Capítulo 3

1009 Words
No dia seguinte, o navio zarpou. Letícia jamais havia visto o oceano. Ela acompanhou tudo da sacada do seu quarto. _ Ainda bem que eu vou estar acompanhando o patrão. Por que se eu sair por esse navio sozinha, me perco no primeiro corredor que eu vou virar! - Ela pensou em voz alta. Assim que terminou esse pensamento, Letícia levou a mão na boca, como se quisesse fechar ela e não a abrir mais. Ela sabia que para permanecer no emprego precisava mudar esse jeito. Quando voltou para dentro do quarto, Letícia ficou pensando no homem que a contratou. Ele também era loiro, porém seu cabelo era mais escuro que o dela mesma. Seus olhos eram escuros, parecidos com uma avelã. Ele lembrava a escultura feita em homenagem a Aquiles. Os cabelos um pouco abaixo do pescoço, ondulados. Só não era tão forte. Seu porte era mais magro. _ O que será que aconteceu a esse homem para o prender a uma cadeira de rodas? Tão novo! - Ela pensou e novamente em voz alta. Uma batida soou na sua porta. Dessa vez aguardaram que ela desse a autorização. _ Entre! Era Samuel. _ Letícia, o patrão pediu que a senhorita se vista para o acompanhar. O almoço foi adiantado. _ Estarei pronta em minutos! Samuel, acostumado a agir assim com seu chefe, nem percebeu quando apenas acenou com a cabeça para Letícia, em concordância. Apenas dez minutos depois, ela apareceu na sala principal da suíte vestida com o seu uniforme. Uma leve maquiagem para acompanhar e um coque muito bem preso. Ela enrolou seus cabelos lisos lateralmente. Prendendo eles em um coque feito um cone. Parecia um penteado. Letícia estava tão acostumada a fazer penteados práticos em seu cabelo que não demorou nada para se produzir. Seu chefe não deu uma palavra, porém ela pode notar um pequeno sorriso se formar no canto de sua boca. Mas não durou muito. Questão de segundos ele voltou ao semblante carrancudo. Ela caminhou ao lado de seu patrão durante todo o trajeto até o elevador principal. Ele lhe mostrou o botão do andar em que deveriam descer e ela apertou rapidamente. Letícia observou a ação de seu chefe e anotou em sua mente. Ele realmente não gostava de falar. Já que evitava de fazer. Quando ele s chegaram, ela esperou que ele passasse com sua cadeira elétrica para ela sair também. Rapidamente foi ao seu lado caminhando por outro corredor até chegarem a duas imensas portas de madeira trabalhadas em arabescos. Era lindo. Assim que notaram a presença de duas pessoas se aproximando, dois homens trajando uniformes, abriram as portas para que passassem. Se do lado de fora era lindo, do lado de dentro tirava o fôlego de qualquer um. Lustres enormes pendurados no teto, cuidadosamente repartidos em quadrados enormes feitos em gesso. Mesas com toalhas de seda pura estavam cuidadosamente enfileiradas. Com distâncias quase que milimetricamente bem medidas. Vasos de flores nos cantos davam frescor e leveza. Duas estátuas também enfeitavam o ambiente. Era tudo muito lindo e de um bom gosto singular. O luxo e a riqueza dos detalhes demonstravam o tipo de navio que ela trabalhava. Eles se aproximaram de uma mesa em específico. Essa mesa ficava no canto mais afastada e nela faltava uma cadeira. Provavelmente era para que seu patrão acomodasse sua cadeira, Letícia pensou. Mas, dessa vez, apenas em sua mente. Assim que se aproximaram, ela aguardou que o garçom viesse puxar sua cadeira. O que não demorou nem um segundo sequer. Letícia chegou a pensar que eles deveriam estar sendo seguidos de perto pelo garçom e ela não viu. _ A senhora Lindebauer ainda não chegou? - Seu chefe perguntou ao garçom. _ Não, senhor! E sem recados! O seu chefe apenas assentiu com a cabeça e o garçom se retirou. Provavelmente, ali, todos sabiam do temperamento do dono do navio. Enquanto eles aguardavam a mulher, apenas água lhes foi servida. Letícia observava cada detalhe do lugar, se mantendo distraída para não correr o risco de falar. Seu chefe permaneceu o tempo todo no celular. Digitando sem parar. Pela sua cara, ele não deveria estar nem um pouco contente com o atraso de meia hora da mulher. _ Fale senhorita Letícia! - Ele a chamou pegando Letícia de surpresa. _ Senhor? _ Está ficando vermelha e inchada, como um balão prestes a explodir. Tudo isso, acredito eu, pelo esforço enorme que está fazendo para segurar sua língua! _ Desculpa, senhor! Mas é que eu estou achando uma tremenda falta de respeito isso! _ Isso o que? _ O atraso dessa mulher! Oras quem ela pensa que é? Nesse momento, uma voz feminina soou atrás de Letícia. _ Sou Sofia Lindebauer! CEO de uma rede de hotéis nos melhores destinos para se fazer um cruzeiro. Prazer! Letícia se virou constrangida por sua enorme língua e já imaginando que perdeu o emprego, com certeza. _ Prazer! A cara da mulher atrás dela não era melhor que o tom de voz arrogante de quem se acha superior aos outros, que ela usou. Letícia percebeu que esse almoço seria um tanto quanto indigesto. Principalmente por ela, provavelmente, ser obrigada a comer lagosta. Mas ao contrário do que pensou, seu chefe pediu o especial da casa. Um prato tão cheiroso quanto delicioso. Feito com carne de frango, tomates e especiarias. Letícia sorriu. Ele lembrou que ela não era fã de lagosta. Apesar da cara fechada e do tipo carrancudo que ele fazia, de alguma forma, gostou dela. O almoço foi tão formal quanto qualquer tipo de almoço de negócios. A senhora Lindebauer permaneceu sem olhar para Letícia o tempo todo. Apenas quando terminou, ela se despediu um tanto quanto calorosa com o chefe e foi saindo. Até que foi parada por uma pergunta. _ Não vai se despedir da minha acompanhante? Costumava ser mais educada Sofia! - O patrão de Letícia disse essas frases com um certo prazer. A mulher se virou e apenas acenou para Letícia. Com toda certeza o almoço foi indigesto. Mas não para ela.

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