Perdidos.
Acordo com Noah praticamente em cima de mim. Sua perna está por cima das minhas e sua cabeça ainda está na minha barriga. Olho pra baixo e percebo que só estão Ruby e Lilian dormindo. Tento tirar Noah de cima de mim, o que é quase impossível, já que ele deu um nó de marinheiro com suas pernas em volta de mim. Saio com cuidado e vou até o banheiro, que para variar, está ocupado.
Bato na porta e ninguém responde, bato novamente e ouço ruídos lá dentro.
-Seja que for, será que dá pra apressar aí? -Pergunto.
-Acabei de entrar, vou usar sua escova de dentes, está bem?-Axel pergunta.
Axel no banheiro e eu parecendo uma desesperada para entrar, essas coisas só acontecem com Valentina!
-Tem escovas novas na segunda gaveta se quiser...-Digo.
Ouço o som da gaveta se abrindo e espero ele terminar de escovar os dentes.
Aqui de cima, já ouço o barulho da minha linda família no café da manhã. Minha mãe está rindo alto e ouço a voz do tio Harry e depois um gemido vindo dele.
Abro um sorriso pensando na tia Clary batendo nele.
Então a porta se abre e Axel sai com toda sua gostosura em forma de gente. Ele dá um sorriso mostrando suas covinhas assim que me vê sorrindo.
Oh meu santo Deus, esse semideus filho de Apolo de tão bonito dormiu a centímetros de mim e não pude traçar com a língua cada superfície côncava da sua barriga.
-Ahn...eu vou entrar. -Digo hipnotizada por seus olhos e acabo batendo na parede.
Boa, Valentina!
Entro no banheiro sem fazer cerimônia e fecho a porta. Se eu ficar em um ambiente fechado com esse garoto, juro que não me contento. Aquelas covinhas, aqueles olhos, aquela boca, aquele corpo e aquela carranca misteriosa.
Ele não pode ser humano, não com esse jeito confuso. Uma hora é o cara mais agradável do mundo, outra hora, sua carranca domina seu rosto. E não importa qual dos dois ele seja, sempre passa um ar de misterioso que me faz querer ir cada vez mais afundo.
Eu jogaria aquele homem na minha cama e faria coisas que nunca pensei em fazer com homem algum!
Então batidas na porta surgem e eu acordo de meus devaneios perigosos. Me apresso em escovar meus dentes e lavar meu rosto enquanto Noah quase quebra a porta.
-Já vou!-Grito com a escova na boca.
-Tem três pessoas na fila e você está aí a mais de 10 minutos! -Noah grita.
Ruby e Lilian ja devem ter acordado também. Após eu terminar, abro a porta e encontro os três parados na porta. Os cabelos da Ruby estão presos em um coque e Lilian fez um r**o e cavalo. Eu sou a única que não me importo se meu cabelo está desarrumado ou não?
Noah deixa Lilian entrar e Ruby entra atrás dela. Às vezes eu dividia o banheiro com Annah também.
Desço as escadas até a cozinha e estão todos na mesa, inclusive Axel e Leo. Eu me sento ao lado de Tom.
-Bom dia.-Digo.
Axel me olha de um jeito que meu corpo formiga. Aperto as mãos e tento me concentrar no pão de queijo que minha mãe fez.
Ela adora fazer comidas brasileiras, e isso faz minha curiosidade pelo Brasil aumentar mais.
-Bom dia filha, como foi a noite?-Ela pergunta limpando a boca de Ally.
-Legal, os garotos passaram a noite lá, pois assistimos filme de terror.-Digo.
Meu pai fica um pouco surpreso, mas minha mãe entendeu.
-Que bom, e você Axel? Está gostando daqui?-Tia Clary pergunta.
Axel dá de ombros.
-Aham, Leo e Noah são divertidos e Tina é engraçada, posso me acostumar com isso tudo.
Axel disse que sou engraçada. Meu Deus, ele acha que sou uma palhaça, também, olha as cenas que ele viu. Eu com um tampão branco no meio da testa, eu em frente a ele com uma cara de tacho na cozinha, eu batendo no Leo, eu dando de cara com a parede do banheiro. Ele deve achar que sou uma criança desajeitada e com sérios problemas mentais.
Boa, Valentina!
Minha mãe e tia Clary sorriem para ele. Ruby e Lilian entram na cozinha.
-Bom dia.-Lilian diz.
Lilian se senta ao lado de Axel e Ruby ao lado de Leo.
-O que é isso, senhora Smith?-Ruby pergunta a tia Clary apontando para os pães de queijo.
-Sem essa de senhora, me chama de Clary, e isso -Tia Clary pega um pão de queijo e oferece a Ruby -É a comida dos deuses.
Ruby ri e pega o pão de queijo. Percebo que Axel também tem um na mão. Então todos observam enquanto Ruby come.
-Isso é bom. -Ruby diz após mastigar.
Tia Clary sorri pra ela e Ruby desvia o olhar para Leo. Ele da de ombros e ela balança a cabeça. É como se eles estivessem em uma conversa silenciosa sobre algo que falaram antes. Estanho, já que eles não conversam muito.
-Bom dia família e amigos da família.-Noah diz sentando ao meu lado.
-Acordou de bom humor? Pois eu fico feliz em estraga-lo com a notícia que vocês vão fazer um orçamento do que precisa comprar para o Jardim da Lauren e pagar com o dinheiro de vocês. -Meu pai diz.
-Ótimo, precisarei do meu carro.-Noah diz.
-Não precisará não, tem um ponto de ônibus na nossa rua.
Nós seis arregalamos os olhos e protestamos.
-Mas pai...-Eu começo, mas sou interrompida por ele.
-Sem mas, Tina, foram todos criados em berços de Ouro, nunca precisaram pegar um ônibus, tenho certeza que Lauren e Gabe concordaria comigo.
Eu reviro os olhos a ele e Lilian murmura algo como eles concordariam mesmo.
Terminamos o café da manhã em silêncio e Ruby, Lilian e Axel vão pra sua casa se trocar, enquanto eu, Noah e Leo fazemos o mesmo.
Nós encontramos todos no ponto de ônibus, compramos 6 tickets e esperamos.
-Ahn...alguém sabe que ônibus pegar?-Eu pergunto.
Lilian levanta o braços.
-Chegamos aqui ontem. -Ela diz.
-Tem um mapa com os ônibus que passam aqui.-Leo diz apontando para uma placa.
Analisamos todos e por fim decidimos.
-Tem uma loja e jardinagem na Golder's Green, então pegamos a rota 13 e aqui diz que o próximo ônibus vem daqui a...-Noah verifica o relógio -Cinco minutos.
Ele parece ter ganhado o Oscar de tão triunfante.
-Meu herói. -Digo sarcasticamente e ele revira os olhos.
E como Noah disse, em exatos 5 minutos, um ônibus de dois andares aparece na rua.
-A gente dá a mão?-Lilian pergunta.
-Acho que ele vai parar.-Noah diz.
Mas o ônibus não diminui a velocidade.
-Ele não vai parar.-Axel diz.
Balançamos os braços freneticamente até o ônibus parar na nossa frente. Quem vê, pensa que somos turistas.
Entramos no ônibus e eu arrasto todo mundo para o andar de cima.
Noah se senta ao meu lado, Lilian senta com Axel e Ruby com Leo. Ficamos conversando sobre o ônibus e como faz para parar, até vermos um botão com um S de stop. O que gerou muito risos, a maioria da minha parte. Não tenho culpa de ser escandalosa.
-Como vamos saber quando chegarmos?-Lilian pergunta.
-A gente fica olhando.-Noah diz.
-Mas ninguém ta olhando.-Leo diz.
Todos olhamos pela janela e não reconheço o lugar. Olho pra Noah e ele parece não reconhecer também.
-Ahn...gente, não sei vocês, mas eu nunca andei pra ca.-Leo diz.
Eu aperto o botão.
-Acho melhor descer e ir andando.-Eu digo.
Todos concordam e assim que o ônibus para, pulamos fora. Literalmente.
Está frio (novidade! ) e a rua não é movimentada. Não há ninguém na rua.
-Perdidos? -Lilian pergunta.
-Não, aqui não é tão grande, se a gente for reto, acho que chegamos a algum lugar.-Noah diz.
-Com certeza chegaremos a algum lugar, gênio, só resta saber se é conhecido ou não.-Digo.
Seguimos andando. Minhas botas estão pesadas e minhas roupas não estão apropriadas para o frio, mas a culpa não é minha se meu pai me mandou ir de ônibus, sei que está frio, mas pensei que ônibus tivesse aquecedor.
-Então...vocês tem mais de 16 anos, quais os planos pra vida?-Lilian pergunta
Meu irmão não vai perder a chance de se mostrar.
-Eu passei pra Stanford, vou fazer administração la.-Noah diz.
Lilian fica surpresa.
-Uau! Tipo...Califórnia? É bem longe daqui.-Ela fala um pouco desanimada-E você Tina, Stanford também?
Faço careta.
-Na verdade, não quero fazer faculdade...pelo menos não agora, eu queria...-Percebo que Lilian faz cara de surpresa e olha pro irmão e a prima.-Deixa pra lá.
Meus olhos encontram com os de Axel. Prendo meu olhar ao dele e depois desvio para Leo.
-Eu também não sei o que fazer, tenho um ano pra decidir ainda.-Leo diz.
-E vocês?-Noah pergunta.
-Eu quero fazer administração também, quero abrir um hotel só meu, é meio que meu sonho.-Lilian diz.
Chuto uma pedra que está no meu caminho.
-E eu gosto de pintar. Quer dizer...eu gostaria de entrar pra UAL ou a RCA, esse é um dos motivos de eu ter aceitado vir pra ca- Ruby diz.
-Minha mãe é professora de música clássica na RCA, aposto que ela te ajudaria a entrar.-Leo diz.
Ruby sorri para ele. Esses dois se gostam, e isso vai ser divertido. Ruby tem a personalidade forte e Leo não tem personalidade.
-E Axel...ele não é muito fã de faculdade, não sei nem como ele terminou o ensino médio, mas...-Lilian é interrompida por Axel.
-Mas o que eu quero fazer ou não, não é da conta de ninguém.
-Qual é Axel, ja te vi tocar, você entraria pra qualquer faculdade de música que tentasse.-Ruby diz.
Percebo que Axel está impaciente.
-Vocês não entendem, não é preciso de uma faculdade pra tocar, apenas....-Axel começa.
-Amor. Eu sei, a gente já ouviu a conversa antes, mas com esse seu amor, a única coisa que você faz é ficar tocando e cantando no porão por horas, você tem um sonho, sou a favor de seguir os sonhos, mas você não faz nada pra realiza-lo.-Lilian diz.
-O que você entende disso? Sabe que nosso pai não apoia minha decisão, o que é um pouco arrogante, mamãe era cantora, começou com uma gravadora e aí foi subindo, ele se casou com ela mesmo assim.-Axel fala.
É meio desconfortável ficar nessa briga.
-Chega Axel, depois a gente conversa, só lembra que você já tem dezoito e o tempo ta passando.
Axel está com a carranca novamente, sai do lado de Lilian e vem para o meu lado. Noah vai até Lilian e eles conversam sobre a faculdade e Leo e Ruby caminham atrás da gente. Espero que Noah esteja certo sobre a rua, mas pelo visto, não.
Andamos uma quadra e nada.
-Admite que estamos perdidos. -Digo a Noah.
Ele revira os olhos.
-Não estamos, eu acho que lembro daqui...ei Noah, lembra quando eramos crianças e fomos visitar a vovó e tivemos que deixar o primo dos nossos pais em casa, porque ele estava sem o carro dele?-Leo pergunta a Noah.
Eu simplesmente não lembro disso, mas Noah parece se lembrar.
-Acho que sim, qual era o nome dele? Mickey? d**k? -Noah pergunta.
Eu, Axel, Ruby e Lilian os observarmos atentamente.
-Acho que era Nic. Aquele que tem a irmã gêmea, eu tô reconhecendo a rua, ele mora por aqui.-Leo diz.
Nic...Nic...Nic...não, nada.
Pera. Irmã gêmea? Acho que é a Emilly, eu sempre reclamava do Noah pra ela pois ela me entendia. Nic deve ser seu irmão, eu não tenho lembranças dele, mas soube que Emilly se mudou para Boston.
-Acho que sim, era um apartamento branco, será que ele ainda mora aqui? Faz 7 anos.-Noah pergunta.
-Morando ou não, é a nossa melhor chance.-Digo.
-Acho que o apartamento é aquele. -Leo aponta.
Vamos até la e batemos na porta. Um homem que aparenta ter menos de 30 anos abre a porta. Tem a barba por fazer e os olhos da Familia. Juro que se a fosse uns 3 anos mais velha, ja estaria nos braços desse homem.
-Ahn...Nic? -Leo pergunta.
-Eu mesmo, e quem são vocês...espera, eu reconheço os olhos e esse cabelo ruivo, são os filhos do Henry e do Harry não é? -Nic pergunta olhando para mim, Noah e Leo.