Beatriz
Ele estava lindo na cama do hospital, com curativos na cabeça e um lençol cobrindo a maior parte do corpo. Mas agora...Ah, agora...
Não havia palavras, pelo menos não em meu cérebro cheio de desejo, por um homem como ele. Alto, moreno e atraente era pouco para descrevê-lo. Maravilhoso, lindo... cada um desses adjetivos era muito comum para aqueles ombros fortes, quadris estreitos, os olhos azuis brilhantes sobressaindo-se sobre aquele maxilar e a boca carnuda e máscula.
Eu tinha que me lembrar que não poderia correr e me jogar para cima daquele homem. Minha libido dormente aproveitou-se desse momento para voltar à vida. Mas em algum momento, quando estivesse sozinha em minha cama, encontraria uma maneira de saciar esse novo desejo por sexo que resolveu surgir agora.
Mas, eu não poderia arriscar meu coração e o da minha pequena por um homem que talvez não vivesse para ver o dia de amanhã.
Esse pensamento me trouxe de volta à realidade e permitiu que deixasse de lado meu constrangimento com a óbvia reação diante da beleza dele.
Desejando que meus pés se mexessem novamente, finalmente andei os poucos metros até ele, colocando os ombros para trás e o queixo para cima, assim ele não pensaria que era mais derrotada do que já me sentia, babando em cima dele dessa maneira.
__ Luna fez isso para vocês.
__ Obrigado. Parece que isso aqui está ótimo. Os rapazes daqui vão implorar por esses muffins.
__ Podem dividir porque depois eu faço mais!
Eu sabia que as coisas iriam nessa direção que, se cedesse e permitisse que viessem ao quartel uma vez, isso se transformaria em visitas recorrentes.
No momento em que pensava nisso, ele virou-se para me olhar, o rosto cuidadosamente inexpressivo. Não havia sorrisos para eu só para a Luna. Claramente, ele não estava feliz em me ver mais do que eu estava feliz em vê-lo.
Melhor assim. Talvez a visita devesse ser breve.
__ Obrigada pela boneca. Ela é meu presente favorito de 7 anos. O cachorrinho dela é fofo também.
__Fico feliz. O aniversário de 7 anos é realmente muito importante.
__ Agora pode mostrar o carro de bombeiros e todos os botões que é preciso apertar para fazer as coisas, Sr. Simpson?
Não, a visita breve não seria breve, pensei, com um gemido que m*l podia esconder. Quando vi o sorriso dele de volta para a Luna, senti minhas entranhas se derretendo de novo, apesar das barreiras altas e fortes que eu havia construído para me proteger do encanto absolutamente poderoso dele.
Há quanto tempo procurava um homem que olhasse para minha filha desse jeito? Como se achasse que o sol nascia com ela. Como se ela fosse importante, e não só alguma criança chata que eu tive com outro cara.
__ Com certeza. Se você concordar, quero dizer.
Ela estava prestes a responder quando notei uma cicatriz meio apagada na testa dele, que ia desde a sobrancelha esquerda até a linha do cabelo, e minhas pernas ficaram bambas.
A testa dele estava coberta de curativos a última vez que o vi no hospital, e eu sabia que deveria ter sido a viga que o atingiu logo após termos chegado aos pés da escadaria. Eu quis dizer alguma coisa, queria agradecer-lhe de novo e pedir desculpas por colocá-lo naquela posição, mas sabia que soaria estranho e errado.
__ Claro que está tudo bem para mim. A Luna adora máquinas grandes e adora descobrir como elas funcionam, não é?
Assim como o pai dela gostava. Só que a máquina que ele escolheu foi um avião, em vez de um carro de bombeiros.
Raphael pegou a mão esticada da Luna e levou-a até o brilhante carro de bombeiros histórico, no canto do fundo do quartel.
Normalmente eu os teria seguido, mas não tinha certeza de que estar perto dele por muito tempo seria uma boa ideia. Não quando meus hormônios ainda estavam em fúria.
Caminhando mais para dentro do quartel, eu me vi no meio de um grupo de homens grandes e fortes. Entretanto, mesmo com toda a testosterona deles, dos troncos largos, quadris estreitos e maxilares quadrados, os meus hormônios não se manifestaram e a libido não veio à tona.
Por alguma razão, só um bombeiro específico tinha esse efeito sobre mim.
Deixando de lado esse pensamento de lado, fiz questão de conhecer todos os bombeiros e agradecer a equipe pelo que fizeram por mim e pela Luna.
Luna e o homem que tinha feito o meu coração explodir riam juntos de alguma coisa, e, por um momento, eu quis fingir que eram mais do que estranhos, que a minha filha tinha uma figura paterna para lhe ensinar as coisas, para ter orgulho dela, para dizer que a amava quando a colocava na cama com um beijo de boa-noite.
__ Acho que estou sentindo cheiro de muffins de chocolate.
O capitão Jeff, apareceu no canto exatamente nesse momento, e sorri para aquele homem de meia-idade tão simpático que a tinha levado tão gentilmente para conhecer seu salvador no hospital.
__ Foi a Luna quem fez.
Saio para pegar a bandeja e dou de cara com uma linda mulher.
__Ah, oi, desculpe, não tive a intenção de quase atropelar vo...
__ Parei no meio da frase. Dani? Sou eu, Beatriz Thompson.
__ Bem, na faculdade era Beatriz Green.
__ Bia! Não posso acreditar quanto tempo passou desde a última vez que a vi. Seis, sete anos?
Eu e a Dani havíamos trabalhado meio período na biblioteca de Gordon e passamos tantos anos guardando e catalogando livros juntas nos corredores escuros, que acabamos nos tornando amigas.
Teríamos ficado mais íntimas se eu não tivesse ficado grávida da Luna. Quando eu e o Marcus nos casamos eu saí da faculdade temporariamente para acompanha-lo em sua nova transferência, ele era piloto do exército e vivia mudando de base.
__ Você está linda!
__ Você também! Nunca vi você aqui antes. Está trabalhando em alguma coisa no quartel?
__ Eu não trabalho aqui Dani, minha filha quis vir aqui trazer alguns muffins.
__ Ah, meu Deus, como pude esquecer que você se casou e teve um bebê? Onde ela está?
__ Luna está ali explorando o caminhao com um dos bombeiros.
__ Espere aí. O nome da sua filha é Luna? Vocês são a mãe e filha a quem o Rafa salvou uns dois meses atrás?
Quando a Dani mencionou o nome Rafa, eu me liguei num detalhe, o sobrenome Simpson era um nome tão comum que não liguei ele a Dani.
__ Você é irmã dele?
__Sim.
__Seu irmão nos salvou. Ele é o herói da Luna para o resto da vida. O meu também. Luna assou alguns muffins para ele hoje de manhã e acredito que está prestes a convencê-lo a deixá-la dirigir aquele carro de bombeiros antigo em volta do quarteirão.
Tomara que a Dani nao perceba como eu estava ridiculamente atraída por seu irmão. E por falar em estranhas coincidências...
__ Devia ver todos aqueles botões e puxadores! É tão legal! Eu adoro os bombeiros! Obrigada mamae por finalmente me deixar vir aqui!
A Luna estava tão empolgada contando tudo sobre o carro do bombeiro que eu precisei interrompe-la.
__ Luna meu amor, essa aqui é uma amiga da mamãe da faculdade. O nome dela é Daniela.
__ Ah, meu Deus, você é linda!
__ Você também é bonita.
__De que tipo de história que você gosta?
__ Todas.
__ Perfeito. Sou bibliotecária de uma biblioteca aqui pertinho. Adoraria se pudessem vir me ver, especialmente porque sempre estou procurando bons leitores para me ajudar na hora da contação de história para os pequenos.
__ Eu posso fazer isso. Sou uma ótima leitora.
__ Tenho certeza que sim, ainda mais com uma mãe tão inteligente como a sua.
Senti um frio, arrepios percorreram minha espinha quando vi o Raphael vindo em nossa direção. Como desejei não está tão ligada a ele porque ele tinha que ser absurdamente atraente.
Era bom que a Dani e a Luna estavam conversando sobre o livro de gravuras favorito delas e não precisavam muito da minha participação, pois a proximidade do Raphael parecia sempre sugar todas as células de meu cérebro.
Fiquei surpresa ao ver que ele não ficou feliz em ver a Dani. Isso se confirmou quando ele perguntou:
__ Ei, Dani, o que está fazendo aqui? — disse, em voz seca.
A Dani simplesmente sorriu para ele, claramente nem ligando para seu cumprimento m*l-humorado.
__ Pensei em lhe trazer algo saudável para o café da manhã. Pãezinhos integrais. Sem açúcar ou conservantes.
__ Já tenho muffins muito bons esperando por mim, mas, mesmo assim, obrigado.
__ Acredita que a Bia e eu nos conhecemos da faculdade? Inacreditável, não é?
__Inacreditável.
Ele fala com uma voz irritada, eu fiquei feliz que seus colegas haviam levado a Luna com eles a elogiando por fazer os melhores muffins que já existiu. Do contrário, a mudança abrupta de humor dele não teria passado despercebida nem mesmo para a Luna que é uma ótima observadora.
Desta vez, eu não estava chateada pela expressão dura no rosto dele. Tinha passado do estágio de chateada para louca da vida. Qualquer que fosse o problema dele, não sabia nada sobre mim, e não merecia ser a receptora do mau humor dele.
Sim, eu devia muito a ele para sempre pelo que tinha feito por mim e pela Luna. Entretanto, poderia ser grata longe dele, intimamente em meus pensamentos, quando ele não estivesse olhando para mim como se tivesse uma doença contagiosa.
__ Obrigada por mostrar o carro para a Luna.
Falo com voz mais educada e distante, antes de me virar para a Dani com um sorriso acolhedor e verdadeiro.
__Estou tão feliz por encontrar você, Dani.
__ Eu também. Não acredito que não sabia que você morava tão perto.
__ Infelizmente não mantive muito contato com ninguém depois que Marcos e eu nos casamos e mudamos para San Francisco.
__ Como está o Marcus?
__ Ele morreu.
__ Ah, não. Sinto muito, Bia.
Querendo mostrar a Dani que estava bem e ao mesmo tempo e não falar muito sobre o assunto já que o Raphael ainda estava em pé na nossa frente, com uma expressão sisuda naquele rosto maravilhoso.
__Já faz alguns anos.
__ Você cuida dela sozinha? Ou se casou de novo?
__ Não. Somos só eu e a Luna. Temos nos saído muito bem.
__ E agora esse incêndio que destruiu seu apartamento. Não parece justo.
__ Sinceramente, nós estamos bem.
__ Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes para você.
__ Dani, quantas vezes ela terá de lhe dizer que está bem?
Ele claramente estava tentando aconselhar a irmã a recuar um pouquinho, e ainda que eu tivesse apreciado isso em qualquer outro momento, sabia que a Dani só estava expressando seus sentimentos e emoções como sempre fazia, direto do coração.
__ Sabe de uma coisa? Nossa mãe fará a festa anual de Natal esta semana em nossa antiga casa. Por favor, diga que você e a Luna virão para conhecer todo mundo! Não acha que todo mundo adoraria as duas, Rafa?
Ele nos olhou de cima em baixo quando exclamou, com total falta de interesse, do mesmo jeito que fez no hospital quando a Luna lhe perguntou se queria me ouvir imitar um sapo.
__ Com certeza!
Eu pude sentir os olhos da Dani olhar para ele, claramente tentando descobrir qual era o problema... e por que ele não suportava me ver.
__Na verdade, alguns dos meus irmãos adoram crianças.
__ Quantos irmãos você tem?
__ Cinco, na verdade seis com o Rafa! Mas Liam e o Matheus não estão mais no páreo, e as namoradas deles bem, noiva, no caso do Liam são fantásticas. Então, sobram Ryan, James e o Diego. Estes estao livres. Pelo menos até onde eu sei. Eles vão adorá-la. Não tenho dúvidas de que meus irmãos terminarão brigando por você. Você não concorda, Rafa?
__ Você está mesmo tentando juntar sua amiga com James e o Ryan, dois dos maiores cafajestes do planeta? E o Diego é pior ainda.
__ Acho que todos vocês são fantásticos. E eles são cafajestes só porque ainda não encontraram a mulher certa.
Notei que a Dani não disse nada a respeito do Raphael ser ou não cafajeste. Ela também não havia oferecido o Raphael como um potencial namorado. Provavelmente porque ele já tinha uma namorada.
Uma namorada a quem eu tinha absoluta certeza que eu odiaria só pelo fato de ser namorada dele.
__ Por favor, diga que virão, Bia. Você e a Luna seriam muito bem-vindas à festa!
Na verdade, eu não queria ter de passar mais tempo do que já tinha passado ao lado dele, mas o diabinho que raramente sentava-se em meu ombro de repente apareceu e me fez dizer:
__Adoraríamos ir. O que podemos levar? Tenho certeza de que a Luna adoraria preparar algo especial para a festa de Natal de sua mãe.
Depois de trocarmos os números dos telefones a Dani ficou de me mandar todas as informações sobre a festa.
Com o dever cumprido, e sabendo que precisaria de cada segundo até sábado para ter certeza de que estaria pronta para trancafiar todos os meus desejos e hormônios estúpidos perto dele na festa, falei.
__ Bem, acho que Luna e eu devemos ir embora e deixar todo mundo voltar ao trabalho.
Difícil foi consegui tirar a Luna de la, já que ela com aquela carinha do gato de botas ficou falando para ficar "só mais um pouquinho", pois estava tendo "o melhor dia da vida dela" passando umas horas com os bombeiros.
Depois de muito tempo, finalmente minha pequena pegou em minha mão e seguimos de volta para casa, meu coração batendo ainda mais rápido agora do que de manhã, mesmo descendo a colina.Tudo isso porque tinha certeza de que veria Raphael Simpson novamente.