LAURA
Depois do sonho pesadelo, hoje com mais ímpeto busquei fazer de tudo para me manter afastada das miradas de olho do meu chefe, todas as vezes que sentia sua presença dava um jeito de fugir; entregando um exame para uma das enfermeiras entregar ao paciente, ou deixando de participar de uma importante cirurgia marcada. Uma missão árdua já que ele fazia questão de me encontrar em cada parte desse hospital, talvez se eu usasse uma peruca escura conseguiria disfarçar bem durante o plantão. Pensamento i****a quando ao me virar à esquerda pude capturar sua colônia masculina, uma importada que eu conhecia muito bem. Desde o dia que eu o encontrei em frente ao berçário; mais lindo ainda, no seu tradicional cavanhaque alinhado, perfeito. Respirei fundo ao vê-lo passando pelo corredor junto com o médico responsável, mas ao sentir um toque inesperado no ombro dou um pulo me virando automaticamente. O grito ficou preso pois, a minha amiga fizera questão de tampar a boca que iria berrar, dedurando meu esconderijo.
- Laura, se quer chamar o gostosão do presidente comprometido para sair é só ir lá garota.
Arregalei os olhos pela sua expressão maliciosa no rosto, mas do que as suas palavras diziam. Rapidamente puxei sua mão da minha boca, fazendo pressão no seu pulso.
- Aí! Pra que tanta agressividade. - Disse-me enquanto alisa o local fazendo biquinho. - Eu já saí com homens casados, não é nada demais. As estáticas comprovam que mais da metade do sexo masculino traí a esposa.
A levei para uma salinha ali perto antes que o nosso patrão descobrisse essa nossa conversa.
- Pronto agora pode abrir o bico Laura.
- Valesca, você definitivamente não está me dando outra opção. - A olhei ondo as mãos na cintura. - É uma mulher muitíssima curiosa.
- Ora... Te notei estranha desde aquele dia da esposa do presidente ter passado m*l, e obviamente que recapitulando a cena, ela teve a queda brusca de pressão por sua causa.
- Nossa, obrigada por colocar a culpa na minha pessoa. - Cruzei os braços dando-lhe uma repreenda. - Poderia poupá-la se não existisse Laura Almeida, ou se ao menos seu marido recebesse um cargo dessa dominância nas centenas propriedades hospitalares de alto padrão espalhadas por essa grande cidade chamada Rio De Janeiro!
- Epa! - Levantou as mãos me olhando meio chateada.
Ela que começa e depois eu sou a errada?
- Olha... - Abranda a voz. - Não precisa gritar Laurinha do meu coração. Sabe que te amor flor.
Valesca buscou minhas mãos, mas não fui capaz de concede-las, estava p**a da vida, por tudo. Até pelo meu casamento com Jorge Miguel que será daqui a sete dias. Estou em estado de nervos, e isso se deu na madrugada. Aquele pesadelo parecia um pressagio do destino que eu não escolhi pra mim.
- Poderia me contar uma pouco desse peso que vejo que está carregando. Laura, sei que depois do presidente Vinícios ter chegado no Mega Center tem levado numa boa, mesmo depois daquele episódio da esposa do cara. Vocês dois pareciam amigos, mas o que aconteceu no passado? A única informação que me passou que ele foi seu médico num momento delicado da sua vida, presumo que seja um amigo da sua família, mas não me disse mais nada para preencher as lacunas do meu cérebro. Menina, você é muito misteriosa. - Dei um curto sorriso. - Tudo bem, mas convenhamos numa coisa, conheço os olhos de uma mulher quando ela se sente ameaçada pela presença da outra. Me conta amiga, quem sabe posso te ajudar. Ou no máximo ser a sua confidente. Não te desejo mau, e seja o que for que esteja passando pela sua cabecinha fofa vou entender numa boa.
Respirei fundo passando a mão no meu cabelo e desfazendo o r**o de cavalo, ponderei suas palavras com bastante atenção e por fim achei melhor explicar a ela as razões do meu temperamento ter mudado.
- Antes de começar preciso que fique entre nós, essa estória somente minha família tem conhecimento, e é claro, não podemos esquecer as três partes envolvidas.
- Quais? - Perguntou super animada.
- Doutor Vinícios, Jorge Miguel e por último a pediatra Lavinia Gandoa.
- Nossa... como soube que a mulher dele...
- Ele mesmo me contou, até como se conheceram. A moradia no Canadá, a amizade deles que ocasionou na aproximação, na união de duas pessoas solitárias num país diferente. Longe da sua cultura e etc. O matrimonio e o filho na barriga dela, que segundo ele chegou num momento perfeito, embora não tenha sido planejado pelos dois.
- Estou impressionada. - Admitiu, abrindo bem a boca e depois fechando com rapidez incentivando com os olhos a prosseguir.
- Bom... Conheci o Doutor VinÍcios no hospital do câncer... Lá fui diagnosticada com leucemia e imediatamente recebi os tratamentos necessários.
- Laurinha... - Seus olhos se encheram de lágrimas.
- Calma, hoje em dia estou perfeitamente curada. Graças a ele e pela minha adorada irmã Cibeli. Praticamente moveram o mundo para me salvar da morte.
Valesca sorriu secando as gotículas no cantinho do olho.
- Sempre falou dela com orgulho, uma admiração sem precedentes. Um dia quero ser apresentada a essa irmã.
- E vai amiga, e teria sido se tivesse ido na minha festa de aniversário de vinte e um anos. Mas sei o motivo da sua falta, precisou fazer plantão. Eu sei como é.
- Tão novinha... - Apertou minha bochecha. - Parece uma bonequinha.
Me soltou fazendo nós duas sorrir.
- Quem olha pra você hoje não diz que teve que passar por essa barra. Essa doença é devastadora. Me conte mais...
Pediu-me com carinho.
- Eu era uma jovem bem imatura, tinha dezesseis anos e este homem me amou desde o início. - Olhei para o lado relembrando toda a nossa trajetória, feito um filme sendo desenrolando diante dos meus olhos saudosos. - A antiga Laura não conhecia o amor portanto não enxergava um palmo a sua frente e por esse motivo com o acréscimo de mais outros nossos destinos foram selados de forma diferente.
A olhei nos olhos contando resumidamente tudo....
***
Quando terminei Valesca soube compreender meu lado, todavia ficou de mãos e pés atados para me ajudar. A única solução que ela me deu foi o que não queria fazer, era inadmissível parar a minha vida por causa de um passado que realmente nunca aconteceu e sim ficou na cabeça de um nobre médico. Se até ele conseguiu avançar na vida pessoal porque eu iria retroceder? Jorge Miguel não merecia isso.
Saímos da salinha de remédios, nos abraçamos, ali, nos tornamos mais amigas, quase irmãs, sabia que podia confiar na sua amizade. Assim que terminamos as despedidas, cada uma foi terminar o serviço do turno, ela foi para um lado e eu para o outro, estava distraída arrumando os pensamentos, sorrindo com algo que ela havia acabado de me dizer quando sem querer esbarrei na última pessoa que gostaria de ver nessa manhã. Ainda fez o favor de me segurar, e a distraída fez a besteira de agarrar seu colarinho.
- Doutor Vinícios!
Ele abriu um charmoso sorriso, agravando o cenário quando seu toque de homem cheiroso passou dos ombros, escorregou pela minha cintura e se alojou pretensiosamente nos meus quadris. O encaixe era perfeito e proibido, mas por que essa excitação veio fora de hora? Nunca fui surpreendida dessa forma, meu corpo nunca respondeu tão rapidamente a esses estímulos. Agora vem só pra devastar toda a convicção de uma noiva prestes ao caminho do altar?
- Adoro ouvi-la falando assim, me excita Laura. Menina dos meus olhos.