado.
- Eu gostei, sinal de que está gostando de mim a ponto de contar para sua amiga. - Ele sorri e eu concordo.
- Sim… estou me permitindo, na verdade.
- E meu sobrenome é Barone. - Ele fala e eu abro a boca.
Barone não é daquela família que minha mãe me aproveitou a mãe e a filha? Eu sabia que conhecia ele! Ele é aquele homem que eu olhei no evento, e que ficou me olhando de volta. Minha mente faz um “boom” e eu abro a boca chocada.
- Eu te conheço! E conheço sua família.
- Conheceu no evento, né? No coquetel.
- Sim! Meu Deus, foi o Mauro que te mandou para testar minha fidelidade, né? - Levanto rápido do colo dele desesperada.
- Calma, Mariana. Claro que não. - Ele levanta e me para, me agarrando. - Se eu tô aqui, me escondendo por você, tendo e podendo ter qualquer mulher que eu quiser nos meus braços, é porque os meus sentimentos são reais. Não sei de onde vieram, como surgiram, mas estão aqui.
Vou me acalmando e entendendo, me sento novamente no sofá.
- Isso é muito estranho. Como um homem como você, poderia gostar de uma mulher como eu? - Pergunto ainda muito confusa.
- Que mulher como você? - Ele se afasta, me olhando bem sério.
- Casada, feia, sem liberdade para fazer uma faculdade, sem liberdade para ir na rua, sem dinheiro, sem nada.
Quando eu paro pra pensar na minha vida, eu sempre fico muito chateada. Eu vejo na televisão milhares de mulheres bem vestidas, podendo fazer o que quiser, com independente financeira e eu me pergunto o porquê de não poder ter isso, morro de medo de tomar qualquer atitude e simplesmente apanhar do meu marido e de papai, e ser julgada eternamente pela minha mãe e irmã, com certeza minha mãe me bateria junto com o meu pai se eu sonhasse em largar o Mauro.