8- Larissa

1074 Words
Larissa narrando : Passei a manhã toda com a Milena no quarto, ela me contando tudo sobre o morro. Fiquei assustada, mas também encantada com as coisas que ela me falou, e muito curiosa. Ela me ajudou a guardar tudo oque tinhamos comprado , eu nunca tive tanta coisa assim . Quando deu meio-dia, Dona Sandra nos chamou para almoçar e pensa numa comida gostosa que ela faz. Tinha strogonoff, arroz, salada e batata palha. Sabe aquela comida com sabor de comida de vó? Uma delícia. Depois do almoço, com Milena insistindo muito, acabei saindo de casa com ela. Ela queria tomar um açaí numa lanchonete que tem na praça. Saímos para fora da casa dela, que é bem segura. Eu contei só os caras que ficam na frente da casa fazendo a segurança e são seis. Ela cumprimentou eles, e eles acenaram com a cabeça, quase nem olhando para ela. Acho que deve ser por causa do irmão dela, o cara é enorme. Parece um desses caras de filme, sabe , aquele fera de academia . Tem um corpão, dá até medo. Já ouvi falar que homem que tem um corpão assim , não tem nada nas partes de baixo, eu balanço a minha cabeça para espantar seus pensamentos loucos. Descemos o morro caminhando, e ela me mostrou onde ficava cada lugar. Ela me mostrou onde ficava a quadra onde tem baile, o posto de saúde, farmácia, mercado, a escola, creche. Aqui dentro parece uma cidade, tem de tudo, lojas, restaurante. Chegamos na praça e tinha umas crianças brincando nos brinquedos, outros maiores jogando bola em uma quadra de futebol que tem no meio da praça. Milena me puxou pela mão e fomos até uma lanchonete de açaí. Ela pediu uma camadinha para ela e eu pedi um açaí com Nutella e morango. Sentamos em uma mesa e ficamos esperando nosso pedido, até que uma loira bem encorpada entrou. – E aí, cunhadinha – ela diz olhando para Milena e Milena revira os olhos. – Não tô sabendo que meu irmão tá de fiel ou que assumiu p*****a . No dia que ele te assumir, aí tu me chama de cunhadinha. Não vem falar comigo, não – Milena diz e eu arregalo os olhos olhando para as duas. A menina olha para ela com um sorriso de deboche e sai rebolando. Fico tensa com a situação. Então Milena diz : – Fica tranquila, Larissa. Essa daí é só uma das piranhas que anda com meu irmão e se acha a fiel . – E oque é fiel amiga ? – Eu perguntei , curiosa . – Fiel , é como os bandidos chamam suas mulheres. Tipo, se eu casar ou for namorada de algum deles, eu vou ser fiel dele. Entendeu? É isso – ela disse, e eu entendi, mas achei bem engraçado. – Sim, eu entendi, amiga. Mas é engraçado esse nome, né? – É, até que é engraçado mesmo. Logo a moça traz pra gente o nosso pedido e começamos a comer o açaí ali. Eu fico olhando aquelas crianças brincando e imaginando como é bom ser criança, ter seus pais, poder chegar em casa e dar um abraço neles. Fico ali perdida em meus pensamentos. Milena percebeu minha distração e perguntou com um sorriso gentil: – O que tá pensando, Larissa?. Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos melancólicos. – Ah, nada demais. Só pensando como é diferente aqui, sabe? Parece outra vida. – Ela assentiu, entendendo. – É um mundo à parte, com suas regras e jeitos de ser. Mas aqui também tem muita coisa boa, não é só o que você ouve por aí. – ela diz e eu assenti, concordando. – Você tem razão. É só que... tudo é tão diferente do meu bairro. Às vezes é difícil acreditar que é na mesma cidade. –Milena riu suavemente. – Pois é, mas a vida é assim mesmo. Cada um com sua realidade. Terminamos o açaí em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos. Eu estava começando a entender um pouco mais sobre a vida no morro, mas sabia que ainda tinha muito a descobrir. Depois de terminarmos o açaí, Milena e eu caminhamos de volta para casa. O sol começava a se pôr lentamente, tingindo o céu de tons alaranjados e rosados. Era um espetáculo bonito, contrastando com a agitação e o movimento constante do morro. Muitos jovens andando armados pra cima e pra baixo e isso aqui aprecia ser muito normal . Enquanto subíamos de volta, Milena apontava para diferentes pontos, explicando um pouco mais sobre a vida ali. Ela mencionou como as pessoas eram unidas, como se ajudavam mutuamente e como, apesar dos problemas, havia uma comunidade forte e resiliente. – Você vai se acostumar com tudo isso, Lari – ela disse, olhando para mim com um sorriso tranquilizador. – Aqui é um lugar que, no começo, pode parecer complicado, mas depois você vê que tem um monte de coisa boa também. Assenti, absorvendo suas palavras. Realmente, era um ambiente novo para mim, cheio de desafios e peculiaridades, mas também de calor humano e histórias fascinantes. Ao chegarmos à casa dela, nos despedimos na porta. – Obrigada por hoje, Milena. Foi muito legal conhecer mais sobre tudo isso. – Ela sorriu. – Que bom que você gostou, Lari. Eu sei que você não está com clima, mas hoje tem baile , se você quiser ir pra conhecer , eu vou ficar feliz em ter uma companhia pro baile . Ao ouvir o convite de Milena para o baile, fiquei um pouco hesitante. Por um lado, a curiosidade era grande, afinal, ela tinha me contado tanto sobre aqueles eventos animados. Por outro lado, eu ainda me sentia um pouco fora do meu elemento ali. – Baile? Hoje? – perguntei, tentando disfarçar minha incerteza. – Sim, é toda sexta-feira aqui na quadra ali perto. É bem legal, vai ter música, dança, um monte de gente. E a gente pode ir juntas, não precisa se preocupar – ela explicou, percebendo minha hesitação. Eu sorri, tentando me convencer a aceitar. – Pode ser interessante conhecer. E como é lá? – Milena riu, animada. – É uma festa, Lari! Muita música, pessoas dançando, rindo... Você vai ver, é outra energia. Respirei fundo, decidindo que seria uma boa oportunidade de conhecer gente diferente e de me distrair um pouco . – Tudo bem, então. Vamos para o baile. Continua .....
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