Faz dois meses que Isaac foi embora e em todos esses dias eu sinto desesperadamente a sua falta.
A única coisa que recebi dele foi uma mensagem, mensagem essa que eu leio todos os dias para me lembrar dele.
"Liz, peço desculpas por ter ido embora sem avisar, mas se eu tivesse ido me despedir de você, ambos sabemos que eu não teria coragem para ir. Não pense que é fácil ou que está sendo fácil para mim ficar longe de vocês, mas sabemos que neste momento é necessário.
O carinho, o respeito, a amizade e o companheirismo sempre vai prevalecer na nossa relação. Se por algum momento eu confundi as coisas, não sinta qualquer resquício de culpa, o erro foi apenas meu, acabei levando nossa amizade para um outro nível.
Sobre nossa noite? Quero que saiba que foi incrível, aliás, tudo com você sempre foi e sempre continuará sendo incrível. Você é incrível Liz!
Estarei sempre aqui, mesmo de longe, sempre aqui.
Me desculpa ter ido para longe, mas eu precisava. Preciso organizar meus pensamentos/sentimentos.
Invista em você, nos seus sonhos, você é capaz de qualquer coisa que desejar e batalhar para isso.
Um grande beijo e um grande abraço, eu te amo minha preciosa!"
Foi essa mensagem que recebi e em prantos eu leio e releio ela o tempo todo, toda hora.
A pergunta que não quer calar, porque eu estou sentindo tanto? Eu sei que somos amigos e tudo mais, mas eu estou sentindo muito e quando eu digo muito, estou dizendo muito muito mesmo.
Sonho com nossa noite todos os dias, sinto seus toques por meu corpo, seus beijos e sinto tanta falta disso.
Hoje é meu primeiro dia de curso e eu queria que ele estivesse aqui, queria chegar do curso e correr para seus braços para contar tudo que aconteceu, para partilhar toda a felicidade juntos.
A caminho do curso eu penso em mandar uma mensagem, mas se ele quisesse falar comigo teria me procurado, não?
Não vou ficar pensando nisso, se eu quero, vou mandar mensagem, não tem porque a gente ficar sem se falar tanto tempo.
"Oi, tudo bem?!"
Eu queria mandar mais coisas, mas estou um pouco envergonhada.
Durante todo o curso eu m*l consegui prestar atenção, toda hora olhava o celular para ver se tinha alguma resposta e nada, não tinha nada. Confesso que estou arrependida de ter enviado essa mensagem.
No fim da aula o professor me chamou atenção, disse que eu estava dispersa e eu claro, logo me desculpei, disse que não iria acontecer novamente.
"Oi Liz, tudo bem sim e você? Desculpe a demora, estava em uma reunião"
A resposta dele chega depois de longas horas, penso em demorar para respondê-lo também, mas não me aguento de ansiedade.
"Estou bem também. Muito trabalho por aí? Hoje foi meu primeiro dia no curso rs"
A resposta dele chegou em menos de dois minutos.
"Muito, mas está tudo fluindo melhor do que eu imaginava.
Que legal, gostou do primeiro dia?"
Bom, pelo menos ao que me parece ele quer falar comigo, caso contrário já teria cortado conversa.
Me sento na lanchonete e peço algo para comer enquanto respondo.
"Gostei sim, o curso tem um período pequeno, tenho poucos dias para aprender, preciso ficar bem atenta rs"
Eu não sei como puxar conversa com ele, parece até que estou conversando com um estranho e não com um amigo de tantos anos.
"Tenho certeza que você se sairá muito bem e daqui uns anos eu voltarei para comer no seu renomado restaurante"
"Daqui uns anos??"
Nem penso muito em responder, como assim daqui uns anos? Pensei que ele ficaria lá só por alguns meses.
"Vai abrir seu restaurante logo? Pensei que fosse finalizar esse curso e tantos outros que deseja"
"Vou finalizar sim, mas eu estava me referindo a sua volta, ela será daqui uns anos?"
A moça volta trazendo meu sanduíche e meu suco, dou uma mordida e logo o celular apita.
"Eu ainda não sei quando volto, estou tomando conta da empresa aqui para meu pai e também transferi minha faculdade para cá, acredito que devo terminar o curso aqui, mas assim que você inaugurar seu restaurante, eu estarei aí, sem dúvidas"
Não sei porque, mas sinto que ele está diferente, eu sinto isso, meu coração diz isso.
"Então nas férias terei que te fazer uma visita"
"Será muito bem-vinda!"
Bingo, ele está diferente! Sequer faz menção sobre o que aconteceu entre nós dois, e aquela história de ficar longe? Já passou? Tão rápido? Tem alguma coisa estranha, eu tenho certeza!
"Vou ver quando consigo uma folga e vou te ver, saudades!"
"Vem mesmo, você vai gostar daqui"
Nada de responder se está com saudades de mim? Humm.
"Você está gostando muito daí, né?"
Pelo visto até demais.
"Estou sim, é sempre bom sair da nossa "zona de conforto". Aí eu trabalhava, mas tinha meu pai para recorrer, aqui sou somente eu, criei responsabilidades, acredito que estava precisando delas."
"Sempre te achei responsável"
"Você é incrível Liz rs. Agora vou entrar em outra reunião, podemos nos falar depois? Beijos"
"Beijos"
Acho que estou bem mais triste agora depois de ter conversado com ele.
Termino de comer e decido passar no serviço do meu pai, talvez ele saiba alguma coisa sobre o Isaac.
— Filha, que surpresa boa — Meu pai se levanta para me abraçar assim que entro em sua sala.
— Sua secretária disse que você não estava ocupado — Justifico.
— Para você eu nunca estou, sente-se — Faço o que ele pede — O que te trouxe aqui?
— Saudades do pai mais gato desse universo — Brinco.
— Eu sei que sou, mas agora quero a verdade, o que a trouxe aqui?
— Pai, hoje eu conversei com o Isaac e eu senti que ele estava estranho.
Comento, não tem como esconder as coisas do meu pai, ele me conhece tão bem.
— Estranho filha? Me explica melhor.
— Não sei pai, só sei que ele está estranho.
— Olha filha, não estou sabendo de nada, aliás, o que eu sei é que ele está se saindo melhor do que imaginávamos, nesses dois meses que ele está à frente da empresa foi um sucesso, Ítalo está morrendo de orgulho e confesso que eu também fiquei surpreso.
— Eu sempre soube que ele ia se sair bem — Comento com um sorriso bobo no rosto.
— Então não se preocupe filha, ele só deve estar ocupado demais.
— Você tem razão, papai, ele também pode estar se sentindo muito sozinho lá.
— Eu acho que não, Katherine foi com ele e inclusive fiquei sabendo que estão morando na mesma casa.
— O que? — Pulo da cadeira e meu pai me olha confuso — Como assim ela foi e eles estão morando na mesma casa?
— Calma filha, pensei que soubesse disso, ele não te contou? — Balanço a cabeça em sinal negativo — Ítalo a mandou por ser de confiança e já trabalhar com o Isaac, mas a princípio ela ia ficar em um apartamento disponibilizado pela empresa, só que fiquei sabendo que está morando com Isaac, contra a vontade de Ítalo.
Olho de um lado para o outro, é isso, tem que ser isso, Isaac está me esquecendo com ela, ele está com ela, eu tenho certeza.
Sinto uma imensa dor no peito, uma falta de ar e uma vontade absurda de chorar.
— Liz? Tudo bem filha?
— Tudo pai, me lembrei que tenho um dever do curso para fazer — Beijo sua bochecha — Te amo!
Saio da sala o mais depressa possível, não quero que meu pai veja o quanto fiquei m*l com essa notícia.
Chego em casa e fico deitada o resto da tarde, não consegui dormir, só fico pensando nisso.
Desço para jantar e finjo estar tudo bem, converso e brinco com minha família.
Quando volto para o quarto é que me sinto vazia novamente.
Eu preciso saber se eles estão juntos, não vou sossegar enquanto não descobrir.
Decido ligar para ele, o telefone chama até cair na caixa postal, olho a hora e provavelmente ele não está dormindo ainda, então está fazendo o quê? Trabalhando até esse horário? Dúvido muito.
Ligo mais uma vez, estou ligando do número desconhecido, não sei se vou ter coragem de falar com ele. Chama um pouco e logo atende, mas a voz não é dele e sim de uma mulher.
— Alô? Alô? Quem está falando?
Desligo.
É ela, ela atendeu o telefone dele, eles estão juntos, juntos!
Isaac me esqueceu tão rápido, mas era isso que eu queria, não era?