Na manhã seguinte, estávamos embarcando para a primeira cidade, Curitiba, no Paraná. Como ela era nossa fotógrafa, precisava ir com a gente e não no ônibus com o restante da equipe.
Só a presença dela estava me deixando irritada. Ela não havia trocado nenhuma palavra comigo e mesmo assim eu queria esganar ela.
- Tudo bem? – Helena pergunta sentando perto de mim.
- Sim. – respondo seca.
- De m*l-humor, chefinha? – ela pergunta rindo.
- Não enche! – reviro os olhos.
- Eita! – Gabriel, nosso assessor, exclama e vai se sentar bem longe de mim.
Coloco meus fones e uma música internacional super alta começa a tocar em meus ouvidos. Fechos os olhos e me enrolo no cobertor. Acabo dormindo.
Quando acordo, horas depois, percebo que estou sem os fones.
O piloto informa que chegamos e podemos descer.
Me preparo para descer quando vejo a mão dela me entregando o celular e os fones de ouvido.
- Ouvir música tão alto enquanto dorme pode fazer m*l. – ela diz sorrindo.
- Cuida da sua vida! – digo pegando o aparelho e dando as costas para ela.
- Heloisa! - Helena chama minha atenção – Precisa ser tão grossa?
- Deixa ela, Helena. – Sarah diz – Ela é a chefe. Pode fazer o que quiser e falar como quiser. Eu preciso do trabalho. Não vou bater de frente com a sua irmã porque estou em desvantagem... Algumas pessoas não sabem lidar com o poder que tem nas mãos. Principalmente as pessoas mimadas.
- Não me chama de mimada! – exclamo me virando para ela.
- Desculpa. – ela diz em tom irônico e passa por mim, saindo do avião.
- Você ainda acha que é uma boa ideia me obrigar a conviver com essa mulher? - pergunto para a Helena ainda sentindo as mãos trêmulas de raiva.
- Se você se esforçasse um pouquinho não seria tão insuportável! – Helena exclama – Olha o jeito que você tratou ela! Não precisava ser grossa assim. Ela só queria ajudar.
- Eu não pedi ajuda de ninguém. – dou de ombros.
Eu sabia que estava errada, mas nem sob tortura eu admitiria isso!
- Depois você não quer que as pessoas te achem mimada. – Helena diz e caminha para fora também.
- Ah, Helena, me erra! – exclamo seguindo ela – Você disse que ficaria do meu lado e está defendendo ela.
- Você está errada. – Helena dá de ombros e continua andando.
Sigo para a van. A Sarah estava sentada no último lugar. Ela não estava com uma cara nada boa.
Minha consciência pesou? Um pouco! Mas eu nunca daria o braço a torcer pedindo desculpa. Continuo mantendo a pose e sento no banco da frente.
Chegamos no hotel e eu vou direto para o meu quarto, tiro o tênis e me jogo na cama. Aproveito as horas vagas para ligar para o Rafael.
- Oi, amor da minha vida! – ele diz abrindo aquele sorriso perfeito assim que a vídeo-chamada começa.
- Estou com saudade, meu gatinho! – faço voz dengosa – Quero seu abraço.
- Não faz essa carinha que eu atravesso esse oceano nadando pra te ver! – ele diz animado.
- Briguei com a Nena. – conto cabisbaixa.
- Por quê? – ele pergunta preocupado.
- Por causa daquela mulher insuportável! – reviro os olhos – Eu sabia que ela seria um problema na equipe!
- Me conta o que aconteceu. – Rafael pede.
Percebo que não posso contar. Ele diria que eu estava errada e me convenceria a pedir desculpa... Nunca vi uma pessoa com um coração tão nobre e puro quanto meu namorado. As vezes ele me irritava por ser tão bom e carinhoso.
- Não foi nada demais. – dou um sorriso – Sabe que eu brigo com a Helena o tempo todo por besteira e depois nem lembro que tinha brigado. Coisas de irmã gêmea.
- Eu sei que, quando você faz essa carinha, é porque você aprontou. – ele ri.
- Ah, não briga comigo! – faço biquinho – Você é meu namorado, tem que me proteger e ficar do meu lado sempre!
- Sempre, meu amor! – ele faz aquela carinha que me ganha.
- Mas vamos mudar de assunto. – digo abrindo um sorriso – Falta quanto tempo para você voltar?
- Mais uma semana, minha pequena. – ele responde.
- Tudo isso? – faço biquinho – Quero te ver!
- Eu também quero te ver. – ela exibe um sorriso triste – Você vai estar em São Paulo quando eu chegar. Vou te encontrar lá, tá bom?
Afirmo com a cabeça.
Ouço batidas na porta e vou abrir ainda segurando o celular na vídeo-chamada.
- Estamos indo almoçar. – Gabriel informa – Você vem?
- A insuportável vai? – pergunto.
- Se você está falando da fotógrafa, não. – ele ri – Ela saiu dar uma volta pela cidade antes do show.
- A Helena está muito brava comigo? – pergunto com uma careta.
- Ela só disse que não entendeu seu m*l-humor. – ele ri – Ninguém entendeu na verdade.
- É saudade de mim. – meu namorado responde.
- Convencido! – rio – Vou descer com vocês. Amor, te chamo mais tarde!
- Tá bom. – ele responde – Te amo! Se cuida e se comporta!
Desligo, coloco um chinelo e desço almoçar.
Percebo que a Helena estava estranha comigo.
- Vai ficar sem falar comigo por causa da fotógrafa? – pergunto parando de comer para olhar para ela.
- Eu não estou entendo as suas atitudes. – Helena me encara – Você não é assim! Sempre tratou todo mundo da equipe bem! Você trata bem até as pessoas que duvidaram de nós ou nos trataram m*l antes de conseguirmos o sucesso. Qual é o seu problema com ela? Não é só porque ela foi grossa com você na sessão de fotos!
- Eu não sei, Helena. – sou sincera – A presença dela me irrita. Eu não consigo suportar ela.
- Falando de mim? – a voz da Sarah vem de trás de mim me fazendo tomar um susto.
- A Heloisa estava me falando que se arrependeu de ser grossa com você no avião. – Helena diz e me dá uma piscadinha.
- Eu não disse isso. – retruco imediatamente – Não coloca palavras na minha boca!
Levanto da mesa e retorno para o meu quarto.
Deito e tento descansar, pois a semana seria corrida.
Fico ali até a hora que o Gabriel vem bater na porta informando que precisava me arrumar para o show.
Depois de arrumada, sigo para a van. A Helena já estava lá e me ignora assim que entro.
Chegamos ao local do show e eu aproveito para comer alguma coisa antes de atender os contratantes e demais pessoas.
- Eu gostei da foto assim. – Sarah diz para a Helena tocando o painel que exibia a foto que ela havia tirado para a divulgação do nosso novo DVD.
- Seu trabalho ficou maravilhoso! - Helena exclama sorrindo.
- Vocês que são lindas. - ela diz e olha para mim.
Desvio o olhar.
- Obrigada! - Helena diz alegre.
- Prontas? - Gabriel pergunta.
Deixo a maçã que estava comendo sobre a bancada e me levanto. Caminho até o lado da Helena e me foco no trabalho.
As pessoas começam a entrar e nós damos nosso melhor para que ninguém percebesse nossas briguinhas.
- Hora de brilhar! - Gabriel exclama assim que a última pessoa sai.
Caminhamos para o palco onde já ouvimos a a******a do show. Entramos e fazemos aquilo que nascemos para fazer. O bom de ser dupla da minha irmã gêmea era que, não importava o que acontecesse fora do palco, ali a nossa cumplicidade reinava.
Depois do show, vamos para o camarim.
Como a Samanta não estava conosco, o Gabriel seleciona o que iriamos vestir e nos entrega os moletons.
- Enquanto vocês se vestem, eu vou organizar as coisas lá fora e distribuir as pulseiras do camarim. - Gabriel comunica.
A Helena tira o vestido e coloca a camiseta, depois coloca a calça e a blusa por cima. Eu continuava segurando as roupas na mão. Pela primeira vez eu estava constrangida de trocar de roupa ali. Nem me atrevia a olhar se a fotógrafa estava me olhando.
- Vai demorar muito pra tirar essa roupa? – Helena me olha e ri – Vai dizer que está com vergonha?
Coloco a calça primeiro e depois tiro o vestido, mantendo as costas pro lado da Helena e da fotógrafa. Visto a camiseta rapidamente e coloco o casaco preto.
Assim que me viro, vejo a Sarah mexendo na câmera e a Helena comendo.
- Prontas? - Gabriel pergunta colocando a cabeça para dentro.
- Sim. - respondo e assumo meu lugar na frente do painel.
Logo as pessoas começam a chegar e aquele carinho todo me faz esquecer qualquer coisa.
Horas depois, estávamos caminhando para a van, para retornar ao hotel.
A Helena vai na frente, de braço dado com o Gabriel.
Percebo quando alguém se aproxima de mim e continua andando ao meu lado.
- Você tem um corpo muito bonito. – ouço a voz dela e sinto minhas pernas tremerem – Eu não pude evitar de reparar enquanto você trocava de roupa.
- Obrigada. – digo desconsertada e começo a andar mais rápido.
- Nena, preciso falar com você! – exclamo correndo até ela.
- O que foi? – ela pergunta enganchando o braço no meu.
- Dorme no meu quarto? – digo com minha carinha que comove ela – Queria conversar.
Ela sorri e afirma com a cabeça.