— E foi assim que um cara terminou comigo por conta do tom do meu cabelo. - Conclui Helena a história que contava para Lúcia sua colega de trabalho enquanto caminhavam pela movimentada Avenida Paulista em direção ao escritório.
— Não creio! Você saiu daqui porque tomou um pé na b***a pouco antes de se casar e foi para Parati e... - começa a dizer Lúcia antes de tomar um generoso gole de café.
— Tomei outro. - Completa Helena erguendo seu copo de café em direção a amiga. — Parabéns para mim.
— Sério, as bebidas de mais tarde serão por minha conta. - Avisa Lúcia.
— Obrigada, vou precisar. Até por que ainda preciso encarar minha mãe que já escuto falar horrores que me avisou e que não a escutei.
—No fim, as mães sempre tem razão. - Conclui Lúcia.
— Bom, pelo menos eu conheci lugares maravilhosos e um alambique digno. - Comenta Helena. — Trouxe até uma cachaça de lembrança para você.
— Obrigada, amiga. - Agradece Lúcia entrando no prédio com a amiga.
— O pior de tudo é que quando o Leandro me largou não doeu tanto quanto esse fora que recebi do Bruno. Sei lá, umas noites antes ele dizia que não acreditava em surperstições e tals, e de repente a cor do meu cabelo foi algo inaceitável. Qual é? - Comenta Helena apertando o botão do elevador. — Sério, qual é o meu problema?
— Relaxa, Lena. Não dê tanta importância a isso. Aposto que ele não está nem se importando...
— Verdade. - Concorda Helena com sua amiga.
***
Bruno respira fundo enquanto observa o sol finalmente tomar seu lugar. Não havia dormido nada naquela noite, ainda mais depois de toda a situação. Por algum motivo aquele sentimento de traição não saía de seu peito. Porém, o sentimento não era com relação a Helena e sim contra si mesmo. Como ele pôde ter se deixado levar assim por uma garota em tão pouco tempo? Logo ele que sempre ficou atento a qualquer sentimento mais profundo e de repente estava ali completamente envolvido por ela. Ele balança a cabeça e então se levanta da cama , pelo menos teve forças para acabar tudo antes de... antes de... Antes do quê? De se apaixonar? Será que deu tempo mesmo para não se apaixonar por ela?
— Bom dia, filho. - Cumprimenta Nilton entrando no quarto de Bruno que nessa altura nos últimos dias retribuiria com o melhor dos sorrisos, bem diferente da cara amarrada que encontra no lugar. — Está tudo bem?
—Tudo ótimo. - Responde Bruno caminhando em direção ao banheiro. — O que você quer?
— Xiiii... O que foi? Não vai encontrar com a Helena hoje?
—Helena foi embora. - Responde Bruno antes de começar a escovação de seus dentes.
— Ahhhh, por isso o mau humor. - Afirma Nilton se aproximando.
— Não estou de mau humor. - Rebate Bruno lavando o rosto. Ele caminha de volta para o quarto até o guarda- roupa enquanto diz: — De fato, estou me sentindo ótimo.
—Filho, é natural sentir falta da namorada, ainda mais quando o namoro é a distância. - Fala Nilton caminhando atrás do filho. — Digo isso com propriedade. Quando conheci sua mãe...
—Pai, eu e Helena não estamos namorando. - Interrompe Bruno
— Bom, mas no pé que estão, acredito que o relacionamento de vocês se encaminhará para isso. - Argumenta Nilton com seu filh
— Acredite, isso não vai acontece
— Por que diz isso, meu filho? A Helena terminou com você? - Pergunta Nilton, preocupado.
—Não, eu que decidi que era melhor encararmos a nossa realidade. A vida dela é em São Paulo e a minha vida é aqui. Não daríamos certo nunca. E quer saber? É melhor assim. - Responde Bruno vestindo o uniforme da loja.
—Melhor assim para quem? - Questiona Nilton.
— Para nós dois. Acredite em mim. - Responde Bruno antes de sair.
***
Na loja, os questionamentos foram quase os mesmos de Nilton, mas lá Bruno foi mais sincero com seus amigos que o observavam enquanto o rapaz narrava como terminou com Helena.
— Foi melhor assim, para ambos. - Finaliza Bruno cruzando os braços. — Ela ia acabar se envolvendo em um relacionamento que não existia, sabe? E que nunca vai acontecer...
— Sei... - Fala Gabriel não muito convencido pelas palavras do amigo. — Até porque só ela se envolveu nesses dias.
— Sim, só ela.
— Tem certeza , Bruno - Pergunta Lucas fazendo uma careta. — Porque ontem eu bem vi o jeito como você estava com ela.
— Acredite, eu não me envolvi. Assim como não me aprofundei em nenhum relacionamento até agora e assim será.
— Até quando, meu amigo? - Pergunta Jonathan. — Até quando você viverá assim?
— Assim como? - Pergunta Bruno ao amigo.
— Assim, sem se apegar a alguém. Sem você deixar a pessoa entrar em sua vida...
— Cara, é melhor ninguém entrar na minha vida. Sabe, eu não tenho muito a oferecer a ninguém... Então, é melhor viver assim.
— Sozinho? - Questiona Gabriel. — Cara, ninguém merece viver sozinho.
— Prefiro viver sozinho e por muitos anos...
— Ah, então você acredita na profecia. - Conclui Lucas. — Você realmente levou a sério o que a cigana disse, meu amigo.
— Não, a minha escolha não tem a ver com a profecia. - Responde Bruno, sério. — Eu prefiro viver sozinho a ter que me casar forçado pelos pais da minha namorada por conta da religião dela. - afilneta o rapaz o seu amigo Jonathan. — Ou me mudar para outro país atrás de uma garota que você nem ao menos conhece e nem sabe se vai dar certo. - Aponta para Lucas. — Ou igual a você Gabriel, que fica aí fingindo que não ama a Letícia porque sua família acredita que a irmã dela deu o golpe do baú em seu irmão.
— Cara... - Começa a dizer Gabriel.
—Eu prefiro viver sozinho a ter que viver igual ao meu pai, buscando migalhas de um amor esquecido na mente vazia da minha mãe. - Interrompe Bruno se afastando dos seus amigos. — Espero que vocês respeitem a minha escolha e não fiquem tocando nisso o tempo todo.
— Bruno? - Pergunta um rapaz na porta com uma embalagem grande nas mãos.
—Sou eu. - Responde Bruno se virando para o rapaz.
— Uma hóspede deixou esse pacote lá na pousada para você. - Fala o rapaz entregando o pacote para Bruno. — Tenha um bom dia.
Bruno segura o pacote nas mãos sem entender o que poderia ser. Ele rasga então a embalagem encontrando três trajes de ciclismo dentro. Dois ele reconheceu que eram da sua mãe, mas o outro era maior e novo. Então Bruno se recordou que Helena disse que lhe daria um traje de ciclismo novo. O rapaz fica um tempo encarando as roupas e então caminha para fora da loja, pensativo.
***
Helena tenta se concentrar no trabalho, mas a todo instante se pega pensando nos dias maravilhosos que teve com Bruno e também com a forma em que tudo terminou, o que a deixa triste. Não era possível que Bruno fosse o tipo de pessoa tão insensível assim se fosse levar em conta a forma como o rapaz a tratou a viagem toda.
— Tem alguma Helena nesse setor? - Pergunta o entregador com um enorme buquê de rosas vermelhas nas mãos.
—Eu me chamo Helena. - Fala Helena se erguendo de seu lugar, tímida.
— Assina aqui, por favor. - Pede o entregador estendendo sua prancheta em direção a loira que assina rapidamente. Assim que ela termina, ele entrega o buquê que a jovem m*l consegue segurar. — Segura aqui e tenha um ótimo dia.
Helena se contorce com o buquê sendo admirada com surpresa por todos os seus colegas de trabalho. Em todos aqueles anos, ela nunca havia recebido sequer uma rosa no trabalho e agora estava ali com uma quantidade incontável para os olhos. Lúcia se levanta de seu lugar e ajuda sua amiga na busca do cartão que revelaria seu remetente. Depois de alguns segundos, a amiga de Helena localiza o cartão branco, lendo em seguida:
— Peço perdão pelas minhas rudes palavras... Isso é tudo.
— O quê? Como assim? - Pergunta Helena jogando o buquê no colo da amiga enquanto pega o cartão em troca. — Peço perdão pelas minhas rudes palavras...
— Foi o que eu disse. - Afirma Lúcia. — Será que é dele...?
— Não é possível... - Fala Helena encarando o cartão branco. — Será?
***
Helena e Lúcia saem do escritório conversando, animadas. O assunto se resumia basicamente ao buquê nas mãos de Helena que repassava toda sua viagem e o comportamento de Bruno para amiga que analisava com cuidado.
— Diante de tudo o que você me contou... Talvez ele tenha se arrependido. - Conclui Lúcia, pensativa. — Ele notou que foi bem b****a a forma como terminou tudo entre vocês.
— Ai, tomara. Pois não consigo imaginar de quem mais seriam essas flores tão lindas. - Comenta Helena cheirando as rosas.
— As rosas são minhas.