Seis dias depois, o destino brincou com Bruno mais uma vez. Ele recebeu o mesmo pacote de volta, agora mais irritado do que antes. Rasgou o embrulho com frustração e sua irritação só aumentou ao perceber que nem mesmo tinha sido aberto. Aquilo o incomodou profundamente. Por que diabos Helena estava enviando de volta algo que ele havia claramente mandado para ela?
Sua paciência chegou ao limite e ele decidiu que era hora de esclarecer essa situação de uma vez por todas. Sem perder mais tempo, Bruno saiu da loja e foi direto para a agência dos correios. Lá, Joana o atendeu mais uma vez, seu rosto se iluminando com um sorriso ao vê-lo.
Assim que ela notou o pacote em suas mãos, Joana comentou de forma descontraída: "Ah, de volta de novo? Eu tinha certeza de que havia enviado esse pacote."
Bruno bufou, contendo sua frustração. "Pois é, parece que ele é teimoso."
Joana riu suavemente e concordou. "Parece que sim. Quer que eu o envie de novo?"
Bruno apenas balançou a cabeça com impaciência. "Sim, por favor, reenvie."
Joana fez uma careta divertida enquanto pegava o pacote. Ela parecia se divertir com a situação. "Vou fazer o meu melhor para convencê-lo a chegar ao destino certo."
Bruno não pôde deixar de esboçar um pequeno sorriso, a irritação cedendo momentaneamente à leveza da conversa. "Espero que sim."
Mais seis dias se passaram, e Bruno quase havia esquecido daquele pacote. Ele estava ocupado ajustando e organizando as bicicletas na loja quando, de repente, um objeto voador não identificado - também conhecido como o pacote - foi jogado em sua direção pelo colega de trabalho Lucas.
"Hey, Bruno, mais um pacote para você", Lucas disse, rindo enquanto arremessava o pacote.
Bruno segurou o pacote no ar, seu rosto uma mistura de exasperação e resignação. Ele olhou para o objeto frustrante em suas mãos, um desejo intenso de descobrir o que estava acontecendo fervilhando dentro dele.
Com uma decisão firme, Bruno deixou as bicicletas de lado e saiu da loja, determinado a resolver de uma vez por todas esse quebra-cabeça bizarro. Ele se encontrou mais uma vez na agência dos correios, e, não surpreendentemente, Joana estava lá para recebê-lo.
Assim que ela viu o pacote, Joana riu de leve. "Essa amiga sua parece ser muito resistente."
Bruno suspirou, cansado da situação. "Você não tem ideia."
Joana pegou o pacote, parecendo um pouco intrigada agora. "Quem ela é, uma ex sua?"
"Uma amiga, apenas", Bruno respondeu com uma pitada de irritação.
Joana arqueou uma sobrancelha. "Ah, entendi. Bem, espero que dessa vez o pacote chegue ao destino certo."
Bruno assentiu, seus olhos expressando um misto de exaustão e determinação. "Eu também espero."
Joana processou o pacote novamente, seu olhar curioso seguindo Bruno enquanto ele saía da agência. Ela não conseguia evitar se perguntar qual era a história por trás daquele pacote teimoso e das expressões conflitantes no rosto do homem que o entregava.
O que estava acontecendo entre Bruno e Helena? Joana ficou intrigada, mas sabia que não podia fazer mais do que enviar pacotes e sorrir enquanto os clientes partiam em suas jornadas pessoais.
***
Os dias se desenrolaram em uma série repetitiva de eventos para Bruno. O pacote continuava a encontrar o caminho de volta para ele, como um mensageiro teimoso de algum tipo de mensagem não dita. A cada retorno à agência dos correios, Joana estava lá, um rosto conhecido que o recebia com um sorriso e, eventualmente, com uma pitada de compreensível confusão.
Era quase como um ciclo, uma dança estranha e desconfortável entre Bruno e o pacote que ele simplesmente não conseguia se livrar. A cada vez que Joana recebia o pacote de volta, ela olhava para ele com um olhar misto de simpatia e curiosidade. Ela parecia se preocupar com essa situação bizarra que estava se desenrolando diante de seus olhos.
Mas dois meses depois, algo mudou. Bruno apareceu na agência dos correios mais uma vez, o pacote em mãos como sempre. Ele se aproximou do guichê de Joana, pronto para entregar o pacote como de costume. Porém, dessa vez, Joana colocou a mão na frente dele, impedindo-o de prosseguir. Bruno a encarou, confuso e surpreso.
Joana suspirou e olhou para Bruno, seu sorriso ameno agora substituído por uma expressão séria. "Bruno, posso falar honestamente com você?"
Bruno assentiu, seu olhar se intensificando. "Claro, Joana."
Joana olhou para o pacote e depois de volta para Bruno. "No começo, achei essa situação engraçada, mas agora... Agora parece triste e humilhante."
Bruno franziu a testa, não entendendo completamente o que ela queria dizer. "Como assim?"
Joana suspirou novamente, buscando as palavras certas. "Bruno, o dinheiro que você já gastou enviando esse pacote repetidas vezes, você poderia ter comprado uma passagem e ido pessoalmente entregar."
A compreensão finalmente atingiu Bruno, como um soco no estômago. Ele olhou para o pacote em suas mãos e depois para Joana, o peso do que ela estava dizendo afundando dentro dele.
"Eu sei que você teve seus motivos para fazer isso", continuou Joana com gentileza, "mas está na hora de você entender que talvez essa seja a forma da Helena chamar sua atenção, ou então... talvez ela tenha se mudado para algum lugar novo."
Bruno olhou para o pacote, sua mente girando. Ele sabia que o que Joana estava dizendo fazia sentido. Ele havia se envolvido em um ciclo autodestrutivo, gastando tempo e dinheiro, quando a solução poderia ter sido tão simples o tempo todo.
"Esse endereço é da casa dela, talvez ela tenha se mudado", disse Bruno, a frustração em sua voz. "Mas o primeiro, eu consegui na internet, era do trabalho dela. Foi por onde recebi uma carta dela."
Joana balançou a cabeça com compreensão. "Eu se fosse você, iria até o trabalho dela e resolveria o que quer que vocês tenham para resolver. Às vezes, a ação direta é o melhor caminho."
Bruno olhou para Joana, vendo a sabedoria em suas palavras. Ela estava certa. Ele havia evitado a situação, esperando que o pacote resolvesse tudo, mas estava na hora de enfrentar os problemas de frente.
Ele agradeceu a Joana por sua honestidade e saiu da agência dos correios, sua determinação reacendida. Era hora de resolver as coisas de uma vez por todas, custasse o que custasse.