— O que está fazendo aqui, Dante? — Perguntou ela friamente.
Ainda com o objeto na mão, virei-me para encontrar seu olhar furioso ao mesmo tempo que assustado. Dark estava um pouco diferente. Seus cabelos já eram mais longos, mas agora tinha uma maior extensão e tons claros mesclados com escuros, usava um jeans surrado, mas justo, uma blusa larga, mas o olhar era o mesmo. Ela sempre estava com raiva de alguma coisa.
— Baixe a arma, eu só quero conversar. — Pedi com delicadeza.
Apesar da fúria, eu não sabia se realmente atiraria em mim. Eu não estava à procura de briga, então não a irritaria tão fácil.
— Não, irmão Mitolli, quando um de vocês procuram alguém como eu, têm segundas intensões, sempre querem algo, e estou facilitando para você, não estou a fim de ouvi-lo, compreende-lo ou ajuda-lo. — Falou sem largar a marra ou a arma que apontava em minha direção.
A mulher estava a poucos passos da porta e o soldado do lado de fora empunhou a sua pistola em direção a ela, mas dei o comando para que a abaixasse. Dark não era um inimigo, e se minha teoria estivesse certa, baseado no que encontrei no apartamento, ela era da família e nós nunca machucamos a família. Bem, pelo menos a nova geração Mitolli não.
— Sim, eu sei que está furiosa, com razão aliás, mas tenho algo que irá interessa-la e realmente preciso da sua ajuda. — Disse colocando uma das mãos no bolso da calça e caminhando pela sala pequena do apartamento. Coloquei a pelúcia no sofá sem muito conforto e abri uma das janelas, para que pudesse ver melhor onde estávamos. Meus soldados estavam em seus postos, mas agora, eu sabia que ela não faria a idiotice de tentar fugir. — Preciso que levante o meu irmão do buraco em que o deixou.
A risada sarcástica dela não foi muito alta, mas senti o rancor, mesmo que estivesse escondido.
Na bancada que dividia a pequena cozinha e a sala, vi muito mais coisas que concluíam os meus pensamentos. Ela não estava aqui sozinha e agora eu sabia o porquê se deu tanto o trabalho para se esconder.
Não era exatamente o medo de ser pega pela polícia, mas também para que nós não a encontrássemos. Claro, ela não contava que eu tivesse muitos contatos pelo mundo. O submundo, apesar de estar recheado de gente sem moral, com uma boa quantia era o melhor lugar para encontrar informações.
— Não me conte piadas a essa hora do dia. — Falou finalmente colocando a arma em cima de um móvel. — Seu irmão me usou, desfrutou das minhas habilidades e no momento mais crucial, quando achei que poderia confiar nele, ele me tratou como um mostro que machucaria uma criança inocente.
— Sei qual foi o motivo do rompimento, eu estava lá, mas você não esperou para que ele corrigisse o erro. — Expliquei depois que vi o quanto a mulher estava magoada.
Costumava achar que todos eram como eu, que não se importava com sentimentos românticos, mas até a mulher mais perigosa que já conheci tinha seus conflitos românticos. Ela o amava, assim como ele a ela. Só eram teimosos demais para assumir isso.
— Corrigir? Por que acha que ele faria isso? — Questionou-me cerrando os olhos. Ela me encarou por um tempo e depois passou a pegar a bagunça que estava no chão. Brinquedos de criança. Eu nunca pensei que algo assim pudesse acontecer. Estava curioso para saber como era a união de um mafioso com uma assassina como Dark. O pior era que ela estava o escondendo, com esperanças de que eu não entendesse os sinais. — Não tenho interesse ou me importo com ele ou você, então vá embora.
— Ele não está bem, é bem provável que se deixe ser morto pelo lunático do nosso primo que ressurgiu das cinzas, eu não me esforçaria tanto para nada. — Falei prendendo a sua atenção. — Dark, meu irmão errou e o motivo que o levou a isso foi por puro medo de perder a filha. Ele mesmo se arrependeu no momento em que viu a filha bem. Lorenzo se martiriza por ter feito aquilo, forçando você a ir embora. Nunca vi meu irmão apaixonado por ninguém, mas...
— Não se iluda, paixão não faz parte do currículo de um criminoso. — Interrompeu com rispidez. – Nem posso culpa-lo, não é? A Dark não é alguém que mereça ser vista com olhos amorosos, ela nunca seria alguém boa ou digna de tal sentimento.
— Dark. — Eu sabia o que ela estava sentindo. Passei anos e anos sendo tratado como um lixo, sem merecer o amor de alguém e ainda não sou digno disso. Pessoas como nós eram vistos como armas ou simples ajudantes. Por isso estava compreendendo a profundidade da sua mágoa em relação ao meu irmão. — Sei que ele errou, ele sabe disso e por isso está triste, desesperado e desistindo de tudo. Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer. Meu irmão protegia a família, não media esforços para manter as coisas por baixo dos panos, era impiedoso com os inimigos, mas depois que entrou na vida dele e foi embora, tudo mudou. A cidade está um caos, todos sabem sobre o nosso envolvimento com o crime e Michael está fazendo aliados de peso para nos matar. Lorenzo tem dias de fúria, sai para caça-lo, se arrisca sem pensar nas consequências, e outras vezes, como agora, ele só vive na sua solidão, bebe o quanto puder e...
O choro da criança alertou a mulher. Ela estava assustada, não sabia se era por minha causa ou só por puro instinto. Antes de sair para ver o que era, ela me olhou com raiva, como se fosse minha culpa.
Depois de entrar em um dos quartos, o barulho sessou. Talvez fosse isso que ele precisasse. A diaba de volta o traria para a realidade, mas um filho, isso lhe daria esperanças.
A segui até onde ela foi e diferentemente do resto da casa, o quarto da criança estava bem arrumado e tudo em seu lugar. Ela o segurava nos braços, o que transformou a mulher raivosa de segundos antes em uma... pessoa totalmente diferente do que eu conhecia.
Bem, era verdade que não convivemos, em seu período na cidade, mas só de saber do que ela era capaz, me dava uma percepção das coisas. No entanto, a maternidade mudou a diaba que tanto perturbava o meu irmão.
— Não vou a lugar algum. — Falou concisa. — Lorenzo não é um homem de amores, muito menos por alguém como eu. Além do mais, o que as pessoas achariam disso? — Perguntou em relação a criança, que possivelmente tinha entre dois a três meses de nascida. O último ano foi recheado de surpresas e dor de cabeça. Nunca poderia imaginar que isso poderia acontecer. — Veja você. O que aconteceu em todos esses anos, foi tratado com amor e carinho?
— Lorenzo não é como o homem que contribuiu para a minha existência. — Falei lembrando do passado. — Acredite, assim que ver a criança, o que ele tanto queria, vai levantar e sair da merda em que se meteu. Se você não voltar comigo, ele perderá a guerra, o que significa que ele morrerá.
— Não acha que está exagerando? — Questionou levantando uma das sobrancelhas. — Lorenzo nunca morreria por uma mulher.
— Eu não sei o que é, mas acredito que saiba muito bem o que ele está sentindo. — Falei me aproximando dela. Era um menino, um garoto por quem meu irmão tanto se dedicou a ter. Mesmo amando a filha, era um garoto que assumiria a responsabilidade quando ele morresse. Mas essa criança seria vista como bastardo. Assim como eu. — Pode odiá-lo, Dark, mas dê a ele a oportunidade de concertar as coisas ou pelo menos saber que tem um filho. Se ficar, uma hora ou outra poderá ser pega e o que acontecerá com essa criança?
— Mato qualquer um que chegar perto dele. — Falou furiosa. Vi na íris dos seus olhos uma chama diferente. — Está me ameaçando?
— Não, nunca viria até aqui por isso. Protejo a minha família e essa criança faz parte dela, assim como você, que é a mãe dele.
— Não venha com sensibilidade para me fazer amolecer. — Ironizou estreitando os olhos.
— Não sou sensível, e não é mentira. Veja o trabalho que tive para encontrá-la, só por conta de um louco amor do meu irmão.
Ela encarou o menino em seus braços, que dormia tranquilo como se a mãe fosse a sua proteção divina. Meus pensamentos pela mulher eram totalmente errados. Ela o amava, dava para ver. Eu queria ter tido alguém como ela. Claro, Paola foi a melhor mãe que já tive. No entanto, a questão com a mulher que me teve nunca foi esquecida. Se até uma assassina como Dark podia proteger seu filho com unhas, facas e armas, por que a minha me jogou fora?
— Não quero que ele morra, meu filho nunca me perdoaria, mas ele deve ficar a uma distância confortável. Não vou cair no jogo dele outra vez, e saiba, Dante, se ele me humilhar mais uma vez eu mesma o mato.
Eu não sorria muito, mas ela conseguiu tirar um pouco disso de mim.
— Não posso garantir. — Confessei.