Celina estava apreensiva, avisou na noite anterior para Luis que a mãe tinha marcado o encontro com o noivo pra dali a três dias. Ele tinha esse tempo pra resolver. Agora a mãe estava acordando ela mais cedo do que o previsto porque ele estava lá.
Celina desceu sem nem escovar os dentes e pensou o que aquele maluco estaria fazendo lá as 5:30 da manhã.
- Bom dia, Lin. Desculpe o horário. É que uma amiga da minha mãe implorou pra ela arrumar uma pessoa de confiança pra fazer uma faxina pra ela hoje e eu indiquei você. Só que é lá em Santos e ela vai pagar duas diárias, então tem que ir cedo. Ela mandou eu dar o dinheiro da passagem e quando voce voltar, ela manda de volta. Mas eu não quero você viajando sozinha por aí e vou te levar.
- Está louco, Luís? Eu não sou faxineira não. Cuido da casa da minha mãe, porque é onde eu moro. E outra coisa, te falei que vou casar com um homem importante. Não tem esse negócio de fazer faxina não. Lógico que essas madames querem pra ontem, festas de fim de ano passaram e elas querem a casa delas limpinhas. Eu não vou não.
- Oshe, ficou doida? Vai sim, pelo menos você ganha pra comprar uma roupa pro encontro! - a mãe se meteu na mesma hora.
Celina manteve a cara feia e sorriu por dentro. A mãe caiu na armadilha direitinho. Se ela ficasse empolgada pra sair, Nancy não permitiria. Era só dizer que não queria pra mãe contraria-la imediatamente.
Enquanto fazia suas higienes e arrumava uma mochila, ficou pensando pra que Luis planejou dois dias fora, se isso se resolvia em poucos minutos?
Quando entrou no carro, ele disse que ela poderia terminar as horas dela de sono, que foi cedo daquele jeito pra enganar dona Nancy. Ela agradeceu por aquilo e dormiu a viagem toda, detestava ficar muito tempo no carro porque enjoava.
Quando ele a acordou, estavam entrando no estacionamento de um hotel chamado Casa Grande Hotel Resort SPA, a beira da praia. Celina ficou encantada só com a entrada do hotel e achou a praia tão linda, tão limpa, tão diferente das excursões que foi pra Santos com a mãe, que até comentou com ele
- Santos é diferente no meio da semana sem os farofeiros de domingo.
- Porque não estamos em Santos, estamos no Guarujá. Você não achou mesmo que eu ia te tirar de casa pra levar pra Santos né?
Celina nem respondeu. Chegou a hora de fazer o check in e ela sabia que teria problemas, por ser menor de idade, mas ele entregou sua habilitação e um cartão Black e a recepcionista nem quis saber mais nada.
- Qual seu primeiro nome, senhora Vasconcelos?
- Celina, eu não...
- Costuma acordar tão cedo. Você pode providenciar um belo café da manhã pra nós e depois um horário para o SPA pra ela antes do almoço, por favor?
- Claro senhor, quais os serviços?
- Todos que ela tiver direito, depilação, massagem, pepino nos olhos, todas as frescuras que ela quiser. Só não manicure, pedicure nem mexer no cabelo dela, está bem?
A recepcionista achou estranho, mas cliente quem manda. Deu um sorriso, devolveu os documentos dele junto com as chaves. Entraram no elevador e Celina percebeu que ele apertou o botão da cobertura.
- Eu não sou a senhora Vasconcelos, Luís.
- Eu sei que não, mas é menor de idade e eu acabava preso e ela chamando sua mãe se abrisse a boca.
- E porque você falou pra ela que eu não quero cuidados básicos com as unhas e o cabelo?
- Você costuma ser mais inteligente, Celina. Você foi pra Santos pra fazer faxina. Pensa que bonito chegar com as unhas feitas?
- Tem razão. Posso fazer mais uma pergunta?
- Só mais uma? Fala pelos cotovelos...
- Porque me trouxe pra um lugar tão longe, caro e chique se podemos resolver tudo rapidinho?
- Porque eu não trouxe você aqui pra pagar a dívida. Trouxe você aqui pra descansar, te livrar da sua mãe, te mimar.
- Tá bom. Vou aproveitar.
Os dois riram, entraram no quarto, Celina ficou encantada. Foi tomar um banho e ficou apaixonada. Tinha banheira de hidromassagem, nunca tinha visto uma na vida, tinha uma elegância, um cuidado, um capricho no quarto todo que parecia coisa de filme.
Ele gritou de fora da porta do banheiro pra ela tomar ducha porque o café já ia chegar e deixar a hidro pra noite. O coração de Celina voltou a ficar contrito em pensar na hora de pagar a dívida.
Mas ao contrário, ele foi o tempo todo muito carinhoso e atencioso. Brincaram, riram, conversaram, tomaram um café da Xuxa, com frutas, suco natural, croissant. Depois ele a acompanhou no SPA e ela ficou ainda mais impressionada. Como aquilo era bom. Ia perguntar pra ele quanto era uma diária naquilo. Depois que fizesse 18 anos, ia querer passar outro dia ali com serviço completo.
Depois do almoço, ela queria ir pra praia. Estava um dia lindo e ela queria tomar sol molhando as patinhas, mas outra vez ele a lembrou que não podia chegar em casa bronzeada e a levou pra piscina coberta do hotel.
Foi uma tarde muito agradável, ele a jogou na piscina, mais uma vez brincaram e quando Luís a chamou pra voltarem pro quarto, ela novamente sentiu frio na barriga. Mas quando entraram, ele deu a ela um vestido preto e uma sandália e falou pra ela se arrumar que ele ia lhe apresentar uma balada.
Depois de pronta, Celina se olhou e nem se reconheceu. Ele perguntou se ela queria se maquiar ou queria que alguém fizesse. Ela disse que não tinha maquiagem lá, mas só gostava de um lápis e batom básico. Então ele lhe entregou um kit de maquiagem que comprou pra.
- Escolhe o que quer fazer então. Eu espero
- Quando teve a ideia de comprar todas essas coisas pra mim?
- Já falei, quero te mimar. Eu presto atenção em você, Celina. Queria que você aceitasse ficar comigo. Quero que você veja o quanto posso cuidar de você e te respeito.
- Ah tá. Até a hora que tomar um tiro no quengo e eu virar viúva do crime, ou levar pulseira de metal junta e eu ter que baixar minhas calcinhas pra polícia ficar olhando minhas coisas e falando palavras de baixo calão. Ou a gente pode estar num passeio normal de namorados e os homens te dar uma batida e me revistar junto.
- Eu não sou ladrão de galinhas pra passar por isso, minha flor.
- Pior ainda. Bandido grande, inimigos sem fim. Você concordou que era só um negócio, Luís. Não vamos voltar nisso de novo.
- Está bem, vou terminar de me arrumar enquanto você se maquia.
Celina concordou e foi fazer uma maquiagem básica. Ficou encantada com a variedade de coisas que tinha ali, então resolveu arriscar um pouquinho de base, blush, uma sombra nos olhos e até uma máscara para os cílios. Tinha visto a mãe fazendo, sabia como usar. E sabia que teria que praticar muito isso. Se queria ser uma futura cirurgiã dentista, tinha que ter firmeza nas mãos e nada melhor pra treinar do que maquiagem.
Pensou mais uma vez no sonho que tinha e em porque estava fazendo tudo aquilo.
Quando saiu do banheiro, encontrou Luís com uma calça jeans, tênis de marca, uma camisa preta manga longa dobrada até o cotovelo e com os dois primeiros botões abertos, mostrando parte dos pêlos saindo pela camisa. Seu cabelo quase loiro arrepiado , seus lindos olhos verdes brilharam quando a viu e um perfume, meu Deus, que cheiro bom era aquele?
Ele pegou em sua mão e parece que uma eletricidade passou pelos dois. Celina não queria sentir nada daquilo. Tinham um acordo e ela tinha que finalizar. Ela tinha um plano de vida e não podia quebrar o coração da única pessoa que se importava com ela no processo. Mas, putå que pariu, ele tinha que ser tão gostoso?