Bruno e Helena descem da bicicleta, ofegantes. Eles deram tudo de si pedalando o mais rápido possível de volta à Parati para chegarem antes do por-do-sol se findar. Já surgiam algumas estrelas quando eles finalmente pararam em frente a Pousada onde Helena está hospedada. Ela tira o capacete entregando a ele e recebe em troca sua sacola com as cachaças que comprou.
— Obrigada pelo dia de hoje. - Agradece a jovem ajeitando os fios loiros para trás da orelha.
— Sempre às ordens. - Responde Bruno encarando a menina com um sorriso, atrevido.
—O que foi? - Pergunta ela, sorrindo, sem jeito.
— E então?
— E então, o quê?
— Você sentiu a paixão? Ficou apaixonada? - Pergunta Bruno, nervoso. O rosto de Helena se transforma em um tomate de tão vermelho forçando Bruno a continuar sua fala, rapidamente: — Quer dizer, pelo lugar... a história da Maria Izabel.
—Ah... Sim, foi tudo muito incrível e apaixonante. - Responde Helena, aliviada. Ela então ergue a sobrancelha, dizendo: — Claro que isso não muda o nosso trato.
—Claro que não. Nem havia pensado nisso.
Os dois ficam se olhando , analisando cada detalhe do rosto um do outro. Bruno tem que se esforçar para conter sua mão que deseja tocar o rosto de Helena para mapear com os dedos as leves sardas dela, descendo pelas linhas no canto da boca da loira , onde sem dúvida se perderia. Ele morde os lábios quando sentiu que estavam entreabertos enquanto analisava a jovem. Helena lentamente coloca um sorriso no rosto e então aproxima seu rosto de Bruno, pousando os lábios na bochecha do rapaz que prende a respiração ao sentir o toque.
— Boa noite, Bruno.
— Boa noite, Helena quase Albuquerque. - Fala Bruno com um enorme sorriso.
Ele ajeita as bicicletas e então sai caminhando pela rua assobiando alto sendo acompanhado por Helena até que ela o perde de vista. Ela sorri e então caminha para dentro da pousada, pensativa. Era surreal como Bruno conseguia mexer com ela daquela forma e então pouco tempo. Só o toque dele a arrepia toda, o sorriso a leva até a lua. O que está acontecendo comigo? Será que é carência por conta do que aconteceu comigo? Oh, Deus, o que está acontecendo comigo?, pensa Helena enquanto abria a porta de seu quarto.
— Até que enfim você apareceu, Helena! - Fala Regina se levantando do sofá extremamente nervosa, diferente de Marcelo que se manteve entretido no celular. — Eu e o seu irmão já estávamos a ponto de chamar a polícia.
— E por que não chamaram? - Pergunta Helena colocando a sacola na mesa de jantar redonda .
— Como é? - Pergunta a mãe, surpresa com o atrevimento de sua filha.
— Mamãe, Helena perguntou porque não chamamos a polícia. - Repete Marcelo debochando de sua mãe.
— Que cheiro de bebida é esse? - Pergunta Regina ignorando seu filho. Ela se aproxima de Helena e então se afasta, horrorizada. — Você bebeu, Helena Santos Rocha?
— Ops! - Solta Helena caminhando em direção ao guarda roupa sendo observada pelo irmão que agora sim está achando tudo muito interessante. O rapaz caminha em direção a mesa de jantar enquanto a irmã abre a porta do guarda roupa , dizendo: — Foi m*l, mãe.
— Foi m*l? Helena, você saiu daqui para cancelar aquele maldito pacote e passou o dia bebendo? É isso mesmo? - Questiona Regina, irritada.
— Na verdade, não. - Fala Helena mexendo em suas roupas. — Eu fui até lá e amplei o pacote. Fiz um pacote de sete dias de ciclismo.
— Você o quê? Helena! Você tem noção do que fez? Não era para você fazer isso!
— Cara, você comprou cachaça! Legal! - Fala Marcelo empolgado com as garrafas.
— Sim, fez parte do pacote do ciclismo. Conheci uma praia maravilhosa hoje... Corumbê. Aí fomos para o alambique Maria Izabel. - Comenta Helena com o irmão. Ela se vira para mãe e diz: — Foi nesse alambique que tomei todas.
— Você esqueceu do motivo de estarmos aqui? - Pergunta Regina segurando a porta do guarda roupa e ficando de frente para sua filha.
— Estamos aqui porque tomei um pé na b***a do meu noivo. Por isso você e o Marcelo estão nessa viagem. Porque se o Leandro estivesse aqui... Seria eu e o Leandro. Aliás, se fosse assim, duvido que eu teria bebido todas... o que seria bem chato.As cachaças são maravilhosas. Sério, Marcelo você tem que experimentar. Se quiser, eu volto lá e compro mais.
—Claro que eu quero, mana. - Responde Marcelo, empolgado.
— Helena! - Chama Regina tentando trazer sua filha à razão. — Não foi por isso que estamos aqui. Nós viajamos para cá , pois precisamos refletir nos erros cometidos que fizeram o Leandro desistir, melhorar e aí reconquistar seu noivo. E claro, cancelar esse maldito pacote e dizer a eles que íamos processá-los, caso não fizessem o r*******o. Agora você ampliou o pacote para sete dias? O que está pensando?
— Eu estou pensando em aproveitar a viagem. Recomendo que faça o mesmo, pois o Leandro jamais vai voltar para mim. Ele não me quer e tem razão de não me querer. O Leandro de uma pessoa que saiba quem é e no momento eu não sei nem o que usar depois do banho. - Responde Helena, séria. — Agora se puderem sair do meu quarto e irem para o de vocês, eu agradeço.
— E se continuar assim, nem o Leandro e nem ninguém vai te querer, Helena. É isso o que você quer? - Pergunta Regina. — Você quer ficar igual a mim? Sozinha , sem ninguém para te cuidar? Pense bem no que aconteceu comigo e veja se é isso o que você quer para você.
Helena afasta de sua mãe e caminha em direção ao banheiro com algumas peças de roupa. Ela tira o traje e então entra na ducha e tenta focar na água quente percorrendo seu corpo, mas as palavras de sua mãe não a deixam em paz.
***
Bruno chega na loja que já foi fechada pelos amigos e então guarda as bicicletas. Pega os capacetes e os leva para o armário. Ele guarda o seu e então pega o capacete usado por Helena, alisando com cuidado enquanto sua mente divaga pelas memórias do dia. Bruno focava principalmente nos momentos em que ela sorria em sua direção, ou pegava a jovem o olhando, enigmática. Bruno sorriu ao recordar do jeito como Helena ficou alegre na praia de Corumbê. "Ainda bem que nos veremos amanhã, Helena" , pensa Bruno guardando o capacete. Só de pensar no dia seguinte sente a ansiedade tomar conta de seu corpo, deixando um frio na barriga do rapaz que já contava os minutos para ver a jovem de cabelos loiros mais uma vez. Ele chega em casa e os pais já estão no quarto, o que é melhor para Bruno que também vai para o seu quarto. Ele toma um banho e então deita, adormecendo enquanto pensava em Helena.
No dia seguinte , Bruno levanta antes de seu pai que se surpreende com o entusiasmo do filho que já preparou o café da manhã para Nilton e Loreta que já está apreciando a mesa farta.
— Quem é você e o que fez com meu filho? - Pergunta Nilton, surpreso.
— Nada. Só quis fazer algo diferente, hoje. - Responde Bruno, evasivo. Ele sorri para o pai e então lhe dá um beijo na bochecha , dizendo: — Fui!
Nilton fica observando o filho sair correndo de casa e então se vira para sua esposa que se deliciava com uma mexerica. Loreta sorri para o marido e então diz:
— Seu filho.
***
Na loja também os rapazes estranharam, pois chegaram e Bruno já havia colocado as bicicletas para fora e estava ajeitando os equipamentos. Os rapazer o encaram, curiosos para saber o que havia rolando entre ele e Helena para Bruno estar até assobiando. O rapaz de cabelos castanhos termina de colocar os novos equipamentos em seus devidos lugares ignorando as caras de cachorro pedindo comida dos amigos. Gabriel, o mais curioso, não resiste e se aproxima de Bruno, perguntando:
— E aí, como foi ontem?
— Ontem? Foi normal. - Responde Bruno se movendo dentro da loja.
—Normal? - Repete Lucas, surpreso com a resposta evasiva de Bruno. — Cara você está assobiando tão alto que dá pra te escutar da esquina.
— É mesmo? Desculpa, vou diminuir o volume. - Fala Bruno, assustando ainda mais seus amigos.
— Cara, você está bem? - Pergunta Jonathan, preocupado. — O que aconteceu ontem?
— Como assim? Não aconteceu nada ontem. - Fala Bruno com um sorriso bobo na cara.
—Nada, sei. Está na sua cara que rolou alguma coisa ontem. - Argumenta Gabriel apontando para o sorriso de Bruno.
—É sério... Eu e Helena fomos até Corumbê...
—Corumbê! - Repete os amigos, animados.
—Depois a levei na Maria Izabel e tomamos algumas coisas.
— Ahhhh... - Soltam os amigos.
—A levei para casa e foi isso. - Finaliza Bruno recebendo olhares, surpreso. — O que foi gente?
— Não é possível que não rolou nada... nadinha. - Fala Lucas, inconformado. —A Helena é linda. Se bobear mais linda que a Suzana e você não investiu?
— Lucas, nem toda cliente vou levar para cama. - Explica Bruno segurando no ombro do amigo.
—Tirando a parte que você já levou todas as cliente para cama, menos Helena.
— Dá um tempo pra ele. - Fala Gabriel para Lucas. — Ontem foi só o primeiro dia e até onde eu sei ele tem sete dias ainda.
— Aliás, Gabriel. Sabe quem é a Helena? - Pergunta Bruno para o amigo.
— Não tenho ideia. - Responde Gabriel.
— Ela é a noiva do e-mail. - Revela Bruno.
— Não mesmo! - Exclama Gabriel, surpreso. — Cara, desculpa...
—Não, tudo bem. - Fala Bruno. — O único problema é que agora tenho que fazer ela se apaixonar por Parati.
— Só por Parati, ou por você também? - Questiona Jonathan.
— Por Parati, por enquanto. - Responde Bruno, enigmático.