Chapter VII

2543 Words
Episode: Ao meu Lado - Louis, se interessou pelo livro? - Henry tentou tomar alguma atenção do rapaz que permanecia estático olhando a capa do mesmo. Louis não o respondeu, apenas abriu e folheou entre as folhas, descobrindo na contracapa uma folha anexada com manuscrito, que provavelmente era a resenha do livro que Harry escrevera. As coisas fizeram algum sentido na cabeça de Louis... Talvez o surto do garoto cacheado formasse alguma ponte entre o mundo real e o mundo literário. Talvez esse exemplar possuísse alguma razão a Styles e fosse importante pra ele. Louis queria ler aquilo. E de repente até se esqueceu do motivo por estar naquela sala, conversando com seu tio. Uma pequena chama acendeu o interior de Louis. Ele não estava pronto para voltar com a experiência hands-on daquele hospital psiquiátrico.. Mas também não estava pronto para desistir. Era uma linha tênue entre investir mais ou jogar pro alto.  - Você quer o livro? - o diretor, ou tio, perguntou à Tommo ao notar o grande interesse de seu sobrinho nele. - Posso? - Louis questionou. - Claro, isso é um clássico da literatura. Tem uma narrativa rica e se classifica perfeitamente para um suspense culto. Sem contar que a resenha feita sobre ele é muito boa. Esse paciente é especial. Louis imediatamente sorriu. Ele sabia no fundo que Harry era especial mesmo... E isso o fez querer mergulhar novamente naquele poço de mistério e de alguma forma ajudar o seu paciente. - Sim, eu gostaria de pegar emprestado. - À vontade, rapaz. Mas o que o trouxe no meu escritório? - Nada. Nem me lembro na verdade. - Louis mentiu. Ele desistiu de desistir.  - Okay, tudo bem.  - Não vou te atrapalhar mais, tio. Estou indo.  - Certo, Louis. Fique bem. - sorriu mostrando os dentes branquinhos. Henry era uma pessoa boa, elegante e amável. Ele lembrava muito de Mark, pai de Louis. Óbvio que não substituiria o vão no coração de Louis, mas de alguma forma preenchia um pouco daquela figura paterna. Tommo retornou a seu apartamento às pressas, jogando-se debaixo dos lençóis e começando a ler a folha anexada de Harry. " O Médico e o Monstro é mais do que uma simples leitura óbvia e clara. É uma chave especial que te aborda para uma avaliação entre o bem e o m*l, elevando o debate que começava, no século XX, sobre teorias psicanalíticas.  O que seria "bem"? O que seria "m*l"? Para trabalhar nessa questão, Louis Stenvenson escreve a narrativa baseada no caso, que gerava polêmicas entre a sociedade inglesa na época, do marceneiro que de dia seguia suas responsabilidades e, de noite, roubava a casa dos moradores. Este foi o começo do estudo de discursos dúbios, que mais tarde adquiriu a nomeação de transtorno bipolar. O advogado do Dr. Jekyll, Sr. Gabriel Utterson, recebe o testamento do Dr. escrito à mão e um de seus desejos finais o deixa encafifado: se algo acontecer ao Dr., todos os seus bens deveriam ser entregues ao Sr. Hyde. No entanto ninguém sabia quem era esse Sr. Hyde – e por mais que perguntasse ao círculo próximo do Dr. Jekyll, ninguém nem ao menos havia ouvido falar dele. Quando finalmente conhece Hyde, Utterson sai incomodado mas não entende o motivo. Sua impressão de Hyde não foi das melhores mas ele não sabe explicar porque. Hyde é uma pessoa que incomoda e deixa uma má impressão. Um ano depois algo terrível acontece: Hyde mata um idoso na rua de madrugada a sangue frio. Uma jovem sentada à janela vê tudo e o entrega à polícia que imediatamente começa a procurá-lo com a ajuda do Sr. Utterson, mas Hyde não pode ser encontrado em lugar nenhum. Essa época também traz um Dr. Jekyll mais presente na vida dos amigos após um longo período afastado. Ele os convida para jantar, participa de eventos para caridade e parece que tudo está voltando ao normal. Até ele sumir novamente. Poole – empregado do Dr. Jekyll – aparece em desespero na casa do Sr. Utterson e pede sua ajuda. Ele acredita que seu patrão foi assassinado por Hyde que agora se esconde na casa. Os dois correm para lá e encontram Hyde morto. A temática é pesada, claro, mas o autor aborda um tema essencialmente humano: o bem e o m*l em cada um de nós. Afinal, apesar de Dr. Jekyll e Hyde serem dois lados da mesma moeda, um não criou o outro. Eles dividiam o espaço com o desequilíbrio comum em todos. Ninguém é completamente bom. Ninguém é completamente m*l. Mas as pessoas insistem em dar ênfase nos defeitos do que em qualidades. Valorizam os grandes acontecimentos, mas esquecem dos pequenos detalhes. Julgam o lobo um assassino c***l por matar cervos à sangue frio, mas deixam de lado que ele o faz para sobreviver. Se há o mínimo de luz dentro de um coração escuro, é porque a esperança não foi completamente embora. Mesmo que o coração já não bombeie ou jamais se descongele, ele ainda existe". ... Foda-se. Louis pensou depois de um tempo. Foda-se se ele não se sentia confortável ou seguro naquele hospital. f**a-se se psiquiatria estava o assustando... Isso já não era tão sobre ele. E sim sobre Harry. Ele se comprometeu a ajudá-lo. Ele comprometeu a ajudar sua mãe. Ele se comprometeu a estudar aquilo que tanto admirava por seu pai. E era tudo sobre isso. Sua vida. Seus pais o criaram para vencer em guerras, e não recuar delas. Ele podia ser forte. Sim. E foi com essa mentalidade que Louis suspirou e trocou de roupas, colocando agora um conjunto mais apresentável. Sim. Ele iria para o hospital ainda que o expediente dos estudantes se acabasse em menos de uma hora, ele necessitava ir lá e se resolver. Louis se lembrou do dia em que deu a Harry um saquinho de M&M's e isso foi simplesmente o motivo de um projeto maravilhoso de sorriso com algumas covinhas levemente aparecendo.  Era uma coisa tão pequena que significou bastante ao cacheado. Quiça Styles estivesse pregando seu próprio dilema de valorizar as pequenas coisas. Então Louis resolveu que devolveria "O Médico e o Monstro" para Styles. Quem sabe tivesse um valor imensurável a ele? Afinal, a resenha feita sobre a narrativa estava muito bem descriminada e sentimental. Tommo não se importou que estava sendo egoísta ao decidir que ficaria com a resenha manuscrita de Harry. Apesar de não ter tanto direito assim sobre os pertences do pobre menino, ele queria demais aquela página preenchida com a letra do maior. Letras cursivas, finas e delicadas. Louis a aguardaria com carinho na gaveta de sua escrivaninha para no dia que estivesse formado pudesse pega-la e lembrar de seu primeiro paciente. No entanto, catou uma embalagem de presente e colocou com cuidado o livro ali- sem mais a resenha, fechando-o e enfiando em sua mochila. Apressou-se afora de casa rumo ao hospital.  Em todo o campus ficava disponível aos alunos uma rede de ônibus públicos gratuitos, o que facilitava em mil vezes a vida dos que não eram ricos o suficiente para comprar carros, ou seja, só Louis mesmo. O transporte estava atrasado e ele aproveitou a chance para ir na lojinha da Universidade comprar um saco de M&M's de chocolate, outro de pasta de amendoim, e outro de amendoim... Assim Harry escolheria o que mais gostasse. Obviamente teria que entregar tudo sem Zayn ou câmeras o flagrarem. Enfiou as compras nos bolsos e ao que pagava no caixa cruzou seus olhos com um expositor de tiaras e bandanas. Louis pensou um pouco se o cabelo tão comprido de Harry não o atrapalhava e caía em seus olhos. Escolheu duas bandanas, uma que era colorida com a bandeira dos Estados Unidos, e outra uma verde acizentada sem graça que ele nem entendeu depois o porquê de te-la comprado, era tão vazia e simples. Achou melhor guarda-la no bolso e nem mostra-la a Harry para evitar decepção do cacheado. ... - Louis, não. - Como assim não, Zayn? - o de olhos azuis estava boquiaberto e indignado. - Louis, não dá. Ontem você veio falar que ia sair do programa hands-on da Pitt. Eu já informei a administração do projeto e eles tiraram seu nome e já colocaram um outro cara no lugar. - O quê?! Quem?  - Não sei. Um tal de Derek. A questão é: isso não está mais sob meu alcance. Eu não posso te recolocar como meu aprendiz. Talvez se você conversar com alguém eles te deem algum outro paciente. Louis estava desolado. - Sinto muito, Louis. - Tudo bem. Eu que fiz a merda mesmo. Posso ao menos vê-lo? - Ver quem? - Harry. Zayn suavizou a expressão e transpareceu um sorriso sincero. - Pode sim. Vá, ele está lá no quarto. O horário para visitação normal de familiares e pessoas que não trabalham aqui na verdade já se expirou, mas irei te abrir uma exceção, então seja rápido, por favor. - Não tem problema, eu irei me despedir e pedir desculpas, e assim que terminar voltarei depressa. - Certo. Vá lá, Tomlinson. Boa sorte. - Zayn entregou-o a chave. - Obrigado. - Louis respirou fundo e começou a cruzar o corredor, avançando para perto do dormitório de Harry. Suas mãos tremiam e ele já não sabia se conseguiria lidar. Estava devastado por não exercer mais o cargo de auxiliar de Harry, mas simultaneamente se aliviara porque achava que o cacheado era um caso muito avançado para sua consciência suportar. Com a chave de Zayn engatada no trinco, Louis virou a fechadura e prendeu os batimentos cardíacos, adentrando no ambiente frio e escuro. Por ser final da tarde o quarto estava turvo e o estudante não queria incomodar Harry acendendo as luzes. Pela penumbra avistou um corpo sentado na cama, olhos bem radiantes e verdes o observando arregalados. - Harry? Dane-se. Louis tinha que acender as luzes. Tinha que enxergar porque estava apavorado. Não era medo de Harry, e sim de si próprio. Conforme seus dedos procuravam pelo interruptor, escutou uma voz sussurrar. - Não! Não acenda... Por favor. Tomlinson mordeu os lábios tentando conter a tremedeira. Se aproximou do corpo encolhido no colchão. - Oi, Harry. - disse com a voz cedendo. Nenhuma resposta. Os olhos de Tommo se acostumaram com a visão escurecida e então ele já conseguia ver melhor, ver os traços de seu ex-paciente e a expressão de surpresa em seu rosto. - Er... Tudo bem, Styles?  Nada. Após um silêncio constrangedor, Louis optou por puxar uma cadeira para perto da cama e se sentar. Seu movimento acabou assustando Harry, que recuou e se afastou mais da ponta da cama, retraindo-se contra a parede. - Eu não vou te machucar, Harry. Não precisa ter medo de mim.. Eu não quis lhe causar problemas.. Aquele dia. - Louis soltou tudo em um sussurro triste, olhando para baixo enquanto brincava com os dedos.- Eu nunca te machucaria. O olhar penetrante de Styles sobre si era vazio e indecifrável, mas o corpo do maior se relaxou gradualmente e ele voltou a se ajeitar no colchão. Talvez Harry nem se recordasse daquela manhã traumatizante. Talvez ele esquecera tudo. - Eu sei que não.  Ou ele se lembrava mesmo. Louis levantou o rosto e tomou coragem para encara-lo. A face de Harry era tão calma, pacífica e serena que não denunciaria a mente perturbada por trás de sua máscara. - Mas você foi embora. - Styles completou com o tom monótono. - Eu não achei que iria embora, pra falar a verdade.  E Wow. Louis havia conseguido puxar um diálogo com Harry. Ele nem próprio acreditava nisso. Ouvir a voz de Harry era quase como um milagre. Mas mais uma vez Louis se lembrou de que não deveria ligar para isso, ele tinha que tratar Harry como alguém normal. Porque ele achava Harry um garoto completamente normal, em exceção à alguns pequenos detalhes. E de uma maneira esses detalhes não o estragavam, pelo contrário, o tornavam único, especial e misterioso.  E Louis começou a desenvolver uma curiosidade boa sobre ele.  Seu medo e terror se esvaiu. Ele proibiu o cérebro de pre-descrimina-lo.  - Eu sei. Sinto muito. - ofereceu um sorriso triste ao maior. Ele estava sendo cuidadoso com a escolha de palavras, que pra ser sincero nunca foi seu forte, no entanto agora era essencial.- Fiquei doente esses dias, tive que faltar. - mentiu. Não admitiria que na verdade sofreu de um trauma pesado e se ausentou por covardia. Mas os olhos de Harry eram penetrantes, como se o estudassem e encontrassem os fatos ocultos em seu semblante alegre. Os verdes vivos, apesar de vazios e até vulneráveis, tinham inteligência ou demonstravam saber de mais. - Não. Você não voltou por minha causa. - disse firmemente, sem adicionar emoções e muito menos algum vestígio de raiva. Talvez uma pitada de mágoa, mas isso deveria ser coisa da mente de Louis. Era óbvio que Harry não ficaria triste ou ofendido porque Louis não compareceu, afinal, ele odiava o garoto, não? Louis prensou os lábios numa linha reta e desviou o contato visual que mantinha com o cacheado, descendo suas orbes azuis para os braços do ex-paciente. Seu cenho foi automaticamente franzido ao que Louis notou pequenas protuberâncias e cores destoadas na pele clarinha dele. Marcas. Não hesitou ao se levantar e se dirigir ao interruptor, acendendo, à contra gosto de Harry, as luzes do quarto. O ambiente se iluminou apenas para Tomlinson concluir o que já imaginava. Harry estava cheio de manchas verdes e roxas no braço. Sua boca formou um perfeito "O" enquanto Harry olhava reto, acostumando-se com a claridade. - Ei! Quem o fez isso? - Louis questionou, reaproximando-se do colchão e voltando a sentar na cadeira. Styles mordeu o beiço inferior e respirou fundo. - Tive.. Uma crise de episódios essa semana. - Harry confessou com a voz exausta. - Você sabe. Mas piores do que aqueles. Louis se sentiu afundar em plena tristeza ao presenciar o desânimo e cansaço do garoto à sua frente.  - Por quê? - indagou-o. Harry deu de ombros e Louis levou aquilo como o jeito do garoto dar fim no assunto por não estar confortável. E Louis, como um estudante do psicológico humano, sabia que não deveria insistir, afinal, Harry se abrira bastante com ele por hoje. - Trouxe presentes pra você, Harry! - disse animado, a fim de quebrar a tensão. Harry o olhou confuso e curioso. Mas permaneceu calado. Louis pegou o embrulho e estendeu-o à Harry, que pegou de suas pequenas mãos um tanto hesitante. Então o menor enfiou as mãos nos bolsos da calça e puxou dali os vários sacos de M&Ms que comprou, tirando por fim a bandana com a bandeira dos Estados Unidos, e preferindo deixar a bandana de cor sem graça escondida. - Eu provavelmente sou o pior doutor que existe, te dando chocolate ilegalmente. Harry estava com olhos um tanto brilhantes observando todas aquelas coisas em seu redor e para Louis isso foi mais do que gratificante. Seus longos dedos rumaram constrangidos ao embrulho brilhante e de lá retiraram o livro. Harry ficou estático. Dedilhou suavemente a capa. - Onde você cons- - Peguei com o diretor. - Louis respondeu-o prontamente.
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