ELLA.
A porta é aberta da sacada é aberta depois de um tempo e o cheiro dele se sente no milésimo em que ele abre a porta.
- Entre. - ele diz e eu levanto o meu olhar para ele.
- Para quê? - eu o questiono e ele me encara sem paciência.
- Para o que mais seria? - ele questiona e eu reviro os olhos, enquanto ele adentra no carro e eu me levanto inspirando fundo.
Eu entro atrás dele e fecho a porta.
Ele está com uma camisa de linho da mesma cor que a minha blusa, e calças também, que até parece que combinamos, alguns botões da sua camisa no topo estão abertas, expondo minimamente o seu peitoral, com um fio de prata, conduzindo com alguns dos anéis nos seus dedos.
O seu cabelo está bagunçado de uma forma ainda arrumada.
Ele tem senso de moda, isso é inegável.
- Tem alguma coisa para me contar? - ele questiona fechando um relógio no pulso dele, enquanto eu abro a porta e passo por ele.
- O que eu teria para contar para você, se você literalmente me sequestrou e está me mantendo cativa aqui dentro. - eu falo descendo às escadas, sem olhar para ele eu sinto os seus olhos queimarem-me por trás.
- O que aconteceu aqui? - ele questiona-me novamente, porém, com um tom mais agressivo que me faz virar e olhar para ele.
- O que acha que aconteceu para ficar me questionando insistentemente? - eu questiono-o frustrada.
- Essa é a terceira muda hoje desde o hospital. - ele diz casualmente e eu olho para frente continuando a descer.
- Vai me contar o que aconteceu? - ele questiona.
- Não. - eu pontuo fula.
Quem ele acha que é para me questionar?
- Ella. - ele chama-me e eu simplesmente saio na frente dele, o ignorando, ele não pode gritar o meu nome já que estamos aqui em baixo.
- Boa noite. - eu saúdo as pessoas que estavam aqui na sala de estar.
- Boa noite! - eles saúdam, e eu levo os meus olhos diretamente para o Stefano que está olhando para mim sem filtro algum, mas agora sem raiva nenhuma, e sim de forma atiçadora.
- Podemos jantar, eu tenho que sair. - o Alexander fala atrás de mim.
- Mas já? - a Chiben questiona se levantando. - A sua esposa saiu do hospital hoje, ela não está em condições de acompanhar você. - ela diz irônica e sinceramente.
Eu tenho plena consciência que o Stefano sabe que a Chiben é doida pelo Alexander, e eu sei agora por que razão ele não liga.
Com certeza ele só se casou com ela, por pirraça, afinal de contas era suposto que o Alexander tivesse se casado primeiro.
Não me admira que ele tenha feito isso para conseguir mais aprovação.
- Ela ficará. - ele diz e eu olho para ele, que obviamente está sem paciência.
- Vai deixá-la sozinha? - a Chiben questiona sarcástica. - Que pena, Ella. - a Chiben diz vindo atrás de nós. - Lua de mel arruinada, tentativa de passeio arruinada, eu disse que o seu esposo não tem muita paciência. - ela fala e o Leonardo aproximasse ficando ao meu lado.
- Não lhe preste muita atenção, ela consegue ser inconveniente quando quer. - ele diz num tom irônico.
- Ela se preocupa mais com o Alexander do que com o próprio esposo, eu acho isso minimamente intrigante. - eu falo e vejo o rosto dela ruborizar.
- Devia saber que o meu esposo não saiu sem mim, dois dias após casarmo-nos. - ela fala como se isso fosse algum insulto. - Ela é bem mais atencioso que o Alexander. - ela diz e eu sorrio. - Eu só estou tentando ajudar você, afinal, agora somos cunhadas. - ela diz e eu assinto.
- Eu vi como o Stefano é atencioso, essa tarde mesmo, ele não saiu do meu pé, achando que eu estava sozinha por conta da ausência do irmão. - eu falo de raiva, propositalmente e no mesmo instante a tensão se instalou aqui.
O olhar dela foi para o Stefano que tentou manter-se impassível, mas eu senti os seus músculos ficarem tensos a distância.
O olhar do Alexander veio até mim, e o do Leonardo oscilava.
As senhoras estão vindo mais atrás, por isso não estão escutando merda nenhuma.
- O que quer dizer? - a Chiben questiona-me afrontosa.
- Questione ao seu esposo. - eu respondo no mesmo tom que ela usa para falar comigo, quando eu sinto a mão do Alexander, apertar o meu braço fortemente, e eu o encaro fula, mas aparentemente, por alguma razão ele está mais do que eu.
- Alexander… - no mesmo instante em que ele me puxa, o Leonardo tenta supostamente acalmar o seu irmão que me puxou dali o ignorando.
Eu nem me esforço.
Ele passa comigo para um corredor sem caminho aqui, e obviamente menos iluminado que o resto do cômodo, me jogando contra a parede, e eu sorrio, pousando as minhas mãos na parede, antes que eu bata novamente com as minhas costas.
A fúria dele está nítida no seu olhar, na sua feição, e eu não sei por que razão eu acho isso atraente.
Eu devo estar alucinando por causa do veneno.
Eu não retiro o meu olhar do dele e sorrio.
- Essa reação é algo sanguíneo entre vocês? Gostam de encurralar mulheres contra a parede quando ela não dá a atenção que os Riina querem? - eu questiono-o, e eu vejo o seu olhar escurecer.
Mordendo o seu lábio inferior, levando o seu olhar para o teto, eu observo o seu maxilar definido, e o seu pescoço, antes dele fechar os seus olhos e torcer o seu pescoço de raiva e sem esforço algum.
Ele tem outra tatuagem ao longo da lateral do pescoço, ela é pequena, mas o suficiente para me fazer de agir como uma doida e o olhar desse jeito.
Bratva.
É o nome da maior organização mafiosa russa, da qual ele também é herdeiro por parte da sua mãe.
Ao mesmo tempo que eu sinto os meus s***s eriçarem indecentemente, por motivo… nenhum, a minha barriga esfria me dando um chá de consciência.
Que merda, Ella?
A sua mão vem para o meu pescoço, e o seu polegar levanta a minha cabeça ainda mais para ele, mas ele não está tentando me asfixiar dessa vez.
Ele está nervoso de uma outra forma.
- Ele tocou em você? - ele questiona penetrando o seu olhar no meu, e ao mesmo tempo eu sinto o seu polegar acariciar pelos meus lábios, e o meu coração falha.
E instintivamente os meus olhos observam o dele, saindo sem a minha autorização do seu, arrepios obscenos tomam o meu corpo intensamente, e eu sinto-me molhar da maneira mais insalubre existente.
- Me responda, Bourne. - a forma com que a voz dele sai, acende um fogo que eu jamais senti antes e me desperta instantaneamente.
Caralho, Ella.
- Me deixe em paz, Alexander. - eu falo retirando o seu braço de mim, e afastando-me dele imediatamente. - Jante, saia, e me deixe em paz. - eu falo enlouquecida comigo mesma, saindo dali sem nem dar oportunidade para que ele me alcance.
Definitivamente agora não é altura para os meus hormônios, me recordarem que eles fim ao cabo existem.
Não agora e nem tão pouco com ele.
Com olhar de todos eles, com certeza eu estou ruborizada, e a minha respiração está pesada, eu sento-me.
- O que estavam a fazer, hein? - o Leonardo questiona sugestivo olhando para mim, enquanto observa o irmão vir até aqui.
E eu pego um copo de água.
QUE MERDA.
- Não seja indiscreto, Leonardo. - a Kassandra diz para o filho.
- Não é como se… - eu interrompo imediatamente o que ele queria dizer.
- Me desculpem, eu ainda estou tendo problemas com a minha respiração. - eu invento imediatamente, mas não é totalmente mentira.
- Quer que chamemos um médico? - a Kassandra questiona-me e eu abano a cabeça negativamente, ignorando ele que se senta do meu lado.
- Não, eu estou bem. - eu digo. - Obrigada. - eu falo e ela assente. - E o senhor Salvatore? - eu questiono.
Eu não o vi sair em momento algum e eu tenho a sensação que mais do que sei está a acontecer, e eu preciso descobrir isso o quanto antes.
- Ele não descerá para o jantar hoje. - a Clarisse responde-me e o meu olhar vai imediatamente para a Kassandra que tenta… realmente tenta fingir não se importar com a resposta dele.
- Ele está doente? - eu questiono fazendo-me de inocente e curiosa.
- Ele está a trabalhar. - a Ginevra diz e eu não consigo manter o meu olhar nessa senhora.
Ele está a trabalhar, aqui?
Humn…
- Devemos iniciar o jantar. - ela diz e os funcionários iniciam a servir.
- Para onde vai? - a Kassandra questiona ao filho.
- Sair. - waoh, que resposta explicativa, ela está obviamente habituada às respostas ríspidas do filho que simplesmente suspira o encarando.
- Você sabe que o seu pai não quer que você se exponha, ele autorizou a sua saída? - a Clarisse o questiona, e o olhar dele no dela, a deixou desconcertada.
- Quem é você? - ele questiona da maneira mais ofensiva e desdenhosa que eu já ouvi. - Cuide da sua vida. - a minha feição e nem a do Leonardo resistiu a uma careta.
Ele foi ríspido, cortante.
- Ela está apenas querendo impedir que você cause mais problemas, Alexander. - o Stefano diz em defesa da mãe e eu inspiro fundo.
Eles parecem ser tão mãe e filho…
Deve ser bom.
- Sabe o que pode acontecer e você tem uma reputação de ser inconsequente, temos mil e uma provas disso… - o Stefano diz deslizando o seu olhar para mim.
E eu tenho certeza que isso tem a ver com os Marconi.
A suposta ex-noiva dele.
- Talvez você queira se calar, se não quiser que eu seja realmente inconsequente e acabe explodindo com a sua cabeça e a da sua mãe. - ele fala num tom intimidante, e a tensão concentrada no peito do Stefano é irrefutável.
- Chega! - a Ginevra diz. - O vosso pai não está na mesa, mas eu estou e exijo respeito. - ela diz nervosa.
- Va bene nonna… - o Leonardo diz do meu lado num tom quebra-gelo. - A comida está ótima. - ele elogia e a avó assente sorrindo minimamente.
E a tensão alivia um pouco também.
Eu realmente esforcei-me em comer, o máximo que a minha garganta permitiu, mas depois, apenas água passou por ela.
Apenas a espera deles terminarem, eu jogo o meu cabelo para trás, impaciente para subir.
- Oh, tem uma concha. - o Leonardo comenta observando para detrás da minha orelha.
- É. - eu afirmo.
- Porque uma concha atrás da orelha? - a Chiben questiona em tom de desdém, e eu suspiro a observando.
- Eu não sei se sabe, Chiben, mas as conchas reverberam o som do fundo do mar, e você pode escutar esse som, colocando a concha na sua orelha. - eu falo de forma didática e ela faz careta sorrindo forçadamente.
- Então gosta do mar, cunhadinha? - o Leonardo questiona-me parecendo genuinamente curioso.
- Eu gosto. - demasiado.
- Nós moramos bem na orla, devemos dar uma volta com o yacht um dia desses. - ele comenta entusiasmado e no mesmo instante o Alexander levanta.
- Até mais tarde. - ele diz indiferente, pegando no celular.
- Alexander! - a mãe o chama, mas ele a ignora.
- Alexander! - ela chama se levantando atrás do filho e eu estou nem aí.
- Boa noite. - eu falo, me levantando.
- Boa noite. - eles respondem e eu só saio e vou até ao quarto.
- Louca, você está louca, Ella! - eu falo comigo mesma batendo na minha cabeça, enquanto eu caminho para o closet.
Argh…
Eu retiro um conjunto de pijama aqui, e me troco rapidamente para os calções e uma blusa de cetim, vou fazer a minha higiene oral e regresso para o quarto.
- Ele acha que é o meu dono. - eu balbucio retirando algumas almofadas de cima da cama, e atiro para o sofá.
Não entendo porque tantas.
Idiota, mimado do c*****o.
Uma das almofadas caiu no chão e eu fui pegar para devolver a cadeira, quando eu escuto um som contra a porta de vidro da varanda.
Eu pouso a almofada olhando para lá, tentando entender que som é esse e a minha resposta veio imediatamente com uma aceleração cardíaca quando vejo uma pedrinha bater no vidro.
Não, não, não…
Eu corro para a sacada.
- Eles não seriam loucos desse jeito. - eu falo desacreditada comigo mesma abrindo a porta, e para a minha não tão surpresa, porque eu conheço a loucura deles, eu vejo o James.
Por mais feliz que eu esteja, eu estou morrendo de dentro.
Eu olho para os lados, procurando pelos homens, e eu não sei como ele fez, mas que maluco!
- … - ele sinaliza para o pequeno espaço do lado que tem aqui do quarto, não deve ter nada, porque é estreito ao murro.
Ele tem noção que aqui dentro tem homens em todo canto me observando? Como ele espera que eu saia daqui?
Se eu não o fiz até agora, foi porque eu não pude.
- Argh, James… - eu falo frustrada sem conter o meu sorriso de felicidade ainda, e saio do quarto sem escolha nenhuma.
Por que caralhos vocês fazem essa merda?
Eu vou pelas escadas e sob o olhar dos homens aqui, eu comecei a fingir falta de respiração, levando a minha mão no peito.
Nenhum deles se aproxima de mim, mas eu sei que isso chegará aos ouvidos do Alexander, porém, ele saiu, e se eu chegar a tempo de mandar ele embora, ou sair com ele daqui, o que acho impossível, pois os planos do James nunca tem uma conclusão, eu consigo sustentar a minha mentira.
Ninguém estava na sala para a minha sorte, ninguém, exceto o Gerardo que parece uma sombra aparecendo do nada.
- Senhorita? - ele questiona, me observando preocupado e eu seguro a minha vontade de simplesmente o apagar aqui. - Algum problema? - ele questiona.
- Eu preciso de ar… - eu falo e ele assente meio preocupado.
- Eu posso chamar o médico? Devo ligar para o senhor Alexander? - ele questiona e eu abano a cabeça.
- Não é preciso, eu só preciso de ar frio. - eu falo. - E andar um bocado, por conta da picada, mas eu entrarei daqui a pouco, não precisa incomodar o Alexander. - eu digo e ele assente.
- Como preferir senhorita, mas devia agasalhar-se melhor. - ele recomenda ruborizando, tentando não descer o seu olhar em mim.
- Eu não irei demorar. - eu simplesmente falo e m*l ele assente eu saio, tentando parecer o menos suspeita possível.
- Ah… - eu suspiro sentindo o ar frio abraçar o meu corpo, e eu tento caminhar até lá como se nada fosse, apreciando o céu, inspirando fundo como se realmente estivesse meio complicado respirar, mas tentando ser rápida o suficiente para chegar até ele, antes que qualquer que seja a distração que ele criou volte ao lugar.
Olhando minuciosamente para tudo que é canto, apenas com as luzes extremas e a luz do luar eu chego até lá, com o meu coração bombardeando o meu peito.
Após certificar-me que nenhum me está vendo e passar o meu olhar pelo teto e parede para identificar alguma câmera, eu entro nesse espacinho que é bem mais escuro, está a ser iluminado pela luz do luar.
Assim que os meus olhos o acham novamente, o meu coração enche e falha, enquanto lágrimas ameaçam verter do meu olhar.
Eu não sei se é por medo do quão s*******o ele é, ou pelo facto de saber que eles se importam tanto comigo ao ponto de se arriscarem desse jeito por mim.
Ele é um louco.