Chego super irritada no camarim.
- O que foi? - Helena pergunta.
- Só me deixa em paz! - digo de forma ríspida.
- Tá na hora, meninas. - Gabriel informa.
Caminho até o palco, sendo seguida pelo Gabriel, pela Helena e pela fotógrafa. As duas conversavam animadas sobre algo que eu não prestei atenção.
Eu ainda sentia aquele friozinho na barriga pelo ocorrido no banheiro e a isso se somava meu nervosismo por subir no palco.
Respiro fundo ouvindo o rap da a******a, seguro o microfone que meu assessor me entregava e vou para o palco.
Me concentro no trabalho e me esforço para dar o melhor show da vida daquelas pessoas que me ouviam.
Vez ou outra, trocava olhares com a fotógrafa. Ela mantinha aquele sorriso provocativo. Algumas vezes chegou a morder o lábio inferior de forma sensual.
O show acaba. Caminho com a minha irmã para o camarim.
- Vão trocar de roupa? - Gabriel pergunta.
Helena assente e nós vamos para o banheiro. Ela me ajuda a tirar o vestido e eu entro na mesma cabine que havia entrado com a Sarah.
Meu corpo estava respondendo de uma forma totalmente inusitada para mim. Eu já havia recebido muitas cantadas de mulheres, algumas até já tentaram uma investida mais pesada, mas só com ela eu me sentia assim. Meu interior se contrai só de lembrar o corpo dela pressionando o meu, a força com que ela segurava meu pulso, a forma como ela apertou meu peito...
- Heloisa! - Helena chama do lado de fora - Tudo bem aí?
- Já vou. - digo colocando a roupa apressada.
Abro a porta ajeitando a blusa do moletom azul marinho.
- Por que demorou tanto? - Helena pergunta.
- Nem foi tanto tempo assim. - sorrio e passo o braço em volta dos ombros dela, a puxando para mais perto.
Caminhamos abraçadas até o camarim.
Somos recebidas pelo flash da câmera em nossa cara.
- Ficou linda! - Sarah exclama analisando a foto na câmera.
Em pouco tempo, estávamos atendendo nossos fãs e dando todo o carinho que eles merecem.
Eu tentava não reparar na fotógrafa, mas ela parecia um imã que me atraía de uma forma inexplicável. Eu nunca admitiria isso em voz alta...
Assim que terminamos o atendimento, vamos para a van para voltarmos pro hotel.
Sento no último banco, me enrolo no cobertor e desbloqueio o celular. Respondo as mensagens do Rafael, mas ele não estava online. Coloco os fones e deixo a música no volume mais alto.
A Helena estava num momento fofura com o Luiz pela vídeo chamada e eu não estava afim de ficar ouvindo.
Percebo quando alguém senta ao meu lado, mas continuo com a cabeça encostada na janela ouvindo a música de olhos fechados.
Sinto quando o fone é tirado da minha orelha. Olho para o lado e vejo o sorriso da fotógrafa.
- Vamos ver o que essa estrela ouve! - ela exclama colocando meu fone - Hmmmm, hoje é dia de Rock bebê!
- Qual é?! - olho pra ela - Olha o tanto de lugar vago nessa van! Você tem mesmo que ficar perto de mim?
- O que foi chefinha? Minha presença te deixa desconfortável? - ela morde o lábio de uma forma sensual.
- Eu te disse pra ficar longe de mim! - exclamo.
- É por causa do que aconteceu no banheiro? - ela pergunta exibindo aquele maldito sorriso.
Filha da mãe! Ela estava entrando num jogo perigoso e eu não iria cair nas provocações.
- Escuta aqui! - sussurro me aproximando dela - Se contar pra alguém o que aconteceu naquele banheiro, eu te demito! Se me tocar novamente, te denuncio por assédio!
- Aí as pessoas vão saber da sua quedinha por mulheres. - ela diz brincando com uma mexa do meu cabelo - Vai sair do armário?
- Eu não tenho quedinha nenhuma por mulheres! - digo sussurrando num tom exaltado e tiro a mão dela do meu cabelo - Eu tenho certeza da minha sexualidade, tenho um namorado lindo e, se eu tivesse a intenção de me envolver com uma mulher, com certeza não seria com você!
- Vamos ver até quando você consegue esconder o jogo. - ela desafia.
- Que jogo? - Helena pergunta de joelhos no banco da frente olhando para nós.
- Troca de lugar comigo, por favor? - peço e ela assente.
Sento no lugar da minha irmã e ela ocupa o meu. Ouço as duas cochichando e rindo. Ignoro elas o máximo que posso, mas acabo percebendo que elas falavam de mim.
- Ela não é assim o tempo todo. - ouço a Helena sussurrar - Ela nunca foi assim com ninguém, na realidade.
- Está tudo bem, Nena. - ela responde - Eu estou lidando muito bem com esse clima. Vai dar tudo certo. Vou fazer um bom trabalho e logo sua irmã se acostuma com a minha presença aqui.
- Eu consigo ouvir daqui. - digo antes de colocar os fones novamente.
Logo chegamos ao hotel.
- Preciso de um MC Donalds! - Helena exclama - Te proíbo de falar de dieta! - ela me encara antes que eu pudesse dizer alguma coisa.
- Eu vou com você. - o Gabriel se oferece.
- Eu vou dormir. - digo, me aproximo e beijo a testa dela - Se cuida e se comporta! Não exagera.
- Te amo! - Helena diz me abraçando.
Em alguns minutos, eu estava atravessando o hall de entrada do hotel sendo seguida pela fotógrafa.
Entro no elevador e aperto o número 8. Ela entra atrás e aperta o 9.
- Seu andar é o dois. - comento.
Ela dá de ombros e se encosta no espelho enorme. Me viro de frente para a porta e fico de costas pra ela.
- Você vai fingir que nada aconteceu naquele banheiro? - ela pergunta quebrando o silêncio.
Olho para o visor que indicava que estávamos no primeiro andar. Meu coração acelera, pois o trajeto seria longo.
- Você pode fingir o quanto quiser, mas eu vi você me provocando no camarim. - ela diz e, por mais que eu não estivesse olhando, sabia que ela estava com aquele sorriso no rosto - Pode dizer que não, mas eu sei que você gostou daquele beijo. As respostas do seu corpo foram muito claras.
- Está falando da bofetada que eu te dei? - me viro e encaro ela - Porque essa foi uma resposta clara que o meu corpo te deu!
- Não. - ela dá um passo na minha direção - Eu estava falando da sua pele arrepiada, da sua respiração descompassada, do seu coração acelerado e eu aposto que tinha um lugarzinho úmido bem entre as suas pernas.
- Isso é ridículo! - exclamo já desconcertada quando ela dá o segundo passo, depois mais um e mais um.
Dou um passo para trás e sinto o metal gelado contra as minhas costas. Eu estava encurralada mais um vez. Ela continua se aproximando com aquele olhar penetrante.
Assim que a mão dela toca a minha cintura, minhas pernas tremem e eu percebo o quanto eu queria que ela fosse além... Mas o apito do elevador soa e as portas se abrem no oitavo andar.
Me esquivo das mãos dela e corro pra fora do elevador. Droga! O que eu estava fazendo? Precisava ficar longe daquela mulher! Ela estava bagunçando tudo...
Entro no quarto, tranco a porta e me encosto contra ela. Fico tentando estabilizar a minha respiração, oxigenar o cérebro e raciocinar.
Meu celular toca em meu bolso de trás. O pego e vejo que era o Rafael me chamando para uma vídeo-chamada. Atendo.
- Oi, minha princesa! - Rafael exclama.
- Amo você! - digo sentindo a voz fraquejar - Eu amo você demais e preciso de você aqui, Rafael!
- Não faz assim, amor! - ele pede - Eu tenho uma reunião muito importante.
- Mais importante que eu? - digo com uma voz mais sensual - Não está com saudade de mim?
- Nada é mais importante que você! - ele exclama - Eu estou morrendo de saudade!
- É? - pergunto descendo o zíper do meu moletom.
- O que está fazendo? - ele abre aquele sorriso sacana perfeito.
- Te convencendo a voltar. - digo caminhando pelo quarto, coloco o celular sobre a mesinha, numa posição em que ele conseguisse me ver, dou dois passos para trás e tiro o casaco.
- Golpe baixo! - ele exclama rindo daquele jeitinho que me encanta.
Tiro a camiseta lentamente, depois a calça.
- Gosta assim? - pergunto de forma sexy exibindo meu corpo só de lingerie - Ou prefere que eu tire tudo?
Abro o sutiã e o tiro de vagar.
- Isso é um golpe muito baixo, sabia? - ele sorri - Eu estou muito e******o, e agora, como resolvo isso?
- É o que acontece quando você passa muito tempo longe da sua namorada. - sorrio vitoriosa - Volta logo! Te amo!
Desligo a chamada e vou para o banheiro, tomo um banho rápido, coloco um pijama e vou para a cama.
Recebo uma mensagem do Rafael.
"Precisei de um banho gelado e ainda não consegui reparar os estragos que você causou"
Rio e respondo:
"Quando vc voltar resolvemos isso."
Largo o celular e fecho os olhos para dormir, mas, instantaneamente, flashes de memória daquele dia começam a surgir em minha mente: a cena do camarim, o banheiro e, por fim, o elevador. O que estava acontecendo comigo? Eu amava o meu namorado! Por que aquela mulher estava mexendo tanto comigo? Eu precisava colocar um fim naquele assunto e seria agora!
Levanto da cama, saio do quarto e caminho até o elevador. Pressiono o botão do segundo andar e aguardo enquanto o elevador desce. Tento não pensar no que aconteceu ali e no que eu queria que acontecesse...
Finalmente a porta se abre. Caminho rapidamente até a porta do quarto dela e bato. Não queria dar tempo para que o arrependimento batesse...