29" Intrigas e alianças"

1503 Words
Águia Eu estava realmente frustrado. A mina estava insuportável; era como se o mundo inteiro girasse em torno de suas queixas e chatices. Não havia razão para ela não ficar ali, e, no fundo, eu sabia que o melhor era deixá-la ir sozinha. Sem ânimo para lidar com isso, decidi dar um tempo. Peguei um baseado, fui até a sacada e comecei a fumar, buscando algo para aliviar o tédio insuportável que me consumia. Após alguns minutos, a mente começou a clarear e a vontade de sair de casa se fez presente. Troquei de roupa, optei por algo mais descolado e, com um suspiro, saí em direção a boca. Era um lugar onde eu sabia que poderia encontrar um pouco de alívio, longe do peso que sentia. Cheguei lá e, ao entrar, fiz um toque discreto com os caras. A atmosfera estava carregada, quase palpável, com um clima de tensão no ar. Todo mundo parecia imerso em seus próprios pensamentos, concentrado em algo que eu não consegui decifrar de imediato. Dirigi-me até a minha sala e a cena que encontrei me chamou a atenção. O Gb estava sentado à mesa, concentrado na contabilidade. Seus olhos estavam fixos nos papéis e nas anotações, e ele parecia absorto, quase como se o mundo exterior não existisse. Em contraste, o Lc estava estirado no sofá, fumando um baseado com um olhar relaxado, como se estivesse tentando escapar de alguma pressão invisível. O ambiente estava um misto de concentração e relaxamento, uma combinação que parecia refletir a própria sensação de estar lá. Águia_ E aí, seus putos? Só o Gb trabalha nessa p***a, né? — falei, dando um tapa na cabeça do Lc. Gb_ Só eu mesmo_ respondeu o Gb, cruzando os braços._ E aí, onde é que você tava? Posso saber? Águia_ Virei teu homem? Tenho que te dar satisfação?_ retruquei. Lc_ Pra mim, você tem. Tava com a amante, né?_ O Lc falou com uma voz fina, fazendo uma cara de quem estava zoando. Águia_ Se fuder, Lc. E o baile do final de semana, tá tudo certo?_ perguntei, mudando de assunto. Lc_Tá sim, já resolvi tudo_ confirmou ele. Ficamos ali conversando por um tempo, o clima da sala parecia relaxar um pouco, mas ainda havia uma tensão palpável. O Gb continuava focado na contabilidade, o som das páginas sendo folheadas misturava-se com as risadas esporádicas e as conversas que rolavam no ambiente. O Lc, ainda deitado no sofá, soltava pequenas nuvens de fumaça, quase como se cada tragada fosse uma tentativa de escapar da realidade. De repente, a porta se abriu com um rangido leve e o Formiga entrou na sala. Ele era conhecido pelo seu jeito discreto e eficiente, e sua presença era sempre um sinal de que algo importante estava prestes a acontecer. Ele carregava um pequeno caderninho, de capa preta e já um pouco gasto pelas mãos de quem o usava frequentemente. Com um gesto quase automático, o Formiga dirigiu-se diretamente até mim. O caderninho estava preso entre seus dedos, e ele me entregou com um olhar que denotava uma mistura de seriedade e cansaço. O caderno parecia carregar o peso de várias horas de trabalho e informações. Formiga_ Está aqui_ ele disse, sua voz carregada de um tom de gravidade que não passou despercebido._ Contabilidade da boca da Rua 9.Aí, chefe, você pediu pra ficar de olho no j**a, né? Vi sua mina subindo na moto dele descendo o morro_ ele falou e, após eu concordar com a cabeça, saiu. Lc_ Como é?_ o Lc se levantou, surpreso._ Você pediu pra ficar de olho no j**a? Tá com ciúmes dele com a Malu?_ começou a rir. Gb_ Tá gamadão na pequena, né, cuzão!_ o Gb riu junto. Águia_ Vai se f***r, vocês dois. Vão trabalhar que é melhor — falei, irritado, e saí da boca indo pra casa. Enquanto subia a rua de moto, o cenário da comunidade se desdobrava diante dos meus olhos: casas simples, calçadas estreitas e uma sensação de proximidade entre os moradores. O som da moto cortava o barulho dos filhos brincando na rua e das conversas que ecoavam das janelas abertas. Foi quando avistei a Letícia. Ela estava na esquina da rua, tinha acabado de virar, estava com o olhar perdido e um semblante de frustração que não deixava dúvidas sobre seu estado, caminhava enquanto falava alguma coisa consigo mesma. Ela parecia deslocada, a expressão de irritação acentuada pela frustração de não conseguir encontrar uma solução para o problema que a afligia. Desliguei o motor da moto e estacionei ao lado dela, o ruído da cidade momentaneamente abafado pelo silêncio que se instaurou quando a moto parou. O cheiro de gasolina misturava-se com o aroma característico da comida caseira que vinha das casas ao redor. Águia_ Ficou doida? — perguntei Letícia_ Que susto, Águia_ falou brava Águia_ Você tá igual maluca ai falando sozinha._ Letícia_ Tô estressada, minha mãe me mandou no mercadinho comprar coca_ ela revirou os olhos. Águia_ Mais que sua obrigação. Sobe aí que eu levo pra lá_ ofereci. Letícia_ Milagre é esse?_ ela me olhou desconfiada. Águia_ Quero bater um papo contigo_ disse. Após uma breve conversa, Letícia aceitou a oferta e subiu na moto com um sorriso relaxado. O contato entre nós foi natural, como se estivéssemos apenas desfrutando de um passeio sem maiores preocupações. Com ela a bordo, o ronco do motor parecia mais suave, quase como uma trilha sonora para o momento. Fui dirigindo pela rua, o vento fresco batendo em nossos rostos. A comunidade parecia viver seu ritmo tranquilo, com vizinhos acenando e conversas casuais sendo trocadas nas calçadas. A sensação era de um conforto simples, uma pausa na correria habitual. Quando começamos a retornar, parei a moto em frente à casa de Letícia, o motor ainda esquentando enquanto a cidade começava a mergulhar em sua rotina noturna. O local estava tranquilo, com poucas pessoas visíveis e uma sensação de calma no ar. Foi então que notei a BMW do Lobo passando pela rua. O carro, uma máquina imponente e bem cuidada, cortava o ambiente com sua presença marcante. O Lobo estava ao volante, seu olhar rápido e reconhecedor se fixou em mim por um instante. Ele acenou de forma breve e apressada, uma espécie de cumprimento que combinava com a sua natureza direta. Com um pequeno gesto de cabeça e um movimento de mão, ele indicou que estava seguindo seu caminho. O carro deslizou para frente e logo desapareceu na esquina, deixando para trás um rastro de pneus e o eco distante do motor. Letícia_ Entra aí!_ Letícia falou, abrindo a porta. Entrei na casa de Letícia e o ambiente acolhedor da residência me envolveu imediatamente. O cheiro de comida caseira e o som do rádio ligavam a casa a uma sensação de calor e familiaridade. O espaço era simples, mas bem cuidado, refletindo a vida cotidiana da comunidade. A mãe de Letícia estava na cozinha, visivelmente ocupada com alguma tarefa. Ao me ver, ela ergueu os olhos e sorriu de forma amistosa. Vanessa_ Olá! Como vai?_ ela perguntou, com um tom acolhedor que transmitia a gentileza que parecia ser uma característica da família. Águia_Oi, dona Vanessa_ respondi, tentando manter o tom casual._Tudo bem por aqui? Ela me acenou com a cabeça e continuou com o que estava fazendo, enquanto Letícia se dirigia até ela para entregar uma garrafa de coca-cola. A troca foi rápida e prática; a mãe de Letícia agradeceu com um sorriso e um breve "obrigada" antes de continuar sua atividade. Após deixar a garrafa na cozinha, Letícia voltou e se sentou ao meu lado no sofá. O lugar era confortável, coberto por uma manta colorida que parecia ter sido feita à mão. Ela se acomodou, olhando-me com um olhar curioso e atento, como se estivesse esperando para ver o que viria a seguir. Águia_ Tô ligado que você tá de rolo com o j**a, né?_ perguntei. Letícia_ Sim, mas não é nada sério. Por que a pergunta?_ ela respondeu. Águia_ Quero tirar ele do meu caminho, sabe? — olhei para ela com seriedade. Letícia_ Tá com ciúmes da amizade dele com a Malu. Agora entendi tudo_ Letícia começou a rir._ Quer que eu faça o quê? Águia_ Sei lá, arruma um jeito de tirar ele de perto dela_ pedi. Letícia_ Vou te falar, eu mesma tava incentivando ela a ficar com ele, mas ela não quer. Tava doida pra ela ficar com ele pra depois nos fazer um trisal, eu, ela e o João, ia ser f**a!_ Ela riu, me deixando bolado. Águia_ Tá de s*******m, né?_ levantei do sofá. Letícia_ Calma aí, tô brincando. Vou te ajudar, mas em troca quero bebida liberada pra mim no baile desse final de semana!_ Ela fez uma cara de quem estava negociando. Águia_ Vai me falir, mas tá bom_ concordei._ Vai fazer o quê? Letícia_ Não sei ainda, vou pensar no que posso fazer_ disse ela. Concordei com a cabeça e fui saindo._ Me agradeça depois!_ gritou, e eu apenas respondi com um aceno.
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