Capítulo 2

2284 Words
Christopher Hale Talvez não devesse ter saído de casa hoje para trabalhar. Talvez não devesse ter saído da empresa dirigindo quando tive um dia de merda. Ou talvez simplesmente deveria ter chamado meu motorista, ao invés de deixar o prédio da empresa Hale puto com a imprensa que vive cuidando da minha vida enquanto falava ao telefone com meu advogado. - Achei que te pagava para cuidar dos meus negócios, Joshua. Não para ser minha babá! - Me exaltei com meu melhor amigo e advogado pela chamada conectada no bluetooth do carro no caminho para um jantar de negócios. - Chris, não estamos mais na faculdade, não dá pra sair com duas mulheres e achar que não vão se aproveitar para terem cinco minutos de fama com o maior empresário do país. - Censurou. - E acho que seus pais não precisam ver sua b***a estampada por todos os sites de fofoca, você deveria pensar um pouco mais neles. - Revirei os olhos ainda que não visse. Minha paciência estava por um fio com toda essa merda de exposição. Ter dinheiro é ótimo, mas viver me contendo para não ter minha vida em tempo integral na mídia era uma merda. Evitei pelo menos vinte ligações dos meus pais durante o dia, já sabendo todas as reprimendas que iria ouvir, apenas para agora estar tomando esporro do meu melhor amigo. - Só tente minimizar as coisas, tá legal? Eu... - Não terminei minha frase. Pisei até o fundo no freio, fazendo os pneus cantarem. Mesmo estando devagar por causa da chuva, o carro derrapou na pista por alguns metros. O dia de merda tinha acabado de virar um dia infernal, e se eu tivesse feito pelo menos uma das coisas que pensei que deveria fazer, talvez não tivesse acabado de atropelar algum retardado atravessando a rua correndo com o sinal fechado para pedestres. - c*****o! - Foi tudo que saiu da minha boca ao deixar o carro para socorrer quem quer que seja a pessoa i****a em quem bati. Assim que desci do carro, a chuva aumentou consideravelmente. Me aproximei rapidamente, logo abaixando ao lado da moça que já estava se sentando. Observei seu corpo atentamente em busca de ferimentos. E fora as mãos pequenas que percebi estarem esfoladas começando a sangrar, não dava para saber se tinha algo quebrado ou não. - Eu morri? - Perguntou em um tom de voz baixo. Teria rido da expressão de choque em seu rosto ao me olhar, isso se não estivesse tão puto. A chuva escorria por seus cabelos pretos e ensopava suas roupas assim como as minhas. - Não. Você não morreu moça, só me diga que é cega. - Voltei minha atenção para a garota que me encarava desde que me abaixei ao seu lado. Olhos assustados cor de esmeralda me fitaram intensamente antes de desviar encarando o outro lado da rua, precisamente para a calçada da qual presumi ter acabado de sair correndo. Segui seu olhar não encontrando ninguém ao nosso redor. Muito provavelmente a chuva havia tirado todo mundo da rua. - Não sou cega. - Disse baixinho quase num sussurro. - Estava rezando para me dizer que era. - Ela me fitou com o cenho franzido sem entender. - Já que não é cega, é apenas estúpida o bastante para correr em direção ao trânsito em movimento. - Acusei. - Sinto muito. - Ela ainda observava a rua.. - Deveria sentir mesmo. - Fiquei de pé ao seu lado. - Agora entre no carro, vou levá-la ao hospital. - Exigi me aproximando para ajudá-la a ficar de pé, vendo-a se afastar do meu toque. - Não é necessário, estou bem. - Se abaixou com um pouco de dificuldade e pegou a bolsa do chão fazendo uma careta para a ferida na mão. - Olha, é melhor você entrar na porcaria do carro antes que eu seja reconhecido e vá parar mais uma vez em sites de fofoca por atropelar alguém e sair sem dar assistência, mas principalmente - Falei irritado caminhando na sua direção - antes que eu perca o resto da p***a da minha paciência! - Esbravejei. Um semblante de pura fúria tomou conta do rosto dela. - E quem você pensa que é para mandar em mim? - Arqueeou uma sobrancelha em desafio. - Não vou entrar na porcaria do seu carro, - Falou pausadamente - E eu tô me lixando para sua paciência, então, você pode entrar na porcaria - Ela frisou bem a palavra - do seu carro e me deixar em paz! - Gritou. Ninguém pode dizer que eu não avisei. Me aproximei mais e a ergui nos meus braços levando-a em direção ao carro. Ela gritou e esperneou. Porém, não tinha como ela lutar contra meu aperto firme. A garota era tão pequena em comparação aos meus 1,91 de altura que parecia poder quebrar a qualquer minuto. Abri a porta e a coloquei no banco de couro preto do meu esportivo, ainda ouvindo seus resmungos. Entrei e tranquei as portas quando ela fez menção de sair. - Coloque o cinto. - Exigi sem olhá-la, já ligando o carro e o aquecedor. Àquela altura a adrenalina do acidente já estava baixando fazendo-a tremer, percebi. - Já disse que estou bem e não vou a nenhum hospital, muito menos com um desconhecido, então acho melhor você abrir essa porta antes que eu chame a polícia. - A esquentadinha esbravejou pegando o celular na bolsa, tentou desbloquear a tela e xingou baixinho ao ver que estava descarregado. Eu sorri em pensamento. - Só me responde uma coisa, esquentadinha - Olhei em sua direção enquanto ela me fuzilava com os olhos. - O que você acha que a polícia vai fazer quando eu disser que te atropelei porque você atravessou a rua sem olhar o sinal e que estou apenas prestando socorro ao te levar ao hospital? - Perguntei vendo seu semblante murchar. - É só olhar para suas mãos. - Encarei seus pequenos ferimentos e depois seu rosto que dizia que não havia argumentos para aquilo. - De qualquer forma, se faz você se sentir mais segura. - Peguei meu celular no console do carro e estendi para ela. - Pegue, deixe o número da polícia na discagem até chegarmos ao hospital. Ela desviou o olhar para a rua em silêncio. - Foi o que pensei... - Coloquei o carro em movimento no instante que meu celular tocou. - Hale. - Tá atrasado. - Joshua resmungou ao telefone que estava no viva voz. - Eu sei, me dê quarenta minutos e estarei aí. - Pedi desviando o olhar rapidamente para a garota ao meu lado. - Cara, quarenta minutos? Até parece que você não conhece Silas. - Silas pode se f***r se não quiser esperar. - Respondi deixando meu gênio forte me dominar enquanto sentia a pessoa no banco do carona me estudar. - Josh, quarenta minutos e prometo que estarei aí, me envolvi em um acidente e... - Você está bem? - Ele cortou minha fala, se preocupando no mesmo instante. - Se machucou? Onde você tá? To in... - Ei, tá tudo bem cara. Eu atropelei uma moça, aparentemente apenas escoriações, estou levando-a pro hospital por precaução - Despejei sabendo que seria motivo para mais um esporro. - quarenta minutos. - Afirmei antes de desligar. - Não preciso ir ao hospital, - Sua voz soou baixa. - já disse que estou bem, só quero ir pra casa... por favor. - Pediu. Eu teria negado mais uma vez, insistido que ela precisava de um médico, mas o por favor com os olhos marejados me disseram que algo estava muito errado, e não tinha nada a ver com o acidente, então estendi meu celular. - Coloque o endereço no GPS, amanhã meu advogado vai te procurar para que você assine um termo afirmando que não quis ir ao hospital, só para o caso de mais tarde não ser processado por não prestar socorro. - Informei. Ela pegou meu celular revirando os olhos. - Não precisa se preocupar, príncipe, meus arranhões não vão te processar daqui há alguns dias quando já estiverem curados. Tive que virar o rosto para não deixá-la ver o pequeno sorriso que ameaçou surgir no meu rosto, nenhuma mulher até hoje me levou da irritação ao fascínio no mesmo minuto. - Você ainda não me disse seu nome. - Tentei puxar assunto depois de um tempo, enquanto virava em uma das ruas seguindo o GPS. - Você não perguntou. - Foi sua resposta curta e grosseira. - Bom, não pareceu que você diria de qualquer forma. - Retruquei. - Você pode ser um desconhecido, mas minha mãe me deu educação, então sim, eu teria respondido. - Jura? - Ironizei, mas me contive quando ela baixou os olhos para as mãos por cima da bolsa no colo. - Então, qual o seu nome? - Quis saber. - Linda. - Respondeu sem me olhar. - Tá moça, até que você não é r**m de se olhar, mas eu perguntei seu nome, e não como gostaria que eu a chamasse. - Você pode me chamar de Linda. - Segurei tanto a risada que um músculo saltou no meu rosto. - Pelo menos você não tem problema de auto estima. - Evidenciei. - Não seu babaca, esse é o meu nome. - Afirmou irritada me fuzilando com os olhos. - Meu nome é Linda. Olhei incrédulo para ela, tudo bem que sabia que haviam mulheres com esse nome, só nunca tinha conhecido nenhuma. Vi um pequeno sorriso surgir em seu rosto ao perceber o quanto eu tinha ficado desconcertado. - Não vai me perguntar o meu? - Questionei. - Não. - Foi firme ao negar. - Provavelmente porque sabe quem sou. - Devolvi dando de ombros. Encarei seu rosto por um segundo enquanto ela me encarava de volta. - Na verdade... - Desviei a atenção da rua mais uma vez quando ela continuou - Não sei quem é... e realmente não tenho interesse em saber. - Sorriu de lado. Certo, admito que isso afetou meu ego. Tem alguma coisa de errado com essa garota. Todo mundo nessa cidade sabe quem sou. Decidi voltar a me concentrar nas ruas não querendo me importar com o fato dela ser a primeira a dizer aquilo. Passamos o restante do percurso em silêncio, ela observando a forte chuva lá fora, eu bem mais atento à direção. Só fiquei um pouco tenso quando começamos a entrar em um bairro pouco conhecido, pelo menos para mim. - Próxima direita - Virei a rua quando apontou para os prédios antigos, alguns quase caindo aos pedaços. - Aqui, meu prédio é esse de tijolos vermelhos. O predinho pequeno parecia ter pelo menos seis andares, e em vista dos outros era o que estava menos pior. - Está entregue. - Parei bem em frente ao prédio. - E nem foi preciso chamar a polícia, viu? - Zombei destrancando as portas. - Deveria te dar uma medalha? - Ela arqueou a sobrancelha e se virou para descer do carro. - Obrigada de qualquer forma. Antes que saísse segurei de leve seu pulso para verificar sua mão, os esfolados já estavam com sangue seco. Soltei seu pulso ao perceber seu desconforto por ser tocada por um desconhecido. - Vou te passar o contato do meu advogado, se precisar de alg... - Comecei a falar. - Não vou precisar. - Me cortou abrindo a porta. Foram suas últimas palavras antes de saltar do carro e correr em direção a porta do seu prédio. - Mulher teimosa do c*****o. - Xinguei tentando controlar a raiva, falhando miseravelmente. Meia hora depois estava me trocando no quarto de um dos hotéis da minha família e seguindo para o jantar no mesmo local. Jantar este para o qual estava mais do que atrasado. - Senhores. - Foi tudo que disse ao me sentar, não me desculparia por algo fora do meu controle. Pelo menos pude guiar a reunião mediante temperamento naquela noite, sem nenhum outro contratempo. - Seu humor me parece pior do que hoje cedo com tudo que aconteceu. - Josh me encarava com um sorriso nos lábios parecendo se divertir. - Pelo menos tivemos uma reunião sem muitos desacertos, apesar do Silas te tratar como um moleque. - Colocou em palavras meus pensamentos durante a discussão sobre o início do projeto. Joshua me estudou por vários segundos. - Mas esse humor não é por causa da reunião, já chegou aqui assim. - Alegou antes de questionar. - Então? - Experimente atropelar alguém. Não qualquer alguém, mas a garota mais teimosa que já conheci na vida. Ela se recusou a ir ao hospital, dá para acreditar?! E já estou te avisando que não vou ser processado por ela. - Contei a Josh todo o acontecido enquanto bebíamos no bar do hotel após a reunião. - Uau! Acho que já quero conhecer a única mulher que ao invés de pular no seu pescoço, pulou pra fora do seu carro. - Ele gargalhou, estava literalmente rindo da minha desgraça. - Não se engane meu amigo, ela queria pular no meu pescoço, só que não com a mesma intenção das outras. - Virei meu copo de whisky. - Te vejo amanhã. - Falei me levantando pronto para ir embora quando o celular de Josh tocou. Seu semblante bem humorado se desfez ao ouvir quem quer que fosse do outro lado da linha. Então seu olhar veio em minha direção. - Sim senhor, vou falar com ele. - Disse antes de desligar. - Era o seu pai Chris. Sua mãe está no hospital. Se achei que o dia já tinha sido r**m o suficiente, pelo visto poderia piorar.
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